As Noivas Do Drácula: O Despertar Do Caçador escrita por avada kedavra


Capítulo 7
O Começo de Uma Jornada


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!! Outro capítulo fresquinho pra vocês.
Vou tentar postar agora um capítulo semanalmente ok?
Divirtam-se



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346466/chapter/7

 

Jeremy se sentiu vomitado quando saiu do navio.

A embarcação havia atracado há uns 20 minutos. Jeremy estava louco para sair dali e por o máximo de distancia que pudesse entre ele e aquela velha psicótica. Ela o havia assustado de verdade, como nunca ninguém o havia assustado.

Ele havia saído correndo de lá depois daquela cena perturbadora que ele protagonizou. Ele evitava os olhares enquanto corria para o porão, onde ficava os dormitórios. Ele se deitou num monte de feno que deveria ser a sua cama e começou a pensar naquilo tudo. O que a velha queria dizer? Ela falou umas coisas estranhas... falou latim, como um feitiço. E por mais estranho que fosse, quase coincidia com o que sua mãe falava. Jeremy achava que todos sabiam de tudo, menos ele.

Na hora do jantar ele subiu para pegar sua tigela de papa, evitando os olhares e cochilos. Do outro lado do lugar ele via a velha, seu olho leitoso o encarando. Ele desviou o olhar e foi até os seu aposento coletivo úmido e malcheiroso.

Depois de engolir aquela comida horrível ele voltou a pensar no que a velha dizia. Ela parecia saber da vida dele. Sabia sobre Victoria, o fato de ele ter sido adotado, que ele largou a família para ter melhores condições... o que não fazia o menor sentido foi o que veio depois. A velha parecia estar sob um transe. Falando coisas como se fossem previsões... profecias. Os sonhos. Ela sabia até dos sonhos: as batalhas, os sussurros, a garota encapuzada... “Maldição, a garota! Ela mencionou a garota encapuzada amedrontadora! E que ela me encontraria em breve, na minha jornada...”. Ele afastou o pensamento. Com certeza a velha só estava ludibriando-o, assim como o velho desdentado. Ele se virou no feno e forçou-se a dormir.

No sonho, Jeremy estava de armadura.

Ele caminhava por entre corpos sangrentos, havia vários feridos gemendo. O ar ao seu redor fedia com um odor pútrido. O céu estava vermelho, da cor da terra manchada de sangue. O sonho estava mais realístico que das outras vezes. Ele sentia as coisas ao seu redor. O vento, o frio... o mal... Ele ergueu os olhos. Ele via aves enormes voando em círculos em cima dele, lá no alto. Talvez urubus esperando pelo banquete que estava abaixo de seus pés.

Mas o pior estava na sua frente. Vários cavaleiros com armaduras brancas manchadas de vermelho se digladiavam com algo que ele não conseguia distinguir. Sombras? Fumaça? Ele apertou os olhos. Via rápidos vultos com formas encurvadas e assustadoras. Vários demônios invisíveis.

Ele entrou em pânico. Não sabia o que fazer. Ele não deveria estar ali. Era só um sonho. Precisava acordar.

Jeremy se virou e apertou os olhos. Quando tornou a abri-los, se sobressaltou. Um ser encapuzado estava na sua frente. Uma voz sibilava em sua cabeça. “Isso não é um sonho, caçador. Veja o que está oculto. Veja!”.

De repente ele ergue os olhos. Os urubus que sobrevoavam o lugar não eram mais urubus. Possuíam asas coriáceas, rostos deformados e garras enormes. Três deles eram pálidos, de tamanho médio, com uma envergadura de uns 2,5 metros. Porém, acima deles havia um maior. Negro como a noite. Seus olhos queimavam como brasa. Ele deu uma cambalhota no ar e mergulhou na sua direção. Jeremy não conseguia se mexer. O monstro se aproximava. A mulher de capuz gritou: ACORDE!!

 

— Acorde! Acorde, senhor! – uma mulher sacudia Jeremy pelos ombros – O navio acabou de atracar. O senhor vai ficar para trás se não vier.

Jeremy esfregou os olhos. Seu corpo estava encharcado de suor, embora fizesse muito frio. “O que diabos está acontecendo comigo?”, ele pensou. “Será que estou ficando louco?”

Ele empacotou suas coisas e saiu rumo ao exterior do navio.

A multidão se espremia por entre os corredores estreitos, todos querendo sair ao mesmo tempo. Jeremy quase foi pisoteado umas três vezes. Quando alcançou a porta, finalmente conseguiu respirar. Olhou para trás um momento e viu uma figura encapuzada o encarando. Ele espremeu os olhos, mas a confusão de pessoas o fez perder a figura de vista. O aglomerado de gente se espalhava por todas as direções. Jeremy passou pela rampa de madeira e desceu no cais. A cidade era deslumbrante. Londres parecia ser incrível. Mas ele não estava ali para bancar o turista. Ainda tinha que ir até o entreposto comercial e descobrir como conseguiria um emprego naquela cidade.

