Lass mexeu seu ombro quando sentiu suas costas coçarem. A cicatrizes em suas costas ainda não tinham sarado por completo, desde de ontem à noite que elas ainda estão se curando. Não lembrava que Zidler pegava tão pesado nos castigos como antigamente, isso se deve por ele estar mais velho, estar mais forte e resistente a qualquer coisa agora. Não gostava disso.

A única coisa que o deixava tranquilo naquele momento era o fato de Gwen ter o ajudado ontem. Mesmo ele mandando ela não se aproximar, ela persistiu em ajuda-lo. Tinha esquecido que ela era humana também e por mais cruel que fosse, ela se preocuparia se visse alguém ferido como o ninja estava ontem.

— Lass, por que está tão distraído? - Ouve a voz de Ortina ao fundo daquele corredor.

Parou de limpar o piso com a vassoura e olhou para a garota, vindo calmamente.

— Estou só pensando. - É direto e seco.

— Sabe que o Zidler não gosta que você fique pensando, principalmente quando é lá fora. Você terá mais consequências se continuar assim. - Diz ela, parando ao lado dele.

— Vocês já tiraram tudo que tinha para tirar, não restou nada além do seu chicote. - Estica os braços. - Vamos, me acerte com ele. Não me importo mais.

— Falando assim, você me deixa muito excitada, Lass. - Passava os dedos em seus lábios que formavam um sorriso. - Gostaria muito de fazer isso com você, em particular. Ficaria muito satisfeita.

— Você é doente, Ortina. Cai fora. - Volta a fazer sua tarefa.

Quase soltou um grito quando a moça o abraçou pelas costas, as mãos dela sobre seus ombros que ainda estavam feridos. Soltou um rosnado, querendo ter forças para se afastar de Ortina. Seu estado piorava a cada dia que ficava naquele circo.

— Não seja tão ruim assim, Lass. Posso não saber com quem você se relacionou durante todos esses anos fora do circo, mas garanto que posso ser a melhor. É só pedir que eu vou. - Falava como um sussurro perto do ouvido do ninja.

Lass entende o que aquilo significava, por isso mesmo ficou em silêncio. A melhor coisa que podia fazer era ficar calado perto dela, qualquer palavra poderia ser interpretada de forma errada.

— Por mais que tenha sido eu que peguei suas memórias e dei para Zidler, não sei nada sobre elas. Só o Zidler. Ele sabe das pessoas que você se importa, que já conversou e tudo mais. Mas isso não me impede de saber que você tem um certo interesse naquela ruivinha que estava com você.

Lass se incomodou rapidamente ao ouvir aquela ruiva ser citada. Desviou o olhar para o lado, tentando não mostrar interesse. Noite passada, teve outro sonho com ela, sendo mais difícil de vê-la agora. A aparência dela estava sumindo aos poucos de sua memória, como de outras pessoas também.

— O que ela era para você, Lass? Amiga, namorada ou só uma vadiazinha? - Ortina ganho um tom mais sombrio nas últimas palavras.

A garota quase caiu para frente quando Lass se afastou dela, um silêncio que até mesmo a incomodava. Ele soltou um estalo com a língua e virou apenas o rosto para Ortina.

— Do que isso importa? Tanto para mim, isso não fará diferença também para você. - Ele cuspiu as palavras sem importância. Ele mesmo se surpreendeu com a própria frieza.

Ortina em vez de parecer assustada, apenas deu um sorriso largo como de costume.

— Já entendi. - Bota a cabeça de lado, provocativa. - Não correspondido, né?

Outro estalo com a língua, mas desta vez Lass segurou o cabo da vassoura com mais força, pronto para acertar na cabeça de Ortina. Ela soltou uma risada graciosa e se afastou com passos para trás.

— Ok, ok, vou deixar você fazendo sua tarefa. - Dizia a rosada, preparando-se para ir embora. - Mas antes de ir, um aviso: Zidler pediu para que você fosse na sala dele quando terminasse sua tarefa. É importante.

Lass não assentiu, deixou Ortina ir embora antes que ela decidisse falar mais uma de suas provocações; Ele não aguentaria mais uma. Só quando viu seus cabelos rosas sumirem ao virar para outro corredor que Lass pôde parar de segurar o cabo da vassoura com força. Soltou um suspiro, jogando toda sua raiva pelo o ar de sua boca.

Era engraçado, não sabia qual era o nome ou como era o tom de voz da garota ruiva, mas mesmo assim continuava a se importar com ela de forma protetora. "Posso não saber quem é você, mas irei te proteger de qualquer modo", essa seria uma boa frase para colocar em uma camiseta, a qual Lass usaria até como pijama.

— Algo parece te incomodar.

Pôde ficar mais tranquilo ao ouvir a voz dela. Virou-se para ver Gwen se aproximar com alguns sacos em mãos. Ela também fazia suas tarefas.

— É só a Ortina, nada de mais. - Coça a nuca.

— É sempre a Ortina, não é mesmo? Ela parece gostar muito de você.

— Gostar não é o suficiente para definir a loucura dela por mim. - Disso ele tinha certeza.

— É verdade. - Ela solta uma pequena risada.

Lass abre um pequeno sorriso também, surpreso ao ver aquela expressão na face da jovem. Nunca a tinha feito rir daquele jeito, inocente e puro. Gwen parecia ficar mais confortável com sua presença com o tempo.

— Seus machucados já estão melhores? - Gwen pergunta, parecendo preocupada.

— Estão melhorando. - Só em mencionar, sentia as cicatrizes se curando de pouco a pouco. - Valeu pela a ajuda ontem, mesmo que não precisasse.

— Você é mesmo sempre teimoso assim? Parece ser do tipo que só aceita ajuda quando está desesperado.

Lass não negou, mas também não aceitou. Ele devia ser esse tipo de cara em momentos específicos, como agora. Se alguém oferecesse alguma proposta para tira-lo dali, ele aceitaria sem pensar duas vezes; Com exceção das chamas azuis.

— E falando em ajuda. - Lass fica mais sério, a voz mais baixa com medo que alguém pudesse escutar. Por mais que sentisse ninguém por perto além de Gwen, temia por surpresas. - Preciso pensar logo em uma maneira de tirar você daqui, o mais rápido o possível.

Gwen fica surpresa, um pouco assustada.

— Você ainda tá com isso na cabeça? Lass, não.

— Olha, você só está aqui por minha causa, por minha fraqueza. Está na hora de eu consertar isso. - Dizia determinado. - Você não merece esse lugar, Gwen. Você merece mais que isso.

— Você fala como se não valesse nada perto de mim. Por que não pensa na sua saída, em vez da minha? - Falava indignada.

Lass abriu um sorriso tão confiante que assustou Gwen.

— Porque eu sei que se um certo alguém estivesse no meu lugar, ela faria exatamente isso. - Desvia o olha sem perceber, sem jeito. - Eu quero poder agir da mesma forma, melhor até.

Era um louco que estava na frente de Gwen, não um garoto que conhece o sofrimento como ela, até mais. Queria poder brigar com ele, acertar um tapa para fazê-lo mudar de ideia; Mas ela não fez, porque simplesmente queria aceitar a proposta de Lass.

— Mas eu não tenho lugar lá fora como você. - Dizia Gwen, reprimida. - Não lembro da minha família, amigos ou algum conhecido do passado. No momento que eu sair daqui, não terei para onde ir. - Apertou os lábios, querendo não parecer desesperada.

Gwen continuaria os motivos para ela não sair do circo, mas para quando um toque gelado em sua bochecha a alerta. Olhou para Lass, ele com a mão em seu rosto, como se a segurasse.

— Eu disse que vou tirar você daqui e eu vou fazer. - Falava sério. - É uma promessa.

E lá estava mais uma prova que Lass poderia ser internado com suspeitas de loucura, geralmente esta doença é transmitida por pessoas nascidas com a síndrome do trouxismo. Gwen até soltaria uma risada pela idiotice de Lass, mas esperou que ele se arrependesse do que disse.

— Será perda de tempo, saiba disso. - Ela fala, um suspiro em seguida.

O toque gelado do ninja se afastou dela quando ele tirou a mão do rosto da mesma. Ele deu de ombros, jogando os braços de lado junto com a vassoura.

— Fale o que quiser mas... - Dá uma pequena pausa. - Eu sou um idiota mesmo.

Por fim, abriu um sorriso sem se importar com as consequências. Gwen não sorriu com ele, apenas soltou uma risada boba pela a atitude do ninja.

É, ele devia ter nascido com a síndrome do trouxismo.

***

O sorriso que estava em seu rosto há pouco tempo atrás tinha sumido ao ter entrado na sala de Zidler. Era o cômodo, se não fosse, o mais organizado de todo o circo. Na mesa à sua frente, ursinhos de pelúcia a enfeitavam, criando um clima infantil desse jeito.

Mas Lass não se sentia dessa forma, e sim ao contrário. Sentado na cadeira de braços cruzados, esperou Zidler dizer algo do outro lado da mesa. Ele parecia está ocupado com algumas despesas do circo antes da entrada do ninja na sala.

— Como está indo, caro Lass? - Finalmente fala. - De modo geral.

— Você sabe a resposta dessa pergunta. - Lass é impaciente. - Vá direto ao assunto principal.

— Só estou querendo saber sobre sua saúde. Quando criança, você sempre vivia caindo pelos os cantos do circo durante as tarefas. Temo que o mesmo possa acontecer agora.

— Vou fingir que estou bem, se é isso que quer ouvir.

— Sempre tão frio, caro Lass. Mas vamos logo ao assunto principal. Eu não quero que se apresente no show de hoje.

Lass ergueu uma sobrancelha, mais assustado do que confuso pelo o que ouve.

— Como assim?

— Digamos que eu quero você disposto para meus espetáculos especiais noturnos. Se eu o forçasse a fazer o espetáculo de hoje apenas seria um desperdício de energia sua. - Entrelaça os dedos da mão sobre a mesa. - Quero você totalmente disposto.

Lass sentiu pesos maiores caírem sobre seus ombros. Não havia confusão em seu rosto desta vez, e sim medo. Sabia do que o Zidler falava, por isso de ficar travado na cadeira, sem mover um sequer músculo.

Ao menos conseguiu piscar os olhos, despertando-se.

— E-Eu não posso fazer isso... Não mais. - Sua voz saiu trêmula.

