O Filho De Ártemis escrita por Marina Leal, DiasLuiza


Capítulo 5
Presentes de uma deusa




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- Layla. – Ártemis disse ainda olhando com fascinação para o filho, ela gostaria de ter acompanhado o crescimento dele, mas não podia.

- Minha senhora? – A ninfa perguntou olhando da deusa para o menino, e mesmo assim não sentindo um sentimento de perda ou de posse, apenas de que aquele momento era para acontecer e Caleb nunca deixaria de ser seu filho, mesmo que Ártemis assumisse tê-lo escondido.

A deusa desviou o olhar de Caleb e ele se sentiu um tanto frustrado por não ter mais a atenção dela apenas para ele, foram catorze anos sem explicações e agora que ele podia fazer as perguntas ele sentia que devia ao menos ter um pouco de privacidade para conversar com a deusa que salvou sua vida.

- Arrume uma mochila para você e uma para Caleb. – Ela disse suavemente interrompendo os pensamentos dele que notou a ordem que estava contida ali, apesar de bem disfarçada. – Agora que Caleb sabe o que é, vocês não poderão permanecer no mesmo lugar por muito tempo.

A mãe dele assentiu e a deusa se afastou de Caleb e passou para Layla duas mochilas prateadas de aspecto comum, mas que pareciam resistentes.

- Seja rápida. – A deusa disse e voltou seu olhar para ele. – Quanto a você, vai precisar de uma arma de semideus. – Ele olhou para a mãe, que se preparava para sair da tenda e se sentiu perdido e ao mesmo tempo satisfeito. – Caleb, preste atenção! – A voz de Ártemis o repreendendo o trouxe de volta. – Não tenho muito tempo para ficar com você, então precisamos aproveitá-lo ao máximo possível.

- Antes de tudo, posso fazer uma pergunta? – Caleb falou hesitante e a deusa o olhou.

- Muito bem, faça. – Ela disse parecendo frustrada por ele não fazer as coisas nos termos dela.

- Se é um acampamento para semideuses... E eu sou um... Um semideus. – Ele disse tentando pôr para fora as palavras. – Então por que... ?

- Por que não mando você para lá? – Ela interrompeu sua pergunta ele assentiu. – Pensei que fosse óbvio meu filho.

Ela o olhou, ele pensou por um momento e a deusa suspirou quando ele não disse nada.

- Porque você é meu filho. Supostamente o filho de uma promessa quebrada. – Ártemis disse para ele suavemente, mas a mágoa em sua voz era evidente e Caleb se moveu com desconforto. – E para muitos dos outros uma criança que não deveria existir. Você não seria bem aceito entre eles.

Ele lutou para manter o rosto inalterado enquanto as palavras dela passavam rasgando tudo dentro dele.

- Mas saiba que não me arrependo de salvar sua vida... Com exceção dos monstros que você vai ter que enfrentar daqui para frente. – Ela falou oferecendo um sorriso tímido para ele. – Agora se levante, temos muito que fazer.

Ele obedeceu e se pôs de pé, ficando parado enquanto ela o analisava andando ao redor dele, chutando algumas almofadas para chegar mais perto dele e obter uma visão melhor.

- Você tem o porte de um arqueiro, o que não me surpreende, mas também possui músculos o suficiente para lutar com uma espada. – A deusa refletia em voz baixa, mais como se falasse consigo mesma que com ele. – Talvez seja uma coisa boa, isso o tornaria difícil de classificar, de saber qual deus é seu parente Olimpiano.

Ela se afastou e Caleb a seguiu com os olhos. Ele a viu remexer em algumas peles e abrir um baú que Caleb não soube como não o havia notado antes. Ártemis remexeu rapidamente dentro do baú e voltou para perto dele estendendo um objeto comprido e que brilhava estranhamente, quando ela chegou mais perto dele, Caleb notou que era uma espada de mais ou menos 90 cm e que brilhava como a lua cheia.

A deusa voltou o cabo na direção dele.

- Tome. – Disse baixinho e ele pegou a espada cautelosamente.

Ela encaixou-se na mão dele e era surpreendentemente leve, logo abaixo da guarda estavam gravadas três palavras que ele reconheceu como sendo grego antigo.

Φως του Φεγγαριού

- Luz da Lua. – Ele disse, surpreso por conseguir ler e entender o significado.

Caleb olhou para a deusa que ele ainda tinha certa dificuldade de ver como mãe, o aspecto infantil não ajudava muito.

- É a primeira lâmina do tipo... E talvez a única. – Ela disse olhando para a espada e inconsciente dos pensamentos dele. – Forjada em bronze celestial especialmente para um herói que obtivesse minha benção, a mantive escondida por muito tempo, acreditando que ela nunca seria utilizada. – Ártemis olhou para ele e sorriu. – Agora gire a lâmina em um círculo.

