O Sol Da Meia Noite escrita por Midnight Sun


Capítulo 9
Conflagração: A Costa Engulfada em Chamas




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O dia passou rápido enquanto o mago se embaraçava com pilhas de livros na biblioteca de Silvermoon. Mas sua sede por conhecimento parecia não ter fim, cada obra folheada o levava a outra que remetia a tantas outras o mantendo focado nos diversos assuntos que se dispunham sobre prateleiras giratórias.

Entre alguns dos títulos podia-se notar: A cultura troll; Noções de magia primordial; Manipulação, domine sua mente e controle sua vontade; Trolls: Rituais de sacrifícios e deuses animais; Divinação, a verdadeira visão; E, quase encoberto por outros títulos, Os aspectos dracônicos, amigos ou ameaças?

– Percebo que sua avidez pela leitura e artes antigas é insaciável, jovem. Busca por algo em especial? – Uma voz generosa o encontrava pelas costas.

– Sim, talvez pudesse me indicar a seção dos ritos de bruxaria antiga. – Kariel busca conhecer seu interlocutor ao virar-se, surpreendendo-se.

– Hmm... Sinto muito. As obras de bruxaria, assim como a vasta imensidão de obras de maior relevância, são restritas e só podem ser acessadas com autorização do Grão- Magister Rommath. Todas foram relocadas para o Terraço dos Magisters, em Quel’danas. Talvez consiga uma autorização provisória, mas acredito que uma audiência com Rommath seja improvável devido aos eventos na Ilha Sunstrider. – Um elfo de idade avançada lhe respondia.

– Perdoe minha ousadia, mas até onde sei, todos os anciãos morreram com o ataque de Arthas e o flagelo. – O mago interpõe com interesse.

– É bem verdade. Contudo, eu não estava em Quel’thalas quando tudo aconteceu.

Kariel fica intrigado e rebaixa a cabeça em condolência à lembrança de seu tutor.

– Não acredito... Você? Você era o pupilo de Sunheart? – Um interesse inegável se esboçava na face do ancião.

Ele se aproxima e fita o bracelete dourado, suas mãos o perseguem instintivamente. Porém Kariel o resguarda do toque.

– Você não pode entrar sem autorização! Espere, senhor! – O elfo encarregado pela biblioteca tentava impedir a entrada de um estranho.

– Kariel!! – Ithuriel irrompe vestido apenas com bermudas e botas de couro, demonstrando aflição crescente.

– Você sabe o aconteceu com a Thaela? Ela deixou um recado confuso dizendo que precisava retornar para casa imediatamente... Não entendi nada. A Hariel também não sabe muito, disse apenas que você tinha se encontrado com ela pouco antes dela partir e que em seguida veio para biblioteca. Diga, de uma vez, o que aconteceu?

Kariel permaneceu estático.

Por um breve momento ele respirou fundo e buscou coragem para dizer a verdade, mas fora interrompido pelo alarme da cidade. O ressoar estridente deixou todos em alerta e assustados.

Droga, o que está acontecendo?! – Ithuriel prolata fazendo o caminho inverso até saída, com urgência.

Kariel o segue e percebe o movimento agitado das patrulhas.

– Estamos sob ataque!

– Preparem-se para batalha! Por Quel’thalas! – Os brados ecoavam.

O bibliotecário se aproxima e prolata aos dois:

– As defesas da cidade estão desfalcadas. Nossos líderes estão ausentes.

O senhor regente, Lor’themar Theron, fora convocado para uma audiência com o chefe guerreiro e partiu há alguns dias para a Undercity. O comandante dos Farstriders, Halduron, estava tomando medidas de segurança contra um suspeito ataque de Nagas junto a Quel’danas e o Grão Magister estava coordenando o evento de ascensão dos magisters na Ilha Sunstrider.

– Para o inferno com nossos líderes! Precisamos defender a cidade agora! – Ithuriel exclama impulsivamente e corre seguindo a maré de patrulheiros que se uniam em proteção aos civis.

– Mande mensagem para o Grão Magister, diga para que envie reforços para costa leste imediatamente. Sinto uma presença muito poderosa nquela direção. - Kariel comanda e se ausenta em seguida, juntando-se às defesas da cidade.

Pouco adiante Kariel se encontra com Ithuriel. Ele saía, terminando de se equipar com o arco e uma aljava do Alojamento dos patrulheiros.

– Rápido, a origem do ataque é na costa leste. – Kariel prolata para o amigo enquanto corriam em paridade.

– Venha comigo! Tem uma rota que podemos usar. – Ithuriel puxa o braço do mago repentinamente, tirando-o da horda que seguia adiante.

Ambos passaram por uma entrada ocultada por cortinas vermelhas adornadas com o símbolo Sunstrider. Não demorou até que saíssem do estreito e se deparassem com o ar fresco do mar, logo depois das muralhas da cidade. Por trás de alguns montes baixos podia-se perceber a fumaça e claridade de chamas.

– Vamos, salte no mar! – Ithuriel se adiantou tomando impulso.

