Mochileiros Em Misericórdia escrita por Ghefrentte
Notas iniciais do capítulo
No capítulo 1, Ghe, Cobra, o Doutor, Rodrigo e Justin descobrem o plano de Robotnik. E agora, precisam detê-lo.
- “A Liga de Malfeitores de Misericórdia!” – Repeti. A essa hora, já estávamos de volta na velha Mansão que já fora de Robotnik, sentados na sala de estar, agora devidamente limpa.
- Exato, meu caro Ghe. – Disse David. – Ai ai... estou com fome.
- Caramba, é mesmo. Desde que foi clonado, você ainda não comeu nada... – Refletiu o Doutor.
Nesse momento, através de um buraco na parede que dava pro lado externo da mansão, uma cobra entrou na sala. Rastejou por entre nós, até, por fim, ser agarrada e engolida por David.
- Mas que... – Praguejou Justin.
- Droga, eu não devia ter assistido aquele documentário no Canal Animal aonde o cara sobrevive na selva comendo cobras... agora isso ficou salvo na minha memória e o David imitou o gesto... – Falei.
- Ei, isso me lembra um certo codinome... – Disse o Doutor.
- De fato. David, seu apelido agora, caso não se incomode, será Cobra. – Anunciei.
- Posso saber porque? – Disse David, ainda que isso estivesse muito evidente.
- Esse era meu codinome quando eu era agente especial em Gallifrey. – Revelei. – Eu também tive de comer uma cobra uma vez. Ganhei o codinome de Comedor de Cobras, e posteriormente, Cobra.
- Hm, legal. Gostei desse apelido. – Disse o David “Cobra”.
- Precisamos revidar. – Afirmou Rodrigo. – Eles vão cometer crimes por toda a cidade.
- Ah é? E o que você sugere? Que criemos uma liga para detê-los? – Perguntou Moe, em tom de zombaria.
- Não seria uma má ideia. – Respondeu Rodrigo.
- Concordo. – Disse o Doutor.
- Mas que nome teríamos? – Perguntou Justin.
- Que tal... A Liga Extraordinária? – Sugeri.
- Bom nome! De onde o tirou? – Perguntou o Doutor.
- Uma história em quadrinhos. Mas isso não é muito relevante. – Respondi.
- Então, está decidido. A partir de hoje, seremos A Liga Extraordinária! – Proclamou o Doutor com entusiasmo. – Empenhada em combater as forças da Legião do Mal!
- Legião do Mal? – Perguntou Moe, com desdém.
- Digo, Liga de Malfeitores de Misericórdia. – Corrigiu-se o Doutor.
- Ok. Temos um nome bonitinho e etc. Mas agora, o que faremos? – Perguntou David “Cobra”.
- Bom, vamos voltar à aquele local aonde vimos Robotnik e seu amigo Espantalho algumas horas atrás. Talvez possamos descobrir mais coisas. – Sugeri.
- É, mas eles podem nos descobrir e nos matar. – Rebateu Moe, seco.
- Mas caso não matem, teremos informações cruciais. – Acrescentou Justin.
- Então, está decidido. – Disse o Doutor. – Vamos voltar para lá.
E voltamos, após alguns minutos de caminhada apressada. Descemos a escada, e, observando com cuidado e silêncio pela fresta da porta, vimos que a sala estava um pouco mudada desde a nossa última “visita”. Agora, todas as tranqueiras, como o aparelho que salvara a vida de Jack, o Espantalho, as prateleiras e armários, haviam sido removidos. A sala, que parecia bem maior sem a presença daquela bagunça, agora era ocupada por uma longa mesa de reuniões com 7 poltronas. 3 do lado direito, 3 do lado esquerdo e 1 na ponta. Sentado à ponta, estava Robotnik. Na poltrona à esquerda mas próxima dele, encontrava-se Jack, o Espantalho. E as outras cadeiras eram ocupadas por pinguins desconhecidos e, estranhamente, um puffle marrom.
Em cima da mesa, estava um pinguim, deitado, com os braços e pernas atados. Parecia apreensivo. Seu bico era tapado por um pedaço de fita isolante.