Ele obedeceu e assim que terminou de girar a ponta da espada ela tornou-se um anel com o entalhe de uma lua cheia branca, com o quarto crescente destacado em preto.

- Maneiro. – Ele disse sorrindo e colocando o anel que coube em seu dedo perfeitamente.

- E isso também é para você. – Ela disse e estendeu um arco ricamente esculpido, mas que não possuía nenhuma espécie de marca que dizia “esse é um presente de Ártemis”. Era um arco comum.

- Obrigado. – Ele e pegou a aljava que ela o entregou e a deusa assentiu levemente.

Ele estudou o arco e depois as flechas e teve que admitir para si que estava mais a vontade com o arco que com a espada.

- Treine constantemente. – Ártemis disse. – Posso te ensinar o básico com o arco e como fazer novas flechas, mas lutar com a espada eu não serei de grande ajuda.

Caleb assentiu, entendendo que teria que arrumar um meio de aprender a manejar a espada sozinho. Ele suspirou e pegou uma flecha da aljava e estudou-a da ponta até a base.

- Eu posso estar errada, mas quero pedir que evite lutar com a espada ao máximo possível, mesmo que precise aprender a lutar com ela. – Ártemis disse e Caleb a olhou claramente confuso. Porque precisaria evitar usar a espada? – Ela te denunciará por quem você é, não é uma boa coisa que os monstros descubram sua existência. – A deusa sacudiu a cabeça, claramente perturbada com o assunto. – Não, por enquanto é melhor que te tomem por um filho de Apolo, imagino que sua pontaria com o arco seja boa, e isso te manterá oculto por algum tempo, por isso o arco e as flechas são comuns e não possuem nada que os caracterizam como um presente vindo de mim.

- Tudo bem então minha senhora. – Ele disse com um leve sentimento de melancolia.

- Só peço que evite usá-la, não que não a use está bem? – A deusa disse olhando em seus olhos.

Caleb assentiu e Layla entrou na tenda, o sobressaltando, mas Ártemis já parecia saber que ela estava perto. A ninfa depositou as mochilas próximas à porta da tenda e se aproximou de ambos com preocupação.

- Senti a presença de algo próximo a casa, minha senhora. – Ela disse com ansiedade, seus olhos nunca vacilando enquanto estudava o ambiente e Caleb teve uma certeza repentina: sua mãe era uma Caçadora. Por isso era tão jovem. – Mas não parecia que ia atacar.

Ártemis a olhou e balançou a cabeça enquanto ele se recuperava do choque da descoberta que fez.

- Eu também senti a presença, Layla, não se preocupe. – Ela olhou para Caleb. – Monstros normalmente sentem a minha presença, assim como eu sinto as deles. Não se preocupe, tentarei não deixar você exposto a monstros por muito tempo, no acampamento pelo menos você ficaria seguro. – Ela baixou o olhar. – Mas eu jamais pediria para Atena assumir um filho que não é dela.

- Eu posso protegê-lo senhora. – Layla murmurou e Ártemis sorriu. – Ele pode não ser bem aceito entre os outros meios-sangues.

- Você o protegeu muito bem por todos esses anos minha valente Caçadora, mas agora é diferente e você sabe disso. E eu sei que ele pode não ser aceito, mas lá é um lugar para semideuses e, portanto também é o lugar dele.

Layla suspirou e assentiu levemente.

- A senhora está certa, é claro. – Ela murmurou e Caleb notou que ela estava diferente, usava um casaco prateado e brilhava levemente em um tom perolado que o deixou perturbado, pois era do mesmo jeito que o brilho que o envolveu no sonho.

A deusa voltou a olhar para Caleb e ele se esforçou para ficar sério.

- Vou tentar encontrar um meio de mandar você para lá meu filho, mas peço que tenha paciência, pode ser que eu não consiga fazer com que te aceitem logo no começo, mas vou fazer o possível. – E se voltou para Layla. – Tenho no máximo cinco dias para ficar com vocês sem levantar as suspeitas de todos no conselho, com exceção de Atena, que sabe que vim falar com você.

- É pouco tempo, mas tenho certeza que nosso menino aprenderá rápido, minha senhora. – Layla disse sorrindo confiante e a deusa assentiu, mas seus olhos eram indecifráveis.

Caleb franziu a testa e achou certo exagero elas disserem que cinco dias era pouco tempo, na opinião dele era tempo o bastante para aprender o suficiente, mas ao que parecia a opinião dele não estava muito certa, ou até mesmo contava para alguma coisa naquele momento. Então as palavras seguintes de Ártemis o deixaram um tanto nervoso, pois ela estava muito séria quando disse:

- Ele precisa, se quiser ter uma chance de sobreviver depois que eu partir.


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Notas finais do capítulo

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