Ótimo. Cheguei atrasada novamente. Culpa da porcaria de chuva que não parava de cair. Cheguei uns dez minutos depois do horário. E o caminho de carro da minha casa até à escola demora cinco.

Cheguei na sala, graças a deus a professora não tinha chego. Mas o meu lugar tinha sido pego por uma outra garota, então só me sobrava o penúltimo lugar na  fileira do outro canto.

Andando até lá, me distraí olhando para o quadro de avisos da sala e sem querer, tropecei no pé de alguma pessoa. E desastrosamente, caí em cima dela.

- Nishiyama-San? - Perguntou o garoto.

- Desculpa! Mil desculpas, sério! - Me levantei do colo do garoto. O nome dele era Kurusu Hayato. Uma pessoa meio excluída da sociedade na minha sala. Não que eu não fosse. Digo, eu tentava me excluir, mas ele era naturalmente excluído. Não entendia por que, já que ele parecia ser uma boa pessoa. - Sério, o que eu faço para me desculpar? Quer que eu compre um chocolate na cantina?

Ele riu um pouco.

- Chocolate na cantina? Calma... Está tudo bem. Você pode apenas conversar um pouco comigo se você quer tanto assim se desculpar.

- Tem certeza que você não quer o chocolate? - Perguntei.

- Você prefere comprar ao invés de conversar? - Respondeu meio desanimado.

- Não! Digo, além de conversar.

- Ah, tá, já que você insiste...

- Ei!

Rimos em conjunto. Me sentei na cadeira na frente dele, e me virei para ele.

- Bom... Então vamos conversar... O que você gosta de fazer? - Perguntei a ele.

- Eu gosto de ver animes, escutar música...

O interrompi no meio:

- Ver animes???? Sério???? Meu deus!!!!

- Qual o problema de ver animes?

- Nenhum!!! Eu sou Otaku!

- Sério? Que foda... - Ele disse olhando para o lado.

- Enfim... Você parece estar meio triste... Está tudo bem?

Ele voltou o olhar para mim. Parecia meio alheio da realidade.

Foi quando eu notei a cor dos olhos dele. Eram castanhos muito lindos. Mostravam uma profundeza, uma tristeza, uma solidão. Um mistério. Era um olhar hipnotizante. Sem perceber, me aproximei um pouco mais para olhar os dele.

- Eu... Eu estou bem sim... Só me distrai um pouco...

- Entendi...

A professora chegou na sala no instante em que eu ia falar alguma coisa.

Eu não sabia exatamente o que eu iria falar. Mas com certeza algo inapropriado sairia da minha boca. Eu me conhecia. Consolo era algo extremamente perigoso quando eu consolava.

Bati a mão na mesa, e me joguei para trás na cadeira. Fiz um coque com o meu cabelo e deixei meu pescoço amostra. Que raiva! Porque eu sempre me metia nessas encrencas com consolo? Mas espera, eu não tinha consolado ele... Então eu não tinha que ficar nervosa...

Dobrei minha perna e apoiei a cabeça no joelho.

Pelo menos era aula de história...

 

Depois de três tempos,  era hora do intervalo. Eu saí correndo da sala, e fui até a cantina comprar uma bebida para mim. Deparei meu olhar com uma barra de chocolate. Apertei meus dedos. Eu estava quase comprando para dar para o Kurusu-San...

- O que você quer? - O caixa perguntou.

Olhei para ele um pouco confusa.

- Ah... Eu quero um refrigerante e... Uma... Barra... De chocolate...

-Qual o refrigerante?

- Coca.

Ele me entregou a barra e o refrigerante. Eu fiquei olhando para a barra. Por que eu comprei aquela merda?!

Escondi a barra no meu bolso. Era pequena o bastante para esconder com o casaco, ainda bem.

Andei meio desnorteada com o refrigerante na minha mão, ainda fechado, e esbarrei em alguém.

Olhei para cima, e vi Kurusu.

- Oi!

- Oi... Ah... Você não vai tomar o refrigerante?

Olhei para baixo. Eu não tinha pego canudo, ou copo, ou nada. Por que eu estava tão desnorteada?

- Cara, eu sou muito burra. Eu vou lá pegar o canudo...

- Eu pego para você. Pode sentar.

Eu observei ele caminhar até a cantina. Alguns segundos depois, eu notei que era para eu sentar. Olhei para o lado e vi uma mesa livre. Me sentei, e esperei Kurusu, um pouco impaciente.

-Misaki-Chan, você está bem?

Olhei para o lado. Kurusu me entregou o canudo, e eu olhei para a mesa. Ele tinha me chamado de Misaki-Chan. Só faltava ele tirar o “ki’ E me chamar de Misa-chan como meus amigos faziam...

- Não muito... Vem cá, o que aconteceu na sala?

Ele se sentou na mesa.

- Olha, nada aconteceu. É só que eu sou uma pessoa meio triste, entende?

- Por quê? Você é tão legal. Digo, do que eu conversei com você, você parece uma pessoa boa.

Ele sorriu.

- Você é uma gracinha, Misaki-chan. Mas as pessoas não costumam pensar isso de mim.

- Entendi. Enfim... Qual seu anime favorito?

- One piece.

- Para variar...

- Ei! Qual o seu?

- Boa pergunta. Eu consigo responder shoujo, mas shounen... Acho que... Talvez Bleach.

- Eu gosto de Bleach.

- Interessante...

- O que você vai fazer hoje a tarde?

- Porcaria nenhuma, hoje é sexta.

- Então você quer ir ao cinema?

- Pode ser... Qual o filme?

- Sei lá, a gente vê qual na hora.

- Legal... Eu vou dar uma olhada antes para ver o horários. Qual o seu telefone?

- Eu não sei de cor... Anota esse número aqui.

Ele me mostrou um número que ele havia anotado no próprio celular. Eu liguei para ele, e ele guardou meu número.

- Ok... Me liga mais tarde... - Ele disse.

Eu peguei meu celular, e dei uma olhada no horário. Merda. Eu tinha que estudar com a minha amiga.

- Ah, eu tenho que ir.

- Já? Como assim?

- Eu prometi estudar geografia com a minha amiga... Depois eu falo com você... Você é uma boa pessoa. Pelo menos há uma nessa escola...

Eu o abracei. Senti suas mãos quentes tocarem minha costas, e depois seu rosto se apoiar de leve em meu ombro. Ele me abraçou de um jeito delicado, em que meus seios não o tocavam. Pelo menos isso. Os garotos não costumavam ter essa delicadeza.

Me afastei do abraço, e acenei com a mão, sorrindo. Ele acenou de volta, com uma cara meio desanimada.