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A história do Naruto e da Sakura é muito bonita, ainda mais contada nas palavras e com os sentimentos da Sakura-chan...

 

 

Eu não sabia se tinha o direito de continuar essa história, se poderia escrever no diário que guarda a linda história do Naruto e da Sakura, porém como esse foi um pedido do filho deles, Minato, eu não pude recusar. O rapaz me pediu com tanto fervor que eu não soube como negar-lhe.

 

 

Já se passaram dez anos desde que Sakura-chan escreveu nesse diário pela última vez. Seu último relato foi sobre a missão que ela realizaria numa ilha localizada no País da Água.

 

 

Era noite e eu estava fazendo hora extra no hospital. Eu estava preocupada que Kakashi fosse me recriminar por meu abuso em trabalhar tão exaustivamente estando há poucos meses de dar a luz ao nosso primogênito. Logo assim que terminei de cuidar de uma paciente que havia chegado com queixas de dores lombares, eu fui até a sala de medicamentos para guardar aqueles que haviam sobrado. Em meio a penumbra da sala que tinha apenas uma enorme janela em uma das paredes, eu visualizei a sombra de Sakura encostada ao balcão. Acendi a luz rapidamente e olhei para ela sorrindo.

 

 

- Sakura-chan. Que bom que está de volta – eu estava tão empolgada que nem a deixei falar naquele primeiro momento – o Naruto está tão preocupado com você. Você sabia que ele foi procurá-la, mas parece que você não estava mais na ilha; a única coisa que o acalmou foi que disseram que você estava bem e que havia ajudado já muitas pessoas. Onde você estava todo esse tempo?

 

 

Os lábios de Sakura se esticaram e ela esboçou um sorriso triste.

 

 

- Sakura-chan? 

 

 

Sakura esticou o braço com a mão fechada; ela girou lentamente o pulso e abrindo a mão me mostrou três pequenas agulhas prateadas.

 

 

Eu tomei-as em minhas mãos e examinei uma.

 

 

- Sakura-chan, isso contém veneno! – eu exclamei surpresa.

 

 

- Eu sei – ela retrucou afastando um pouco a gola da blusa e me mostrando três pequenos pontos de sangue estacados em seu pescoço.

 

 

Eu fiquei pasmada ao ver que ela havia sido envenenada. Senti o meu corpo tremer e a minha garganta secar.

 

 

- Preciso cuidar de você o quanto antes. Fique tranqüila, eu posso cuidar de envenenamento. Só preciso saber com o que foi envenenada...

 

 

Apesar do meu apavoramento, ela seguiu sorrindo tristemente.

 

 

- É tarde demais, Shizune... Não se preocupe.

 

 

Sakura deixou-se escorregar até o chão usando a parede adjacente ao balcão como apoio. Eu agachei-me bem próximo a ela e coloquei minha mão em sua testa.

 

 

- Está ardendo em febre!

 

 

- Também estou com enjôo e mal estar.

 

 

- Preciso de um antídoto, ainda posso salvá-la – eu insistia, ainda que no fundo eu soubesse que qualquer coisa seria em vão.

 

 

- O único antídoto ficou na ilha, e acredito que quem atirou isso contra mim não iria dá-lo para me salvar.

 

 

- Por que fizeram isso como você?

 

 

Ela fez uma pequena pausa antes de falar.

 

 

- O vilarejo próximo a ilha estava todo destruído, e um novo ataque estava se aproximando... Um dos shinobis da ANBU que estava lá comigo pediu que eu saísse com ele, mas quando estávamos indo embora uma mulher veio correndo até mim carregando a filha nos braços... A mulher pediu que eu salvasse a filha dela. Ah Shizune, aquela garotinha tinha a mesma idade da minha Tsunade-chan, e até eram parecidas... Eu tirei a mochila das costas e me ajoelhei ao lado da menina... Quando a examinei vi que o coraçãozinho dela não estava batendo...

 

 

- A menina estava morta... – a história que a Sakura contava estava comovendo até a mim.

