Taylor me beijou.

Repeti aquela frase desde o acontecido. Não havia conseguido dormir direito e o sábado tinha passado com uma tensão que não me deixou ficar quieta nem por um segundo.

Não tinha entendido absolutamente nada. Porque ele tinha me beijado?

AH, não se faça de tonta, ele gosta de você.

Ok, mas daí a me beijar assim de repente... Ele estava me odiando não foi?

AAAAAAAAAAAAAAH DEUS.

Gritei chutando ‘’inteligentemente’’ a perna da mesa.

DROGA.

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Era domingo, e a regra do dia da família seria quebrada outra vez. Estava sozinha em casa e fiquei assim por toda manhã e parte da tarde. Eram quase quatro horas quando decidi sair pra filmar algumas coisas pro meu trabalho de conclusão. Peguei a câmera, cadernos e enfiei na mochila. Saí de casa sem a moto, andei pelas ruas devagar até chegar à Universidade. Estavam tendo apresentações do curso de Música lá.

Entrei no campus e fiquei passeando entre as pessoas. O campus estava enfeitado com flores e luzes dentro de garrafinhas de vidro. Tudo muito simples e bonito. As pessoas sorriam e cantavam junto com cada cantor ou outro artista que subia no palco.

Depois de um tempo observando, me afastei um pouco do lugar. Andei por trás do prédio e fui para o campus de astronomia, onde tinha assistido o eclipse com Matteo.

Sentei na grama embaixo da árvore onde eu e ele ficamos juntos naquele dia. Lembrei-me de tudo que havia acontecido. Naquele dia eu tinha decidido desistir. Iria parar com a investigação e me afastar dele, mas ele me falou coisas sobre si mesmo. Ficamos bem depois e vimos o eclipse.

Como eu queria um eclipse agora...

Como tudo tinha virado de cabeça pra baixo assim tão de repente? Como? Senti meus olhos começarem a embaçar e mordi o lábio inferior.

Estava brava por aquilo. Odiava como eu estava chorando o tempo todo feito uma idiota que eu era. Balancei a cabeça e olhei para o lado levantando-me instintivamente ao ver que tinha alguém lá.

– Ma- Matteo? – chamei quando a pessoa se virou pra ir embora. – Teo. – chamei de novo assustando-me com minha voz embargada.

Matteo virou devagar e me olhou. Eu queria sorrir e abraça-lo, mas minhas pernas estavam presas ao chão. Não conseguia me mover.

– Vamos conversar, por favor. – eu pedi dando um passo pra direção dele. Ele deu outro para trás. Mordi o lábio impedindo-me de chorar e parei. – Você me odeia agora? – não tinha certeza se ele havia escutado, pois minha voz soou como um sussurro. Matteo demorou a responder, mas antes de fazê-lo suspirou.

– Nunca vou odiar você. – ele disse friamente e eu duvidei do que ele disse.

– Não acredito em você.

– Isso não é novidade. – ele disse magoado.

– Não faz assim. – eu pedi amaldiçoando-me por ter dito aquilo. – Quero consertar as coisas.

– Você não pode. – ele disse e eu apertei os olhos.

– Então acabou? Você tá terminado comigo? – perguntei e odiei minha voz esganiçada.

– Acabou o que? O que Sarah? – ele falou mais alto e eu apertei os olhos. – Quer saber? Tchau. – ele disse rápido e se virou pra sair.

– Não, espera! – gritei e ele parou.

Não sabia o que falar, só não queria que ele fosse embora de novo. Queria poder dizer alguma coisa que o fizesse ficar, que o fizesse me perdoar.

– Olha pra mim. – pedi e ele virou devagar. Demorou a levantar a cabeça, mas o fez.

Ficamos nos olhando por um tempo, até que ele sacudiu a cabeça e veio a passos rápidos em minha direção. Senti meu coração pular ao perceber o que ele estava prestes a fazer.

Matteo me beijou. Minha cabeça estava vazia de repente e meu coração saltitava dentro do peito. Ele me empurrou devagar para o tronco da arvore e continuou a me beijar. Um beijo urgente e intenso. Segurei seu rosto entre as mãos e ele fez o mesmo. Estávamos nos beijando como se fosse a última coisa que faríamos na vida. Temi por aquilo. Não seria. Não seria.

Nós fomos diminuindo o ritmo aos poucos, de repente estávamos nos beijando com calma, com carinho. Devagar. Senti lágrimas escorrerem sobre minhas bochechas. Aquilo não era uma despedida. Entrelacei meus braços ao redor do pescoço dele, como se aquilo pudesse impedi-lo de sair de perto de mim.

Matteo afastou o rosto do meu devagar.

– Me perdoa. – eu pedi sussurrando, depois de apertar os olhos. Lágrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto.

Matteo me olhou com cuidado e seu rosto parecia triste, confirmei isso quando percebi sua boca tremer levemente. Ele também estava se esforçando para não chorar. Matteo franziu a testa e balançou a cabeça levemente olhando pra mim.

– Não sei se posso me jogar assim de novo. – ele sussurrou. – Sarah, eu não te odeio. Nunca vou odiar, mas... Não é um filme. Não posso esquecer isso. Isso fica martelando em minha cabeça o dia todo. Você me investigando... Mentindo pra mim. – ele apertou os olhos e eu apertei mais minhas mãos ao redor do seu pescoço. Não queria soltá-lo. – Não consigo deixar de pensar que tudo que disse pra mim, tudo que aconteceu não passou de encenações pra você fazer seu trabalho.

– Não foi...

– Como posso acreditar? – ele me interrompeu e eu mordi o lábio. – Não posso... Temos... Eu preciso seguir o plano que tinha feito pra mim antes de vir pra cá. Sem raízes. Sem mágoas. Sem problemas. Eu devia ter feito isso, mas... Você apareceu. – ele suspirou tirando devagar minhas mãos de seu pescoço. – Queria voltar no tempo. – ele disse antes de se virar e ir embora.

Voltar no tempo... Ele não queria ter me conhecido.

Eu também queria voltar no tempo.