A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 13
Capítulo 13 - O Uivo de um Lobo




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- Entre Alice - disse soltando o ar que prendia, ainda segurando com uma força controlada, a pia de mármore branco. Mechas de meu cabelo caíram em meu rosto, quando abaixei a cabeça para controlar os tremores que minhas mãos teimavam em apresentar. Ouvi passos leves atrás de mim e levantei a cabeça para olhar para o espelho. Olhos negros e profundos me encaravam inseguros. 

Edward estava em pé na porta do banheiro, suas mãos coladas ao corpo. Seu rosto estava tenso, mas seus lábios entreabertos, mostravam surpresa. Sustentei o olhar nos olhos dele por um instante, travando uma luta interna para me recompor. Soltei o ar lentamente, e me endireitei. Isso seria necessário.

- Edward. - disse com uma formalidade desnecessária. 

Ele se manteve parado, me observando. Depois de algum tempo ele suspirou. 

- Precisamos conversar. - anunciou ele, desnecessariamente. 

 Me movi um pouco tonta até grande cama de casal e me sentei em uma extremidade, fechando os olhos por um momento, a fim de parar com a tontura. Ouvi ele se aproximar e  se sentar na cama na minha frente, mais a uma distância segura. Abri os olhos e minha visão embaçou um pouco, mas logo eu consegui enxergá-lo normalmente. Para falar a verdade eu mal conseguia me manter acordada, poderia desmaiar a qualquer momento, e eu reprimia esse impulso com todas as minhas forças. Ele deve ter percebido que eu não começaria o diálogo, então ele se prontificou. 

- Tudo bem, eu começo. - ele iniciou seguro. - Eu não queria te magoar daquela maneira. Peço que me perdoe, por favor. Não quero ficar brigado com você.

Eu continuei a fitá-lo, tentando me lembrar de como colocar a voz para fora, lutando contra a embriaguez da tontura. Ele se moveu mais pra perto, desesperado, desamparado. 

- Por favor... Eu não sei mais o que dizer. Eu fui um tolo, fui um covarde. Não admiti que estava com ciúmes, deixei que fosse embora daquela maneira, para depois me culpar por não saber se estava bem, ou... - ele arfou. - Apenas, por favor... 

- Te perdoo, Edward. - falei com dificuldade. - Tenho um carinho enorme por você... 

- Prometo, que jamais... - ele sorriu - Jamais a deixarei triste daquela maneira. - ele se aproximou devagar e me deu um beijo na testa. Sua blusa escura de mangas compridas me chamou atenção por um momento. E seu pescoço ficou tão próximo. Agarrei a cabeceira da cama tão forte, reprimindo o impulso de agarrá-lo, que um estalo de rachadura se fez audível. 

- Está tudo bem? - ele perguntou, com as sobrancelhas unidas. Seu hálito frio acariciando minha testa. Ele colocou as duas mãos em meu rosto. 

A energia dentro de mim foi crescendo, inundando-me por dentro, só esperando eu vacilar para ser liberada por completo. O que estava acontecendo comigo? Agarrei mais forte a cabeceira da cama e outro estalo se seguiu. Eu encarava seu peito, desejando-o fora daquele tecido frágil que era sua blusa de algodão, evitando encará-lo nos olhos. Mal conseguia pronunciar uma sílaba, estava entrando em desespero. Cada membro de meu corpo desejava criar vida própria, a chama interna aquecia e desligava cada célula da minha consciência. E eu lutava, eu juro que lutava... Edward era meu amigo, meu companheiro, eu jamais faria qualquer mal à ele... Uma lágrima escorreu em minha bochecha, eu estava aterrorizada. 

- Os outros foram caçar. Eu quis ficar para te fazer companhia. - ele falou quando olhou meus olhos, sua voz era de cortar o coração. - Ei, olhe para mim, não chore... Por favor, Serena. 

Ele colocou uma mão em meu queixo tentando fazer-me encará-lo. Me doía muito que ele não tivesse entendido o motivo de minhas lágrimas. Eu queria falar para ele se afastar, para ele fujir enquanto ainda dava, mas minha voz se perdeu em algum lugar obscuro e sombrio que eu era impossibilitada de acessar. E então, como se já não bastasse, ele me abraçou.

Outra lágrima escorreu de meu rosto congelado enquanto o resto da cabeceira da minha cama se quebrava em minhas mãos. Prendi a respiração e consegui sussurrar uma única frase. Minha voz era pura tristeza.

- Edward. Não. 

E, como se já não fosse óbvio, ele me abraçou mais forte, tentando me confortar. Eu não conseguia mais segurar a respiração, meus pulmões implorando por ar, eu me permiti respirar. 

