A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 11
Capítulo 11 - Canadá




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Dormia absorta em meus melhores sonhos. Sonhava com olhos azuis, pretos, dourados, verdes... Olhos que observavam as estrelas que cobriam o céu da noite, uma paisagem magnífica. Uma brisa leve soprava e eu sentia seu afago em minhas bochechas, meu pescoço. As cores do sonho foram se esvaindo, foi ficando tudo calmo e escurecido, mas a brisa continuou a me afagar.

Abri os olhos sonolenta, sorrindo, ainda em dúvida se estava acordada. Suspirei lentamente e continuei sentindo o mesmo arrepio suave em minhas bochechas. Coloquei uma mão próxima à orelha e senti a pele fria, mas não era a minha.

- Bom dia. – a doce voz sussurrou como se me convidasse a dormir novamente.

Me sentei, assustada. Minha visão se adaptou rapidamente ao escuro do quarto, e eu comecei a discernir as formas. Senti um aroma fresco de ar puro e perfume masculino, e imediatamente coloquei a mão esquerda na minha frente tocando a maciez do tecido de algodão da camisa dele. Segurei-o com força e braços rígidos me envolveram.

- Eu soube de tudo... – Edward disse me abraçando. – Por que não me ligou?

- Não foi nada alarmante. E de qualquer forma, você estava muito bem ocupado... – ri baixinho.

- Não brinque, Serena. Estou falando sério. Deveria ter me ligado... – ele me encarou passando uma mão pelos cabelos bagunçados. – Eu cheguei aqui e Emmet me informou sobre tudo. Você tem noção do quanto eu fiquei preocupado com você?

- Precisa se controlar mais garanhão. – ri mais uma vez. – E não é pra tanto escândalo... Quase nem sinto mais dor. – menti.

- Não é sobre a dor que estou falando. Me refiro à sua fuga para Seattle na outra noite. O incêndio que você provocou está passando na TV. – ele fez uma pausa, bravo. – É só eu ficar ausente durante um único dia que já é motivo para você fazer esse tipo de coisa?

  Eu o fitei desconfiada. Ele estava bem nervoso e eu o conhecia, ele não ligava para acidentes como o incêndio...

- Edward, você não espera que eu fique presa sob a sua vigilância a todo momento, não é? Aliás eu sei muito bem qual o motivo da sua ira. – o observei incrédula. – Ficou bravo por que dormi com o humano!

- Não vê que isso pode te deixar mal? – ele pausou aflito, procurando por palavras. – Não se sente culpada por ter traído Max?

Eu parei e fiquei observando o tapete branco do quarto, pensando se realmente ele foi idiota o bastante para mencionar o nome de Max em meio à aquela discussão. Soltei todo o ar que eu prendia na garganta, perplexa com a audácia do garoto. A fúria me consumiu lentamente, célula por célula, até meus punhos começarem a tremer.

- O que foi que você disse? – dei ênfase a cada palavra. – Você não sabe nada sobre nós... Portanto não ouse falar do meu Max novamente. – ameacei antes de me levantar um pouco zonza.

- Me perdoe, eu... Não queria te ofender. – ele se levantou também. – Não era isso que eu queria dizer, por favor...

Ele pegou minha mão, mas em uma movimento rápido, puxei-a novamente sussurrando um “Suma da minha frente” . Rapidamente peguei minha mochila e coloquei algumas roupas lá dentro e desci as escadas ainda de pijama. Jasper e Alice ficaram preocupados e me pararam.

- Ei, o que está acontec... – Alice parou quando olhou em meus olhos. – Seus olhos estão negros... Mas você se alimentou ontem!

- Posso pegar seu carro novamente? – perguntei com a voz controlada.

- Claro. Mas para onde vai? Vai fazer compras? – ela perguntou confusa e assustada.

- Não. Vou para o mais longe daqui. – sussurrei trincando os dentes. – Antes que eu me arrependa. Ah, não se preocupe, devolverei o carro.

- Serena, espere! – Emmet gritou vindo correndo da cozinha.

Mas já era tarde, o motor do carro já roncava enquanto eu pisava no acelerador com tudo e girava o volante rapidamente rumo à estrada.

