Na manhã seguinte quando eu acordei vi que não estava sozinha na cama como ocorrera das outras vezes.

Naruto estava ao meu lado com a ponta de seu queixo encostada em meu ombro direito,  nossas mãos entrelaçadas repousavam sobre meu peito. Aquele pouco contato de nossos corpos era suficiente para que soubéssemos que não estávamos sozinhos em nossos pesadelos.

Eu senti meu corpo muito quente, e mesmo a temperatura de meu corpo estivesse alta eu senti muito frio. Puxei mais o cobertor e me aproximei mais do corpo tão cheio de calor de Naruto a fim de me aquecer. Meus movimentos, ainda que suaves, acabaram por despertar Naruto que ao abrir os olhos ficou durante um longo tempo me olhando em silêncio.

Eu também nada disse ao vê-lo acordado, em meu interior apenas rezei para que nosso momento junto nunca terminasse, e que a claridade que entrava pelas frestas da janela  fosse a proveniente da luz do luar; eu não queria que a noite terminasse. Percebi que minhas preces haviam sido em vão quando Naruto soltando minha mão sentou-se na cama.

Fiquei olhando suas costas tão fortes que carregavam um peso enorme sobre elas.

 Naruto virou-se para mim e sorriu.

- Não está mais brava comigo? – ele me perguntou num tom de dúvida.

Arqueei as sobrancelhas num primeiro momento e em seguida fechei a cara.

- Ainda estou brava – disse virando-me para o outro lado.

Naruto deitou-se novamente e abraçou-me pelas costas.

- Eu senti sua falta – ele sussurrou no meu ouvido.

- Mentiroso! – rebati-o tentando não rir – Como pode ter sentido minha falta se não faz nem um dia que brigamos?

Realmente a nossa briga havia sido bem curta daquela vez.

- Acho que eu me acostumei a ter você sempre ao meu lado.

Eu respirei fundo.

- Eu também tenho esse péssimo costume de ter você ao meu lado.

Naruto riu ao me escutar e logo me soltou. Ele se levantou e foi em direção ao banheiro.

É estranho como nos apegamos às pessoas tão facilmente, e como pequenas rotinas quando são quebradas nos fazem tanta falta. Eu já estava tão acostumada a sempre ver o Naruto que quando eu não estava ao lado dele parecia que o dia ficava vazio, por isso eu gostava de acompanhá-lo nas missões, e isso era algo que eu não vinha fazendo nos últimos tempos.

Quando Naruto retornou ao quarto eu aproveitei para lhe contar a novidade.

- Eu vou à missão com você hoje.

Naruto deteve o seu caminhar e me olhou incrédulo.

- O que está dizendo, Sakura-chan?

Sentei-me na cama puxando o lençol para me cobrir, eu estava sentindo realmente muito frio.

- Dessa vez eu também vou participar da missão.

Naruto colocou a mão atrás da nuca e sorriu sem jeito.

- Mas... Você não foi escalada.

- Tsunade-sama me escalou ontem à noite – eu menti.

Naruto ficou sério de repente.

- Foi por isso que veio até aqui?

- Pensou que eu vim aqui fazer as pazes com você? – eu perguntei num tom brioso.

- Sim.

Eu olhei para o rosto tímido dele e tive me segurar para não rir. Naruto ficava tão bonitinho desse jeito.

Ele caminhou de volta para a cama e sentou-se ao meu lado.

- Você tem certeza de que quer ir?

- Sim.

Naruto abriu um largo sorriso.

- Tá bem. Eu vou cuidar de você.

Fiquei aliviada em escutar aquelas palavras.       

Naruto afastou uma mecha de cabelo que caía na frente de meus olhos e ao fazer isso ele tocou em minha testa.

- Você está com febre.

Eu ri sem jeito e bati não mão dele para afastá-la da minha testa.

- Não seja idiota! Essa é a temperatura normal do meu corpo. Eu apenas devo estar um pouco quente porque estava deitada com você.

Eu fiquei em pé sobre o colchão e pulei para fora da cama.

- Eu preciso só de um bom banho.

Eu não quis deixar transparecer para o Naruto que eu estava preocupada com a febre que eu estava apresentado, pois os fetos são mais sensíveis as altas temperaturas corpóreas.

- Eu também vou tomar banho antes de ir para a missão – disse Naruto se dirigindo ao banheiro.

Eu girei meu corpo 30 graus e olhei para ele.

- Se quiser pode vir comigo... – eu corei ao fazer tal sugestão, mas acho que ele nem notou porque eu já estava corada mesmo por causa da febre – Desse jeito a gente não se atrasa.