O cheiro de perfume da humana prevaleceu no começo, mas logo o seu aroma característico de vampiro masculino se fez perceber. E então minha consciência evaporou. Um sorriso sombrio surgiu em meus lábios, e eu agarrei seu cabelo macio com uma mão e a outra coloquei em seu peito. Ele se afastou de mim e me olhou confuso. Eu fitei seus olhos negros e vi o reflexo dos meus se tornando negros também. Edward suspirou, e examinou meu corpo parando por um tempo em meu abdome rígido, à mostra. Sua razão estava vacilando e isso era nítido. Ele me olhou novamente como que para pedir auxílio, e então seu rosto ficou inexpressivo, já estava encantado. Ele se aproximou lentamente e eu o empurrei para a cama de modo que eu ficasse sentada em seu quadril. Ele colocou as mãos em minha cintura e foi descendo até a coxa. Eu virei a cabeça sorrindo sarcástica e coloquei as mãos por debaixo de sua blusa, sentindo sua pele tão fria que me deu arrepios. 

- Está preparado Campeão? - minha voz soou como a de uma vadia. E eu estava adorando isso. 

- Eu sempre estive. - ele respondeu levantando uma sobrancelha e rasgando minha calça inteira ao mesmo tempo em que eu destroçava sua blusa.

Minha chama interna se expandiu, entrelaçando-se com o corpo de Edward e fazendo-o se aproximar sem hesitar, ela o invadiu por inteiro. Ele ria malicioso, um Edward que jamais esperei conhecer. Ele me beijou ferozmente enquanto eu o segurava pelo pescoço. Saímos da cama como um vulto e paramos na cômoda, onde eu me sentei. Entrelacei minhas pernas em seu corpo e ele gemeu, prazeroso. Ele beijou meu pescoço, minha mandíbula, e eu segurei o cinto de sua calça com firmeza. Ele me observou com um meio sorriso delicioso, e eu puxei seu cinto com um só movimento, esbarrando no rádio atrás de mim, ligando-o. Picotei sua calça com as unhas e fiz o mesmo com sua cueca. Reconheci de imediato a música que tocava no rádio: Rock you like a Hurricane - Scorpions. Passei a língua pela clavícula de Edward, que me observava fascinado. Me libertei de seus braços e desfilei até a cama. Ele voou até onde eu estava e me encheu de beijos apaixonados e carícias pelas costas e nuca. Eu o empurrei para a cama e admirei seu corpo nu. Sentei-me em cima de seu peito e comecei a beijá-lo no pescoço, segurando ambos seus braços, deixando-o imóvel. Um desejo insaciável percorreu-me, uma sede infinita de sangue. Por puro instinto lhe mordi o pescoço, mas nada saiu. Fitei a pele branca e pálida dele, e voltei a mordê-lo diversas vezes, em lugares diferentes. E então para a minha surpresa ele, delicadamente, fincou os dentes em meu pescoço me deixando imóvel. Senti o líquido fervente descer pela pele e cair em seus lábios. O contraste de temperatura era tão grande que o líquido saia vapor ao tocar sua pele. Senti o aroma do meu próprio sangue, e algo me veio a mente. Edward me prendeu junto ao seu corpo e continuou a sugar meu sangue em um ritmo erótico e apaixonante. Observei a mesinha de cabeceira, e comecei e me sentir um pouco bêbada novamente, me virei um pouco mais e vi a cômoda do quarto, com todos os objetos que ficavam em cima, jogados e quebrados no chão. Olhei o armário de madeira branca e fitei a foto pregada lá, inexpressiva. Um garoto jovem, bonito, forte e familiar estava na foto, e ele sorria. Uma voz surgiu em minha mente. 

- Serena, Serena... Eu te amo... Eu te amo tanto... 

A princípio, julguei ser o garoto da foto, mas prestei mais atenção e percebi que era Edward falando. Mas eu podia sentir os lábios dele ocupados em meu pescoço, se movimentando como um matador abaixo de mim. Não poderia ter sido ele. A voz continuou.

- Estou apaixonado por você... é você que eu quero. 

- Edward? - falei, com a mente ficando mais clara. 

- Hum... - ele gemeu em meu pescoço.

- Edward! - o empurrei e encarei o vampiro faminto e cheio de sangue manchando a pele branca. O observei assustada, e então percebi que estava nu. Depois fitei a mim mesma e me vi de top e calcinha, em cima dele. Fiquei aterrorizada com a cena. Minha mente havia voltado ao normal, eu podia ver tudo claramente. 

- O... que está acontecendo? - ele indagou confuso enquanto observava ao redor. 

- Ela está... semi-nua. É tão bonita... - a voz em minha mente se manifestou novamente. 

- Edward, o que disse? - perguntei em choque. 

- Eu não... disse nada. - ele observou o corpo cheio de sangue e se sentou bruscamente. - O que houve aqui? 