Após seguir outros imigrantes, Jeremy chegou numa companhia de comércio no centro da cidade. A multidão havia se depositado na frente do balcão do representante responsável. Jeremy foi acotovelando as pessoas, tentando abrir espaço.

— Desculpem- me, pessoal. A Inglaterra já está abarrotada de gente, mais do que podemos conter. Infelizmente não podemos admitir mais nenhum imigrante por aqui. Não há mais empregos para essa leva de pessoas. Porém, se os agradarem, podem tentar empregos informais. Há muitos pela cidade e são totalmente dignos. É pegar ou largar.

O grupo ameaçou se amotinar, a raiva fervendo entre eles. Porém, os guardas que estavam nas portas, provavelmente já prevendo atitudes assim, começaram a conter o pessoal, guiando-os pela saída. O homem já ia saindo quando Jeremy o segurou pelo braço.

— Senhor, por favor me escute. Eu vim de muito longe tentar a vida aqui. Abandonei minha pobre família na esperança de mudar de vida. Você precisa me ajudar.

— Olhe rapaz, eu não posso falar isso para qualquer um mas... você é um rapaz forte e também bonito e me parece ser bem saudável e em forma. – O homem o olhou de cima a baixo, com luxúria – Poderia ganhar uns trocados com isso. Quem sabe se tentar um bordel ou...

— Não posso fazer isso, senhor. Simplesmente não posso.

— Tudo bem, então – falou ele, com desapontamento – Não espalhe o que vou lhe contar, nem todos podem saber senão haverá um caos de imigração nas terras europeias - Jeremy assentiu. O homem olhou para os dois lados e começou a falar – Há um comboio indo em direção à Praga. O trajeto é uma balsa que parte à meia-noite de hoje e uma caravana que espera alguns imigrantes que irão desembarcar lá. Serão uns cinco a seis dias de viagem. De lá eles o encaminharão até Budapeste, que possui muitos postos de emprego disponíveis. Mas seja rápido senão irá ficar para trás.

— Obrigado, senhor – Jeremy apertou a sua mão – Nem sei como lhe agradecer.

Jeremy foi escondido na barca.

O garoto tinha pouco dinheiro, então decidiu resguardá-lo para algo mais importante no futuro. Lá estava ele à meia-noite no cais. Enquanto o tumultuoso grupo de imigrantes se amontoava em frente a barca, o garoto se esgueirou pela água e conseguiu embarcar. Ele se espremeu entre um carregamento de peles e vários sacos de batata. E ficou assim durante horas.

A travessia foi dura. O corpo de Jeremy estava todo dolorido por causa da posição em que ficou, mas pelo menos ele estava vivo. Levaram mais de meia madrugada para atravessarem o Canal da Mancha e aportarem na França. A viagem só estava começando.

Ele e os outros esperaram no cais até as seis da manhã, quando um comboio de carruagens chegou para transportá-los até o seu destino. Jeremy embarcou no transporte e não conseguiu evitar o pensamento de que, a cada passo que dava, estava mais longe de casa.

Os seis primeiros dias passaram rapidamente, numa mesma monotonia e mesmice. O comboio parava duas vezes ao dia para proporcionar as refeições e necessidades fisiológicas. Depois prosseguiam na longa viagem. Jeremy mal conseguia dormir. Tinha medo de cochilar e os outros roubarem tudo o que é seu. Durante o início era fácil ficar alerta. Os pensamentos sobre a mãe e as palavras da velha lhe proporcionavam horas de reflexão. Porém, após alguns dias, a fadiga começou a aumentar e o consumir.

Na manhã do sétimo e último dia o pior aconteceu. Pela primeira vez, Jeremy havia pegado no sono e dormira durante toda a viagem. O comboio foi assaltado faltando um terço para chegar ao fim do percurso. Jeremy acordou de um sobressalto e acabou tomando um soco no rosto. Estava atordoado por causa do sono e da pancada. Quando voltou a si, os assaltantes de beira de estrada já haviam sumido.

Eles pilharam todos os carregamentos e roubaram todos os passageiros, incluindo alguns cavalos. O pouco que Jeremy tinha se fora. Agora ele não tinha nada. Se quisesse chegar até Budapeste, teria que mendigar.

