Édipo escrita por LFrinhani


Capítulo 9
Pequena grande ajuda




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– Fujimoto-kun aguente firme eu vou chamar uma ambulância.

Ambulância, ela com certeza iria me levar a um hospital, provavelmente seria o municipal, onde minha mãe foi levada depois do acidente. Eu não queria ir pra lá, eu não queria ir para hospital algum, tentei manter a consciência por mais um tempo e fiz um grande esforço para levantar o corpo, a dor que senti foi absurda, mas mesmo assim não queria ir ao hospital.

– Por favor, hospital não, por favor. - Implorei para ela, foi então que me dei conta que não sabia seu nome.

– O que você quer que eu faça então? - ela me perguntou um tanto alterada.

– Não sei, apenas não chame a ambulância. - minha consciência já estava se esvaindo, se não fosse a menina me segurar teria caído.

– Fujimoto-kun, não durma, tente ficar consciente mais um pouco, minha casa e aqui perto, acho que sei o que posso fazer. - ela me ajudou a levantar e começamos a nos mover com certa dificuldade.

A menina estava praticamente me carregando, já que era muito maior que ela, a todo momento ela verificava se estava acordado, a cada segundo era mais difícil permanecer consciente, só percebi que havia chegado quando ela me colocou no sofá.

– Fujimoto-kun não feche os olhos, vou fazer o máximo que puder. - Dizendo isso ela se afastou.

Como a menina disse tentei ao máximo permanecer de olhos abertos, mesmo assim minha visão não captava coisa alguma, as únicas coisa que pude perceber foram o cômodo ser pequeno e bastante claro, tentei olhar mais a volta mas era praticamente impossível distinguir as coisas. Só percebi que a menina havia retornado quando ela se sentou ao meu lado, colocou algo em minhas mãos e começou a remexer em algo.

– Tome, é um analgésico, vai aliviar a dor. - só então percebi que eram um comprimido e um copo com água que estavam em minhas mãos.

Como ela havia falado, coloquei o comprimido na boca e bebi um pouco de água para fazê-lo descer, ainda sentia um pouco de gosto do sangue mas agora diluído pela água, desejei que o comprimido fizesse efeito o mais rápido possível. A menina retirou o copo das minhas mãos e voltou a remexer em algo que me pareceu ser uma caixa, quando ela se virou para mim novamente senti o canto esquerdo da minha boca arder fortemente.

– AI! O que você ta fazendo? - Protestei imediatamente tentando me afastar dela da forma que podia.

– Eu tenho que limpar a ferida senão pode infeccionar, eu sei que dói mas tente agüentar firme por favor.

Fiquei alguns segundos ainda afastado, tentando criar coragem para aceitar ser torturado por ela, mas ela tinha razão, sabia que a ferida tinha que ser limpa, afinal o miserável havia cuspido na minha cara. Respirei fundo sentindo meu abdômem reclamar, deixei com que ela continuasse, no começo era quase insuportável mas com o tempo a dor foi diminuindo, parece que o analgésico finalmente começava a fazer efeito. Ela limpou meu rosto, fez alguns curativos e então se levantou.

– Tire a camisa e deite no sofá. - Ordenou a menina.

– O QUE? Por que? - Perguntei um tanto alterado.

– Ele chutou você varias vezes, quero ver se não quebrou nenhuma costela, se tiver quebrado alguma terá que ir para o hospital imediatamente, colabore por favor Fujimoto-kun!

– Yuu...

– O que? - Perguntou ela sem entender.

– Por favor, me chame de Yuu.

– Certo Yuu-kun, colabore por favor.

Olhando em seus olhos vi a determinação contida neles, outra vez ela tinha razão. Primeiro retirei o casaco sem grande dificuldade, mas a camisa eu realmente não conseguia, meu abdômem ainda doía e não me deixava levantar os braços para tira-lá, vendo minha dificuldade ela me auxiliou e depois me deitou no sofá.

– Você sabe o que está fazendo? - Tinha que perguntar.

– Teoricamente sei, não se preocupe será rápido.

Ela sabia TEORICAMENTE o que fazer, só espero que de certo e não me arrependa de não ter concordado de ir ao hospital. A menina começou a apalpar meu abdômem delicadamente, mesmo assim ainda sentia um pouco de dor, manter a consciência estava se tornando mais fácil, foi então como um estalo que me lembrei do que deveria fazer, pedir desculpas, mas me lembrei também que não sabia seu nome, o único jeito seria perguntar a ela. Reuni toda a coragem que tinha e perguntei.

– Err... Me desculpe, mas qual é o seu nome?

– É Megumi, Megumi Watanabe. - Ela respondeu sem parar o que fazia.

– Megumi, me desculpe pelo jeito que te tratei hoje mais cedo, eu estava de cabeça quente, acabei sendo rude com você sem necessidade. Eu sinto muito mesmo.

Ela parou por uns instantes e então voltou ao procedimento, mas pude perceber que ela sorria.

– Bem Yuu, acho que você já se desculpou devidamente. - ela disse se levantado. - Terminei, não quebrou nada.

Me levantei também e voltei a me sentar no sofá enquanto ela guardava o que foi usado de volta na caixa. Olhando de relance para o que ela estava fazendo percebi marcas vermelhas em seus pulsos, olhei para seu rosto e ele estava ligeiramente inchado e vermelho, com um impulso segurei seu braço para ver melhor e estava mais feio do que pensei.

