“A piedade é uma das mais preciosas faculdades da alma humana.” 

                                                                 Leon Tolstoi

- Você?!

Catarina: Edgar, por favor!

Edgar recuperou-se do susto: Saia daqui, Catarina! Agora! Eu disse pra você sumir da vida da minha família e da minha. Saia! – lançou em tom ameaçador, beirando o descontrole.

Laura que a essa altura, já assistia à cena, completou: Mas é um disparate! Essa mulher vir até a nossa casa, depois de tudo que nos fez! – disse com repugnância – Não ouviu o Edgar? Saia, Catarina!

Catarina chorava, abatida: Eu sei, eu sei de tudo o que eu fiz pra vocês! Me perdoem, por favor! Mas eu não tenho a quem pedir ajuda. Eu não tenho pra onde ir. – disse em meio às lágrimas.

Edgar: Isso não é problema nosso! Você não era noiva do Fernando? Vá atrás dele.

Catarina: Por favor, eu imploro. De verdade. Eu estou doente, não tenho nem o que comer. Por favor, tenham piedade.

Edgar, sem compadecer-se da situação da ex-cantora, estava pronto para fechar a porta em sua cara e esquecer tal visita inconveniente.

Laura interviu, entretanto: Edgar. Eu vou preparar um prato de sopa pra ela. Já é noite e está prestes a chover...

Edgar: Mas Laura – respondeu reticente.

Laura: Ela é mãe da Melissa – disse olhando para a antagonista – Apenas por isso estou intervindo, entendeu? Você come e vai embora logo em seguida.

Catarina que até então se mantinha em silêncio, agradeceu: Obrigada, Laura. Não poderia esperar outra coisa de você.

Laura sem qualquer enternecimento: Venha. – disse enquanto dirigia-se à cozinha.

Edgar seguia as duas de perto, temendo pelo bem estar de sua esposa. Já na copa, a professora ofereceu o prato à Catarina que, rapidamente e sem conversas, devorou-o e agradeceu ainda de boca cheia.

Laura: Quer mais?

Catarina: Por favor, se não for incômodo. Eu estou realmente faminta e essa sopa está deliciosa. – sorriu sem jeito.

De novo, esvaziou o prato, dessa vez, mais lentamente. Após matar a fome, tentou ser delicada com o casal.

Catarina: Obrigada por isso, Laura. Vejo que estão felizes, até um bebê vão ter, finalmente. Parabéns.

Edgar que permanecera em silêncio, interrompeu-a: Catarina, se você já terminou sua janta, não há mais nada para fazer aqui. Por favor, saia.

Catarina, imediatamente, demonstrou desagrado com a grosseria do rapaz: Tudo bem, Edgar. Eu vou, não precisa se irritar dessa forma. Eu realmente vim aqui porque não tinha a quem mais recorrer. Me perdoem pelo inconveniente.

Laura: Tudo bem, Catarina. Mas, agora, se você não se importa... – apontou a direção da saída – nós já íamos nos recolher.

Catarina: Está certo. Vocês tem toda a razão. Mil perdões, novamente. – disse enquanto retornava pelo mesmo caminho que a levara até a cozinha. – Tenham uma boa noite. – disse ao finalizar a visita já nos degraus externos da residência.

Edgar trancou a porta e dirigiu-se à esposa: Laura, o que foi isso? – questionou.

Laura: Ah, meu amor... Sei que não devia, depois de tudo que ela nos fez, mas senti pena dela.

Edgar: Laura, nós estamos falando da Catarina, certo?

Laura sorriu de leve com o comentário do marido: Sim, Edgar... Mas me compadeci da mesma maneira que me compadeceria de qualquer desconhecido. Nada demais.

Edgar: Está bem, meu amor. Acho que você está certa afinal... – falou enquanto se aproximava dela, preparando um abraço carinhoso – Você sempre me surpreende, sabia? Acho que é por isso que te amo tanto... Dar de comer à Catarina... Nunca poderia esperar uma situação como essa... Eu acho que...

Laura, ainda nos braços do amado, interrompeu-o: Ah não, a gente não vai ficar falando dessa mulher, certo? – indagou-o aborrecida.

Edgar sorriu: Não, claro que não! Isso já ficou tão no passado que nem lembro mais

Laura beijou-o rapidamente enquanto acariciava sua barba: Isso! Eu também não me lembro de ninguém que não seja você, nesse momento.

Edgar: Ah é? – beijou o pescoço da professora enquanto deslizava suas mãos pelo seu corpo, adaptando o abraço à barriga voluptuosa dela – Inclusive acabei de lembrar o que nós estávamos fazendo antes de sermos bruscamente interrompidos...

Laura entregue às carícias do esposo respondeu: Ah é? O que a gente estava fazendo, hei Dr. Vieira? – disse enquanto ambos se encaminhavam para a escada, lentamente.

Edgar: A gente estava quase indo lá pra cima, terminar uma conversa importante... – disse beijando intensamente

Laura riu: Ah é, acho que também lembrei qual o assunto dessa conversa...

Nesse clima de romance, o casal subiu as escadas em direção ao quarto. Lá nenhuma memória do passado e nenhuma ameaça do presente poderia alcança-los e, assim, entregaram-se mais uma vez ao amor, sem imaginar o que os esperava durante o fim de semana.