— Não há negociação aqui, caro Lass, apenas uma ordem bem clara. Além do mais, o espetáculo não será hoje, ainda estou programando o dia certo para isso.

— Zidler, eu não quero. - Seus braços cruzados ficaram mais apertados contra seu peito. - Já faço um monte de coisas para você, mas parte desse show seu é passar do limites. Simplesmente não quero.

Zidler falou nada, o que deixou Lass mais nervoso que antes. Achava que tinha atingido o limite da paciência dele, o que, é óbvio, nada bom. Pessoas sorridentes quando com raiva são mais assustadoras ainda, pois possuem o sorriso como uma arma.

— Se você não quer, tudo bem. Não irei força-lo. - Disse Zidler sem parecer irritado. Ufa!

Lass pôde relaxar o corpo, mas não por completo. Esperou que outra notícia ruim viesse para ele, para o deixar tenso novamente.

— Então Gwen pode ficar no seu lugar. - Zidler decidi. - Ela pode muito bem substituí-lo.

La estava o que Lass tanto temia. Moveu-se na cadeira sem perceber, de tão nervoso.

— Ela sabe luta, além do mais.

— O que você quer de mim, Zidler? - Lass pergunta, a voz cansada. - Diga logo de uma vez.

— Só quero meu antigo Lass de volta, só isso. Quero sua confiança, o respeito que você tinha por mim. Só isso.

Lass quase cuspiu de nojo ao ouvir a parte do respeito. Ele nunca teve isso por Zidler, pelo contrário, era medo. Nunca se atreveu ir contra o palhaço justamente pelas consequências, e não porque tinha uma admiração por ele.

— Só não envolva mais pessoas, então eu participo do seu show. - Finalmente consegue falar. - É tudo que eu peço.

— Se isso vai fazer você mais obediente, tudo bem então.

Não é bem isso que ele queria, mas teve que aceitar. Já bastava as pessoas que conhecia lá fora estarem envolvidas, não gostaria que Gwen fosse junto.

***

Fez exatamente como Zidler falou, não participou das apresentações. Lass até se sentiu mais aliviado por ter que ficar fora do palco, sem o público o olhando com uma grande curiosidade. Aproveitou e ficou no seu cantinho de sempre, na plataforma sobre o palco olhando a todos lá de cima. Só ali para ele se sentir em paz.

— Ei. - Lass sussurrou. - Está acordado?

Ouviu a voz das chamas falar em sua mente:

— Desde quando eu durmo?

— A maior parte do tempo está quieto, então penso que você está dormindo. Mas isso não vem em questão agora, tenho coisas mais importantes para discutir com você.

— Hum, e o que seria? Já pensou sobre minha proposta?

— Não, e nem vou pensar. Só quero sua ajuda para uma certa coisa, e como você não tem muita escolha, irá aceitar.

Se estivesse conversando com uma pessoa, veria as chamas revirar os olhos em desgosto. Será que ela possui sentimentos desse tipo?

— E o que seria exatamente?

— Sobre as barreiras de Zidler, em algum momento elas podem falhar, não é? Tipo, desligarem por alguns minutos.

— Eu não sei, nunca vi essas barreiras falharem, Zidler parece ser do tipo que não enfraquece facilmente. Por quê, o que você pretende fazer com isso?

— Preciso tirar alguém daqui, mas não será tão fácil com essas barreiras ativas. Você poderia desativar elas, não é?

— Minha nossa, quando entrou bondade em seu coração? Alôooo, Lass, nós que precisamos sair daqui! Pare de ser idiota.

O ninja coçou a cabeça, nervoso pelo o jeito que a conversar ia com as chamas. Tão complicadas.

— Você pode ou não? É uma pergunta simples.

As chamas demoraram para responder.

— Eu não posso desativa-las. - Continua antes que Lass suspirasse. - Mas existi outro modo, que é parecido com isso. Sei como as barreiras funcionam, é bem simples até.

— Então compartilhe, quero ter certeza que você não estará inventando isso só para ganhar algo.

Ouve a risada rouca das chamas ecoarem por dentro de sua mente. É desconfortante.

— Não faria isso com você, nunca. - Lass quase riu. - Enfim, as barreiras funcionam com pontos de energia. Zidler meio que rastreia as pessoas por sua magia, algumas são mais fortes e outras mais fracas. Por isso que eu digo que é impossível de você fugir, pois a sua fonte de magia é muito alto. Mais de oito mil.

— Ela é forte por sua causa. - Conclui, não sabendo se fica feliz em saber disso. - Zidler deve me reconhecer de longe.

— Bem isso. Mas isso é um ponto positivo, pois quanto mais magia você tiver, menos Zidler irá se importar com as pessoas em sua volta.

Lass arregala os olhos, finalmente compreendendo o plano das chamas.

— Eu poderia chamar toda atenção das barreiras para mim, assim Zidler não notaria se alguém se afastasse dele.

— Tá pegando o jeito da coisa.

Não percebe, mais um sorriso confiante é aberto no seu rosto. Ouviu as chamas falar algo, bobo, por sinal, mas acabou ignorando quando começou a pensar sobre o plano a partir dessa ideia. Seria muito arriscado para ele, principalmente depois que Zidler percebesse que Gwen teria fugido.

Começou a morder seu próprio lábio; A mania de anos atrás voltou, quando Lass era criança e ainda fazia parte do circo sempre fazia isso quando estava assustado ou muito concentrado em algo, o que seria para não ficar mais assustado que estava. Só perdeu essa mania quando o tormento do circo acabou, que ele estava salvo.

Mas parece que tudo voltou ao zero.

***

Elesis coçou seu olho quando começou a incomoda-la. Toda vez que começava a ler ou escrever algo por muito tempo, seu olho se irritava pelo o esforço que ela causava. Maldito seja Gerard no momento que raspou a ponta de sua espada no olho da ruiva. Agora ela precisava colocar seus óculos para poder continuar sua tarefa sem que continuasse a coçar.

Suspirou e botou os óculos. Sempre se sentia como uma nerd ao coloca-los, naquele momento não era diferente.

— É tão estranho ver você estudando, Elesis. - Comenta Arma, deitada em sua cama enquanto lia uma revista. Apenas a maga fazia companhia a ela naquele momento. - É tipo ver um gato latir.

— Vou aceitar isso como um elogio! E não estou fazendo porque quero, e sim porque preciso.

— E qual é o motivo? Deve ser muito importante para fazê-la estudar.

Elesis não pretendia contar o real motivo, mas também não gostava de esconder coisas de sua amiga.

— É sobre minhas chamas, só isso. Quero aprender a usa-las, nada de mais.

— Lothos não gostaria nada de vê-la tão obcecada pelas chamas assim. Não faz bem para você, Elesis.

A ruiva balançou a mão para o alto, em um tanto faz. A única coisa que a preocupava era Lothos, nem mesmo sua saúde ela ligava tanto quanto isso. Se a comandante descobrisse tudo seria desperdiçado com muitos sermões e castigos.

Sem falar que amanhã ela voltaria a se vestir de Eléo e viver sua outra vida. Não estava preparada, queria ter mais um pouco de tempo para poder lidar com as chamas roxas. Sieghart tinha a ajudado muito, tinha resolvido todos os problemas dela, porém Elesis não queria só isso, queria mais; Queria usa-las.

— Elesis, dê uma pausa. Daqui a pouco sai fumaça da sua cabeça. - Arme insisti.

Se bem que a ruiva sentia mesmo a cabeça quente, de modo figurado. Largou a caneta sobre o livro que lia e se jogou para trás, caindo de costas no chão gelado, já que esteve sentado nele o tempo todo.

Por fim, tirou os óculos, os colocando de lado.

— Então, como foi com o Ronan ontem? Ele foi embora um pouco quieto. - Pergunta Arme, jogando sua revista de lado e virando-se para Elesis.

— A gente conversou um pouco, não tive muito tempo para conversar com ele. Precisava treinar mais com o Sieghart.

— Ele deve ter ficado com ciúmes dele.

— É, ficou na primeira vista, mas depois mudou de ideia completamente. - Lembra da cena do moreno se jogando contra Ryan. - E mesmo que ele ficasse, não acho que ele demonstraria isso. Ronan não parece ser do tipo de querer arrumar confusão.

Arme solta uma pequena risada, chamando a atenção da ruiva.

— Deve ser bom conseguir o que quer, Elesis. Ronan foi sua primeira paixão e você a dele. - Dizia Arme, começando animada até o tom diminuir. Deu uma pequena pausa. - Você é bem sortuda.

Elesis nota a voz da maga falhar nas últimas palavras. Raramente via Arme triste, e mesmo quando via, não sabia o que dizer. Porque era Lire que resolvia isso.

— Alguma coisa tá te incomodando, Arme? Pode falar comigo. - Diz Elesis.

— É bobagem, não vale a pena falar. - A animação da garota tinha sumido por completo.

— Pode falar! Por mais insensível que eu seja, continuo a me importar com você. - Senta-se, encarando determinada para sua amiga. - Diga!

Arme olhou surpresa de primeira, então abriu um sorriso torto e olhou de lado. Também se sentou na cama, achando uma forma de fala para Elesis.

— Só não fique zangada comigo, ok? É que eu gosto do...

Arme não conseguiu terminar de falar pelo o grito histérico de Elesis. A ruiva jogou as mãos na cabeça e sua expressão fechou por completo em dor. A dor de cabeça tinha voltado, intenso como da outra vez. Segurou seu grito, jogando o corpo de volta para o chão, encolhendo-se nele.

— Elesis! - Ouviu Arme gritar preocupada.

A espadachim sentiu o ar escapar de sua boca, sentindo-se mais desesperada. Então ela teve outra dor além da cabeça, no seu braço. Aprecia que algo a furava na região do ombro e entrava mais ainda. Uma dor insuportável.

Mas depois de um tempo a dor foi sumindo, assim ela notando que Arme usava sua magia de cura nela. Abriu um sorriso aliviado quando viu a maga ao seu lado.

— Sente-se melhor? - Pergunta Arme.

Elesis apenas assentiu, ainda ofegante para falar qualquer coisa. Só depois de alguns segundo com a magia de cura pôde falar.

— Desculpa por ter te interrompido. O que você ia dizer mesmo? - Fala a ruiva, meio rouca.

Arme a olha e depois para sua magia.