Ele e os outros imigrantes completaram o terço que faltava à pé. Um dia de caminhada. A fome já ludibriava seus sentidos. Estava tendo alucinações. Ele começou a andar entre os outros, à procura de comida mas todos também estavam na mesma situação. Em um momento, ao lado de uma das carroças, ele viu a figura de capuz. Estava sendo perseguido? “Não, isso é a fome. Estou vendo coisas.

Eles chegaram em Praga por volta das 7 da manhã. Jeremy já estava meio tonto. Sem água, sem comida. Um dos garotos que o acompanhava disse que um comboio esperava por eles na praça e que ofereceriam pão e água para que recuperassem as forças. Jeremy se dirigiu até lá. Quando estava prestes a subir para partir em viagem, algo segura seu braço.

— Não vá nesse – falou uma voz feminina – Irá correr um grave perigo se for.

Jeremy virou o rosto para ver quem era. Seu rosto estava borrado, não conseguia ver direito no estado em que estava.

— Quem é você? – ele falou, com a voz rouca.

— Não importa – ela disse, com firmeza – Só não embarque nessa maldita carroça. Espere mais um pouco.

— E por que eu deveria confiar em você?

— Não deveria. Mas se quiser sobreviver, acredite em mim.

Jeremy pensou um pouco. A carroça já começava a se mover quando ele saltou e caiu no chão. Procurou a mulher mas não viu mais nada.

 O resto do dia foi cruel. Sua desorientação melhorou quando ele bebeu da água de um riacho que corria ali perto. Porém, a fome ainda era um problema. Ele decidiu passar a noite no celeiro de uma estalagem ali perto, tomando cuidado para que o cavalariço e o dono da estalagem não o vissem. E não havia nenhum sinal da mulher misteriosa.

Ao acordar de manhã, o sol já estava a pino. Sua cabeça latejava. Ele decidiu que precisava comer, o que quer que fosse.

Jeremy vestiu seus trapos e saiu do celeiro, rumo a um vilarejo vizinho. Ao andar um pouco por entre as ruas sinuosas, encontrou  uma pequena feira ao ar livre. Seu estômago roncou alto. Ele se aproximou de uma quitanda de frutas e começou a furtar.

Aquela maçã descia como mel pela sua garganta. Ele sentia como se tivesse recebendo uma bênção divina após séculos de provações. Sentiu as forças retornarem após a segunda maçã. Quando mordiscou a terceira, a dona reapareceu. Jeremy havia esperado ela sair para poder atacar seu estoque, mas agora ela o havia pegado com a boca na botija. Ele embrulhou o máximo de maçãs que pode na camisa e saiu correndo como se não houvesse amanhã.

Durante o percurso, várias de suas maçãs caíram de sua vestimenta. A dona provavelmente decidiu parar de persegui-lo e apenas catar as maçãs derrubadas por ele . Ao olhar para trás uma última vez, Jeremy derrubou mais uma maçã e, ao pisar nela, perdeu o equilíbrio e caiu de cara numa enorme poça de lama malcheirosa. Sua vida não estava nada fácil. Enquanto se maldizia ele não notara a figura encapuzada se aproximar dele. Quando a avistou, deu um sobressalto e tentou correr, mas se atrapalhou novamente e caiu na lama mais uma vez.

A figura abaixa o capuz. Era uma mulher. Cabelos negros, pele muito pálida e olhos azuis penetrantes. Era uma linda mulher.

— Saia daí antes que o pecuarista lhe confunda com um de seus porcos – ela estende a mão para ele.

Jeremy hesita um pouco e depois a agarra. Seria possível aquela linda mulher ser a sombria figura encapuzada que lhe assombrava durante as noites?

— Venha, vamos tirar isso de você. – ele começa a andar na direção oposta. Jeremy a segue.

Os dois chegam até o riacho no qual Jeremy havia saciado a sede no dia anterior. Ela tira o casaco e uma bolsa tiracolo enorme e começa a lavar o rosto e braços. Jeremy faz o mesmo.

— Eu me chamo Ella – falou a mulher após enxugar o rosto com um pano.

O rosto de Jeremy ainda estava visível, embora seu cabelo ainda estivesse cheio de lama.

— Prazer, meu nome é...

— Infernos! – ela o interrompeu – Olhando de perto assim... você é a cara dela.

— O quê? – perguntou Jeremy, confuso – De quem?

— Ninguém – ela cortou – escuta, temos que ir embora daqui.

— Não. Espera... Dela? Você falou dela? Você conhece a minha mãe?

— Talvez. Se lave primeiro. Me encontre na taverna da estalagem – a garota apanhou seus pertences e saiu.

Jeremy se lavou o melhor e mais rápido que pode e foi atrás da misteriosa.

— Pode começar a falar – ele disse, ao se sentar de frente para ela.

— Sua mãe... ela é Marishka Cromwell.

— Quem é essa?