Já na estrada que serpenteava por entre as árvores, tentei fazer o ar chegar aos meus pulmões com certa dificuldade. Respirei fundo uma, duas, três vezes. Me arrependeria tanto se machucasse meu querido Edward, mas ele merecia. Ele não sabia das minhas razões para optar por aquela “fuga” para a cidade... Não sabia mesmo. Estava com ciúmes e ainda se sentia no direito de me criticar. E era exatamente por isso que eu odiava depender dos outros, seja depender da moradia, ou do carro... Relações com pessoas são instáveis, do mesmo modo que elas podem te deixar nas nuvens, elas podem quebrar a confiança que você tem nelas. O lema do meu querido Max valia nessa situação : “Meu amor, é melhor prevenir, do que remediar...”. Dei um soco leve no volante do Porsche, enquanto acelerava mais e mais. Em meio à angustia, fiquei atenta aos postes com anúncios colados, evitando-os para não colidir com o carro. Em um desses postes que passavam como um borrão, captei uma foto de um anúncio e freei o carro rapidamente. Os pneus protestaram escandalosamente e meu rosto foi de encontro ao volante, fazendo o airbag inflar. Ignorei o volante um pouco amassado, rasguei o airbag com as unhas tirando-o da frente da visão e dei ré. Parei o carro de frente para o poste e observei a foto. O anúncio dizia: “Você viu esse garoto?”. O menino era bronzeado, tinha olhos escuros e cabelo igualmente preto. Sua expressão era muito parecida à de Max. Os músculos  torneados eram muito parecidos. Chacoalhei a cabeça como uma idiota e continuei a dirigir pela estrada. Eu só havia me confundido, era só... Infelizmente.

Dirigi por exatamente 3 horas seguidas sem parar, começando a realmente me sentir culpada pelos meus atos. Respirei fundo e virei o volante, conduzindo o glamouroso Porsche amarelo por entre as árvores da floresta ao lado da estrada. Estacionei o carro, e saí com ambas as mãos na nuca, pensando sobre o que eu faria naquele momento. Olhei para o carro, e uma ideia veio a minha cabeça. Eu precisava de um tempinho para relaxar e ficar calma. Ser selvagem me deixava calma, me fazia lembrar de casa.

- Eu posso roubar outro carro desse para Alice quando eu retornar. – disse em voz alta para mim mesma, enquanto eu arrancava meu pijama azul marinho e o enfiava por entre a janela meio aberta do carro.

Peguei uma roupa mais confortável em minha mochila, uma simples calça comprida de algodão e a minha camiseta com as palavras: I LOVE PIRATES. Dei um sorriso largo antes de sair em disparada por entre as árvores, descalça, apenas sentindo a grama úmida sob meus pés. Correr era um dos meus passatempos preferidos além de mergulhar e escalar. No Brasil eu costumava passar horas fazendo cada uma dessas tarefas e ensinando-as para o meu bando. Tínhamos um roteiro completo para o dia e nosso treinamento era aprimorado sempre. Lembrei-me de Henrique e Athena, os sub-líderes que ajudavam à mim e à Max a treinar os grupos das fêmeas e dos machos. As cabanas eram divididas para evitar qualquer tipo de problema, principalmente com imprintings. Num grupo tão grande como aquele, de mais de 20 pessoas, era necessário impor alguma ordem. Eu me sentia liberta enquanto meus cabelos flutuavam para trás e meus pés mal pareciam tocar o chão, de tanta velocidade.  Era como voar, mas sem asas. A paisagem era apenas uma mancha verde, nada podia se ver. No meio da corrida eu pulava nas copas das árvores fazendo os pássaros voarem assustados, e eu ria, e não conseguia parar de rir. Era exatamente assim que Max e eu fazíamos nossos passeios, correndo, pulando, brincando e se divertindo. Lembro-me bem de que ele sempre me vencia quando fazíamos competições de velocidade na corrida, mas eu o superava quando o assunto era nadar. Rápidos e ágeis, nossas habilidades eram incríveis juntas, complementares. Sem ele, era como se a minha invencibilidade tivesse ido embora, na verdade era como se nunca tivesse existido. Nossas roupas eram feitas de pele de animais exóticos, nossos acessórios eram tantos... Penas, plumas, colares... Nossos irmãos de bando nos respeitavam acima de tudo, até por que Max e eu éramos os Alfas.