Naruto correu em minha direção e agarrando minha cintura me tombou sobre seu ombro. Eu senti um forte enjôo quando o meu ventre foi pressionado, mas evitei fazer qualquer reclamação quanto a isso.

- Naruto me põe no chão! – eu protestei rindo e batendo nas costas dele.

- Vamos tomar banho!

Naruto ria o tempo todo e eu notei o quão feliz ele estava por me ter ao seu lado, aliás desde que havíamos começado a namorar eram raras as vezes que o via triste quando estava comigo, as exceções vinham acontecendo desde que ele descobrira que o selo da kyuubi fora rompido.

O banheiro da casa de Naruto não era muito grande, mas tinha uma banheira bem confortável na qual Naruto fez questão de me colocar ainda com a camiseta; a água morna que preenchia a banheira transbordou e molhou o chão.

Naruto despiu-se e entrou na banheira sentando-se ao lado oposto do meu. Eu tirei a camiseta preta ensopada e a joguei na lateral da banheira.

- Não vai esfregar as minhas costas? – perguntei-lhe ao vê-lo pegar a esponja.

Naruto sorriu travesso.

- Só se você vier para esse lado – retrucou convencido.

Eu me movimentei na banheira e sentei-me entre as pernas de Naruto, para cabermos na banheira eu tive que encolher minhas pernas.

Naruto afastou os meus cabelos começou a esfregar minhas costas delicadamente.

- Você ficaria se eu te pedisse?

Naruto ficou um tempo em silêncio antes de responder. A esponja ainda passeava sobre minhas costas em movimentos suaves, agora mais lentos.

- Eu tenho que ir, eles estão contando comigo – me disse quase que num sussurro.

- Naruto, você é capaz de cumprir todas as suas promessas?

A esponja parou no meio de minhas costas.

- Por que me pergunta isso, Sakura-chan?

- Por favor, apenas me responda.

- Acho que sim.

Eu recostei minha cabeça na borda da banheira.

- Poderia então me prometer que não vai morrer e me deixar sozinha... – senti a mão de Naruto tocando meu ombro – Eu já pensei tanto sobre isso, e não sei o que eu vou fazer se eu te perder... – lágrimas começaram a cair de meus olhos.

Eu me senti uma boba por estar falando nesses assuntos em meio a um momento de felicidade que partilhávamos, mas eu não podia mais evitar em pensar a cada minuto que eu estava com Naruto que ele poderia morrer.

- Sakura-chan, eu não quero que sofra por mim.

Eu abri um sorriso triste ao escutar o que absurdamente Naruto me falava. Eu desencostei a cabeça da borda da banheira.

- Como me pede para não sofrer? Acha que eu posso mandar nos meus sentimentos dessa maneira? – eu questionei-lhe brava.

Naruto colocou seus braços por volta da minha cintura e apertou meu corpo contra o dele. A água voltou a cair para fora da banheira espalhando-se por todo o chão do banheiro.

- Desculpe, Sakura-chan. Eu pedi para a Tsunade oba-chan e também ao Kakashi sensei que me ajudassem a refazer o selo, mas eu não consigo fazer a técnica dar certo.

Meu coração bateu forte em meu peito e eu senti uma fraca contração em meu ventre.

Eu virei minha cabeça para trás.

- Você tentou refazer o selo? – perguntei-lhe surpresa.

- Sim – me respondeu – Mas eu não consegui. Tsunade oba-chan e Kakashi sensei também tentaram, mas não conseguiram.

Era como Shizune dissera, Naruto não havia decido deixar de viver, ele estava lutando por sua vida. Senti um pouco alivio em meu peito, mas a angustia de saber que as tentativas haviam falhado foi maior.

- Naruto, eu acredito na sua força.

Ele me beijou na bochecha e eu sorri.

Eu era um pouco cética nessa questão de milagres, mas nos últimos tempos era por um milagre que eu esperava.

- Obrigada, Sakura-chan.

Eu peguei a mão dele que estava sobre meu abdômen e a coloquei sobre meu ventre.

- Naruto, você precisa viver. Tem muita gente que precisa de você.

- Eu vou lutar... Por você – me disse num sussurro.

Senti a mão dele se soltar de meu ventre e ir direto para a minha testa.

- Ainda está quente.

Eu podia ter dito para Naruto naquele momento que eu estava muito mal, poderia dizer sobre nossos três filhos... Eu sei que com isso ele abriria mão de ficar se arriscando nas missões. No entanto, eu conhecia o Naruto bem demais para saber que se eu o impedisse de ser um shinobi, eu o estaria fazendo muito infeliz, pois ele ainda sonhava em ser o próximo Hokage.