- Boa tarde, senhores. – Começou Robotnik, em seu longo monólogo. – Estamos agora iniciando oficialmente a 1ª reunião da recém-formada, incrível e mirabolante... A Liga de Malfeitores de Misericórdia. Como podem ver, temos um pinguim atado sob a mesa. “O que ele tem com nossa causa”, vocês perguntam. Como sabem, todos somos inimigos dos cidadãos de Misericórdia. E estamos começando nossa causa eliminando um cidadão popular por aqui. Um serviço de utilidade pública. Um cidadão que todos precisam. O relojoeiro.
- Porque você quer matar um relojoeiro? Sem ele, não saberíamos que horas nos encontrarmos nessa reunião aqui, oras! – Comentou um pinguim sentado à mesa, com desdém. Utilizava óculos de proteção no rosto e um jaleco branco sujo, com uma pistola ligeiramente modificada em um dos bolsos.
- Calado, Gatilho Rápido. – Bradou o Conde Robotnik, com rispidez.
- É “Senhor” Gatilho Rápido para você. Buffalo “Gatilho Rápido” Penguin, o inventor e pistoleiro mais versátil de Misericórdia.
- Isso porque eu parei de inventar. – Disse outro pinguim sentado à mesa, com desdém. Usava óculos, bigode e também jaleco branco.
- Gariwald VIII. – Sussurrou o Doutor, ao meu lado.
Depois que todos à mesa (excerto o relojoeiro) pararam de rir, Robotnik bateu na mesa.
- Calado, Gatilho Rápido. Somos uma liga, é verdade, mas não esqueça quem está no comando aqui. – Rosnou o Conde.
Gatilho Rápido se encolheu na poltrona.
- Prosseguindo... vamos eliminar, um por um, os servidores de utilidade pública dessa cidade. – Continuou Robotnik.
- Excerto o prefeito. – Disse Gariwald, severo.
- Você é nosso aliado, Gariwald. – Disse Robotnik. – E fez muito bem em realizar essa decisão, pois se recusasse, quem estaria atado e amordaçado em cima dessa mesa seria você.
Gariwald imitou o gesto de Gatilho Rápido e também se encolheu na poltrona.
- Enfim... – Disse o Conde, sacando um canivete. – Tudo indica que o mais recomendável a fazer seria dividir esse relojoeiro em partes.
O relojoeiro fez um olhar medroso.
- Oh, não se preocupe, caro amigo dos relógios. Há uma maneira de escapar. Você é amigo e afiliado à quase todos os cidadãos de Misericórdia. E, caso queira continuar vivo, terá de nos contar seus segredos. – Disse Robotnik, arrancando o pedaço de fita isolante da boca do relojoeiro, fazendo-o gritar.
- Eu não sei de nada, eu juro! Sou só um simples relojoeiro! – Disse, entre berros, o pinguim sob a mesa. – Você é o cidadão mais rico dessa pocilga, Robotnik! É amigo de todos os burgueses! Deve saber mais sobre um quarteirão do que eu sei sobre a cidade inteira! E o que não sabe, pode perguntar pro maldito prefeito que está ao seu lado! – Disse, cuspindo no rosto de Gariwald.
Robotnik deu um tapa na cara do relojoeiro.
- IDIOTA! PRESTA ATENÇÃO! Sou amigo dos burgueses, é verdade. Outros Condes e Condessas, Viscondes ou apenas pessoas de classe alta visitam minha residência, bebem do meu vinho e conversam comigo. A mesma coisa com o meu colega Gariwald. Mas não somos amigos do povão. Da ralé a qual você pertence. Por isso precisamos de você. – Disse o Conde, simplesmente.
- E o que você quer saber? Que tipo de relógio eles preferem? Analógico ou digital? Porque, francamente, não acho que isso vá fazer muita diferença. – Admitiu o relojoeiro, que foi punido com outro tapa na cara.
- Não se faça de desentendido. Sua relojoaria fica ao lado do Banco. As pessoas conversam lá. Você ouve tudo. Quero que me diga o número da conta bancária de cada cidadão, por ordem alfabética, à partir da lista que meu colega, A Raposa trouxe-nos. – Disse Robotnik.