 

 

- Eu usei meu chakra para fazer o coração dela voltar a bater. O coração dela bateu uma vez, e depois outra... Nessa hora eu senti as agulhas penetrando meu pescoço, o veneno contido nelas me fez sentir tontura... Eu sei que eu deveria ter usado meu chakra naquela hora para anular o efeito de veneno, mas se eu desviasse a minha mão, mesmo que por um momento, seria tarde demais para salvar a garotinha. 

 

 

- Você salvou a menina?

 

 

Sakura sorriu e assenti com a cabeça fazendo um único movimento.

 

 

- A guerra terminou. O Naruto conseguiu trazer a paz aquele lugar sem derramar mais sangue. O País do Fogo interveio em favor da ilha, e o País da Água depôs seu governante déspota.

 

 

Eu já sabia de antemão que o Naruto havia conseguido convencer o País do Fogo há fazer alguma coisa por aquela pequena ilha que tanto estava sofrendo. Não havia sido fácil convencer os grandes líderes, mas no final o Hokage de Konoha o fez.

 

 

Olhei para o peito da Sakura-chan se movia bem rápido, ela respirava com dificuldade. O coração também estava bem acelerado.

 

 

- Há quantos dias está com o veneno em seu corpo? – questionei-a

 

 

- Uma semana... Eu tentei alguns ninjutusus médicos para retardar o efeito, e parece que eu consegui um pouco. Eu não podia usar muito do meu chakra porque havia outras pessoas que precisavam de mim.

 

 

- Deveria ter voltado imediatamente para Konoha! – ralhei com ela.

 

 

Não aprovei o fato de ela ter se esforçado dessa maneira tão suicida. 

 

 

- Eu não podia... As pessoas do vilarejo me pediam para que eu as ajudasse... Elas estavam morrendo e só tinham a mim.

 

 

- Você usou ninjutsus médicos nesse estado?!

 

 

Muito me surpreendeu a imprudência dela. Em contrapartida ao meu espanto, Sakura riu baixinho de forma travessa como uma criança que acaba de aprontar.

 

 

- Acima de tudo, eu sou uma ninja médica, não é mesmo Shizune?

 

 

Jamais esquecerei a maneira como a Sakura olhava para mim naquele momento.

 

 

- Precisa descansar. Eu vou pedir para que avisem o Naruto que você está aqui.

 

 

- O Naruto irá se zangar comigo quando souber.

 

 

Ela estava chateada com o fato.

 

 

- Não... Não – eu me apressei em negar-lhe – Sakura-chan, o Naruto te ama; ele não ia se zangar com você, nunca.

 

 

- É verdade – ela concordou sorrindo docemente – Ele me ama muito... Sabe, Shizune, eu gostaria de vê-lo uma última vez.

 

 

- Eu vou pedir para alguém chamá-lo.

 

 

Eu não conseguia controlar o meu nervosismo e ansiedade.

 

 

- Não... – notei que a voz dela estava ficando mais baixa – Eu não posso dizer adeus a ele, não quero vê-lo chorar... Eu queria que o Naruto sorrisse para mim... – ela fechou os olhos por um momento, talvez se lembrando do sorriso do marido - Eu queria ver o Naruto sorrindo... Mas ele não vai sorrir, por isso eu não quero encontrá-lo...

 

 

Encostei minha mão no peito dela para verificar as batidas do coração e nessa hora eu senti fortes batidas de um segundo coração que estava desejoso de viver.

 

 

- Sakura, você está grávida! – eu quase caí para trás com o susto.

 

 

Ela sorriu sem jeito.

 

 

- Eu tive que sacrificar uma vida para salvar outras. Será que eu poderei ser perdoada por matar meu próprio filho?

 

 

Eu não agüentei mais e comecei a chorar. Sentia-me tão impotente, eu não seria capaz de salvar nem a Sakura e nem o bebê que estava no ventre dela.

 

- Sakura-chan, seus filhos e seu marido precisam de você... Não pode deixar tudo acabar desse jeito...

 

 

Sakura sorriu ternamente. Mesmo sabendo que ia morrer, ela não deixava de sorrir.