- Eu estou bem Naruto. Deve ser uma febre passageira por ter ficado tanto tempo na chuva ontem à noite.

Naruto saiu da banheira.

- Eu vou me trocar – disse ele se dirigindo para o quarto.

Eu tentei me levantar também, mas quando saí daquela água morna o calor de meu corpo contrastou com vento frio da manhã e eu senti calafrios percorrendo toda a extensão de meu corpo.

De repente senti que meu corpo ficava mais quente e tive algumas fortes contrações em meu ventre. Juntando minhas forças eu saí da banheira e me enrolei em uma toalha.

Andei lentamente em direção ao quarto, e ao chegar lá encontrei Naruto já vestido. Ele veio em minha direção e inesperadamente me beijou.

- Vamos?!

- Idiota – eu empinei o nariz – Eu ainda tenho que me trocar.

Escutei Naruto rir as minhas costas.

Tsunade-sama não me colocaria em uma missão tão cedo por causa da minha gravidez de trigêmeos, e eu tinha plena consciência de que a minha sensei estava certa em não fazê-lo devido aos riscos que eu correria. No entanto, naquele momento o pai de meus bebês estava precisando de mim, e se eu não fizesse nada por ele como eu poderia depois olhar para os meus filhos.

Eu pedi que Naruto fosse até a minha casa buscar algumas peças de roupa, pois as minhas roupas continuavam molhadas e eu estava decidida a não sair de jeito nenhum pelas ruas de Konoha trajando qualquer peça do guarda-roupa de Naruto.

Yamato e Kakashi que participariam da missão estranharam me ver ali, mas nenhum dos dois fez qualquer oposição a minha presença.

Nossa missão seria de reconhecimento de campo, não haveria combate corpo-a-corpo a menos que fossemos atacados.

- É melhor nos dividirmos – sugeriu Kakashi.

Eu e Naruto seguimos floresta adentro até chegarmos próximos a uma clareira. Do alto das árvores ficamos observando a movimentação das tropas inimigas.

Olhei para Naruto que estava em uma árvore próxima a minha e em seguida voltei a olhar os shinobis e soldados da tropa marchando. Eu senti uma presença as minhas costas e pegando uma kunai em minha bolsa me virei.

Um shinobi inimigo me atacou e eu tive eu pular para um galho maior que ficava logo abaixo do galho que eu estava.

- Sakura-chan – escutei Naruto chamando por mim, mas não desviei meu olhar.

O shinobi tentou uma nova investida contra mim e então eu vi que sua kunai estava brilhando, havia um ninjutsu ali. Eu empunhei a minha kunai com a mão esquerda e com a direita peguei uma shuriken e a atirei no ombro do homem que gritou de dor e deteve seu ataque.

Olhei para baixo e vi que Naruto lutava contra uns cinco shinobis, percebi que seu corpo estava envolto por uma luz vermelha e em sua mão um raisegan também vermelho.

“O chakra da kyuubi” – eu pensei.

Voltei a minha atenção para o meu adversário, porém minha distração tornou-se fatal e quando percebi o shinobi inimigo estava com sua kunai a poucos centímetros de minha barriga, eu joguei meu corpo para trás caindo da árvore. Em meio à queda atirei uma kunai que acabou atingindo o inimigo na região do pescoço.

Eu tentei girar no ar para poder cair no chão de forma segura, no entanto eu repentinamente me vi envolvida por uma fumaça branca e senti dois pares de mãos me amparando. Senti minha coluna encostando a alguma coisa dura e quando a fumaça dissipou eu vi que eu estava sentada no chão.

- Estamos todos bem– escutei a voz de Yamato.

Ao virar para trás eu vi ele falando com alguém através do ponto de contato, ao seu lado estava Kakashi.

- A Sakura está aqui também – informou Yamato.

- O que ela está fazendo aí?! – escutei a voz estridente de minha sensei do outro lado do ponto, pobre Yamato quase ficou surdo com o grito que Tsunade-sama deu – Tragam-na de volta a Konoha imediatamente. Escoltada!

Yamato e Kakashi me olharam curiosos, ao virar minha cabeça para frente eu vi Naruto olhando para mim zangado. Rapidamente eu me pus de pé.

- Acho que eu me esqueci de mencionar que a minha participação nessa missão era secreta.

Não teve outro jeito. Naruto foi me escoltando de volta a Konoha.