Coloquei ambas as mãos na boca. 

- O que eu fiz... O que eu fiz? Meu Deus! - exclamei dando um pulo para fora da cama.

- Diga pra mim que nós não... - ele começou. 

- Não... Não... Não... Mas, foi quase... Meu Deus! 

- Olha, se acalme. - ele se levantou e se cobriu com o lençol. - Você não está bem... 

Um pontada violenta me atingiu no corpo todo agora, fazendo-me ajoelhar no chão. 

- Serena! - Edward se agachou rápido. 

- Não... - arfei com a dor novamente. - Não posso mais, não posso. 

Me levantei e corri rapidamente até a janela de meu quarto, atirando-me em direção à ela. O vidro se estilhaçou inteiro, e eu me arremessei de três andares. Pousei no chão com dificuldade, cortada pelos cacos de vidro. Disparei em direção à floresta e corri o mais longe que pude. 

Parei e cai no chão, gritando de dor. Agora não só meus órgãos como meus ossos pareciam estar sendo esmagados, puxados, remexidos, esticados. Eu chorava, e quanto mais chorava, mais minha voz sumia.Fiquei de pé no meio da mata, o dia estava quase amanhecendo. Me agarrei a um tronco grande de árvore e arranquei-o da raiz atirando-o ao longe. Gritei de dor e rasguei o resto de roupa que me cobria. Uma raiva alucinada me envenenava pouco a pouco e meu corpo inteiro começou a tremer. Golpeei o solo muitas vezes cavando um buraco tão grande que em minha mente parecia-se com um túmulo. Me levantei novamente e sangue começou a escorrer por minhas pernas e molhar o solo gramado. Sangue escorria pelo meu pescoço também e pelos cortes do vidro, logo meu corpo inteiro se banhou em sangue. Senti meus ossos se expandirem, quebrarem, se refazerem e quebrarem de novo, em um ciclo doloroso e maníaco. Meu corpo não era mais o mesmo, nem eu mesma sabia o que estava acontecendo. Caí na cova em que eu própria cavei e gritei mais alto, tentando de todas as maneiras fazer a dor parar. Mas não parou, em vez disso, o meu corpo continuava se transformando e meu sangue continuava jorrando para fora. Eu morreria ali, naquele momento. Eram meus últimos momentos eu sabia. Olhei para o céu escuro que clareava aos poucos e vi uma luz clara imensa. Meus olhos se fecharam e se abriram novamente e vi Max. Parado bem ali na minha frente com um sorriso amável. 

- Max... - sussurrei tirando forças do meu interior. 

- Liberte-se Serena, deixe-se governar. Liberte-se - a voz forte e máscula se pronunciou. 

- Max! Por favor... Não quero mais viver aqui! - eu chorava alto e soluçava, ao mesmo momento em que todo o meu corpo mudava diante de meus olhos. 

- Fique tranquila, princesa. Seja forte. Por nós dois. Eu te amo... - ele se aproximou e me deu um beijo suave nos lábios. 

Seu cabelo castanho dourado nem tão curto, nem tão comprido balançava, mas não havia vento. Seu corpo moreno e musculoso possuía o mesmo calor mas eu não podia senti-lo. Ele usava o colar que deixei em sua sepultura. Tinha um sorriso perfeito, e tão branco. Fiquei perdida em sua visão, ele estava exatamente do mesmo jeito que da última vez que o vi. Vestia um shorts feito de couro branco com franjas laterais e em seu tornozelo esquerdo havia uma pena branca e preta amarrada. A visão começou a se transformar a media que eu ia ficando cada vez mais fraca, o corpo do meu amor começou a mudar lentamente, e depois de um tempo consegui discernir a figura preta e imponente. Ele havia se transformado no lobo negro dos olhos dourados. O lobo que eu amava e venerava tanto. O meu lobo Alfa. Ele continuava a me observar, sentado, e seu rabo balançava tranquilamente, com a pena pendurada nele. Aqueles olhos dourados que transbordavam paixão e admiração. A imagem começou a ficar desfocada e embaçada, estava sumindo. Entrei em desespero. O Lobo ergueu a cabeça para a lua e soltou um uivo. Tentei chamá-lo, gritar seu nome mas não conseguia. Conforme eu ia perdendo a consciência tentei chamá-lo mais uma última vez antes de sua imagem desaparecer por completo.

Mas de minha garganta saiu apenas um longo e triste uivo.

Assim, a imagem desapareceu, junto com tudo ao redor. E eu caí em escuridão, em uma confortante e calma escuridão.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o capítulo mais emocionante de escrever. Todas as partes dele, mas confesso, meus queridos leitores, que minha parte preferida foi o final... Continua no próximo capítulo.