Édipo escrita por LFrinhani


Capítulo 4
Visita


Notas iniciais do capítulo

Preparem os lenços ;-;



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Minha noite de sono foi bastante conturbada, me revirava na cama e não conseguia dormir de forma plena. Vira e mexe me pegava pensando em Misaki e isso me deixava perturbado, não entendia direito o que estava se passando. Não imaginava que me sentiria assim por ter mãe denovo, sinceramente não estou certo de que esse seria o sentimento de um filho por uma mãe.

Mãe. Depois de sete anos eu finalmente teria a coragem de ir ao seu túmulo, tinha ido lá apenas uma vez. Me lembro muito bem daquele dia, como hoje também não havia dormido direito, pra falar a verdade não tinha dormido. Até que estava um dia bonito, estava de certa forma quente e ensolarado, cassava perfeitamente com a personalidade de mamãe. A capela onde foi feito o velório estava cheia de gente, mamãe era muito querida por todos que a conheciam, porém mesmo com tanta gente o clima no local era pesado, um silencio triste predominava ao todo. Muitas pessoas vinham me cumprimentar, prestar um certo apoio que eu agradecia de coração, mesmo que não fizesse a dor diminuir.

Eu segurava em minhas mãos o buque de margaridas que a bela senhorita tinha me dado no dia anterior, porém fiquei parado na porta da capela, não tive coragem de chegar mais perto do caixão, não tive coragem de vê-lá daquela forma, imóvel, sem vida, isso não combinava com ela que era tão alegre, eu me recusava a acreditava no que havia acontecido, porem quando fechava os olhos via aquela horrível cena em minha mente. Cozinha, mamãe, sangue, tudo isso ao mesmo tempo. Era uma dor que pareci não ter fim.

Tia Mei esteve do meu lado durante o velório inteiro me dando um certo reconforto, já meu pai não saia do lado do caixão, com uma expressão arrasada no rosto, ele olhava pra ela como se não acreditasse que aquilo realmente estivesse acontecendo, achava que a qualquer momento ela abriria os olhos e sorriria para ele como sempre fazia. Vê-lo assim me deixava mais triste ainda, era uma espera sem resposta, ela não voltaria.

As margaridas estavam começando a murchar quando finalmente se iniciou o sepultamento, foi quando consegui me aproximar do caixão, ele estava fechado por isso não a vi, apenas coloquei as flores sobre ele e me afastei novamente. E então desceram o caixão, não consegui olhar mais aquilo, minha visão se embaçou e eu não consegui conter as lagrimas de caírem, abaixei a cabeça e chorei. Acabou. Foi esse o fim da minha antiga vida, a partir dai tudo seria diferente.

Não havia reparado quando, mas o dia tinha amanhecido. Parece que sonhei com o enterro denovo, isso freqüentemente acontecia quando pensava em minha mãe antes de dormir, como se fosse uma especie castigo por não ter me despedido apropriadamente dela. Mas isso acabaria hoje, finalmente iria me redimir e agir como um homem que minha mãe havia educado para ser.

Procurei o relógio, ele marcava 7:50 da manha, respirei fundo e fiz um esforço para levantar, como não tinha dormido direito me sentia absurdamente cansado, não só física mas psicologicamente também. Lentamente fui ao banheiro e me enfiei debaixo do chuveiro, a água quente que caia sobre mim ajudou bastante a me recompor, fiquei ali apenas deixando que ela levasse para o ralo toda aquela aflição que sentia, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que ainda não consegui engolir e digerir tudo aquilo, porém pensaria nisso mais tarde.

Após aquele banho relaxante precisava de um café, só pra me fazer sentir um pouco melhor e para evitar que caísse por aí, o problema era ir até ele, enfim, teria que ir a cozinha. Não é como se eu não quisesse mais entrar lá, mas se pudesse evitar, eu com certeza evitaria, e mesmo que tivesse de entrar tentaria ser o mais objetivo e rápido possível. Sim, objetivo e rápido é o que eu seria. Desci as escadas rapidamente e atravessei o corredor, parei em frente a porta, apenas respirei fundo e sem pensar muito entrei na profana cozinha. Fui direto a cafeteira onde ainda havia um pouco de café, peguei um copo e despejei o liquido dentro dele, comecei a beber com cuidado pois ainda estava quente.

– Bom dia Yuu-kun.


Meu Deus, quase tive um ataque cardíaco, sem contar que acabei queimando a língua, e ainda por cima aquela sensação do café escaldante descendo pela garganta em câmera lenta. Estava tão enfocado em ser o mais rápido possível que nem havia notado a presença de Misaki já dentro da cozinha, ela estava sentada a mesa aparentemente lendo jornal. Com o susto que levei acabei me engasgando também, comecei a tossir, o que fez com que minha garganta doesse por conta do café quente que havia acabado de passar por ela. Bem, estou começando a achar que hoje não será um bom dia.


– Está tudo bem Yuu-kun? - Perguntou Misaki com aquela mesma voz preocupada que fez ontem.


– Tá, tá tudo bem sim, não foi nada. Bom dia pra você também.


Foi o que consegui dizer ainda me recuperando do ataque de azar que tinha acabado de ter, porém não consegui olhar para a mulher, estava um tanto envergonhado com toda aquela cena. Apenas coloquei o copo na pia e me retirei do lugar, já havia demorado mais tempo do que eu tinha planejado.

