Understand: Angels And Demons escrita por Raphael Abreu


Capítulo 3
Meu Dilema




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Meu Dilema

Não conseguia enxergar nada, estava tudo coberto por uma camada de fumaça muito densa. Estava sentido muita dor. As pessoas pareciam esta gritando por socorro. Ouvia o som da ambulância e do corpo de bombeiro. Por um instante pensei que iria morrer, até não consegui, mas me manter acordada e desmaiei. Quando acordei estava deitada numa cama de hospital, o médico estava logo afrente olhando minha ficha, sentia meu corpo inteiro doer. Tentei me levantar, mais foi uma tentativa frustrada. Chamei o médico.

– O que aconteceu? – Perguntei totalmente confusa.

– Você sofreu um grave acidente de carro. Bateu a cabeça com muita força e está em coma à dois dias. – Respondeu o médico.

– Onde esta Beth? – Perguntei num tom de preocupação.

– Ela está bem, sofreu uma leve contusão na mão, e alguns arranhões, nada muito grave! – Exclamou o médico.

Voltei à cabeça para trás tentando encontrar alívio na dor. Logo peguei no sonho. Perdi-me completamente nos sonhos, num deles vi a garota, a mesma garota que foi literalmente apunhalada pelas costas, pelo homem que amava. Desta vez ela estava diante de mim, olhando fixamente nos meus olhos, quando se aproximou um pouco mais e tomou minha forma, parecia algo demoníaco. Chegou ainda mais perto então sussurrou no meu ouvido dizendo, “está perto!”, o calafrio que aquilo me deu, me fez acordar imediatamente.

Vi o médico conversando com um senhor, ele estava vestido com um, sobretudo preto, tinha olhos cinza e cabelos grisalhos. De repente ele olhou para mim, fixando seus olhos nos meus, parecia que ele me conhecia, ou, tinha me visto antes, o problema era: eu nunca vira aquele homem em minha vida.

Uma pontada de dor em minha testa fez com que eu fechasse os olhos e levasse minha mão até o local da dor. A dor foi diminuindo e olhei novamente para o homem alto de sobretudo. Só havia um problema: ele não estava mais lá!

– Doutor... – Chamei num sussurro.

Ele caminhou desajeitadamente em minha direção. Colocou um bloco de notas, na mesa que estava no canto do quarto.

– Pois não? – Perguntou, ajeitando os óculos no nariz.

– Quem era aquele senhor que estava com você?

– Que senhor? – Fez um tom cético, como quem fala “é... bem me disseram que essa daí era doida!”.

– Ele estava conversando com você aí fora, a um minuto atrás...

– Não tinha ninguém comigo! – Ele esticou sua mão até a minha testa. E continuou: – Parece que sua febre baixou... Bem, acho que a psicóloga já pode vir!

Ah que ótimo! Pensei. Ele aproximou-se da mesinha e discou um número no telefone. Virou as costas. Falou alguma coisa num sussurro, e eu pude distinguir a palavra loucura. Loucura? Como ele pode dizer que eu sou louca, e pior ainda: na minha frente? Uma dor intensa tomou conta de meu peito. A última coisa que me lembro é de olhar intensamente para o teto branco e mofado. Apaguei.

Acordei com um sobressalto. Carros de polícia estavam do lado de fora. Ao menos era o que eu imaginava com todo o barulho que estava fazendo. Pessoas passavam pelo corredor apressadamente.

– Doutor? – Chamei. Não houve resposta. Olhei para a mesinha onde ele havia deixado o bloco de notas. Não estava lá! Olhei novamente para o teto branco e mofado... Espere o teto não estava mofado. Será que minha mente estava me pregando uma peça? Não, não estava, as paredes desse quarto eram azuladas, e a do que eu estava era cinza grafite.

Uma senhora de meia-idade – certamente médica – apareceu, e falou:

– Você teve sorte garota! – Seu tom era sério. – Algum lunático invadiu o quarto em que você estava e matou o Doutor Eddie Moore.

Eu sabia quem tinha matado. Eu tinha apagado, mas no fundo eu sabia quem era o assassino. O homem com sobretudo. Fiquei assustada. Eu sabia que ele viera para me matar, mas para minha sorte, ele achou um brinquedinho antes. Eu precisava sair dali o mais rápido possível.

– Onde Beth? – Perguntei.

– Ela já foi dispensada. – Respondeu coçando a sobrancelha. – Amanhã voltará, para ver seu estado. Você também sairá em  breve. Dois dias talvez...

Eu não tinha dois dias. Não com aquele assassino sabendo onde eu estava. Eu precisava fugir dali o mais rápido possível.

– Tudo bem... – Forcei um sorriso, e uma cara simpática que dizia “Tudo bem, sou uma boa garota, e me comportarei”.

Ela saiu do quarto e eu já fui sentando-me na cama. Olhei para o lado e vi o homem que havia passado no jornal antes de meu acidente. Ele havia estuprado duas garotas de nove e treze anos de idade. Ele era uma ameaça. Fiquei de pés. Mas parecia muito difícil me manter daquele jeito. Desmaiei novamente.

 Acordei sendo carregada por uma maca. Meu corpo estava sujo de sangue. Meu sangue. O terror tomou conta de mim. Tentei levantar-me, mas o esforço foi inútil duas cordas se sobrepunham sobre mim. Ah, pensei, Sou considerada louca, tenho que ser levada desse jeito em lugares públicos. Mas e quanto ao sangue? Era o meu sangue.

– O que houve? – perguntei aflita. – O que está acontecendo? Para onde estão me levando?

– Você foi atacada. – Respondeu um dos médicos, sem olhar para mim. – Foi atacada por um estuprador. Mas alguma coisa aconteceu... Ele está morto. Esse sangue não é seu é dele!

Entrei em pânico. O homem de sobretudo atacara novamente. Apaguei. Dessa vez fui acordada pela irritante voz de Beth.

– Você está bem? – Perguntou. – Não se preocupe queridinha iremos para a casa hoje. Você está bem melhor. Faz três dias que dorme. O que aconteceu?

– Estou... é... não sei! – Minha língua estava seca como rocha.

Depois de três longas horas, consegui ser liberada do hospital. Na ida até a orfanato, Beth me contou que Edna, a garota viciada em drogas e que me odiava, não havia morrido de overdose. Foi um estranho caso de hipotermia. Ela congelara de dentro para fora. Eu nunca havia visto algo tão bizarro.

Ao chegar no orfanato, cumprimentei a freire Maria. Ela me abraçou, e deu um largo sorriso emocionada. E disse:

– Querida! Chegou o seu dia... – Limpou os olhos que agora saiam lágrimas e prosseguiu. – Irão te adotar!

Pela primeira vez em toda a minha vida, abri um sorriso verdadeiro e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu finalmente sairia dali. Finalmente teria um futuro. Teria uma família.

Olhei para trás e vi o homem de sobretudo, rabiscando os papéis que confirmavam minha adoção.


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