— Como eu disse, é bobagem. - Diz ela, abrindo um largo, e falso, sorriso. - Agora deixa eu ir pegar uma toalha para você limpar esse suor.

A ruiva assentiu outra vez, deixando a maga ir até o armário pegar uma toalha. Nesse tempo, Elesis tomou sua respiração ao normal, virando o rosto de lado. Fechou os olhos por um tempo, mas logo abrindo e vendo algo sob sua cama. Olhou confusa, até perceber que era um caderno.

Esticou o braço por baixo da cama e alcançou o objeto, puxando para si. Abriu sem pensar duas vezes, já que era seu. Aquele caderno era como uma espécie de diário para Elesis, todas as anotações de amigos que ela tinha estavam ali. Tinha de todo mundo que ela conhecia, até mesmo pessoas que ela conversou só uma vez.

Tinha até mesmo nome de desconhecido, Elesis percebeu de sobrancelhas erguidas.

— Lass? - Leu o nome que tinha ali.

***

— Foi muito boa no show de hoje. - Lass menciona.

Gwen parou de mastigar seu lanche para olhar o ninja, sentado ao seu lado naquela sala escura. O espetáculo já tinha acabado, felizmente, agora tudo que fazia era descansar e comer algo antes de dormir.

— Valeu. - Responde ela.

— Tente se manter desse jeito, sem chamar a atenção do Zidler com bobeira.

— O que quer dizer com isso? - Olha desconfiada.

O rapaz já tinha acabado de comer, fitava seriamente a escuridão em sua volta. Ele estava pensando. Não respondeu, continuou a morder seu lábio.

Gwen soltou uma respiração pesada pelo o nariz. Terminou seu lanche e esperou que Lass disse algo, mas nada saiu dele. O olhando, nota que a roupa do rapaz estava desgastada nas costas, por causa do castigo.

— Tem alguns buracos na sua roupa. - Ela fala, conseguindo ao menos o olhar dele para ela. - Deveria consertar.

— Não vai fazer diferença quando eu rasga-la de novo. - Era uma verdade.

— Mas não é bom ficar com essa aparência. - Levanta-se. - Vou ajeitar para você.

Não deu o trabalho de discutir com ela, se queria consertar sua roupa ou não, tanto faz. Viu a garota pegar de um canto uma caixinha de ferro, que quando abriu tinha agulhas e linhas para costura. Ela se sentou ao seu lado, falando para ele ficar de costas para ela. Lass fez, meio sem disposição.

— Os machucados já estão melhores? - Pergunta a jovem enquanto colocava a linha na agulha, uma incrível visão para ver tudo isso no escuro.

— Estão. - Por isso de seu jeito sonolento, pois as chamas usaram uma boa parte de sua energia para terminar de cura-lo. Não sabia se ficava grato ou não.

— Que bom, agora tente não arranjar outro problema como aquele. Zidler pode acabar te matando assim.

— Fique tranquila, enquanto você tiver aqui, não me verá arrumando problema. Minha prioridade agora é tirar você daqui.

Sentiu a ponta da agulha o espetar sem querer nas costas, logo costurando as falhas em sua roupa. Ela deve ter feito aquilo de propósito.

— Já disse, não faça isso. Vai sobrar para você, e mesmo não gostando de você, não quero te ver sofrer por minha causa. - Fala Gwen.

— Como se eu me importasse com isso.

— Não seja idiota, não tem como escapar daqui sem o Zidler perceber. Vai perder seu tempo com isso.

— Eu sei como te tirar daqui, só preciso de mais tempo para melhorar o plano. - Sente a garota ficando surpresa ao ouvir isso. - Quando tiver pronto, eu te aviso.

— E o que você fará quando eu tiver fora daqui? Irá se matar? - Falou em deboche.

Sente um pouco de arrependimento ao dizer aquilo quando percebe que Lass não responde, fica em um silêncio pesado.

— Eu não me mataria. - Finalmente ele fala, a voz quieta.

— Por quê?

Dessa vez ele não responde. Gwen termina de costurar e corta a linha com os dentes. Guardou a linha na caixa, dizendo que tinha acabado.

— Eu não sei... - Menciona Lass, virando-se de lado, a olhando. - o porquê.

Gwen o olhou, esperando que ele continuasse.

— Mesmo quando eu fazia parte do circo quando criança, nunca passou por minha cabeça de se matar, quer dizer, já sim, mas não com tanta intensidade. - Dizia o ninja, abraçando os próprios joelhos. - Sempre vivi por comando das pessoas, só fazia o que elas pediam. Acho que nunca vivi de verdade, para ser honesto.

— O que te leva a pensar assim? Se você nunca viveu, porque continua assim? Deve ter algum porquê.

— Parando para pensar agora, nunca achei esse verdadeiro porquê. Nunca parei para pensar também.

Gwen conseguiu o compreender por um pouco. Como ele, ela também não tinha uma verdadeira razão para continuar ali, lutando com esperança de um dia ser livre.

— Eu não lembro como era minha vida antes disso tudo. - Diz a garota ao se reconstar nas caixas atrás dela. - Não sei como é viver de verdade, o meu mundo se limita ao circo. Não sei como é conhecer outras pessoas, ter amigos e uma família. Por isso que se eu sair daqui, não saberei o que fazer lá fora. Eu tenho medo de conhecer.

Gwen era como Lass antigamente, na época do circo. Ele era tão pequeno e inocente, não conhecia o mundo como ele era de verdade. Sorte a dele que depois de ter escapado, tinha pessoas para guia-lo.

Mas agora ele não tinha nada; Sem caminho para seguir ou pessoas para guia-lo. Estava sozinho novamente.

— E é por isso mesmo que você deve sair daqui. - Lass quebra o silêncio. Gwen o olha. - Como eu, você tem muito para conhecer do lado de fora. Esse é o seu porquê.

Podia ser imaginação dela, mas sentiu seus olhos brilharem com as palavras de Lass. Eram simples mas verdadeiras. Era verdade, por mais que tivesse medo do que poderia esperar do lado de fora, Gwen queria descobrir, ser livre.

Ela sorriu, de uma maneira que nunca conseguiu antes. Pela primeira vez, gostava da ideia de escapar dali.

— Acho que sim. - Diz a jovem, ainda sorridente. - Só espero que antes de sair daqui, possa descobrir o seu porquê também, Lass. Quando você souber, me conte. - Fica com receio de dizer as próximas palavras, desviando o olhar. - Por favor.

Diferente dela, Lass abriu um sorriso falho, mas falso o suficiente para enganar a garota.

— Você será a primeira a saber.

***

Seus olhos pesavam a cada piscada que dava, mas logo se acostumou com essa sensação de cansaço. Olhou em volta, demorando para perceber que estava em um quarto por causa da forte iluminação, como se o sol tivesse presente ali também. Passou alguns segundos e já se acostumava com tudo aquilo.

Olhou para si, vendo-se sentado na beira da cama. Tinha alguns livros ao seu lado, livros que ele adorava ler. Os títulos estavam borrados, mesmo assim, não se lembrava dos nomes. Outra coisa que tinha esquecido.

— Lass.

Aquela suave voz o chamou. Sentado no chão de seu quarto, sim, ele tinha se lembrado que aquele era seu quarto, um garoto de cabelos pretos. Ele estudava alguma coisa com aqueles livros sobre seu colo. Levantou o rosto para o ninja, mostrando seus olhos vermelhos.

— Você sabe como se faz esse dever? - Perguntou o garoto.

Lass não conseguia dizer nada, as palavras estavam presas em sua garganta. Ele tentou, mas de nada adiantou. Deixou para lá, continuou a olhar aquele garoto em seu quarto.

Qual era o nome dele mesmo? Será que o conhecia? Ele parecia familiar.

Mas de uma coisa Lass tinha certeza absoluta: Aquele garoto era bonito. Tinha uma aparência delicada, mas sua expressão quieta era ameaçadora. Os cabelos pretos eram longos, batem nos cílios, quase cobrindo seus olhos. E, é claro, os olhos! Não conseguia desviar o olhar deles, eram hipnotizantes. Seus lábios eram finos e rosados, chamativos demais para um garoto.

Lass balançou a cabeça. Quis rir quando se pegou no pensamento pervertido com aquele rapaz. Ele não era gay, mas sentia uma forte atração por aquela pessoa; Uma atração fora do comum.

— Você está bem distraído hoje.

Volta a atenção para o garoto, vendo que ele soltava uma pequena risada. Quase riu junto pelo o som agradável que era aquela risada.

— Deixa pra lá, eu me viro sem você. - Continuou ele. - Sou capaz disso!

Lass não quis ficar parado apenas olhando, queria se aproximar dele e poder encosta-lo. Talvez assim pudesse reconhecê-lo melhor, achou.

Não tinha voz, mas tinha força para se levantar da cama e ir até o rapaz. Sentou-se na frente dele, fazendo que ele o olhasse sem entender o que fazia. Lass o observou em silêncio, viu cada detalhe de seu rosto como uma pintura.

Levou sua mão até o rosto dele, encostando lentamente.Achou que ele fosse estranhar ou brigar com Lass, mas o garoto apenas o olhava de forma neutra. Sua pele era macia demais, algo não estava certo naquela pessoa.

Mas com Lass também não. Ele se aproximou bruscamente, beijando o garoto sem pensar duas vezes. Esperou um empurrão vindo do mesmo, porém aconteceu o contrário, ele retribuiu o beijo. Lass segurou seu rosto com ambas as mãos, sentindo medo que ele se afastasse dele. Seus dedos passaram por entre os fios escuros do cabelo, tendo uma estranha sensação que eles aumentavam, que cresciam.

Afastou-se com a respiração ofegante. Não tinha vergonha de olhar para o garoto depois do que fez, mas ficou surpreso da mesma forma ao olha-lo. Como tinha sentindo antes, seus cabelos estavam maiores, batendo em sua cintura. A coloração preta tinha ficado completamente... Vermelha.

Os olhos de Lass arregalaram. A garota dos cabelos ruivos, ele repetiu diversas vezes em sua mente. Ela estava na sua frente, não conseguia acreditar. Mas do que adiantava se não tinha voz para falar com ela, era a mesma coisa de nada.

Só gostaria de dizer seu nome.

