O Filho De Ártemis escrita por Marina Leal, DiasLuiza


Capítulo 30
Lembranças parte 1


Notas iniciais do capítulo

oi gente, bem, esse cap é dedicado duplamente a minha querida Júlia Linck, primeiro porque se não fosse pela curiosidade dela esse cap não existiria, e segundo para agradecer pela maravilhosa recomendação. Beijos flor, a próxima parte também é para você.



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POV: Iole

Iole sentia os olhares dos outros semideuses na direção dela, de Alícia e Caleb. Ela achou que se devia em grande parte por eles dois estarem com as coroas de louros e que alguns vinham dar os parabéns a eles por voltarem vivos da missão.

Alguns paravam e conversavam com ela por alguns minutos. Então Steve veio até eles com o irmão ao seu lado. Jhonnatan. Eles cumprimentaram Alícia e Caleb então Steve sentou do lado de Alícia e reivindicou a atenção dela para si.

Já Jhonnatan sentou do outro lado de Iole e entregou para ela uma mochila.

- Aqui tem algumas coisas para você. Eu sei o quanto o chalé de Hera é, hum, pouco hospitaleiro. – Ele falou sorrindo para ela, mas Iole teve a estranha sensação de que ele estava corando, embora não tivesse certeza devido às chamas da fogueira. – Então arrumei um saco de dormir, algumas roupas do acampamento, uma escova de dente para você.

Iole sorriu e pegou a mochila.

- Obrigada. Isso vai ser muito útil.

O garoto assentiu e em seguida levantou e voltou para perto dos irmãos, duas garotas e três garotos que olhavam maliciosamente para ele.

- Parece que ele gostou de você. – Ela ouviu a voz de Caleb enquanto remexia na bolsa.

Ela conteve um sorriso de satisfação, ele estava com ciúme dela.

- Parece? – Perguntou inocentemente ao voltar seus olhos para o garoto, mas completou sinceramente. – Acho que ele só estava sendo gentil.

Arrumar um saco de dormir e outros acessórios para dormir não é só ser gentil. A voz de Alícia soou com um tom zombeteiro e malicioso. Admita que você percebeu que Jhonnatan gostou de você.

Iole ignorou os comentários da garota enquanto olhava Caleb, que bufou parecendo irritado.

- Se você diz.

- Bem pessoal, acho que está na hora de vocês voltarem para seus chalés. – A voz de Quíron interrompeu o que Iole ia dizer. – Já está tarde e amanhã tem treino.

Houve um gemido coletivo dos semideuses, mas todos começaram a se organizar para voltar aos chalés. Iole levantou e Caleb, Alícia e Steve fizeram o mesmo. Ela jogou a bolsa sobre o ombro.

Então quando ia desejar boa noite para Caleb viu que Alícia havia sido mais rápida e estava abraçada com ele.

- Boa noite Caleb. – Iole a ouviu dizer antes de beijar a bochecha do garoto e ir para perto dos irmãos dela. Todos os semideuses olhavam a cena. Pareciam ter percebido o clima tenso entre os três e esperavam uma reação de Iole.

Iole limpou a garganta antes de desejar uma “boa noite” para Caleb e começar a se afastar para o chalé de Hera, sem lançar um olhar sequer para trás.

*****

Iole passou alguns minutos tentando arrumar um bom lugar para dormir, colocou as duas mochilas que levava consigo, a que o filho de Deméter havia dado a ela e a que sua mãe, Hera, havia lhe dado antes da missão, encostadas próximas a ela. Por fim estendeu o saco de dormir em um canto e enfiou-se dentro, mas o sono não veio.

Então pescou em um dos bolsos laterais da mochila que Hera lhe deu uma pequena fotografia amassada que mostrava a garota abraçada com o pai, no parque que ficava próximo à casa que moravam antes que sua vida fosse destruída. Ela fitou o rosto sorridente dele. Iole tinha o queixo e o desenho das bochechas iguais aos dele, e quando sorria, igual ao sorriso da foto, ficava muito parecida com ele.

Fechou os olhos e lembrou do último dia que esteve com ele.

Flashback on

Iole estava voltando para casa, para passar as férias de inverno com o pai, que estava de folga do trabalho. Talvez ele a levasse ao parque de diversão, ou ao cinema. Ela realmente não ligava para o lugar, o que importava era que teria a companhia dele por toda semana.

Uma grossa camada de neve havia se alojado na calçada e atrapalhava seus passos, mas nem isso a incomodava. Seu pai era o único que a aceitava como ela era, e teria um bom tempo com ele nos próximos dias, isso era o bastante para impedir a irritação pela neve estúpida em seu caminho.

Mas enfim chegou à varanda de casa. Pegou a chave embaixo do tapete de entrada e quando abriu a porta seu coração perdeu uma batida.

A sala de estar estava completamente destruída. Os vasos de flores jaziam em cacos por todo lugar, a estante com a televisão estava partida ao meio e o sofá em farrapos. Mas o mais apavorante, o lugar estava manchado de sangue fresco.

Ela abriu a boca para chamar pelo pai, mas pensou melhor, se fosse um monstro não iria chamar a atenção dele estando desarmada. Esgueirou-se pelo corredor da casa e encontrou mais destruição pelo caminho, entrou no quarto, o lugar estava irreconhecível. Mas não tinha tempo para ver os danos, precisava agir rápido.

