Bianca, Alice e eu saímos no fim de semana a fim de fazermos umas comprinhas, fomos no meu carro e no caminho até lá, conversamos bastante.

– Sabe de uma coisa?- eu disse com um ar desanimado- Detesto lojas que usam aqueles espelhos que fazem com que você se veja magra e esbelta em um vestido. Os donos fazem isso para que os seus queridos clientes imbecis comprem várias roupas e acessórios achando que estão arrasando e que irão fazer inveja em qualquer um usando aquilo. Eu sou uma idiota, porque sempre acredito, então, ao chegar em casa feliz da vida por achar “o vestido perfeito”, você se olha no espelho e descobre que está parecendo com uma porca gorda.

– Bella, desde quando você é gorda?- indagou Bianca.

– Quando eu tinha dezesseis anos, era fofinha e quando fui comprar um vestido, aconteceu isso comigo. – disse um pouco distraída.

– Notícia bombástica: Bella já foi gorda- disse Alice começando a rir.

– Ah, cala a boca. Eu disse que era FOFINHA e não GORDA, tem uma grande diferença entre essas duas palavras.- disse com indiferença.

– Pra mim é a mesma coisa- disse Bianca apoiando Alice.

– Ah, qual é? Duas contra uma é injustiça.- disse levando na brincadeira.

– Agora, mudando de assunto, Alice, você já marcou o exame de laboratório pra ter certeza que está grávida?- perguntei preocupada.

– Sim- disse desanimada- Nem me lembre desse assunto por favor, hoje quero me divertir.

– Ok- respondi.

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Depois que fizemos compras, seguimos em direção à um restaurante que tínhamos marcado as reservas.

– Bella, você não se esqueceu que marcamos consulta com uma vidente nesta terça-feira, não é mesmo?- perguntou Alice enquanto sentávamos nos nossos respectivos lugares.

Meu estômago se revirou ligeiramente com o choque daquelas palavras.

– Não- menti descaradamente.

– Bella, eu te conheço, você esqueceu sim.

Droga. Tudo bem, admito que me esqueci completamente. Ela insistiu tanto pra mim marcar uma consulta, que resolvi ceder. Convenceu-me dizendo que as previsões são todas verdadeiras e que é ótimo saber o que vai acontecer em um futuro próximo. Olha, eu não tenho nada contra, mas é que eu não curto muito saber o meu futuro, porque eu gosto das coisas acontecendo naturalmente, sem nenhuma intervenção. Acho que se eu souber o que vai acontecer, enlouqueço. Mas a Alice insistiu muito, e como ela está supostamente grávida, resolvi ceder para que não houvesse insatisfações por parte dela nesse momento tão tenso em sua vida.

– Tudo bem, admito que esqueci completamente, mas pode deixar que eu vou, ok?

– Tá- disse felicíssima- vai ser o máximo, você vai amar.

Tomara, porque essa consulta vai tirar cinqüenta dólares do meu bolso, que cá entre nós não está lá muito cheio nesses últimos tempos, pois não tenho emprego por mais que eu tente conseguir um e também não peço dinheiro a meus pais porque quero ter uma independência financeira. Mas graças aos céus eles enviam-me uma quantia mensal para eu poder pagar as minhas contas.

Conversamos muito e logo depois o garçom chega para nos servir.

– Alice é melhor você não beber isso- disse apontando para o copo do qual continha bebida alcoólica.

– Ah, qual é Bella, quer dizer mamãe. É noite de sábado e não faz mal tomar um Bacardi de vez em quando- disse dando de ombros.

– Alice, só estou dizendo isso porque você pode estar grávida e...

– Olha Bella, já estou cansada de tudo isso!- disse exaltada- não está confirmada essa porra dessa gravidez e o infeliz que está aqui dentro- disse apontando para sua barriga- não tem nada a ver com a minha vida e não vai interferir em nada! Esse maldito ainda nem chegou e já está gerando conflitos- gritou indignada e todos presentes no restaurante pararam de conversar e prestaram atenção na Alice- Eu contei somente pra vocês duas que esta desgraça está a caminho, mas vocês não me apóiam e fazem questão de me lembrar dessa gravidez inesperada.

– Desculpa Alice ...- disse Bianca que aparentemente também tinha culpa no cartório.

– Não, eu vou embora agora- disse bebendo até o último gole do Bacardi e depois pegou sua bolsa e as sacolas de compras.

– Alice- disse tentando impedi-la, mas era tarde de mais, pois ela saiu correndo porta à fora do restaurante. Bianca e eu corremos na direção que Alice tomou pois ela estava visivelmente alterada.

– Alice! Cuidado!- gritei ao vê-la atravessando a rua e um motorista dirigindo a toda velocidade, visivelmente embriagado indo em sua direção.

Alice olhou para trás, porém não deu tempo de se esquivar do veículo, que a atingiu com força.

– Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao!- gritei desesperada correndo cambaleante na direção do acidente, do qual várias pessoas já estavam rodeando. Desviei meu olhar da multidão para a Alice e comecei a chorar convulsivamente. Ela estava deitada inconsciente e estava sangrando bastante.

Peguei meu celular que quase caiu de minhas mãos trêmulas, digitei o número e liguei para um hospital.

– Alô- disse com quase inaudível- preciso de uma ambulância urgente!

– Informe o ocorrido e o endereço- disse uma voz gentil.

– Aconteceu um acidente muito grave e minha amiga está muito machucada. Estamos na rua Williamson, no centro da cidade, em frente a um restaurante. Por favor venha rápido, ela está muito ferida e também está grávida- acrescentei sem ao menos ter certeza desse fato para que a ambulância chegasse mais rápido.

– Tudo bem, mandarei uma e em poucos minutos eles chegam ao local do acidente.

Desliguei o telefone na cara da pessoa do outro lado da linha e corri para mais perto de Alice. Bianca estava desnorteada e chorando muito.

Ainda não estava acreditando que aquilo aconteceu com minha amiga, que na verdade era uma irmã junto com Bianca, sendo que a poucos minutos atrás estávamos rindo e nos divertindo. A culpa daquele acidente foi minha e eu nunca irei me perdoar por isso. Por que eu tinha que falar da gravidez? Sou uma idiota- repeti para mim várias vezes- Se alguma coisa de ruim acontecer com Alice e ela não se recuperar a culpa será somente minha e terei que carregar nas costas esse peso horrível para o resto da minha vida.