Alegrias transformadas em tristezas: esse foi o desfecho da tão planejada festa de Laura e Edgar. Solidarizando-se pelo sentimento dos jovens, aquele anoitecer não trouxe estrelas nem luar e a escuridão embalou-os enquanto conjecturavam sobre os últimos acontecimentos.

A culpa consumia Edgar impedindo de entregar-se ao sono. Ele não havia feito nada de errado, estava separado de Laura... Foram 6 anos afastados e ele não sabia quando ela voltaria, nem se ela voltaria... Sim, é verdade, ele nunca deixou de ama-la, mas ainda era jovem e talvez conseguisse reconstruir sua vida com uma mulher que aceitasse sua condição de divorciado. Edgar sabia que estava condenado à solidão, mas não queria render-se a ela. Seu erro foi procurar em outras mulheres o que queria sentir com Laura... mas nenhuma conseguiu esse feito, por mais que tentasse, ninguém poderia fazê-lo esquecer um sentimento tão forte.

Laura também não dormira. Revirou-se na cama pensando sobre o que descobriu há alguns momentos. Seu marido havia a decepcionado mais uma vez... Logo Edgar que parecia ter sido fiel a ela durante esses anos! Ela devia ter esperado... primeiro Catarina, depois surgiu Heloísa... Claro que durante esses anos, ele teria se interessado por alguma moça... Laura sempre evitou pensar nisso, mas agora as evidências estavam à sua frente e ela não conseguia ser indiferente. Saber que Edgar tentou esquecê-la. Saber que ele foi de outra. De outras! A mágoa se apoderava de seu coração.

A manhã chegou e com ela a necessidade de uma reconciliação. Laura e Edgar precisavam de uma conversa franca, talvez a mais franca de todo o seu relacionamento.

A professora acordou das poucas horas de descanso que conseguiu, vestiu-se e partiu para o desjejum. Ainda era cedo e ficou aliviada ao ver que seu marido e Melissa ainda estavam dormindo. Avisando Lurdes que sairia e não sabia que horas retornaria naquele dia, saiu em direção ao Alheira em busca de Isabel.

Edgar, logo após a saída da esposa, despertou ainda abatido pela noite mal dormida. Alinhou-se como pode e caminhou ao quarto do casal a procura da amada, preocupando-se ao ver que não estava mais lá... Achava que a manhã já traria calma suficiente para falarem abertamente. Após trocar-se, desceu também para o café da manhã e sem descobrir o destino tomado por Laura, agravou sua aflição. Resolveu acordar a filha e leva-la ao morro, talvez encontrasse a esposa por lá.

Já no teatro, a professora falava com a dançarina, abrindo seu coração sobre as revelações da noite anterior. Chorava e soluçava ao relatar os relacionamentos que Edgar tivera durante os anos de separação enquanto a amiga ouvia atenta e compreensiva. Isabel não pôde deixar de fazer uma observação mental: as emoções da amiga tomavam proporções ainda mais astronômicas devido à gravidez...

Terminados os desabafos, Isabel abraçou a professora e enxugou suas lágrimas.

Isabel: Laura, escute tudo o que você me disse... A resposta pro seu sofrimento está nas tuas próprias palavras.

Laura ficou confusa: Desculpa, não estou entendendo, Isabel...

Isabel: Você me contou sobre esses relacionamentos que o Edgar teve durante esses anos em que vocês estavam di-vor-ci-a-dos. – ela destacou bem a palavra.

Laura: Sim, mas ele disse que me amava e não tinha se separado de mim! Tirou satisfações quando eu voltei! Você sabe...

Isabel: Sei, mas veja... Você também contou sobre seu pai e a Dona Margarida...

Laura ainda mais confusa, mas esboçando um sorriso: Sim, os dois estão apaixonados, qual a relação deles com a traição do Edgar?

Isabel: Você não disse que a relação deles não é uma traição?

Laura: E não é.

Isabel: As do Edgar também não foram, minha amiga!

Laura: Foram!

Isabel: Tá. Me diz porque seu pai não está traindo sua mãe e porque a Dona Margarida não está traindo o Sr. Bonifácio.

Laura: Porque eles estão separados, oras! Não se amam mais – terminou a frase entendendo onde a amiga queria chegar.

Isabel: Então! Você e Edgar estavam divorciados... Ele não te traiu, Laura! Ele não sabia que você ia voltar... E ele ficou, sim, casado com você, num casamento de fachada, mas ficou!

Laura: Mas eu não pedi isso! – levantou o tom de voz.

Isabel: Nós sabemos disso, mas não acha que não é mais uma prova de que ele não te esqueceu?

Laura parou por um momento absorvendo as palavras da amiga. Teimosa como sempre, prosseguiu na argumentação: Mas ele me amava! Disse que me amava, pelo menos... Por que procurou outras mulheres?

Isabel sorriu com a insistência: Não sei... Talvez ele tenha tentado preencher o vazio que você deixou... Procurou em outra...

Laura corrigiu: Outras!

Isabel: Certo... Procurou em outras, aquilo que sabia que só encontraria em você...

Laura: Se fosse o caso, ele poderia ter me procurado... – pensou entristecida.

Isabel: Laura! Você sabe o quanto Edgar te ama!

Laura fez cara de dúvida, mas estava convencida: Sei? – disse divertida

Isabel riu: Sabe! – abraçou a professora e soltou séria, prosseguiu – Mas fale com ele, vocês tem que conversar por vocês e por esse filho que está chegando! – sorriu enquanto acariciava o ventre de Laura – Tenho certeza que Edgar vai saber explicar.

Laura abraçou sua melhor amiga, agradeceu e rumou de volta a sua casa. Queria encontrar Edgar. Ou não queria ainda? Não sabia ainda, mas queria voltar pra casa...