— Você não sabe? – ela arqueia uma sobrancelha.

— Sei do que?

— Nada. Hmm... vamos ver. Você não é um camponês legítimo, Jeremy. Não pelo sangue. Sua mãe estava passando por dificuldades e ela não queria que você sofresse. Ela deixou você num cesto em frente a casa de um casal comum e fugiu. Ela não sabia, mas aquilo era a coisa mais inteligente que ela fez.

— Me abandonou para que eu tivesse uma melhor chance... – ele abaixa a cabeça – Eu entendo.

— Não. Ela o abandonou para que você sobrevivesse.

Jeremy ergue a cabeça, intrigado.

— Para que eu sobrevivesse?

— Pouco tempo depois de você ter nascido, Drácula descobriu que os Cromwell era um fragmento da família Valerious, uma antiga família que habita há séculos a região da Transilvânia e que possui uma maldição de ter que lidar e controlar as trevas no nosso mundo.

— Drácula? Maldição? – Jeremy conteve o riso -  Desculpe-me, mas parece-me que a senhorita anda lendo muitos livros.

— Não estou mentindo – ela falou, com uma certa raiva na voz – Os Valerious foram dizimados. Você é herdeiro de uma família rica e importante, mas sua linhagem tinha que ser protegida, pois era a última remanescente. Por isso ela foi mandada para longe. Para ficar escondida.

—  Vc deve estar enganada – ele sacudiu a cabeça.

— Eu fui treinada para nunca me enganar. Alem do mais, essa marca atrás do seu pescoço diz tudo.

— Como você... – ele fala, se interrompendo abruptamente – Era você a figura encapuzada que estava me seguindo desde a Inglaterra! Por que?

— Eu não tinha certeza no começo – ela falou – Mas quando vi você se contorcendo que nem uma minhoca por entre os sacos de batata na balsa, eu pude ver o seu pescoço. Aí tive certeza.

— Minha mãe disse que isso foi apenas um acidente com ferro quente.

— Bem, tecnicamente é verdade, mas não nas circunstâncias que você acha. Todos os Escolhidos possuem essa marca.

Jeremy balança a cabeça, em negação.

— Escolhido? O que? Eu não posso ser um escolhido. Sou só um camponês imprestável de uma família pobre de camponeses.

— Não. Você é Jeremy Cromwell, herdeiro da família nobre Valerious, residentes da Transilvânia.

—Boa piada, garota. Se eu fosse nobre, eu saberia. E logicamente eu não estaria aqui, literalmente na lama.

— Você não vê os sinais, não é? – ela ri, olhando para baixo – Provavelmente você é um exímio caçador com o arco, com certeza caçou muito com seu pai adotivo e ele se mostrava impressionado com o fato impossível de um garoto de 7 anos ser um incrível arqueiro. Provavelmente tem horríveis e vívidos pesadelos com cenas de guerra e morte e, geralmente, se sente mais forte e ágil que muitos da sua idade – ela levanta os olhos e encara os deles. O rosto de Jeremy estava perplexo – Estou correta?

Jeremy pigarreou.

— Digamos que eu seja o que você diz – ele falou, pensativo – Por que disse que eu estava correndo perigo?

— É óbvio – ela toma um gole da bebida de sua caneca – O Conde não é estúpido.  Ele havia matado todos os Cromwell, mas ainda se sentia desconfortável, como se tivesse deixando passar algo. Pela minha experiência, ele sente quando um deles está por perto. Ele sente uma perturbação no ar. Uma ameaça.

Um deles? — falou Jeremy.

Ella revira os olhos.

— Pelo jeito você não sabe de nada. Infernos, isso vai ser mais difícil do que parecia... Sim, você é um deles. Você é o Escolhido. Você é o Caçador.

Era muito para processar. Aquela garota era louca. Parecia ser. Porém, ela sabia muito sobre ele e falava tudo com convicção. Seria possível algo... assim?

— Ok, temos que ir agora – ela se levanta, recolhendo as suas coisas.

— Ir para onde?

— Ver o chefe da Instituição.

— Aonde ele está?

— Na catedral no centro de Budapeste. Ele poderá lhe falar mais claramente e, quem sabe, você aceitará o seu destino. Aí eu começarei o meu trabalho – ela saiu, em direção aos estábulos onde trazia consigo dois cavalos.

— E qual é o seu trabalho?

Ela para por um instante. Depois se vira e o encara nos olhos.

— Meu trabalho é treinar você. Minha função é torná-lo o puro, bravo, habilidoso e genuíno Caçador de Vampiros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Tao aprovando o rumo que a historia tomou?
Aceito criticas construtivas nos reviews e elogios tambem rsrs.
Mais uma vez eu falo: relevem os erros.
Até a proxima :)