***

Seus olhos abriram antes mesmo de despertar do sono. Seu corpo começava a doer pelo o chão duro sob ele. O que uma cama não fazia falta. Porém não foi isso que o incomodou, Lass estava mais focado no sonho que teve agora pouco. Sua mente se clareava, ficava óbvio a resposta que ele procurava.

Gwen estava no outro canto da sala, dormindo calmamente. Infelizmente, seu sono é rapidamente atrapalhado quando Lass a segura pelos os ombros e a sacode para acorda-la. A garota abre os olhos em susto, quase se esquecendo de respirar por isso.

— Eu descobri, Gwen. - Dizia Lass, sem esperar que ela despertasse por completo.

— Descobriu o quê? - Ela pergunta, sem saber como reagir.

— O meu porquê. - Respondeu o ninja, sorrindo.

***

Sentado dali, Lass observava tudo do palco. Estava em um dos lugares da plateia, olhando todos treinarem seus truques, alguns novos e outros antigos. Só não participava pois Zidler ainda pedia para Lass guardar energias, o que deixava o ninja mais desconfortável que trabalhar. O que tanto esperava por ele para ter todo esse tratamento? Coisa boa que não era.

— Pode fazer isso? - Lass pergunta.

— É claro que eu posso, é só você permitir. - Disse as chamas. - Mas se você preferir, posso ficar no comando e acabar de vez com o povo ali.

Revirou os olhos e se reconstou na cadeira.

— Nada disso. Apenas faça o suficiente para chamar a atenção dele. Não exagere.

As chamas resmungaram algo como uma criança, mas foram ignoradas do mesmo jeito. Lass cruzou os braços e ficou encarando em direção a Zidler. Ficou sério quando sentiu seu corpo esquentar por dentro, uma sensação nada boa.

Após poucos segundos, Lass notou Zidler parar seu treino, olhando em volta. O ninja desviou o olhar quando o rapaz olhou para sua direção, como em desconfiança. Sentiu-se nervoso no começo, mas ficou relaxado quando a voz das chamas voltaram.

— Ha ha ha! Olha o palhaço suando frio pelo o meu poder! - Dizia as chamas gargalhando. - Que piada!

Garantiu que Zidler tinha voltado ao seu treino antes de falar com as chamas.

— Realmente, ele sente a magia da pessoa. Como ficaram as barreiras?

— Praticamente sumiram quando se voltaram para a gente. Eu disse que funcionaria.

Lass não conseguiu conter o sorriso de lado, satisfeito pela primeira vez com as chamas. Não admitiu, mas estava feliz por ter elas ao seu lado, já que eram as únicas que podiam contar para ajuda.

Levantou-se de seu lugar e saiu lentamente da plateia, descendo as escadas sem pressa.

— Precisamos chamar mais a atenção dele. - Murmurou Lass, só para as chamas. - Isso não é o suficiente.

— O que você pretende fazer? Colocar gel no cabelo, joga para trás, pôr uma jaqueta de couro e sair andando como um bad boy? Qual é, Lass! Seu jeito emo não permite isso.

Se fosse uma pessoa, Lass teria batido nas chamas. Suspirou e manteve sua expressão neutra. Desceu os degraus e chegou no palco, ficando em seu canto à espera de uma chance para se intrometer. Sentia que Zidler o olhava de relance por alguns momentos, mas não se deixou intimidar por isso.

Diferente de Zidler, Gwen nem percebeu quando Lass chegou no palco. Ela se mantinha concentrado em seu treino com Ortina. A moça dizia que os movimentos dela tinham que ser mais graciosos, como se o peso das correntes não existissem. Era fácil falar.

Gwen começava a se cansar de todo aquele treino, queria descansar. Sabia que se pedisse para Zidler, ele a mandaria continuar o treino. Ficou calada e continuou a se esforçar mais em seus movimentos, que Ortina tanto brigava com ela.

— Lass, por que não se junta a nós? Seria bom você aprender algo. - Ouve Ortina falar.

Olha para a mesma direção que ela olhava, vendo o ninja de braços cruzados em um canto. Não tinha o percebido ali, o rapaz era sempre silencioso quando chegava nos locais. O ninja disse algo para Ortina e então olhou para Gwen, sem dizer nada.

Ela ficou sem saber o que fazer. Lembrou da noite passada e das palavras de Lass para ela. Ficou nervosa e virou o rosto para frente, esquecendo-se da tarefa que fazia. Suas correntes ainda balançavam quando ela se distraiu com Lass, então acabou nem percebendo quando uma das pontas foi em direção errada.

Direto para o leão de Ortina.

Soltou um grito em susto, puxando a corrente o mais rápido que pôde. Não foi o suficiente. A ponta da corrente bateu contra o chão, quase pegando no leão. O animal se assustou e virou-se diretamente para Gwen, rosnando ao se sentir ameaçado. A garota recuou um passo quando sentiu o leão se preparar para avançar contra ela.

Podia ser rápida, mas não para desviar de um animal com o dobro de seu peso. Teria se defendido com suas correntes, mas não queria machuca-lo.

— Ortina! - Gritou Gwen em desespero.

A rosada nem se deu o trabalho de se virar. Gwen segurou firme suas correntes para se defender, não importa o que acontecesse com ela depois. Olhou séria e...

Aquele barulho fez todos pararem de fazer o que faziam para olhar. Gwen continuava a segurar suas correntes, mas decidiu soltá-las ao pouco. Não sabia o que fazer, ficou paralisada em seu lugar, enquanto Lass ficava à sua frente, o braço totalmente dentro da boca do leão. Nem percebeu quando o ninja se jogou na sua frente, deixando-se ser atingido para evitar que Gwen fosse junto.

Os dentes do leão eram grossos e pontudos, entravam na pele de Lass como em uma folha. Seu ombro era o local mais ferido, enquanto o resto de seu braços estava dentro da boca do animal. O ninja tentou puxar seu braço, mas a fúria que o leão demonstrava dizia que ele não soltaria tão cedo.

— Solta. - A voz de Lass saiu abafada. Ele olhou para o leão, ainda em dor, e mostrou a intensidade da sua ameaça pelo o olhar. - Eu disse para soltar.

A fúria do leão sumiu, ele parecia um gatinho com grandes olhos. Viu em Lass algo maior, um animal tão feroz quando o próprio leão. Soltou o braço do ninja e recuou em passos lentos, assustados.

Lass segurou seu ombro, pondo a mão sobre sua ferida que não parava de espirrar sangue. Seu corpo balançou em fraqueza, mas ele conseguiu ficar de pé.

— Lass! - Ortina foi a primeira a falar e se aproximar.

Deu alguns passos para trás quando a moça chegou perto. Com a visão ainda embaçada, viu Zidler se aproximar também, sem a preocupação que o demais tinham.

— O que foi isso, caro Lass? - Exigiu Zidler antes de parar perto do ninja. - Espero que tenha uma explicação.

Não disse em imediato, sua respiração começava a ficar ofegante com o sangue que derramava cada vez mais. Nem precisava olhar para seu braço para vê-lo totalmente vermelho.

— Foi minha culpa!

Lass olha surpreso quando Gwen se coloca ao seu lado. Ela não devia tá fazendo aquilo.

— Eu sem querer assustei o leão da Ortina e ele partiu para cima de mim. Lass se colocou na minha frente para me defender. - Dizia séria, escondendo o medo das consequências.

— Isso é verdade? - Zidler olha para o ninja.

Outra vez, Lass não respondeu imediatamente. Engoliu seco e ajeitou sua postura.

— Eu distraí Gwen e ela acabou assustando o leão. Entrei na frente porque sei que ela é mais importante para o show de hoje. Além do mais, ficarei bem. - Foi bastante difícil para ele ter dito tudo isso.

Agora era a vez da garota o olhar surpresa. O que ele tanto queria fazer?

— Não, foi minha culpa! Eu... - Gwen não termina sua frase.

Não notou o chicote que Zidler tinha em mãos, por isso Lass não teve tempo para se esquivar. A ponta voou diretamente no rosto do ninja, o atingindo na bochecha. Lass soltou um grito abafado, abaixando o rosto após o ataque.

— Zidler, ele... - Gwen é interrompida outra vez.

A jovem ver o chicote indo em sua direção dessa vez. Ela pôs os braços na frente e fechou os olhos. Uma linha de dor é formada em seus dois antebraços. Gritou baixo, encolhendo-se em seus braços atingidos.

Lass levantou o rosto quando ouve o grito de Gwen. Uma linha grossa e espessa é aberta em uma das bochechas do rapaz, chegando até em uma parte do nariz. O sangue já começava a escorrer, como se ele não tivesse mais feridas para se preocupar. Quando foi debater, o chicote se enrola em seu calcanhar e o puxa, o corpo de Lass girando direto para o chão. Bateu de costas, as feridas recém saradas doendo pelo o impacto.

— Caro Lass, creio que você esqueceu do que eu tinha te dito. - Zidler se aproxima do corpo caído do rapaz. - Você não deve desperdiçar energias ou se machucar, e, bem, você acabou de fazer os dois.

Lass olhou para ele, forçando a vista embaçada para enxerga-lo. Suas feridas começavam a latejar e as chamas não irão curar tão cedo, justamente para o ninja não desmaiar por falta de energia.

— Ortina, leve o meu caro Lass para colocar os curativos. Tenha certeza que ele esteja completamente bem para amanhã. - Menciona Zidler.

— Entendido. - Diz ela, soltando uma risadinha.

Não queria ir com ela, mas não tinha outra escolha. Ortina o segurou pelo o braço bom e o ergueu, o ajudando a andar enquanto saía dali. Olhou sobre o ombro para garantir que Gwen ficaria bem, com exceção da ferida em seus braços. Zidler não poderia machuca-la mais que aquilo.

***

Existiam duas coisas no circo que mais incomodavam Lass. Uma: era Ortina; Duas: Está no quarto dela... Com ela. O cômodo era cheio de bichinhos de pelúcia e com muito rosa, como o cabelo dela. Por um momento achou que fosse a amiga da garota ruiva... Qual era o nome dela mesmo? Nem mesmo isso ele lembrava mais. Só sabia que ela gostava de rosa tanto quanto Ortina.

Estava sentado em uma cadeira no meio da sala, tragicamente, seu roupão cobrindo apenas sua parte de baixo, enquanto seu peito era exposto. Daquela forma via claramente o seu machucado no ombro todo, o sangue ainda escorrendo dele. A dor nem se falava.

