Édipo escrita por LFrinhani


Capítulo 6
Se encaixando


Notas iniciais do capítulo

Atendendo a um pedido terminarei de postar Édipo. Espero que curtam ^^



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Saí debaixo do chuveiro com a sensação de que ainda estava tonto, peguei a toalha e comecei a me secar devagar fazendo muito esforço para não pensar em nada, não queria que minha cabeça doesse mais do que já estava doendo. Enrolei a toalha na cintura e fui juntar minha roupas que estavam espalhadas pelo chão, foi então que notei o papel que caiu do bolso da minha calça.

Abrindo-o vi que era do restaurante que havia ido mais cedo, onde precisavam de garçons com experiência, isso me deu uma ideia, se eu conseguisse esse emprego eu com certeza ficaria longe de Misaki bastante tempo, pelo mesmo o suficiente para digerir tudo aquilo e pensar direito no que fazer.

Saindo do banheiro fui direito ao meu quarto para vestir um roupa qualquer, então peguei meu celular e rapidamente disquei o numero que estava no papel, logo atenderam e pedi para falar com Akira, aparentemente ele era o gerente, em poucos minutos eu já havia marcado uma entrevista para o dia seguinte. Me deitei na cama fitando o teto, meu corpo parecia ainda mais cansado do que antes e minha cabeça doía levemente agora, acabei virando de lado e deixei que o sono viesse e me tirasse a consciência.

Quando abri os olhos já era de manha, graças a Deus não tive pesadelos essa noite e estava me sentindo um pouco melhor, meu relógio dizia que era 7:30, acabei me lembrando que tinha uma entrevista de emprego marcada para hoje as 9:00 o que me fez levantar rapidamente, porém a velocidade me deixou um pouco tonto, levei alguns segundos para recobrar a consciência e evitar cair, escolhi as melhores roupas que tinha e fui ao banheiro tomar um ótimo banho na intenção de terminar de acordar.

Já estava devidamente acordado e apresentável, mas ainda precisava de um café, tinha que ir na cozinha, desci as escadas e atravessei o corredor rapidamente, porém parei um pouco antes da porta e espiei para ver se Misaki não estava lá, apos confirmar a falta da sua presença no recinto entrei, rapido e objetivo fui até a cafeteira tomar um pouco de café, como estava muito quente tomei cuidado para não me queimar novamente.

– Olá Yuu, bom dia. – Disse meu pai tocando em meu ombro.

Denovo. Ataque cardíaco, língua queimada, café escaldante descendo pela garganta em câmera lenta, engasgo, tosse, dor de garganta.

– Por que vocês chegam assim de repente? – Gritei sem querer, o que fez minha dor na garganta piorar. – Bom dia pai. - Retribui seu cumprimento agora mais calmo.

– Não vi você ontem. Está tudo bem?

Tudo bem? Como responder essa pergunta? Sinceramente não sabia como responde-la, eu não estava de fato bem mas não estava mal, pode se dizer que estava normal, nem bem nem mal, só vivendo.

– Sim pai, está tudo bem. – Na duvida resolvi dizer que estava bem.

– Parece que vai sair.

– Vou sim, tenho uma entrevista de emprego em um restaurante no centro da cidade.

– Bem, eu posso levar você, estou de folga hoje.

Ponderei aquela oferta tentadora, afinal corria o risco de chegar atrasado, o que não seria bom para uma entrevista de emprego, mas a idéia de ficar trancado em um carro com meu pai não me agradava, não depois da descoberta de ontem. Resolvi aceitar, pelo bem do emprego. Durante todo o caminho não dissemos nada um ao outro, o silencio entre nós era gritante, mas não estava muito disposto a quebre-lo. Afinal eu diria o que? Que ele havia se casado com minha paixão de infância? Preferi deixar que o silencio se estendesse até o restaurante.

A entrevista foi tranquila e um tanto rápida. Akira, o gerente, era um homem de meia idade, alto e loiro, muito simpatico, me parecia uma boa pessoa e gostou muito das minhas referencias, ele queria que eu começasse o quanto antes, enfim, estava empregado e começaria amanha mesmo a trabalhar em meio período. Ao sair do restaurante meu pai ainda estava lá me esperando.

– Então, como foi? - Perguntou ele sorrindo.

– Consegui, começarei amanha mesmo. - dei a noticia sorrindo também.

– Bem, vamos para casa então.

Casa. Eu realmente não queria ir para casa agora, ter que passar o dia inteiro com meu pai e Misaki não me parecia ser uma boa ideia, ainda não sabia como encara-la depois de ontem, eu ainda não havia digerido a noticia. Precisava encontrar uma desculpa.

– Err.. E tava pensando em ir resolver umas coisas por ai sabe. – Realmente foi o melhor que pude arrumar, não trabalho sob pressão.

– Poxa vida Yuu, você vai me deixar sozinho? Misaki vai ficar fora o dia todo por conta de alguns problemas do antigo trabalho, e tem umas coisas que eu queria falar com você. – Ele terminou de dizer com um tom serio.