 

 

- Shizune obrigada por tudo... Cuida dos meus filhos, não deixa o Jiraya ficar enganando as garotas, diz que ele tem que encontrar uma garotinha boa e se apaixonar por ela; a Kushina eu sei que ela será uma mulher difícil, mas sei também que será muito forte... – a respiração estava pesada – O Minato vai seguir os passos do pai e do avô, por isso fico tranquila... A minha pequena Tsunade, ela vai chorar muito e vai buscar o consolo do pai, por isso... Shizune diga ao bobo do Naruto para não ficar chorando por mim... Diz que eu vou esperar por ele... E que eu não me arrependo do que fiz, porque eu segui meu caminho ninja...

 

 

Sakura-chan voltou a fechar os olhos e eu agitei seu corpo a fim de fazê-la despertar. 

 

 

- Sakura-chan...!

 

 

Ela voltou a abrir os olhos e vi que eles estavam rasos de água.

 

 

- Ah Shizune, diz para o Naruto proteger nossos filhos e que eu o amo... Diz que ele é... – os olhos dela voltaram a se fechar – o homem que amo... – terminou a frase num sussurro.

 

 

Uma lágrima se despregou de seu olho direito e deslizou por seu rosto. Seus vividos olhos verdes nunca mais viram a luz desse mundo.

 

 

Eu não tive coragem de contar ao Naruto o que aconteceu, por isso pedi a Kakashi que o fizesse, acredito que essa tenha sido a missão mais difícil da vida dele.

 

 

Naruto chegou todo afobado ao hospital. Eu estava no quarto terminando de arrumar o corpo de Sakura sobre a cama quando o vi parado a soleira da porta, Kakashi colocou a mão no ombro dele impedindo-o de entrar.

 

 

- A Sakura-chan é minha esposa! – ele gritou.

 

 

A mão de Kakashi o soltou e Naruto entrou no quarto apressado. Quando ele se aproximou do leito eu vi os olhos azuis dele brilhantes e as lágrimas que escorriam por suas bochechas. Eu me afastei e fui para perto de Kakashi que continuava parado na entrada do quarto.

 

 

Sentando-se na cama ao lado da esposa, Naruto pegou o corpo dela e o puxou para junto do seu; eu apenas acompanhei aquele triste momento em silêncio, deixando apenas que minhas lágrimas mostrassem meus sentimentos. Ele começou a acariciar os cabelos e o rosto dela.

 

 

- O corpo da Sakura-chan está frio – a voz de Naruto estava embargada em tristeza - Por favor, Shizune traga um cobertor.

 

 

Em vista da minha falta de movimento, Naruto tirou sua capa e cobriu o corpo de Sakura, depois encostou sua bochecha na dela.

 

 

- Vai ficar tudo bem, Sakura-chan. Eu vou cuidar de você.

 

 

Eu não agüentei e saí do quarto segurando o choro. Kakashi me acompanhou logo em seguida.

 

 

Nós dois ficamos no corredor do hospital escutando ele chamando pela esposa morta. Em meu âmago eu mantinha uma tola esperança de que o chamado dele a despertaria.

 

 

Após algumas horas, Naruto saiu do quarto cabisbaixo.

 

 

- Shizune poderia cuidar dos preparativos para o enterro. Eu preciso falar com meus filhos.

 

 

- Eu organizarei tudo – eu disse um pouco mais calma.

 

 

Naruto olhou para mim e eu vi como seus olhos estavam vermelhos e inchados. Eu sabia que as lágrimas que ele derramara durante as horas que estivera com o corpo inerte de Sakura haviam sido poucas se comparadas as lágrimas que ele ainda derramaria pela ausência dela.

 

 

- A Sakura-chan tinha olhos verdes lindos, eu gostaria de tê-los visto mais uma vez.

 

 

- E ela queria ter visto o seu sorriso pela última vez, mas ela não quis procurá-lo porque não queria vê-lo chorar.

 

 

Naruto abriu um sorriso triste e saiu.

 

 

Certa vez, a Sakura me contou que Naruto havia dito que preferia morrer antes dela, porque ele disse que não saberia viver sem ela.