Breakaway escrita por ChocolateQuente


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. *-*



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Chad e Taylor me deixaram em casa, e eu me despedi com um beijo na bochecha de cada um. Subi as escadas degrau por degrau vagarosamente. O “prédio” tinha cinco andares, e eu morava no quarto. Quando cheguei ao meu andar percebi que tinha demorado exatos vinte e cinco minutos. Xinguei mentalmente e novamente o síndico por não ter consertado o elevador e abri a porta do meu pseudoapartamento. Analisei o primeiro cômodo e ri forçadamente. Não que eu fosse totalmente infeliz. Eu vivia ali por uma série de motivos e sabia, ou melhor acreditava, que as coisas mudariam. Algum dia.

O apartamento era do meu jeito. Era o que eu podia pagar e eu estava bem.  A salinha tinha um sofá preto velho, com uma colcha de retalhos coloridos em cima. No chão, sob a mesinha de centro preta, um tapete vermelho. A televisão nova que eu tinha ganhado numa promoção de um supermercado, estava sobre um rack preto, que ainda comportava meu rádio, DVD, CD’s e revistas. Mais no canto da sala tinha um escritório improvisado, com apenas uma mesa e uma poltrona giratória. A mesa repleta de livros e cadernos.

Joguei a bolsa no sofá e atravessei a sala entrando no meu pequeno quarto, que cabia apenas uma cama de solteiro, um guarda-roupa e uma cômoda velha, de cores descombinadas. Acima da cabeceira da minha cama tinha um grande mapa cheio de pontos rabiscados com marcador de texto, indicando os lugares que eu queria visitar. Tirei a roupa e andei até o banheiro. Tomei um banho demorado e dediquei um tempo ao meu cabelo que parecia uma palha engordurada. Quando saí do box, meu cabelo tinha cheiro de pêssego e meu corpo tinha cheiro de morango. Ótimo, uma salada de frutas. Pensei, lembrando-me no mesmo momento, que eu precisava comer. Enrolei uma toalha no corpo e outra nos cabelos, e andei até a cozinha. Se é que podíamos chamar aquilo de cozinha. Era um cômodo estreito, mas cabia uma velha geladeira vermelha, um fogão de quatro bocas, um micro-ondas, um armário, e uma bancada de mármore. Abri a geladeira, peguei uma lasanha congelada e a coloquei no micro-ondas.  Ouvi o barulho da porta se abrindo e revirei os olhos.

- Olá, olá. – a voz afetada não me fez virar. – Não tá brava, está?

- Não Chloe, só que quando eu marco algo com alguém, eu espero que essa pessoa esteja lá. – eu disse me virando para encará-la. Ela sorriu.

- Consegui um emprego. – ela disse.

- O que? Você não ia trabalhar no Dinner? – eu quase gritei e ela revirou os olhos colocando a bolsa em cima do balcão.

- Ah, você sabe que eu não ia dar certo naquele lugar. – ela disse dando de ombros enquanto sentava no banco alto.

- Não me interessa, eu falei com o gerente, ele estava disposto a te dar o trabalho, o que eu vou falar agora? Que você achou coisa melhor?

- É. – ela disse como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo. Eu bufei e tirei o prato com a lasanha do micro-ondas. – Porque você tem que complicar tudo? Eu realmente achei algo melhor, qual o problema?

- Nenhum. Se você não se importa com as pessoas, é problema seu. – eu berrei pegando um garfo na gaveta do armário.

- Ah, por favor Sarah, o gerente agora vai entrar em depressão porque eu não vou trabalhar lá? – ela disse e eu a encarei de cara feia.

- Não é por que não vai trabalhar lá. E não é sobre o gerente. É sobre mim. Não é a primeira vez que faz isso comigo. Você sempre me deixa na mão.

- Me desculp...

- Me poupa Chloe, eu estou cansada, esgotada. Eu fico tentando te ajudar, eu nem sei por quê. Você não precisa de ajuda. É rica, linda e inteligente. Tem tudo o que quer. Carro, uma mansão e um bando de gente que faz as coisas pra você. Mas mesmo assim eu estou sempre aqui, fazendo as coisas pra você. Eu. A ferrada. A que não tem onde cair morta. A bolsista numa faculdade que tem que encher o cabelo de gordura pra pagar a droga do apartamento pequeno! EU! E o que eu ganho? NADA! Você só pinta as unhas e vem soprando-as dizendo que achou algo melhor! – eu gritei tudo e encarei Chloe que estava boquiaberta.

- OK. – ela disse pausadamente, me olhando. – Respira. Respira fundo. – ela disse e eu balancei a cabeça.

- Desculpa.

- Tudo bem. Eu mereço. – ela disse com as mãos para o alto. Eu ri fraco. E sentei no outro banco. Tirei a toalha dos cabelos e a coloquei sobre o balcão. Comecei a comer e vi que Chloe me olhava.

- Desculpa.

- Tudo bem. Eu sei que você está cansada, ok? Me desculpa, por eu ser tão... Eu. –ela disse e eu ri.

- Onde vai trabalhar? – mudei de assunto enfiando lasanha na boca.

- Numa super loja de roupas no shopping! – ela berrou e eu ri.

- Porque vai trabalhar, hein?