Dito isso, um pinguim sentado à mesa, que vestia um robe mostarda com capuz marrom, puxou um bloco de papéis grampeados e passou para Robotnik, que colocou a lista em frente ao pinguim atado.
- Você só pode estar de brincadeira. – Disse o relojoeiro, após alguns segundos de silêncio. – Porque você quer o dinheiro dos cidadãos? Você não ia mata-los?!
- Pretendo empobrece-los e depois mata-los. – Corrigiu Robotnik.
- Porque então você não pegou o maldito banqueiro ao invés de mim?! – Praguejou o pinguim atado.
- Se nós pegássemos o banqueiro logo de primeira, o povo suspeitaria de que há algo errado na cidade. O povo é burro, mas nem tanto. Agora leia. – Disse Robotnik, friamente.
O pinguim, atado e sob a mesa, leu silenciosamente os primeiros nomes da lista. Suspirou, e, por fim, concluiu.
- Nossa, isso é muita falta do que fazer. E as namoradas? – Perguntou o relojoeiro, com um sorriso debochado que foi retribuído com um tapa na cara.
- Fale. – Sibilou o Conde.
- Deixe-me ver... não. Obrigado. – Debochou o relojoeiro.
Robotnik sacou seu canivete e enfiou profundamente na nadadeira esquerda do relojoeiro, que se segurou pra não gritar de dor, mas acabou soltando algumas lágrimas.
- Acha que estou de brincadeira?! – Gritou o Conde. – Se você continuar de deboche, te fatio em oito!
O relojoeiro deu uma risada forçada assustadora.
- Oito?! Eu gostaria de ver você tentar!!!
Robotnik ia enfiar o canivete no olho do relojoeiro se um tiro misterioso não atingisse sua nadadeira e o fizesse largar, urrando de dor.
- Quem está armado aqui?! – Perguntou Robotnik, segurando sua nadadeira sangrenta.
- Só o Flecha no Alvo e o Gatilho Rápido.
- Flecha no Alvo, seu bastardo! – Urrou o Conde, dirigindo-se, estranhamente, para o puffle marrom.
- Não olhe pra mim! Como eu ia atirar em você se nem tenho braços, seu idiota! – Respondeu Flecha no Alvo.
- Só pode ser você então, Gatilho Rápido! – Berrou Robotnik para Buffalo “Gatilho Rápido” Penguin.
- Mas eu nem toquei na minha arma nessa reunião! – Queixou-se Gatilho Rápido. – Veja, ela está bem aqu... Ok, quem pegou minha arma?! – Reclamou ele, quando se deparou com o bolso do jaleco vazio.
Das sombras, Cobra surgiu na sala, agarrando um pinguim de capuz preto que cobria rosto pelo pescoço e apontando a arma de Gatilho Rápido em sua cabeça.
- Não se mecham, desgraçados. Eu tenho um refém! – Ameaçou Cobra.
- Droga, ele pegou o Necromante! – Praguejou Jack, o Espantalho, que tinha permanecido quieto até agora.
- Necromante? – Repetiu Cobra.
Nesse momento, o pinguim que ele mantinha de refém pronunciou algumas palavras estranhas e então dois – surpreendentes – fantasmas surgiram na sala. Um deles era uma pinguim fêmea, e o outro, uma criança.
O fantasma da criança surgiu ao lado de Cobra, o que o assustou e deu a oportunidade do Necromante dar uma cotovelada no inimigo e se soltar.
- Droga! Plano de fuga! – Anunciou Cobra, pegando o relojoeiro e fugindo pela porta, com o pinguim debaixo do braço. Quando vimos Cobra correndo em direção à porta, já saímos correndo pela escadaria em direção à saída.
- O que faremos?! – Rodrigo perguntou, em meio à correria.
- Tenho um plano! Acelerem aí! Se conseguimos subir tudo antes deles, eu atiro no galpão do lado de fora! – Respondeu Cobra.
- Obrigado pelo resgate! – Disse o relojoeiro, sem graça.
- Disponha! – Disse Cobra, ainda correndo com o relojoeiro debaixo do braço.