Hera havia prevenido a ela e ao pai que o cheiro de Iole atrairia monstros mitológicos, então a deusa a presenteou com dois objetos. Uma pulseira de prata que invocava um pégaso e um estojo com duas adagas de bronze. A pulseira estava com ela o tempo inteiro, mas Iole mantinha as adagas no quarto, quase nunca precisava delas então não via motivo para mantê-las por perto.

Praguejou em grego enquanto revirava as gavetas quebradas. Enfim encontrou as adagas e no mesmo momento ouviu um urro animalesco vindo do quintal, em seguida a voz de seu pai:

- Ela não está aqui! Está a salvo! – Ele gritou, então houve um baque e um grito de dor. – Pode vir seu monstrengo feioso! É só isso o que sabe fazer?

- Pai! – Iole gemeu enquanto fazia seu caminho de volta pela destruição, precisava chegar a tempo, precisava salvá-lo.

Depois de empurrar uma mesa que bloqueava o caminho para as portas duplas de vidro que levavam ao quintal e que estavam estilhaçadas ela conseguiu ver que monstro estava atacando seu pai. E ela congelou, não conseguia acreditar.

Era o minotauro. Sua costa era peluda, assim como o resto do seu corpo que era humanóide, porém deformado em algumas partes. Mas ela não deu muita atenção a ele, seus olhos foram para a figura que o monstro encarava.

Seu pai estava encurralado contra o muro do quintal, seu taco de baseball em suas mãos, saía sangue por entre seus lábios entreabertos, manchando a neve de vermelho vivo a medida que caía. Havia um corte feio em sua testa.

- MATAR SEMIDEUSA! – O monstro gritou e parecia algo entre um mugido e um rosnado. Isso a tirou da paralisia e ela começou a se aproximar.

Mas nesse momento seu pai a viu.

- Não! – Ele gemeu quando seus olhos azuis se fixaram nos dourados dela e ele gritou: – Iole fuja!

Ela negou com a cabeça.

- Ei! Sua coisa horrorosa! – Ela gritou para chamar a atenção do minotauro enquanto se aproximava com as adagas em punho.

Funcionou, ele se voltou para ela. De frente a criatura era ainda pior que de costas. Pelos marrons e grossos começavam na altura do umbigo e iam ficando mais espessos à medida que chegavam aos ombros. Um pescoço musculoso e a cabeça era enorme e no focinho comprido havia um reluzente anel de bronze, olhos pretos e cruéis, sem falar nos grandes chifres pontiagudos.

- UNIR OU MATAR! – O monstro falou naquela voz de mugido e Iole entendeu o que ele queria.

- Nunca! – Ela berrou e lançou uma das adagas no peito do monstro, mas a lâmina acabou se cravando próxima ao ombro do monstro e o minotauro rugiu de dor.

Fixou brevemente os olhos nela antes de estender a mão e pegar o corpo do pai dela do chão. Ele apertou os dedos e Iole ouviu um crek nauseante. Então jogou o corpo de John Jones no chão.

- PAI! – Ela gritou e lágrimas começaram a cair. – NÃO!

Então ela olhou para o monstro, raiva tomando momentaneamente o lugar da tristeza. Não tinha mais nada a perder então atacou o monstro.

Talvez fosse a surpresa por ela fazer uma coisa tão estúpida, mas o minotauro não reagiu ao ataque dela rapidamente e quando se deu conta já era tarde, Iole já havia enfiado a adaga de bronze completamente em seu coração.

- Isso foi pelo meu pai. – Ela falou enquanto as lágrimas ameaçavam cair novamente e o monstro se desfazia em poeira amarelada. Quando ele sumiu e restou apenas um chifre, Iole correu até o corpo de seu pai. Ele ainda respirava, mas fracamente.

- Pai. – Ela chamou baixinho enquanto pegava sua mão. – Pai você vai ficar bem, Hera pode ajudar. – A garota olhou para o céu e gritou: - Mãe! Mãe eu preciso de você! Por favor!

Não houve resposta.

- Iole. – Seu pai falou baixinho e ela o olhou. – Hera não pode impedir minha morte, só atrasá-la por algum tempo, como está fazendo agora. Não a culpe por não aparecer. Sabíamos que seria difícil. – Ele tossiu.

- Pai, fique quieto, vou chamar a ambulância. – Ela balbuciou tremendo. – Você vai ficar bem, por favor, não me deixe.

- Não vou melhorar filha, e você sabe disso. Lembre-se Iole, eu amo você querida. – Sua mão se convulsionou na dela e Iole soluçou.

- Eu também amo você papai.

- Prometa que não vai culpar os deuses pela minha morte, pois foi uma deusa que deu a nós dois o presente que é a sua vida. Sem Hera você nunca teria existido. – Ele apertou levemente a mão dela. – Prometa meu bem, que não irá se voltar contra eles.

- Eu... Eu prometo pai. – Ela falou e ele ficou imóvel. – Pai? PAI!

E então ela chorou, chorou como nunca havia chorado antes, enquanto abraçava o corpo sem vida do pai.

Flashback off

Ela abriu os olhos e secou as lágrimas que escorreram enquanto ela lembrava. Ela prometeu que não ia culpar os deuses, seu pai estava certo, não era culpa deles.

Era dela. E essa foi a forma que encontrou para se punir. Lembrar a morte dele, lembrar seu fracasso.

- Eu podia ter te salvado pai. – Ela murmurou e apertou a foto contra seu coração.


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Notas finais do capítulo

na minha opinião esse foi o melhor cap até agora, eu chorei enquanto escrevia a história dela gente, tentei colocar toda a emoção possível, então espero que tenham gostado, até amanhã com a parte 2 desse cap.
digam o que acharam nos reviews.



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