— Irei limpar seus machucados primeiro. - Diz Ortina, aproximando-se com uma caixinha, também rosa. Ela puxou uma cadeira para perto de Lass e se sentou. - Tomarei cuidado para não te machucar.

O ninja não deixou de bufar. Ficou tenso quando viu ela molhar um paninho e aproximar de suas feridas. Encolheu-se por um momento, mas tendo que aguentar a dor quando ela começou a limpar. Deixou sua boca bem fechada para não soltar um grito.

— Por que fez aquilo pela a Gwen, Lass? - Pergunta Ortina. - Ela é tão especial a ponto de você se jogar na frente dela?

— Só acho que a pessoa mais pura desse circo não mereça sofrer. - Arrasta as palavras em dor.

— Eu não sou pura? Posso ser, assim você me protege como fez com a Gwen.

Lass não disse mais nada, deixou ela limpar sua ferida. Ficou de olhos fechados o tempo todo, ficando concentrado em não sentir a dor. Quanto terminou, Ortina pegou uma agulha curvada e uma linha.

— Não precisa. - Lass disse. - Irão fechar em breve.

— Ordens do Zidler. Preciso deixa-lo melhor para amanhã.

Pretendia discutir mais, só que era tarde demais quando a agulha já perfurava sua pele. Mordeu o próprio lábio e virou o rosto de lado, não querendo ver. Foram longos minutos para que aquela tortura acabasse.

— Prontinho! - Deu um pequeno tapa no ombro para dizer que acabou.

Lass rosnou em dor, xingando bem baixo o que Ortina fez. Seu rosto foi segurado pelo queixo e virado para ela.

— Ainda falta esse machucado no queixo. - Ela diz, o rosto perto demais. Ela fazia de propósito. - Posso dar um jeito.

Ela se levantou e se afastou. Lass aproveitou para olhar em volta do quarto, vai que achasse algo que o ajudaria.

E não é que ele achou.

Seus olhos não saíram das chaves pendurada na cabeceira da cama de Ortina. Eram muitas, parecendo com a quantidade de portas que tinha naquele lugar. Será que elas abriam as portas do circo? Se fosse, seria de uma grande ajuda se Lass as tivesse.

Mas ele precisava pegá-las primeiro para saber.

Olhou para frente e viu que Ortina mexia em seu armário, procurando algum medicamento para colocar na ferida dele. Ela perceberia se ele levantasse, precisava pensar de uma maneira que ela nunca desconfiasse.

Engoliu seco, um enjoo que poderia virar vômito. Não gostaria de fazer aquilo, mas sabia de alguém que poderia.

— Espero que estejam acordadas. - Pensa Lass.

— Eu já disse que não durmo! - Grita as chamas. - O que quer dessa vez?

— Preciso que tome o controle por um momento. Faça o que eu disser, sem questionar.

Ortina achou o curativo que procurava. Voltou até Lass, sentando-se ao lado dele. Limpou a ferida em sua bochecha e colocou o curativo, estranhando que o ninja não reclamou uma sequer vez.

— Já acabei, Lass. Pode ir. - Diz, levantando-se. - Mas se quiser ficar aqui, será muito bem vindo.

Ortina soltou uma risada, mas parando quando é segurada com firmeza pelo o pulso. Olhou confusa para Lass, que a puxou e jogou sobre a cama. Foi se levantar mas é empurrada antes de volta para a cama, em seguida o ninja ficando sobre ela.

— Quer que eu fique? - Pergunta Lass, sua expressão tão séria e assustadora. Até mesmo seu tom de voz ficou mais grosso, firme. - Posso fazer você se arrepender.

Ortina olhou surpresa para Lass. Ela não sabia o que tinha dado nele, mas parecia outra pessoa, mais intenso. Era assustador, por isso mesmo de seu sorriso sádico para o rapaz.

— Eu posso lidar com isso. - Ela disse.

***

Um momento ou outro, Lass precisaria se levantar e sair dali. Ergueu seu rosto, olhando para o corredor que estava. Talvez ficar sentado e encolhido ali seria melhor que voltar para seu quarto, como ele nomeava aquela sala escura.

Não lembrava claramente o que tinha feito com Ortina após ter deixado as chamas no controle, mas sabia que não tinha ido longe demais; Ao menos isso. Felizmente, as chaves estavam em seu bolso agora. Como as chamas pegaram? Disso ele não sabia, e nem pretendia saber.

Hoje o circo não teria apresentações, seria um dia para descanso. Já estava de noite, todos já tinham ido dormir, então Lass também tinha que ir. Ficou de pé e não levou muito tempo até chegar no cômodo. Ao abrir a porta, deparou-se com Gwen debruçada sobre uma caixa, olhando o que tinha dentro. Não entendeu nada, mas se aproximou do mesmo jeito.

E tudo aquilo que aconteceu em seguida pareceu ter sido em segundos. Gwen disse que tinha visto algo dentro da caixa, Lass foi ver o que era e viu nada. Foi olhar para a garota e ela estava atrás dele. Foi falar algo e ela se aproximar rapidamente, o calando com um beijo.

Fica sem reação, confuso, talvez. A segurou pelos os ombros e afastou dele. Viu Gwen olhar sem entender, como ele também fazia . Não sabia qual deles estava mais confuso.

— O que foi isso? - Pergunta Lass.

— Um... - Gwen fica envergonhada em dizer. - beijo.

— Tá bom... Por quê?

— Co-Como assim? Achei que não tivesse problema.

Lass piscou os olhos, tentando entender o que acontecia. Ele não entendeu.

— Explica melhor o que está acontecendo, porque eu não faço ideia.

— As mulheres piram por você, Lass! Não percebeu ainda? - As chamas se intrometem.

Lass as ignorou, não valia a pena discutir com elas, não agora.

— Ontem você disse que tinha encontrado o seu porquê. Disse também que era alguém muito especial. - Ela ficava nervosa com a explicação. - Achei que fosse...

Gwen não completou, Lass já tinha compreendido o que ela queria dizer. Lembrou que na noite passa havia a acordado para dizer que tinha finalmente achado seu porquê. Ele não explicou o que era exatamente, apenas tinha dito que era alguém e que era muito especial para ele.

Gwen devia ter interpretado errado suas palavras, ou ele deve ter dito com segundas intenções.

— Desculpa. - Pede Lass. - Você entendeu errado.

A garota olhou sem expressão, soltou uma pesada respiração pelo o nariz e moveu suas mãos junto com sua respiração. Ela fazia aquilo para se acalmar. Recuou em pequenos passos e se sentou perto das caixas.

— Sou muito idiota para ter sido levada por esses sentimentos. Principalmente por você. - Diz Gwen, ficando irritada.

— O quê?

— Nada! Deixe para lá! - Joga a mão de lado. - Esqueça tudo que aconteceu hoje, finja que nunca existiu. - Vira o rosto.

Lass coçou a cabeça e ficou sem saber o que dizer em seguida, sobre o que aconteceu. Gwen fazia do tipo de quanto mais persistisse, mais ela ficaria zangada. Lembrava até um certo alguém.

Tirou o chaveiro com as chaves e jogou sobre Gwen. Ela deu uma rápida olhada nas chaves, depois para Lass.

— Essas chaves abrem as portas do circo, todas, eu acho. É com isso que você vai usar para sair daqui. - Explica o ninja.

— Como você conseguiu?

— Isso não precisa ser debatido, o importante é que eu peguei. - É direto. - Esconda elas aqui, seria perigoso ficar com você.

Gwen assente. Depois tentaria achar um lugar naquela sala para guardar as chaves.

Lass passou a mão na nuca, mexendo a cabeça em cansaço. Sentou ao lado da garota, que pareceu incomodada no mesmo instante. Gwen quis se afastar, mas ficou congelada em seu canto.

— Você disse que o seu porquê era uma pessoa especial. - A garota fala, não aguentando aquele silêncio entre eles. - Quem seria?

— Ela é o motivo de eu viver. Antes de conhecê-la, tudo era tão frio e sério para mim, mas quando ela apareceu, tudo mudou. É por causa dela que eu não me mato agora, porque tenho um pequeno fio de esperança que poderei ver ela um dia novamente. - Só em menciona-la, seu coração batia forte.

— Ela? Então é uma garota. - Lass assente. - Qual é o nome?

O ninja encarou o vazio à sua frente, pensativo. Era tolice dele achar que conseguiria lembrar o nome dela. Passou a mão no rosto exausto e apoiou a cabeça na caixa atrás.

— Eu não sei. Por eu estar aqui, Zidler não me permite lembra das coisas lá de fora. Tudo está se apagando aos poucos, até não resta mais nada.

— Que horrível! Ele é capaz disso?

Zidler é mais capaz que tudo, Lass quis responder, mas acabou dizendo outra coisa.

— A única coisa que eu lembro dela é sua aparência, mas sinto que esquecerei em breve.

Pela primeira vez, Gwen sente o peito apertar quando ver a expressão quebrada de Lass. Quando o vi no primeiro dia no circo ele não estava tão... menos quebrado. Agora ele estava quase chegando ao seu limite, com sua ferida na bochecha e no ombro. Não expressava dor, mas tinha certeza que ele se contorcia por dentro.

— Ela é especial em que sentindo para você? - Gwen se sente uma estúpida por perguntar aquilo. Será que tinha medo de descobrir a resposta?

— Hum. - Lass põe a cabeça de lado, pensando. - Eu já amei ela uma vez. Foi difícil encara-la e dizer o que sentia por ela, depois ter que me despedir.

— Falando assim, parece que você não a ama mais.

Lass levou sua mão ao rosto outra vez, mas o cobrindo. Ficou assim durante a conversa.

— É que quando eu a amava, todas coisas de ruim iam contra mim e ela. É como se não quisessem que a gente ficassem juntos. - Força uma risada fraca. - Então eu decidi falar a verdade para ela e virar as costas. Não podia ama-la mais.

— Você conseguiu?

— Sim, eu consegui. Mas nunca soube como. - Dá uma pausa para tentar entender o motivo. - Talvez meu desejo de querer me tornar tão forte cobriu meus sentimentos. Mas parando para pensar agora, minha força é nada comparada ao de Zidler.

Era visível a força entre eles, como Lass abaixava o rosto quando Zidler estava por perto. Gwen achava que era uma espécie de respeito, mas agora ouvindo as palavras do ninja percebia que estava enganada.