Despertei de meus devaneios e me surpreendi que tudo estivesse tão escuro. Já era noite e a floresta já estava silenciosa. Acima da densa camada de folhas das árvores, a lua tentava aparecer. Havia se passado quase um dia inteiro, e durante metade dele eu corri sem rumo. Não sabia ao certo onde eu estava, pra falar a verdade, eu não fazia a mínima ideia.

Retirei minha mochila das costas e procurei por algo pra comer. Não havia nada. Então eu me concentrei para ouvir algum som de animal, ou algo que fosse comestível, mas surpreendentemente e misteriosamente não ouvi nada. Tudo estava muito quieto, quieto até demais. Os animais noturnos pareciam não estar presentes, parecia que tudo esta morto. O único barulho que se podia escutar eram o leve farfalhar das folhas com a brisa leve. Achando aquilo muito esquisito, encostei minhas costas no tronco de uma árvore e me coloquei a observar ao meu redor. Não havia nada, nem ninguém, mais um arrepio horrível se protestou em minha nuca. Minha mão esquerda segurou a alça da mochila marrom com força enquanto minha mão livre arrancou um galho grande da árvore atrás de mim. Havia alguém ali sim, e os animais estavam com medo. Olhei para o ápice da árvore da minha frente e vi a pequena coruja se encolhendo debaixo das asas, com seus olhos arregalados procurando por algo. Quem quer que fosse que estivesse ali, estava perto... Realmente perto. Um som rompeu o silêncio pela esquerda, no meio de alguns arbustos, e o animal enorme pulou em minha direção. Com uma diversão notável, rapidamente , perfurei o ombro da criatura gigante e peluda, que caiu no chão antes de me atingir. Ri satisfeita com meu desempenho quando ouvi o bicho ganir baixinho. Me aproximei do animal caído e fiquei assombrada com o lobo gigante que sangrava bem onde o graveto estava fincado em sua pele. Um lobo daquele tamanho era inexistente... Eu não poderia estar vendo um de minha espécie. Ou poderia? Me agachei próxima à ele e retirei o galho com força.

- Sinto muito campeão... – afaguei seu pescoço. – Você está bem?

O lobo se levantou com certa dificuldade, e seus olhos escuros me fitaram com raiva. Ele rosnou alto.

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- Ei, ei, ei... Me desculpe pelo machucadinho, tá legal? – ergui ambas as mãos em sinal de rendição. – Afinal nem foi tão ruim assim... Você me assustou.

Ele se sentou nas patas traseiras, ainda com olhar de repreensão e olhou na direção de minha mão manchada com seu sangue. Limpei-a na calça e depois a estendi para cumprimentá-lo.

- Olá, sou Serena. – sorri amigável.

O lobo me encarou dando dois passos para trás confuso, e depois se virou e partiu para o meio da mata densa. Dei de ombros, e comecei a caminhar em outra direção. Aquele lobisomem não era nada agradável.

- Sou Jacob Black. – uma voz grave, rouca e sarcástica rompeu o silêncio atrás de mim. Me virei para observá-lo e congelei quando o vi. Alto, moreno, tinha uma olhar que demonstrava dor... Mas não era dor física era uma dor sentimental. Eu pousei meu olhar em seu rosto e suspirei franzindo o cenho. Me movi para trás inconscientemente, estava chocada. Ele tinha a mesma cor de pele de Max, o mesmo maxilar... A semelhança era evidente. Porém não eram idênticos.

- Meu Deus... – sussurrei cobrindo a boca com as mãos. – Você é idêntico à ele.

Ele estreitou os olhos e ficou sério. Finalmente notei o buraco aberto em seu ombro, de onde escorria sangue até seu shorts jeans. Ele parecia ignorar o ferimento.

- Me perdoe. – indiquei o machucado. – Não foi de propósito. Logo já estará curado.

