Na manhã seguinte, Laura despertou mais cedo que de costume, custou-se para se desvencilhar de Edgar sem acorda-lo e levantou-se. Mesmo ainda chateada com ele, ao observar o amado dormindo, resolveu deixar um bilhete.

“Edgar,

Saí mais cedo para resolver alguns assuntos.

Não voltarei para o almoço, mas não se preocupe;

à noite conversamos...

Cuide bem de Melissa.

Com amor,

sua Laura.”

Ela dobrou o papel, beijou-o e colocou-o no travesseiro de forma que Edgar visse logo que despertasse. Após vestir-se tomando o maior cuidado para não fazer barulho, olhou novamente para Edgar que repousava encantador na cama do casal; ela sorriu maliciosa e partiu em direção ao corredor.

Já na sala, a professora pediu à Lurdes que servisse seu desjejum, deu-lhe as orientações necessárias para quando Melissa e Edgar acordassem e avisou que não voltaria para o almoço. Após despedir-se da empregada, saiu apressada de casa.

Alguns minutos depois de a moça deixar o lar, Edgar procurou-a no leito vazio e assustado abriu, finalmente, os olhos encontrando o bilhete por ela deixado. Leu e um pouco mais aliviado percebeu que a amada acordara mais calma que na noite anterior; ainda assim desejava saber aonde ela tinha ido que a impediria de voltar para almoçar com ele. Por hora teria que se contentar com o bilhete.

O advogado foi ao quarto da filha e carinhosamente a acordou.

Edgar sussurrou: Bom dia, dorminhoca!

Melissa sonolenta sorriu: Bom dia, papai!

Edgar sorriu: Dormiu bem, florzinha?

Melissa esfregou os olhos, espreguiçando-se: Aham!

Edgar riu: Que bom, florzinha! A Laura saiu mais cedo hoje e não vem almoçar em casa. Que  tal aproveitarmos para preparar o que combinamos ontem antes de você ir pra escola?

Melissa pôs-se de pé: É pra já! – e puxando a mão do pai foram tomar café e se prepararam para sair de casa também.

Laura passou a manhã indo a várias lojas da Rua do Ouvidor. De cada uma delas saía com 2 ou 3 sacolas na mão. Quase na hora do almoço, já estava sobrecarregada de compras, resolveu almoçar na Colonial antes de ir ao Teatro Alheira para o ensaio da semana e convida-los para o jantar de comemoração dali a alguns dias.

Edgar e Melissa, por sua vez, foram de automóvel a todas as floriculturas da cidade. Compraram todo o estoque de alecrim do Rio de Janeiro até encherem o banco de trás do carro. Os dois almoçaram na casa de Margarida e logo depois a menina foi deixada na escola. O advogado apressou-se para levar as flores para seu destino e ir trabalhar.

A tarde prosseguiu tranquila, mas Laura e Edgar estavam morrendo de saudades um do outro e não viam a hora de chegar em casa e revelar o que estavam escondendo um do outro desde o dia anterior.

A moça foi a primeira a retornar ao lar. Ela ficou aliviada, pois não saberia como explicar todas aquelas sem estragar seus planos. Pediu ajuda de Lurdes para esconder tudo e seguia para seu quarto quando Edgar chegou com sua filha no colo.

Edgar afoito: Não sobe! – percebeu sua falha, e falou carinhoso – Oi meu amor, que saudade!

Laura desceu os poucos degraus que havia subido. Ela também estava tensa, pois minutos antes e seu marido teria visto tudo. Ela abraçou e beijou os dois: Que saudades eu senti de vocês hoje!

O rapaz colocou Melissa no chão e abraçou a esposa com mais intensidade cheirando seus cabelos.

Lurdes interrompeu-os: O jantar está servido.

“É agora.” – pensou Laura.

Dirigiram-se todos à mesa de refeições e antes de começarem a comer, a moça pediu atenção de todos.

Laura um tom sóbrio: Bom, sei que vocês estão me escondendo alguma coisa... – olhou de canto de olho para o marido – e, bem... eu estava algo de vocês também... na verdade, de você, Melissa.

Melissa confusa: De mim?

Edgar ficou de pé pois teria que apoiar a esposa ao contar essa novidade. Laura foi até o escritório e trouxe algumas sacolas, tirando um pacote grande e pomposo de uma delas.

Laura: Comprei isso pra você hoje.

Melissa desfez o laço e abriu a caixa. Eram duas bonecas: um menino e uma menina, pareciam gêmeos.

Melissa: Tia Laura! São lindos! Obrigada!

Laura sorriu e prosseguiu: Melissa, você gostaria de ter um irmão ou uma irmã?

Melissa sorriu esperta: Você tá grávida? – o tom de sua voz era esperançoso.

Laura ficou sem jeito com a esperteza da menina. Olhou para Edgar e ambos se aproximaram dela.

Edgar falou pela primeira vez: Princesa, isso não quer dizer que a gente vai te amar menos, entende?

Laura interrompeu agachando-se, ficando na altura de Melissa: É como esses dois bebês – apontou para o presente – Você gosta deles igual desde o momento que os viu, não é?

Melissa concordou com a cabeça.

Laura prosseguiu sorrindo e afagando seus cabelos: Então... É parecido... Quando o amor é de verdade ele nunca é substituído por outro. Os amores se somam e fazem nosso coração aumentar. E ele fica enoooorme,

Melissa respondeu com olhos arregalados: Enorme?

Laura riu: Aham! Porque a gente pode amar muitas pessoas, sabia?

Melissa: E não dói?

Laura abraçou a menina: Não. Só deixa a gente ainda mais feliz. – sorriu com lágrimas nos olhos quando a soltou.

Melissa: Posso ajudar a cuidar do meu irmãozinho?

Laura: Ou irmãzinha... – riu – É claro que pode, minha princesa! Vamos ter trabalho com tantos bebês! – brincou ao olhar para os bonecos novamente. Prosseguiu – por isso já aproveitei e comecei a fazer o enxoval! – terminou sorrindo.

Edgar que até o momento olhava-a com lágrimas nos olhos, impressionado com a capacidade que Laura tinha de deixar as coisas sempre mais bonitas, voltou à realidade ao ouvir ‘enxoval’: Mas já?

Laura respondeu que quis comprar algumas roupinhas para os ‘filhinhos’ de Melissa também, assim ela iria se acostumando com a ideia de um bebê na casa. Edgar entendeu e mais uma vez ficou comovido com a sensibilidade da amada. Após a professora mostra algumas das peças que havia escolhido pela manhã, resolveram jantar por fim.

Naquela noite Laura e Edgar foram juntos contar uma história para Melissa dormir. Seus dois novos bonecos passaram a acompanha-la fielmente durante seu descanso, um de cada lado do corpo e sempre recebendo carinhos infindos.