— Você se arrependeu? - O rapaz inclina a cabeça, não entendendo a pergunta. - Você se arrependeu de ter deixado de ama-la? Fez isso para se torna forte, mas percebe que não adiantou de nada. Você deve está arrependido.

Lass demora a responder. Lentamente, sua mão escorrega de seu rosto, fazendo Gwen olhar surpresa.

— Eu me arrependo de ter dado as costas quando ela me amou e eu não pude retribuir. - Disse com o rosto corado. Lass estava envergonhado. - Eu fui um idiota.

— Lass...

— Como eu amo ela. Faria qualquer coisa só para poder vê-la mais uma vez. - Abriu um sorriso fraco, mas verdadeiro.

Nunca deixou de amar a garota ruiva, apenas pegou seu sentimento por ela e jogou de lado; Ele sempre esteve ali o tempo todo. Durante as férias, Lass se concentrou em como lidar com as chamas, no meio disso ele acabou se tornando mais frio por causa delas. Tão obcecado por tudo isso, o ninja acabou esquecendo até mesmo sobre si, como lidar com as pessoas em volta.

Ele se odeia agora ao perceber tudo isso. Ele odeia o jeito que seu coração bate quando pensa na garota ruiva, no desespero de querer vê-la.

***

Lass acordou naquele dia com seriedade, determinação em tirar Gwen de vez daquele lugar. Esperou que todos fossem fazer sua reunião diário no palco para andar por todo o circo. O ninja tinha pego as chaves com Gwen antes de ir. Testou todas elas nas portas do lugar, e, felizmente, todas eram verdadeiras. Porém, a única que não testou foi a da saído dos fundos. Lass sabia que se fosse até lá, Zidler poderia senti-lo se afastar e desconfiar dele.

Após ter feito tudo isso, voltou ao palco e ficou sentado em seu canto, observando em silêncio o treino. Hoje teria show e seria perfeito para a fuga de Gwen.

— Como você planeja tirar ela daqui? Creio que apenas chama toda atenção para você não será o suficiente. - Diz as chamas.

— Eu sei. - Murmurava bem baixo. - Mas eu já planejei tudo. Durante o show, irei apresentar junto com o Zidler enquanto Gwen escapa. A atenção dele estaria dobrada em mim e na plateia, ele nem lembraria da Gwen.

— Mas a garota do cabelo rosa e o grandalhão ali podem perceber a ausência dela.

— Halter é burro demais para pensar nisso, já a Ortina costuma ir para seu camarim durante o intervalo. Eles não vão perceber.

— Tá, mas e depois que ela sair daqui? Você não ouviu ela falar que não tem lugar para ir?

— Eu darei um lugar para ela ficar, não se preocupe. Está tudo planejado.

As chamas não debateram mais, elas estavam convencidas das palavras do ninja. Lass estava confiante disso, não se importava com as consequências, levaria todas elas se fosse para deixar Gwen o mais longe dali.

***

— Você irá até o Zidler e pedirá para ele deixar você ser uma das primeiras a apresentar. - Disse Lass com os braços cruzados.

Gwen não deixava de olhar nervosa para seu reflexo no espelho, mas confirmou do mesmo jeito. Estava muito bem arrumada com seu cabelo bem penteado e a roupa combinando. Queria poder levantar da cadeira que estava, mas suas pernas não paravam de tremer.

— Se ele não deixar, persista. Uma hora ele cede. - Continuou Lass. - Então você irá apresentar seu show com muita tranquilidade, como se nada fosse acontecer.

Ela assentiu mais uma vez.

— Quando terminar, venha para esta sala e troque por uma roupa menos chamativa, de preferência uma que esconda quem você é. Não será nada bom você sair e um monte de pessoas a reconhecer.

— Entendi.

— As chaves estarão onde você escondeu, eu coloquei lá. A chave maior é a que você precisa, não terá problema em procura-la. Depois disso, você vai embora. Nada complicado, apenas não fique nervosa.

Balançou a cabeça. Respirou fundo e soltou a respiração pesada. Tentava se acalma como fez na outra vez.

— Farei de tudo para eles não perceberem sua falta. E não se importe comigo, pense em você.

Era difícil quando a pessoa que ela precisava esquecer era a mesma que estava a ajudando a sair dali. Não sabia como agradecer a Lass, porém não queria se precipitar, o plano ainda precisava ser iniciado.

Gwen se levantou da cadeira e se virou para Lass.

— Então nos despedimos por aqui? - Ela pergunta.

O ninja não tinha pensado nisso, para ser sincero. Afirmou do mesmo jeito.

— Não precisa agradecer, ainda. Quero apenas que você consiga. - Diz Lass.

— Mas obrigada, mesmo assim. Como eu disse, nunca tive muito contato com as pessoas lá de fora, mas você me mostrou que eu posso ter, Lass. Muito obrigada. - A jovem abre um sorriso envergonhado. - Gostaria muito de saber como te retribuir isso.

— Não precisa. Só estou fazendo o que acho certo.

Gwen não se importou com o que ouviu e se aproximar de Lass, abraçando-o. O rapaz não recuou, mesmo que seu machucado no ombro voltasse a doer por causa daquilo. Ele levantou uma das mãos e deu uma leve batida nas costas da garota. Ela ficaria bem, ele faria ela ficar.

— Gwen, me escute agora. - Diz Lass sério.

Ela se afastou o suficiente para olha-lo.

— Quando você sair daqui, quero que você vá direto para Canaban. Lá é um lugar muito grande, mas você vai conseguir sobreviver. Quando chegar, vá direto procurar uma pessoa que está trabalhando para o Conselho.Ela tem cabelos ruivos, é muito nervosinha com as coisas; Irá achar fácil.

— É a tal garota que você gosta?

— Sim, é ela. Se você não encontrar ela no Conselho, procure um colégio que só tem garotas. Irá encontra-la lá.

— E o que eu digo quando encontra-la? Quer que eu fale de você para ela?

Lass negou com a cabeça rapidamente.

— Não irá adianta, ela não vai se lembrar. Tudo que eu quero é que você fique perto dela, não saia de jeito algum. Estará segura com ela ao seu lado. - Abre um sorriso confiante. - Confie em mim.

Ela confiava. Do jeito que Lass dizia dessa garota, ela parecia ser alguma deusa super protetora. Gwen quis rir, mas não fez isso de frente para a expressão séria do rapaz.

— É isso. Faça tudo que eu falei e você vai ficar bem. Não se importe comigo, me esqueça como se o feitiço também pegasse em você. - Não gostava de dizer aquilo, mas era preciso.

— Será um pouco difícil.

Quando pretendia falar mais, um chamado do lado de fora anunciava que tinha que se preparar para o show. Gwen respira fundo outra vez, impedindo que o nervosismo a tomasse novamente. Lass já pretendia ir para o lado de fora, mas a garota o chama antes de abrir a porta.

— Alguma dúvida? - Pergunta o rapaz.

— Não, eu só quero que saiba de uma coisa antes de tudo isso. - Segura sua própria mão, um pouco trêmula. - Eu gosto de você, bastante. Não sei em que sentido, nunca me apaixonei antes para saber como é, então... Só quero que você saiba disso.

Lass não esperava por isso, por isso de sua expressão surpresa. Embora Gwen tivesse deixado sua incerteza bem clara, o ninja não deixou de se sentir mal. Aquilo o lembrava algo e não era nada bom. Teve que comprimir seus lábios para evitar que eles tremessem.

— Você deve estar enganada. - Diz Lass. - O que está sentindo não é o que você pensa. Posso entender porque me beijou ontem, mas acho que não seja por isso, e sim porque estava confusa. Apenas esqueça, Gwen.

Pode ter parecido rude mas não foi sua intenção, só queria o bem dela. Era melhor ela confundir esse sentimentos pelo o ninja do que continuar a sofrer como ele há muito tempo atrás, e agora. Não o veria mais, então seria melhor esquecer isso.

— Melhor se prepara, não se esqueça que tem que falar com o Zidler. - Foi tudo que Lass disse antes de sair da sala.

Mas soltou um Boa sorte abafado para que ela ouvisse.

***

Em todo o show, Lass ficou em seu cantinho especial sobre o palco, observando tudo dali. Viu algumas apresentações com seu olhar entediado, tudo que esperava era a entrada de Gwen. Tinha descoberto que Zidler a permitiu ser uma das primeiras, por isso de ele tanto esperar para vê-la entrar.

A conversa que teve com Gwen há pouco tempo ainda martelava sua cabeça. Não conseguia tirar a garota ruiva de sua cabeça após isso. Ele sabia que ela não o amava mais, estava com o garoto do cabelo azulado, o tal de Ron... Era esse o nome dele, certo? Não importava! Lass não tinha chance nenhuma, muito menos estando ali. Mas mesmo assim ele se sentia traindo ela caso aceitasse os sentimentos de Gwen.

Deu um tapa em sua própria testa, esquecendo disso. A qualquer momento poderia aparecer as chamas para piorar a situação, o que era o que menos Lass queria no momento. Ao menos a voz de Zidler lá embaixo chamou sua atenção e viu Gwen entrar. Se não soubesse como ela está, não viria o nervosismo da garota. Ela sabia esconder bem.

A jovem fez sua apresentação de sempre, cristais criados para serem quebrados e criarem uma cortina de brilho. Era mesmo lindo de se ver, faria qualquer pessoa mal humorada, feliz.

Lass teve que parar de olhar para o show e descer dali, precisaria falar com Zidler para entrar na apresentação dele. Fez isso rápido, desceu da plataforma e se encontrou com Zidler em um dos corredores. Ele já estava se preparando para entrar no palco e começar seus truques.

— Zidler, quero ter uma palavra com você. - Lass é direto.

— Que surpresa você querer falar comigo. O que é de tão importante?

— Deixe-me participar do seu próximo truque. Me irrita você me deixa de lado porque tem medo que eu me machuque. - Fingia a irritação. - Posso participar, entendeu?

Zidler não é surpreendido, ele ficou feliz pelo o que ouve. Bateu uma rápida palma em animação.

— É bom saber que quer participar, caro Lass. Mas caso eu veja que você não irá aguentar, o tirarei imediatamente. - Lass assente, preparando-se para ir. Zidler continua. - Hoje à noite será seu show, esqueceu? Quero você bem para ele.

