Quando saímos da minha casa, deixando Kobashi para trás, sabíamos que não tínhamos para onde ir. Fugir novamente para os campos e florestas ao redor das estradas já não era mais uma opção, e continuar ali dentro da cidade seria mais arriscado ainda.

"O barulho do carro vai atrair eles até nós, de novo", um de nós comentou; "Mas precisamos encontrar um lugar para ficar", outro interveio. Por mais que discutíssemos um com o outro, não estávamos chegando à conclusão nenhuma, e eu, aquele que dirigia em silêncio o Amarok, era quem tinha uma dúvida cruel dançando zombateira na mente; era uma ideia absurda, quase ridícula, só que ela me perturbava de todas as formas que podia mesmo assim: o beijo que recebi da garota que estava prestes a se transformar num zumbi... será que aquilo me afetaria de alguma maneira? Olhei para meus amigos, que ainda discutiam preocupados...

(E se eu me transformasse num deles?)

Senti meu corpo tremer, minhas mãos apertando fortes o volante como se assim eu pudesse chegar a alguma resposta. Mas não me lembro de nenhum filme ou série sobre zumbi retratar disso, nem uma vez sequer. Eu não tinha nada em que me basear...

–Shiro, Shiro - alguma voz tentava me tirar de meus devaneios. Piscando duas vezes, virei para trás, meus olhos se encontrando com os de Minene.

–Você está muito quieto - ela murmurou, desconfiada. - O que houve?

Não sei quanto tempo fiquei perdido em minhas perguntas, mas o tempo pareceu grande o suficiente para a discussão que envolvia todos os meus companheiros transformar-se num silêncio distinto.

–Não é nada - menti, mesmo com medo da minha amiga ler a mentira saindo pelo meu fio de voz.

–Vire ali à esquerda - ela semi-cerrou os olhos, mudando de assunto de repente. - Vamos para o Morro, as Sete Capelas e o Convento talvez podem ser um lugar seguro para nós.

–Hm, não acho que seja uma boa ideia - retruquei, embora tenha virado à esquerda como ela disse - Tem muita mata em volta de lá, o lugar deve estar tomado pelos zumbis.

–Talvez - ela falou, séria - Mas eu quero confirmar uma coisa que me disseram no começo do Fim... Me falaram para ir para lá antes de eu ficar sozinha, queriam fazer daquele lugar um refúgio para os humanos que sobreviveram. Talvez... apenas talvez... tenham conseguido isso.

Olhei pelo retrovisor e pude notar o olhar de todos em volta de Minene a encará-la fixamente, numa mistura perceptível de receio e esperança.

Será que alguém ou algum grupo seria capaz disso? E, também, será que permitiriam que nós, estranhos, fizéssemos parte do refúgio deles? Se as perguntas já eram cruciais, as respostas eram mais importantes ainda. Segurando firme no volante, avisei a todos que iríamos para o Morro.

Só não contávamos com as surpresas que viriam a seguir.