– Vai sair Yuu-kun? - perguntou a mulher ainda com tom preocupado.


– Vou. - Já estava na porta quando me parei pra responder.


– Então tome cuidado. - dessa vez invés de preocupação sua voz transmitia uma certa alegria, ao olhar para ela vi que estava sorrindo.


Droga, por que ela tinha que sorrir assim pra mim? E por que eu devia me sentir assim tão estranho? Comecei então a sentir aquele mesmo calor da noite passada, me retirei rapidamente do recinto e sai da casa com a respiração descompassada, uma descarga de adrenalina percorreu meu corpo me fazendo tremer e suar um pouco. Fiquei em frente a residência por mais um tempo para tentar reassumir o controle da minha própria respiração. Respirando fundo e erguendo a cabeça a adrenalina já havia passado, agora eu já sabia o rumo a tomar. Cemitério aí vou eu.


Como estava cedo ainda não tive pressa, fui andando bem devagar pela rua, passei em frente da floricultura que ainda estava com a placa de vende-se na porta, o que me lembrou que deveria ao menos levar algumas flores. Mas onde iria arranjar flores a essa hora? A única floricultura de que tinha conhecimento na cidade estava fechada bem na minha frente. Acabei pensando na bela senhorita e no buque de margaridas que ela havia me dado. Margaridas, eu deveria levar margaridas, mas o mais importante agora era onde eu iria arranja-las.


Continuei andando em direção ao cemitério na esperança de encontrar alguma floricultura aberta, mesmo que não estivesse com muito dinheiro no momento acho que daria pra comprar pelo menos algumas flores. Foi então que notei uma casa bem grande do outro lado da rua, ela tinha um belo jardim, e nele tinham belas margaridas, sim margaridas, me senti muito tentado a roubar algumas, nada que fizesse muita falta. Droga, quando notei já estava em frente a grande casa, olhei ao redor pra ver se não tinha ninguém por perto, de fato não tinha, rapidamente roubei algumas e sai correndo em direção ao cemitério que já estava próximo, pedi desculpas mentalmente ao dono da casa, se possível eu iria retribuir depois.


O Cemitério estava como eu me lembrava, ele até era bonito para um cemitério, a grama sempre verde parecia como um jardim e não haviam muitas pessoas naquela hora. Fui direto para a sepultura de minha mãe, na lapide que estava escrito seu nome, Shizuko Fujimoto, coloquei as margaridas, com um certo peso por lembrar de como as havia conseguido, me sentei na grama próximo do bloco de mármore e fiquei um tempo apenas olhando para seu nome nele, não dava mais pra fugir, eu tinha que me desculpar.


– Ei mãe, sou eu, Yuu, - comecei a dizer meio sem jeito. – eu trouxe flores pra você, margaridas, são as suas preferidas, eu ainda lembro. Faz tempo que eu não venho aqui, na verdade é a primeira vez em sete anos, mas eu nunca deixei de pensar em você mãe, eu juro. Ah mãe, desculpa - comecei a chorar sem perceber - você deve estar brava comigo, eu sei, desculpa eu não fui forte o bastante, eu não consegui olhar pra você daquele jeito, eu...eu... eu só não queria dizer adeus. Desculpa…


Apenas abaixei a cabeça me deixei chorar. A sete anos que guardava isso comigo, era como um bloco frio de concreto dentro do meu coração, eu queria me desfazer dele mas simplesmente não conseguia encarar minha fraqueza, eu acabei fugindo, varias e varias vezes, fui para longe, Tokio, na esperança da dor permanecer aqui, mas ela estava dentro de mim e iria me seguir onde fosse, a dor da perda e a dor da culpa, não sabia dizer qual delas pesava mais.


– Você deve estar envergonhada por me ter como filho, afinal você não me educou para ser um homem assim, me desculpe por não lhe honrar da forma que você merece, mas eu prometo mudar, eu prometo me tornar um homem melhor, eu só gostaria de ser alguém de quem você se orgulhasse mãe. Eu te amo.


Encostei minha cabeça no mármore frio da lapide, já não chorava mais, apenas fiquei ali junto a ela como se ela pudesse me abraçar. Corria uma brisa fresca e isso me reconfortava, de certa forma podia sentir sua presença ali junto de mim. Das duas dores uma já não pesava mais, a dor da culpa havia ido embora com a brisa, me sentia mais leve e ate mais homem, talvez um dia eu fosse aquele homem que ela queria que fosse.


Levantei, dei um beijo em seu nome na pedra e fui embora de cabeça erguida, não tinha mais vergonha e nem culpa. Brisa ainda soprava, agora mais forte bagunçando meu cabelo, olhei pra traz e finalmente disse adeus, tinha passado tanto tempo com medo dessa simples palavra, achava que se eu a dissesse pra ela seria como se eu a tivesse enterrado em definitivo, tinha medo de olhar pra frente e não vê-la mais comigo que passei a viver olhando pra traz, mas finalmente entendi que dizer adeus para alguém não era abandona-la e sim seguir em frente aceitando a sua falta.


Já era quase dez da manha, resolvi dar uma volta pela cidade só para ver como as coisas mudaram, na verdade eu só não queria voltar pra casa agora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até a próxima.



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