Lass não compreende de primeira, o que Zidler falava? Tinha esquecido disso, sobre sua apresentação à noite. O ninja engoliu seco e sentiu o sangue congela em tensão. É claro, isso não interferiria no plano de fuga de Gwen, mas deixava o rapaz nervoso de um jeito ou de outro.

— É claro, eu lembro. - Mente. - Estarei bem até de noite.

— Bom saber disso. Te chamarei no palco em breve, esteja preparado. - Diz antes de ir, dando um tapinha no ombro de Lass, o que fez ele se encolher em dor. O machucado.

Após a saída de Zidler, Lass viu Gwen sair do palco, nervosa, e vim apressada em sua direção. Ela parecia desesperada, mas apenas com o olhar o ninja a acalmou.

— Vai. - Lass sussurrou quando passou por ela.

Sentia que Gwen queria parar de andar e falar mais com ele, porém não podia. Ela precisava ir sem olhar para trás, com determinação.

— Você pode sentir as energias de todos aqui? - Murmura Lass para as chamas.

— É, eu posso. Mas tem uma certa distância para isso, que seria o circo.

— Ótimo. Foque-se na Gwen, quando ela tiver saindo, chame atenção de Zidler. Entendeu?

— Deveria ganhar um aumento por todo esse trabalho. Um por favor também cairia bem.

— Apenas faça. - Rosna.

O maravilhoso silêncio das chamas é como canção para Lass. Não soube se as chamas fizeram ou não o que foi pedido, torcia para que elas tivessem a mesma confiança que o ninja tinha nela.

O tempo que teve que esperar para Zidler pedir que ele entrasse no palco parecia eterno. Voltava a morder seu lábio em nervosismo, um pouco estressado pela a espera. Não sabia se focava em Gwen ou no show à noite. Os dois ao mesmo tempo, talvez?

Parou de morder o lábio quando seu olhar foi direcionado para o palco. Era sua deixa. Antes que entrasse lá, precisava fazer mais uma coisa.

— Ela já saiu?

— Está saindo. Tá na hora de fazer o palhaço nos notar. - Debocha as chamas.

Quando as chamas aumentaram a intensidade de sua magia, Lass sentiu seus machucados sararem mais rapidamente. Por um momento tinha visto uma fumaça sair de seu corpo, que esquentava por dentro. Era como uma febre anormal, o que em consequência o fazia sentir mais frio.

Se não fosse para salvar uma pessoa, nunca faria isso. Não é uma boa sensação, aliás.

— Caro Lass, por que está tremendo tanto? - Zidler pergunta baixo para ele quando chega ao seu lado. O ninja mantinha as mãos nos bolsos, evitando cruzar os braços para se esquentar, tirando o fato que ele tremia um pouco. - Algo de errado?

Lass nega com a cabeça. Ajeitou sua postura, não queria mostrar uma aparência frágil, Zidler o mandaria embora imediatamente. Precisava parecer forte até o final da apresentação.

— Só estou com frio, nada demais. - Respondeu.

Zidler assentiu. Ele voltou a atenção para plateia, falando sobre a apresentação. Lass sentia que toda atenção estava sobre ele, uma atenção dobrada. Talvez as chamas não somente afetassem Zidler, e sim a todos por perto. Algumas pessoas são mais sensíveis que outras em questão de magia, alguém da plateia podia ser assim.

— Creio que todos aqui já tenham visto o truque da caixa, certo?! - Dizia Zidler em seu modo espontâneo. - Mas hoje faremos um pouco diferente, iremos...

Lass parou de prestar atenção no que Zidler dizia quando a voz das chamas falaram:

— A garota já saiu, nem sinto mais ela por perto. Deve já tá longe do circo.

A expressão do ninja demonstrava nada, enquanto por dentro era um largo sorriso que ele abria. Uma alívio bateu em seu peito de um modo que ele não podia explicar. A sensação de satisfação era a melhor coisa que sentia desde que entrou no circo. Finalmente algo bom acontecia com ele.

Embora tenha completado o plano, Lass continuou com as chamas bem ativas. Olhou de relance para Zidler, querendo saber como ele conseguia esconder o que sentia. Ele devia tá morrendo de curiosidade para saber de onde vinha todo aquele poder, que estava tão próximo.

— O meu caro ajudante irá entrar dentro daquela caixa e irá parar em outro lugar. Veremos se isso é verdade.

Zidler moveu a mão e fez que a caixa aparecesse. Lass olhou irritado para as pessoas na plateia que olharam surpresos para aquilo. É tudo ilusão, parem com isso, idiotas, foi o que quis dizer. Não fez, é claro, tentou não se focar mais nisso.

— Entre na caixa. - Zidler o instrui.

Foi fazer o que foi pedido, porém parou os passos ao ouvir um barulho. Lass sentiu as chamas dentro de si diminuírem, sem falar nada com ele. Acabou nem percebendo por estar confuso com o barulho que ouviu dentro da caixa. O frio que sentia pareceu ficar maior, o obrigando a recuar um passo.

A porta se abriu em um estrondo. Lass prendeu a respiração ao ver o que saiu da caixa.

— Ora, acho que ocorreu um imprevisto. - Zidler cantarolou.

Gwen ficou caída no chão por um momento, até seu corpo se mexer. Ela se virou de lado, enxergando o que tinha em volta. Sua expressão mostrava confusão, cansaço e mais confusão. Ela não sabia como tinha parado ali.

— Gwen.

Ela levanta o rosto ao ouvir a voz de Lass. O rapaz estava um pouco distante, mas conseguia ver a expressão de espantado dele; E medo.

— Mas vamos seguir o show assim mesmo! - A voz de Zidler assustam ambos. - Quanto mais, melhor!

Lass não pretendia debater, mas não queria participar mais do truque. Uma força maior se aplicou contra ele que o jogou contra a caixa. Bateu com o ombro ferido na parede do objeto, logo a porta se fechando e tudo ficando escuro. O chão sob seus pés sumiram, ele caiu até acertar um chão gelado.

Suas feridas tinha aberto.

Ignorou as dores e ficou de pé em instante. Deu uma rápida olhada em volta e percebeu que estava em um tipo de porão, mesmo que estivesse escuro, ainda conseguia enxergar.

Em meio ao silêncio, um barulho chamou sua atenção. Reconheceu Gwen por seu grito, em seguida o barulho de seu corpo caindo, como Lass ao chegar ali. Ela gritou mais alto ainda na queda.

— Gwen! - Grita o rapaz.

Vê a silhueta da garota caída no chão e se aproxima. Ela segurava o próprio pé, que pela a escuridão não deu para ver como estava.

— Meu pé torceu. - Diz em meio a respiração atrapalhada.

— Vou te tirar daqui, não se preocupe.

Suas palavras confiantes valiam de nada quando Lass não se sentia assim. Ele se ergueu e tentou achar algo naquele lugar. Nem uma porta ou objeto.

Sem sentir, algo chega por trás dele e cobre seu corpo, arremessando o mais longe possível. Suas feridas pioraram quando bateu contra uma parede. Lass tossiu à procura de ar, forçando-se a olhar em direção Gwen.

— Cai fora, Halter! - Berra Lass ao reconhecer o grandalhão.

Seria complicado passar por cima de Halter naquela situação, já que o mesmo tinha o triplo de sua força. O nervosismo não deixou de cobrir o corpo de Lass com a tremedeira.

Gwen não conseguia se mover no estado que estava, mas ela tentou fugir de Halter. O grandalhão nem deu tempo de ela tentar, sua gigantesca mão cobriu o frágil braço dela e a ergueu. Em um rápido movimento, o corpo de Gwen voa contra o chão com tanta força que ela chega a gira no ar. A garota forçou a se mexer e olhar Halter se aproximar. Precisava revidar.

Quando o grandalhão vai acertar um soco, Gwen se joga para o lado e rola pelo o chão. Seu corpo todo doía pelo o ataque de antes, mas consegue ficar de pé com apoio dos próprios joelhos. No próximo passo, precisaria escapar outra vez do soco de Halter, que já vinha contra ela. Não conseguiria com seu corpo quebrado do jeito que estava.

Um vulto preto passa por ela e nota que era Lass. O rapaz usa o próprio corpo contra o punho de Halter, que para ao impactarem. Seus pés descalços deslizam pelo o chão com a força do grandalhão, mas o ninja persisti em continuar.

— Precisa achar uma saída. - Fala Lass entre os dentes. - Rápido!

Gwen se afasta para achar alguma porta, mancando bastante por seu pé machucado. Não adiantava, não encontraria nada, não em um tempo tão pequeno.

Olha para Lass quando o ver voar contra a parede novamente. Decidi ir até o mesmo, porém é parada no caminho quando Halter se aproxima. É acertada por um soco que a joga no chão. Tenta se levantar e é recebida por outro golpe, e assim por diante. Não aguenta segurar os gritos e os solta.

— Pare, Halter! - Grita Lass novamente.

Avança contra o homem e sente bater contra uma parede à frente. Lass estica os braços e percebe que está preso na caixa novamente, não percebendo de primeira pela a escuridão de ambos os lugares serem iguais. Chutou com força a madeira em sua frente, mas não faz efeito que queria.

Virou seu ombro bom e afasta-se por um pouco, avançando em seguida. A porta se abre com seu impulso, então seu corpo cai para frente sem poder evitar. Lass rola no chão e fica de pé rapidamente.

Tinha voltado para o palco.

— Gwen! - Grita pela a garota enquanto olhava freneticamente em volta. Tudo que via era os olhares curiosos da plateia. Quanta raiva. - Gwen!

Até se viraria para Zidler, mas o barulho na caixa é mais importante. Antes que se aproximasse, Gwen já estava voando para fora e rolando no chão para longe. Os machucados que tinha ganhado lá embaixo tinham sumidos, simplesmente uma ilusão que Zidler deveria está usando nela.

Correu até ela, precisava estar perto da dela para evitar que algo pior acontecesse. Um de seus pés fica pesado, a ponto de fazê-lo cair no chão por isso. Olhou de relance e viu uma corrente presa em seu calcanhar, o que foi o motivo de ter caído. Tenta ficar de pé mas a corrente é puxada, o impedindo de sair dali.

— Lass...

Vira o rosto para Gwen. Não tinha percebido que ela estava tão próxima, ajoelhada a alguns metros de distância. Ela tinha uma mão no peito, sua expressão sonolenta. Os olhos apagados de emoção se tornam para o rapaz, um pedido de socorro sem voz.