– Megumi você está bem?! Eles fizeram algo de ruim com você? - Perguntei ainda analisando o hematoma.

– Tudo bem Yuu, eu já tomei um analgésico também, não está doendo, não se preocupe eles não fizeram nada, não deu tempo. - Ela disse retirando seu braço das minhas mãos, pegou a caixa e se dirigiu a uma porta no outro lado do cômodo. Antes que passasse pelo portal ela parou e se voltou para mim. - Muito obrigada Yuu, você foi muito corajoso, se você não tivesse aparecido eu não sei o que teria acontecido comigo, não tenho como te agradecer devidamente. - Ela disse com a voz um pouco tremula e sorrindo timidamente, não pude deixar de sorrir também.

– Imagina, eu é que agradeço, você fez muito por mim essa noite também, estamos quites.

A menina apenas sorriu mais abertamente e balançou a cabeça afirmativamente, então se virou e passou pela porta. Sentei-me novamente no sofá, já não sentia mais dor porém o cansaço estava começando a ficar difícil de suportar, pousei a cabeça no encosto e fechei os olhos.

– Você não pode dormir ainda.

Só notei sua presença de volta ao cômodo quando ouvi sua voz, estava realmente cansado e queria muito dormir, olhei meu relógio agora podia ver claramente, já era 22:00h, precisava ir para casa. Me levantei lentamente coloquei a camisa agora com mais facilidade, lancei um olhar para Megumi, ela também me olhava porém parecia um tanto preocupada.

– Posso usar o banheiro? - Perguntei meio sem jeito

– Claro, corredor a direita. - Ela respondeu e apontou para o outro lado do cômodo, onde ficava o corredor. - Se quiser posso chamar um taxi pra leva-lo em casa, eu só não posso deixar você ir embora sozinho.

– Obrigado. - Apenas sorri e balancei a cabeça aceitando a proposta.

Me dirigi para a direção que ela apontou, logo encontrei a porta a direita, assim que entrei pude ver meu rosto refletido no espelho que se encontrava na parede a esquerda da porta. Quase levei um susto quando me vi, minha cara estava horrível, havia alguns hematomas embaixo do olho, um grande curativo no maxilar e um pequeno no canto da boca, todos no lado esquerdo, no lado direito havia só alguns rasos arranhões, levantei um pouco a camisa para ver o outro estrago, o que foi outro susto. Meu abdômem estava cheio de grandes manchas esverdeadas que eu sabia que mais tarde se tornariam roxas.

Fiquei alguns segundos ali olhando para mim mesmo, só um idiota entraria numa briga sem saber brigar, até que tivemos sorte de eles terem ido embora e não terem feito nada pior. Algo entrou na minha mente. Como iria explicar isso quando chegasse em casa? Sinceramente eu não queria pensar nisso agora, deveria me preocupar em chegar em casa primeiro.

Sai do banheiro e voltei para o que julguei ser a sala da casa, Megumi estava sentada no sofá, com a cabeça no encosto e de olhos fechados, da mesma forma que eu estava a pouco, os grandes óculos estavam na ponta de seu nariz e a boca ligeiramente aberta, era uma cena realmente engraçada, ri um pouco mas não podia deixa-la ali assim, afinal se eu não podia dormir ela também não podia.

– Megumi! – Chamei cutucando seu ombro, o que a fez reclamar um pouco. – Você não pode dormir!

– Posso sim, eu só levei um tapa, não foi nada de mais. – Ela respondeu abrindo os olhos e me lançando um olhar feroz. – Já você tem que tomar cuidado, não sei como consegue ficar de pé.

– Também quero saber como. – Disse me sentando e apoiando a cabeça no encosto do sofá. – Quando chegar em casa poderei dormir?

– Sim. Já chamei o taxi, ele deve chegar logo.

E ficamos assim durante longos segundos, como um silencio mortal entre nós, mas agora estava mais preocupado em me manter acordado, já ela deitou a cabeça no braço do sofá e parecia travar uma luta para manter os olhos abertos. Quando o telefone tocou quebrando o silencio Megumi se levantou rapidamente e foi atender.

– Yuu, o taxi chegou. Aqui, a sua mochila, você deixou cair na hora da briga, eu peguei. – Até eu mesmo havia me esquecido da minha mochila.

Ela me acompanhou até a porta, enquanto entrava no carro ela falava algo com o motorista. Será que ela sabia onde eu morava? Logo o carro começou a se mover o motorista perguntou-me o destino, apenas disse meu endereço e não trocamos mais palavras até chegarmos, passei a maior parte da viagem tentando me manter acordado, quando o carro finalmente parou notei que tinha chegado.

– Quanto deu a viagem? – Perguntei pegando a carteira.

– Não se preocupe, a senhorita já deixou pago. – Respondeu o motorista.

Aquela idiota. Bem, não podia fazer nada agora, apenas agradeci ao motorista e entrei em casa. A casa estava escura e silenciosa, isso significava que meu pai e Misaki estavam dormindo, sorrateiramente e tentando não fazer barulho algum subi as escadas e fui direto ao meu quarto, apenas deixei a mochila no chão e me deitei na cama fitando o teto, deixei que o cansaço me dominasse e finalmente minha consciência pode descansar. Bem, não exatamente.


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