- O que atirar no galpão causaria demais?! – Perguntou Justin, quando já estávamos perto da saída e tínhamos vantagem de alguns metros à respeito da Liga de Malfeitores.
- Ele é de madeira! – Respondeu Cobra, quando finalmente alcançamos a saída. – E o ambiente está muito seco!
Dizendo isso, Cobra foi o último a sair, e deu um tiro no galpão, que se incendiou, impedindo a saída do inimigo.
Voltamos correndo para a velha mansão.
- Caras, não sei como agradecer. – Disse o relojoeiro, após desatarmos seus pés e nadadeiras.
- Tudo bem. Qual é o seu nome? – Perguntei.
- Clock Tow. Como já devem saber, sou o relojoeiro da cidade. – respondeu o relojoeiro.
- Um relojoeiro chamado Clock? Cara, você deve ouvir muitos trocadilhos... – Disse Moe.
- Você nem imagina. – Falou Clock.
- Bem vindo à nossa sede, Clock. Somos A Liga Extraordinária. Nossa motivação é acabar com aqueles bastardos que te sequestraram. – Anunciou o Doutor.
- Oh, me juntaria à vocês de bom grado. – Disse Clock. – Mas não sei do que servirei a vocês. Não tenho armas, treinamento ninja ou coisa parecida. Sou só um simples relojoeiro.
- Qualquer ajuda é bem vinda. – Falei. – Acha que algum deles morreu no incêndio?
- Muito pouco provável. Aquele local secreto deve ter suas saídas escondidas. Robotnik pode ser um sociopata arrogante, mas é inteligente. E deve ser inteligente o bastante pra ter pensado numa saída de emergência. – Disse o Doutor, secamente.
- Mas pelo menos, detemos eles por alguns minutos. – Disse Justin, otimista.
- Oh, mas eles não descansarão enquanto não tirarem cada centavo dos cidadãos de Misericórdia e depois mata-los. – Disse Rodrigo.
Um minuto de silêncio constrangedor pairou no ar.
- Então, Clock, você disse que é relojoeiro, certo? – Perguntou o Doutor, após algum tempo, para quebrar o gelo.
- Afirmativo. – Respondeu Clock.
- Mas é daqueles que simplesmente vende os relógios ou daqueles que abre o interior, conserta, tira e põe peças e até fabrica os próprios relógios? – Perguntou o Doutor.
- Dos que abre o interior, conserta, tira e põe peças e fabrica os próprios relógios. – Respondeu Clock, com um sorriso.
- Então deve saber muito de mecânica, não? – Perguntou o Doutor.
- Aonde quer chegar? – Perguntou Clock, desconfiado.
- Bom, digamos que eu tenha um acervo enoooorme de peças sobrando. – Supôs o Doutor. – Com os seus aguçados conhecimentos em mecânica, você poderia construir um... tanque?
- Um tanque? – Repetiu Clock.
- Exato. Um veículo pesado movido a esteiras, com um cano que atira coisas na ponta. – Disse o Doutor.
- Eu sei o que é um tanque. – Falou Clock. – Mas pra que precisa de um?!
- Precisaremos de artilharia pesada para combater esses filhos da mãe da Liga de Malfeitores. – Interrompeu Moe, secamente.
- Exato. – Concordou o Doutor.
- Bom, contanto que possa oferecer todos os materiais necessários... eu poderia tentar. – Concluiu Clock.
- Então venha. Tenho uma coisa para lhe mostrar. – Disse o Doutor, que nos guiou, junto com Clock, até o porão, aonde a TARDIS estava guardada. Entrando na cabine maior por dentro, que deixou o relojoeiro boquiaberto, o Doutor apontou para uma grande caixa com ferramentas e peças defeituosas da TARDIS.
- Toda sua. – Disse o Doutor.
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Referências usadas no texto:
— O nome do capítulo é uma referência ao capítulo de mesmo nome da Graphic Novel Watchmen.
— Como Ghe disse, o nome A Liga Extraordinária é baseado num quadrinho. Do premiado roteirista Alan Moore, os quadrinhos de A Liga Extraordinária juntam vários personagens da literatura clássica.
— O puffle Flecha no Alvo é uma óbvia referência ao Bala no Alvo, de Toy Story.