''Eu gosto de você''

Lass arregalou os olhos em desespero, esticando sua mão para ela. Gwen poderia alcança-lo, ela só precisava esticar sua mão também. No entanto, a garota só continua a olha-lo. Quase gritou para que ela segurasse sua mão, mas sua voz também tinha desaparecido.

A mão trêmula de Gwen se move, lentamente sendo esticada para o ninja. O rapaz estica mais ainda a sua para alcança-la o mais rápido o possível. A garota se debruça por um pouco para se aproximar, mas seu corpo pesava de uma maneira que ela não compreendia.

Sua boca é aberta para dizer algo, algo que deveria ser importante, mas que nunca será ouvido por Lass. O rapaz sente tudo parar ao ver o corpo de Gwen se coberto por linhas, que delas sua pele começa a descasca como papeis quadrados. Tudo parecia um belo truque de mágica até o próximo ato acontecer.

Como confetes sendo jogados para o alto, Gwen some em uma explosão de papeis recortados. Lass continua com a mão esticada enquanto alguns papeis caíam sobre seu braço e rosto. Ele demora a perceber que os papeis eram vermelhos, uma coloração tão intensa... O rapaz engole seco quando os papeis caídos sobre ele começam a desmanchar, se torna líquido e escorrer por sua pele pálida.

Aquele cheiro o deixa nauseado. O líquido vermelho não era apenas um líquido, Lass sabia. Seu rosto é marcado pelo o mesmo vermelho, escorrendo até parar em seu queixo. Ele olha para a cor cobrindo sua pele, então para a plateia, depois para o vermelho e assim por diante.

Não ouviu mais nada; Não existia aplausos ou assobios, não existia nada. Lass estava em outro lugar. Seu olhar que não havia sido piscado até agora vira para frente. O vermelho dos papeis são parecidos com o cabelo dela. Sua mão gelada esticada lembra quando ela o abandonou, quando deixou ele naquele inferno.

Ela não tinha deixado, Lass corrigiu. Ela nunca faria isso. Ela o ama.

Amava.

Lass que a ama. Gwen também o ama.

Amava, voltou a se corrigir.

***

Sua cabeça explodia em dor, só que continuaria ignorar. Não queria acordar daquele pesadelo, porque sabia que teria outro pior o aguardando. Tudo que tinha acontecido foi apenas um sonho estranho, quis acreditar.

Quando abriu seus olhos, sentiu eles secos. Piscos duas vezes e já estava bom, tinha se cansado apenas com esse esforço. Moveu os dedos de sua mão e logo se arrependeu. Estavam pegajosos. Fechou os olhos fortemente, queria volta a dormi, não queria ficar mais acordado.

Tudo que se lembra antes de chegar ali era dos papeis, vermelho, líquido e aplausos. Após isso ficou tudo preto e não se lembrou mais do que aconteceu. Agora lá estava ele, uma sala escura e fria, nada convidativa.

Forçou-se a abrir os olhos novamente justamente para olhar para um certo canto. Volta a fecha-los quando ver que tinha ninguém ali. Não teria mais. Agora ele estava completamente sozinho, a solidão finalmente tinha cumprimentado ele e já se preparava para ficar por um bom tempo.

Passou um tempo até tomar uma iniciativa. Apoiou suas mãos no chão e se preparou para se sentar. Quando forçou um dos braços, seu ombro ferido queimou em dor. Soltou um gemido e não se importou por isso, qualquer coisa que fizesse agora não tinha mais importância. Ficou sentado após um bom tempo de tentativa, agora olhando para os lados. Não sabia onde estava.

Foi mover seu corpo e percebeu um peso incomum em seu pescoço. Passa a mão por sua pele até seus dedos encostarem em um ferro que contornava todo seu pescoço. Uma risada abafada sair por entre seus lábios. Não foi por diversão, apenas uma reação inesperada.

Só mesmo uma coleira para impedir que ele fizesse outra besteira mesmo.

Ouve passos se aproximarem. Não se importava quem seria, estava tacando o fod...

— Está na hora do seu show, Lass. - Disse a voz aguda antes de se aproximar.

O rapaz fechou os olhos quando uma luz invadiu seu campo de visão. Demora a se acostumar, mas logo notando que um portão é aberto. Antes que pudesse se achar livre, as grades entre ele e o portão o impedem. Estava em uma jaula, ele sabia disso. Já esteve em uma antes.

— Vamos, Lass. Levante. - Disse Ortina parada na frente do portão.

Não tem pressa para olhar nos olhos dela. Se estava com raiva, não conseguiu expressar. Conseguia expressar nada.

Ortina pegou uma chave e abriu a cela que prendia Lass. Ela entrou sem medo algum, como se tivesse entrando em uma das jaulas de suas tigres. Pegou a corrente que prendia Lass pela a coleira e puxou.

— Siga-me!

Por um momento, quis negar ou xingar, mas não fez nenhuma dessas opções. Levantou com dificuldade, Ortina esperou que ele ficasse de pé. A garota apontou para uma direção e seguiram por ela, uma caminhada bem lenta. De vez em quando, Ortina puxava a coleira do rapaz, que parecia nem estar acordado para se importar.

Aquele caminho demorou anos para Lass, parecia eterno. Para de andar ao chegar no começo do palco. Estava vazio, o show já tinha acabado. A única pessoa que tinha ali era Zidler no meio do palco. Ele estava de costas, virando-se para ver o rapaz chegando.

— Que bom que já acordou, caro Lass, não gostaria de força-lo a entrar no show com sono. Espero que esteja tudo bem com você. - A voz de Zidler é como uma unha arranhando um quadro negro. Insuportável. - Ortina, deixo-o aqui. Quero ter uma conversa a sós.

A corrente foi solta no chão, mas isso não deu muita liberdade que Lass esperava. Ortina saiu do palco rapidamente, o silêncio cobrindo o local inteiro.

— Sua feridas ainda não sararam por completo, caro Lass. Espero que isso não seja um problema na hora do show. - Dizia Zidler, casualmente. - Pediria até para Ortina te dar algum remédio, mas não valeria a pena. Você precisa aprender a lição.

— Onde está a Gwen?

É tudo que mais Lass queria saber. Todo seu silêncio era justamente para isso, pela preocupação que ainda sentia.

— Não está mais entre nós, se é isso que quer saber. Aquela garota mereceu o que foi dado. E quando a você, caro Lass... - Nega com a cabeça. - Esperava mais.

— Você matou ela. - Murmura. - Ela não merecia...

Dava passos atrapalhados até Zidler, não tendo muita energia para andar normalmente. Seu corpo virava de um lado e depois para o outro, estava sendo difícil se manter reto. Mas foi assim até a voz do palhaço para-lo.

— Caro Lass, creio que esqueceu de sua posição aqui no circo. Fui claro o suficiente para você entender que deveria evitar se relacionar com as pessoas. Foi um erro meu ter deixado você junto com a Gwen, tinha que ter matado aquela garota logo de primeira.

Um brilho azul se acende na frente de Zidler. O fogo azulado quase atingi ele, porém estava fraco demais para sequer alcança-lo. Do outro lado, Lass finalmente mostrava a raiva que tanto carregava.

— Cale a boca! - Grita. - Cale a merda dessa boca!

As chamas se apagaram depois de um tempo. Lass abaixou os ombros quando se sentiu fraco por ter usado elas. Não estava em boas condições para isso.

— Eu não me importo com o que você faz comigo, mas se mexer com alguém em minha volta, aí passa do limite! - Continua Lass. - Você deveria ter apenas libertado ela, Gwen não merecia ter passado por isso!

— Você achava mesmo que por um momento, esse seu plano daria certo? - Zidler pergunta de repente. - Você que foi o tolo aqui, caro Lass. Esqueceu do que sou capaz, o que é uma ofensa para mim.

— Você que não sabe do que sou capaz. - Dá um passo à frente. - Uma palavra e você vira poeira.

— Posso falar o mesmo. - Solta uma rápida risada. - Antes que você faça o que planeja, sua ruivinha sofre. Não só ela, todos que você conhece.

A expressão de raiva do ninja desaparece, não para uma calma. Tinha esquecido disso por um momento, como pôde? O verdadeiro motivo de ele continuar vivo havia sido esquecido. Como queria dar um tapa na cara por isso.

As chamas que tanto gostariam de sair foram apagadas. O calor do corpo de Lass diminuiu, já devia até imaginando as chamas brigando com ele por causa disso. Estava se rendendo novamente a Zidler, como um bom cachorrinho que era.

— O show logo irá começar, é melhor se preparar, caro Lass. - Dizia Zidler enquanto ia embora.

O ninja não se moveu de seu lugar, olhava fixamente para o chão. Vê em sua vestimenta algumas manchas vermelhas, ainda pela a apresentação de antes. Lass desviou o olhar, atordoado outra vez.

Precisava mesmo ficar agindo assim, tão obediente? Ele não sabia se Zidler podia mesmo atingir as pessoas de longe, e mesmo que atingisse, elas saberiam se defender.

É, ela saberia se defender.

Virou-se rapidamente e avançou em direção a Zidler. Pediu que por mais um pouco aguentasse as chamas, só para usar aquele ataque. O fogo azulado contornou seu punho e foi disparado contra o palhaço. Zidler não poderia anular aquele poder, ninguém no mundo poderia. Ele morreria queimado em segundos.

Mas ele podia se teletransportar. Lass fica séria quando o ver sumir antes que as chamas se aproximassem. O rapaz olha em volta para procura-lo e é recebido por um golpe no rosto que o arremessa no chão. Seu corpo já estava fraco, com aquele ataque tinha apenas piorado.

— Estou te avisando. - Ouve Zidler falar. Levanta o rosto e o vê ao seu lado. Tinha sido sua bengala que foi usada como arma contra ele. - Se continuar com essa atitude infantil, as consequências serão piores que você imagina.

Lass tenta levantar, é recebido por outro golpe no rosto. O sangue que escorria em sua boca dá um gosto amargo. Zidler se agacha perto dele.

— Só não aplico as consequências agora porque você tem uma luta para ganhar. - Diz em um tom tão sério que chega a ser assustador. - E se você acha que isso é um pesadelo, saiba que irei torna isso pior, Lass.

Desta vez, não houve caro em seu nome.