- Como sabe sobre isso? – ele perguntou tombando a cabeça desconfiado.

- Eu... apenas sei. Lobisomens são fáceis de encontrar.

O homem grande arregalou os olhos com surpresa e se aproximou hesitante.

- Sei... Você não fede como um sanguessuga... Mas também não cheira como humana. Que tipo de abominação é você? – ele perguntou tedioso.

- Ah – fiquei ofendida. – Acho que você está irritado. Portanto, ignorarei seu comentário, Black. – ironizei.

Me virei e comecei a andar para a floresta. Uma rajada de vento me atingiu no rosto, sinal de que uma chuva estava por vir. Quando me dei conta braços extremamente quentes me chacoalhavam bruscamente.

- Você tem o cheio dela! De onde a conhece! – Jacob gritava.- Me diga!

- Ei seu idiota! – o empurrei com força e ele caiu no chão. – Qual o seu problema?

- Você andou com a Bella! O cheiro dela está em você. – ele rugiu furioso. – Você a machucou?

- O quê? – perguntei confusa. – Do que está falando?

- Não se finja de desentendida. Você também tem o cheiro daquele sanguessuga leitor de mentes!

Dei um soco em seu rosto, e ele caiu 3 metros à frente.

- Não deixarei que fale de Edward muito menos da noiva dele, seu babaca!

- Você esteve com eles então... – ele sussurrou esfregando a face machucada.

- Não. Estive apenas com Edward, mas pelo visto ele esteve com Bella... Por isso o cheiro dela ficou em mim. – esclareci. – E o que você tem a ver com isso?

- Ele está traindo ela?! Com você? Ele é um maldito, vou matá-lo! – ele vociferou. Deferi outro soco em sua outra bochecha.

- É óbvio que não! Quem você pensa que eu sou? – gritei furiosa.

Seu peito arfava, enquanto ele ainda estava sentado na grama da floresta. Suas mãos, que antes tremiam, foram se controlando. Ele suspirou e desviou o olhar para o lado. Ele parecia arrasado.

- Ei... – me aproximei delicadamente. – Não chore...

- Me desculpe... – ele sussurrou. – Eu apenas... Ah deixa pra lá.

Ele se levantou e limpou o shorts. Seu ferimento no ombro já sumira completamente. Ele parecia muito mal mesmo, seu lábio inferior tremia levemente.

- E o que você faz por aqui? – perguntei descontraidamente enquanto ajudava-o a se limpar.

- Fugindo. – ele deu de ombros.

- Nossa! É foragido da polícia? Isso é muito legal, cara!

- Não... – ele riu levemente. – Fugindo da vida.

- Ah... Mas que coincidência. Eu também. – sorri para ele tentando animá-lo inutilmente.

 - Olha, me desculpe pelas palavras sem jeito. Tenho que ir. – ele se despediu.

- Espere. Vai para onde? – perguntei.

- Para qualquer lugar. – murmurou. – O Canadá é bem grande.

- Estamos no Canadá?! – perguntei assombrada.

- Talvez sim, talvez não... – ele deu um meio sorriso.

- Então vou passear com você. Não estou à fim de voltar agora. – passei meu braço em volta do seu.

- Então somos dois. – ele finalizou quando começamos a caminhar pela mata.

A chuva começou a cair em gotas grandes e pesadas, e logo foi ficando mais forte. Caminhamos pela floresta, molhados e conversando. E por apenas um momento me permiti fechar os olhos, sentir a grama molhada sob meus pés e o braço fervente que segurava o meu.

- Max...  – sussurrei.

- O que disse? – meu novo amigo perguntou.

- Nada não... Continue.

E assim continuamos a falar sobre a vida, sobre as nossas vidas... Que dão tantas voltas para sempre chegar no mesmo lugar em que começou, sem exceções. Mal percebi que aquele Jacob Black era o Jacob Black de quem Alice falava tanto... 


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Notas finais do capítulo

Agora tudo ficará bom, e começará a fazer mais sentido... Enquanto isso, a data do casamento de Edward se aproxima. Em pouco mais de um mês, Edward Cullen estaria em um altar.



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