Coisas pra falar comigo? Será que Misaki tinha dito algo pro meu pai sobre ontem? Eu realmente havia agido muito estranho, devo ter assustado ela. Mas se ela iria ficar fora não tinha problema ficar em casa, eu só não queria ficar perto dela por enquanto. Então eu fui, entrei no carro novamente e encarei aquele silencio gritante, minha mente devagava por varios pensamentos sem nexo, casa, escolar, meu pai, Misaki, tia Mei e por ai vai.

– O que acha de darmos uma paradinha aqui? – Disse meu pai parando o carro.

Foi quando me dei conta de onde estavamos, a gente estava em frente ao mesmo parque que fui ontem, eu estava tão concentrado em meus devaneios que nem percebi quando chegamos ali. Meu pai já havia saido do carro e me esperava para que entrassemos juntos, respirei fundo e sai do carro também.

Estava um dia realmente bonito, ensolarado afinal era verão, como ontem o parque estava completamente verde e com varias pessoas. Nós dois seguimos em silencio pelo mesmo caminho adentrando no parque, não precisamos andar muito para encontrarmos o lago onde nos sentamos na grama proximo a água. Mesmo apos alguns segundos ali nada foi dito e isso estava me incomodando.

– Então, sobre o que você quer falar comigo? – Perguntei olhando para o lago, afim de terminar logo com isso, estava começando a virar algo constrangedor.

– Poxa filho, faz tanto tempo que a gente não conversa direito, eu praticamente não te conheço mais. Eu me sinto mal por ter passado tanto tempo longe de você, naquela época você era só um menino e agora já é um homem, agora eu percebo quanta coisa eu deixei passar.

– Tudo bem, o senhor fez o que deveria ter feito. – Disse ainda fitando o lago, não tinha a devida coragem de olhar para ele.

– Caramba Yuu, por favor! Eu realmente não me sinto bem com isso, todos esses anos longe de você me deixou muito deprimido e preocupado, não que eu duvide da capacidade da Mei de cuidar de você, mas mesmo assim Yuu, você era só um menino, nem imagino como não deve ter sido difícil pra você crescer sem nenhum homem por perto para devidamente orienta-lo.

Sem nenhum homem? Agora me lembro, era um segredo meu e da tia Mei, afinal ela estaria encrencada se meu pai descobrisse. Digamos que nesses sete anos em que estive na casa de tia Mei eu conheci todo tipo de homem possível, todos “namorados” dela é claro, dessa forma eu pude observar e constatar que não queria ser como nenhum deles, então eu percebi que o tipo de homem que eu queria ser era o meu pai.

– Tudo bem mesmo pai, não se preocupe, tia Mei soube me orientar muito bem. – Finalmente olhei para ele e dei um singelo sorriso de confirmação.

– Isso me deixa um pouco aliviado. – Disse depois de suspirar profundamente. – Mesmo assim eu espero poder ainda recuperar o tempo perdido. – Ele concluiu pondo a mão em meu ombro. – E como tem se sentido nesse tempo aqui? – Perguntou por fim tentando mudar de assunto.

– Ah, foram só 3 dias, nem tem tanto tempo assim. – Comecei a dizer tentando encontrar as palavras certas. decidi por ser sincero com ele e comigo mesmo. – Acho que vai ser um pouco difícil de me acostumar a morar aqui outra vez, mas eu prometo me esforçar, eu quero fazer dar certo. – Olhei para ele e sorri para confirmar o que disse.

Ele retribuiu o meu sorriso de forma mais contida, mesmo assim aquele sorriso transmitiu-me bastante confiança, em poucos segundos nós dois estávamos rindo abertamente sem nenhuma vergonha. Eu estava realmente feliz por estar com meu pai novamente, depois de tantos separados, agora eu sinto que poderemos voltar a ser como éramos antes, antes de toda a tragédia acontecer, apenas pai e filho, como deveria ser.

– Fico muito feliz que você queira isso também meu filho, esse é o meu maior desejo. Então você já tem uma opinião formada sobre a Misaki?

Para essa pergunta eu não tinha uma resposta definida. Bem, se ela ainda fosse a mesma pessoa de sete anos atras com certeza seria uma otima pessoa, meu pai tirou a sorte grande por ter casado com ela, pode se dizer que estava levemente com ciumes, mas ele a merecia muito.

– Ela é uma otima pessoa, com certeza a melhor que você poderia escolher para se casar.

– Ah, que bom que você acha isso também. Vem, vamos para casa.

Casa agora teve um novo sentido, era o lugar onde deveria estar com minha família, e como havia prometido eu faria dar certo, não importa o que eu faria. Já nos retirando do parque um pensamento passou por minha mente.

– Pai, err... Assim, você ter trocado o piso e a mesa da cozinha eu entendo. Mas por que a sua cama? - Afinal ela era relativamente nova e de ótima qualidade pelo que me lembro.

– Eu não achei que seria justo. - Ele respondeu sem me encarar, como se quisesse evitar de ser julgado.

Não seria justo, mas pra quem? Misaki ou mamãe? Isso ele não deixou claro, preferi não questionar mais. Então voltamos pra casa em silencio, porém em paz, estava tudo nos eixos novamente, não estava 100%, mas dos 50% nós já havíamos passado.


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