Se tem uma coisa em que qualquer fã de zumbis sabe é que não se deve fazer barulho perto deles, não se deve revelar sua presença aos mortos-vivos. E essas foram duas das principais regras quebradas por aquela pessoa desconhecida que deu o tiro.

Mesmo na chuva, deixei os faróis do carro apagados, guiando às pressas o veículo para longe dali.

-Não vamos descobrir o que é aquele barulho?! - Scorpio disse, olhando decepcionado para trás.

-De jeito nenhum - falei, rápido - Aquele tiro vai atrair um monte de zumbis, já, já.

E todos ficaram em silêncio, sabendo que eu tinha mesmo razão.

Ouvindo apenas os respingos da chuva a acertarem e caírem pelas janelas do Amarok, cada um de nós parecia preso em seus próprios pensamentos, e depois de tudo o que já havia se passado já era de se esperar isso mesmo. Contando que ficássemos unidos (e vivos), precisávamos ter nossos próprios momentos de silêncio mesmo, para que o caos que acontecia ao redor de nós não nos alcançasse por dentro, porque isso não podíamos permitir de jeito nenhum.

-Estou com sono - ouvi Nagisa sussurrar no banco de trás, encostando sua cabeça no ombro de Yuri. Pelo retovisor, eu podia notar o olhar cansado de todos, inclusive o meu.

-Será que conseguimos parar em algum lugar e descansar? - Scorpio perguntou a mim, embora eu não soubesse a resposta.

Tentei sorrir a eles, porque de todos que estavam ali eu era aquele que menos dormia.

-Podem dormir enquanto eu continuo dirigindo, qualquer coisa eu acordo vocês.

Continuei seguindo por ruas escuras e desertas aguardando uma resposta deles, porém, aquela foi uma resposta que não veio, e sim apenas se entregou ao silêncio. Pouco a pouco, pude perceber os olhos de cada um deles se fechando, seus corpos se entregando ao descanso. Naquela noite que avançava cada vez mais fria, não tínhamos cobertas ou agasalhos para nos aquecer, então tudo com o que podíamos contar era o calor de nossos corpos a proteger do frio tanto a nós, quanto nossos companheiros também.

Comecei a cantar uma música dentro da minha cabeça, enquanto eu era envolvido calmamente pelo embalo do sono de cada um dos meus amigos. Posso dizer que não vi nenhum outro zumbi enquanto a chuva caía, e a medida que nos aproximávamos do Morro, busquei reduzir a velocidade cada vez mais, com medo de que algum zumbi escondido ali pudesse nos perceber novamente. Posso afirmar ainda que, na minha cabeça, Minene não estava certa sobre aquele lugar, que aquele refúgio que todos eles imaginavam encontrar jamais tivesse sido concretizado. Sim, eu era aquele que não acreditava em sonhos e fantasias. Na minha mente, eu podia ver a multidão de zumbis a dominar o Morro, mas se meus amigos queriam confirmar aquela utopia deles, não seria eu o fdp que estragaria tudo. Pelo menos isso, eu queria mostrar a eles, mesmo que, no fundo, no fundo, eu ainda não sabia que quem eu queria convencer de que ainda podíamos ter, sim, um final feliz era na verdade eu.