- Meu pai tá me enchendo o saco. – ela revirou os olhos se levantando. – Fica dizendo que eu preciso fazer alguma coisa na vida, que ele não vai me dar mesada pra sempre e blá blá blá. Então fui fazer compras e vi que eles estavam precisando de uma vendedora, então me candidatei e ganhei o emprego. Vai ser bom até pra eu estagiar, sabe? – ela disse e eu assenti com a cabeça.

- Não se importa de trabalhar no lugar onde você era cliente?

- Não. Não mesmo. Não estou nem aí. Talvez trabalhar lá deslanche a minha carreira como estilista. Eu posso sugerir minhas roupas e se elas gostarem vão começar a vender. – ela disse em tom de empolgação.

- É, você me surpreende. Sempre. Em todos os sentidos. – eu disse e ela riu pegando o garfo da minha mão.

- Eu sei. E adoro isso. Aliás, posso dormir aqui hoje?

- Porque?

- Porque to com preguiça de ir pra casa.

- Sério que vai preferir dormir no sofá da minha sala, porque tá com preguiça de ir pra sua mansão, pro seu quarto, pra sua cama king size ultra grande sabe lá que nome?

- É. – ela respondeu naturalmente.

- Louca. – eu disse e joguei a toalha em seu rosto.

Chloe era maluca e tudo mais, mas eu a amava. Amava muito. Ela foi minha primeira amiga quando me mudei. Deixou-me ficar em sua casa até eu encontrar um lugar pra ficar. Que tipo de pessoa faz isso? Chloe.

***************

- Nossa, já ia me esquecendo de te contar uma fofoca quentíssima. – Chloe berrou se jogando na minha cama enquanto eu me vestia. – Porque usa isso? – ela perguntou apontando para meu pijama branco com bolinhas coloridas.

- Porque eu gosto. É meu pijama favorito.

- Isso é um moletom e um shortinho. Não é um pijama e é feio. – ela disse com cara de nojo e eu fiz uma careta.

- Cala a boca e conta a fofoca.

- Ou uma coisa ou outra, querida.

- Conta logo, Chloe. – eu a apressei, antes de sentar na cama.

- Ok, sabe aquele gatinho italiano que a gente viu hoje no campus? – ela perguntou e eu revirei os olhos.

- Ele não é italiano. – eu disse enquanto penteava meus cabelos.

- Claro que é. Eu nunca erro. Ele veio da Itália pra estudar Artes aqui. – ela disse dando de ombros. Eu ri e fiz um sinal com a cabeça pra que ela continuasse.

- Intercambio?

- Foi o que ele disse na Universidade, mas... Há boatos, boatos bem convincentes por sinal, de que ele fugiu da Itália.

- Por quê?

- Porque ele é suspeito de ter estuprado e matado duas garotas menores de idade. Pasme amiga. – ela disse e suspirou. Eu balancei a cabeça negativamente.

- Não faz sentido nenhum. Se ele fosse suspeito mesmo, não teria conseguido sair do país dele e não conseguiria se matricular na Universidade.

- Acontece que ninguém tem provas suficientes para coloca-lo na prisão, ou detê-lo no país. E aqui na Universidade ninguém sabe muito sobre ele.

- E por que ele é suspeito então?

- Parece que as garotas eram amigas da irmã mais nova dele, e o que dizem é que ele já tinha estuprado a própria irmã.

- O que? – eu perguntei boquiaberta. – Porque ninguém o denunciou então?

- Não sei.

- Isso é loucura. – eu disse me levantando da cama e pondo-me a andar por todo o quarto.

- Eu sei amiga. As aparências enganam.

- Acha que ele é inocente?

- Não. Estou dizendo que tinha esperança de sair com ele, mas depois disso... Dispenso. – ela disse naturalmente e eu cocei a cabeça.

- Como soube de tudo isso?

- Ah, você não conhece as alunas do curso de moda. Se tem algo a esconder, fique longe delas. – ela riu se aconchegando em minha cama. – Vou dormir aqui com você, tá? – ela informou já fechando os olhos.

- Como vai conseguir dormir? Um estuprador está à solta na Universidade e você vai dormir naturalmente?

- Ninguém sabe se isso é verdade. Deviam contratar um investigador. – ela disse rindo.

Assim que Chloe acabou de falar senti como se uma lâmpada fosse acesa em minha cabeça.

- Chloe você é um gênio.

- Eu sei, mas... Porque dessa vez? – ela abriu um olho.

- Eu vou investigar ele. – eu disse e ela arregalou os olhos.

- Você tá louca? Vai investigar o estuprador da Universidade?

- Você acabou de dizer que isso pode ser mentira.

- Não interessa. E se for verdade? Na-na-ni-na-não. – ela balançou a cabeça.

- É a minha chance.

- Vou falar com Chad. – ela berrou se sentando na cama e eu a encarei.

- Chad não é meu pai.

- Mas você só escuta ele.

- Chloe, é como se jogassem a matéria que eu preciso em minhas mãos. Essa é minha matéria de conclusão de curso. – eu abri um sorriso e Chloe revirou os olhos e se jogou na cama de novo.

Era exatamente disso que eu precisava. Se fosse verdade eu faria um bem pra humanidade e se fosse mentira faria bem ao tal italiano. Eu sairia nos jornais e ganharia emprego.

Meus pensamentos quase pulavam em minha cabeça, mas eu precisava controlá-los. Tinha que me manter focada e trabalhar. Esse trabalho não seria fácil.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem. Comentem. *-*



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