– Espere, tenho uma ideia melhor. – Kariel o impede de saltar e segura forte no seu braço.

Ambos foram teleportados para uma das torres de vigília desativadas, próximo deles. Ithuriel estava espantado, tudo aconteceu num piscar de olhos.

– Vamos, salte agora! – Kariel o puxa para borda e salta.

–Ahrrrrr... Você está louco?! Vamos nos despedaçar contra o solo. – Ithuriel grita em queda livre e após olhar para altura, rapidamente cerra os olhos.

Kariel larga o braço do amigo.

– Olhe novamente. Não vamos nos despedaçar. – O mago dá um leve sorriso sem deixar de fitar o local do alvoroço. Ambos planavam em direção ao local do ataque.

Eles aterrissaram sem dificuldade e desceram rapidamente para a praia. Ao chegar, se deparam com poucas tropas de patrulheiros que arremessavam saraivadas de setas em uníssono. Nem mesmo um magister estava presente, provavelmente todos estavam na celebração que ocorria na Ilha Sunstrider. Mas o que mais chamou a atenção foi a criatura que destruía uma embarcação sin’dorei de guerra.

Uma abominação demoníaca ardia em puro fogo vil. Seu corpo estava parcialmente encoberto pela maré, mas as chamas verdejantes podiam ser vistas imersas na água com igual poder, assim como queimavam sobre elas, em fulgura intensa. O demônio era um Annihilan, conhecidos como senhores abissais entre a maioria dos mortais.

Kariel se lembrava de ter visto poucas informações a respeito do demônio, mas todas faziam referências a massacres, rios de sangue e caos.

A embarcação, deflagrada pelo fogo vil e ataques anteriores do demônio, começa a ruir espontaneamente. Seus destroços flutuam carregados pelas correntes marinhas enquanto queimam em tons verdejantes.

– Senhor, os ataques não estão surtindo efeito contra a couraça do demônio! Estamos longe demais. – Um dos andarilhos atacantes clama por novas ordens do capitão.

– Onde estão as balistas? - Exclama o capitão dos regimentos.

Outro encarregado, notoriamente nervoso, responde que estão tentando movê-las, mas a baía leste é de difícil acesso para mobiles. Sem a ajuda dos magisters seria difícil movê-las até uma posição razoável para o ataque.

Kariel e Ithuriel finalmente alcançam as forças Sin’dorei.

– O que?! Apenas três regimentos? Para lutar contra aquela coisa. – Ithuriel interpela o comandante ao apontar para o demônio.

– Nossas forças foram distribuídas para as Terras Fantasmas e para Quel’danas. Estamos sem reforços! – Responde o comandante.

O som ensurdecedor do urro grotesco interrompe todos que estavam na praia. Ele antecedera o golpe final que obliterara a embarcação. Um impacto sonoro e uma rajada de ventos calcinantes precede a onda que carregava consigo os destroços.

Em defesa, todos encobriram os olhos. Aos poucos eles voltavam à posição original e perceberam, após o recuar das águas, os corpos mutilados e carbonizados dos irmãos tripulantes. O olhar fixo do demônio os fitava como se tivesse lhes anunciado o seu destino inevitável.

Kariel alça o olhar. Acima deles, a fumaça negra que o fogo gerava se acumulava na atmosfera, carregada de energia negativa. O poder vil reagia semelhante aos relâmpagos de uma tempestade. O negro e o verde se mesclavam.

– Essa fumaça. Ele pretende... – O manto negro se expande sombreando as areias brancas da praia.

– Se abriguem! Agora! – Kariel brada.

A risada gutural da criatura se ouvia distante quando o pandemônio começou. Gotas de fogo vil começaram a cair aleatoriamente. Um delas acertou o solo próximo dos três: Kariel, Ithuriel e o comandante.

– Pela sunwelll! O que está acontecendo?!

–Afastem-se! - O mago se adianta tomando distancia dos demais.

A mana de Kariel começa a se elevar. Um grande volume de areia se afasta formando um vórtice. Quando ela recai, a imagem do mago está levitando sobre um círculo plano no solo.

Outra gota de fogo surge das entranhas da nuvem negra. Desta vez, diretamente contra o mago que, focado no encanto, parecia não ter notado.

– Kariel! Cuidado! – Percebendo que o mago não conseguiria reagir em tempo, Ithuriel toma o escudo do comandante e arremessa, interceptando o meteorito pouco antes de atingir o amigo.

– Obrigado. Mas agora, abriguem-se. – Com as fagulhas verdes caindo próximo do local, o mago volta o olhar para eles, concluindo o encanto.

O circulo arenoso havia sido inscrito com runas flamejantes. De repente, uma saraivada de fogo vil cai dos céus.

– Nada melhor do que usar fogo contra fogo! – Após o brado, Kariel conjura flamas controladas que perseguem cada uma das gotas ardentes que rasgavam o céu.

O céu é castigado por explosões trovejantes e clarões. O mago permanece reagindo até que a quantidade e intensidade do ataque aumentam vertiginosamente. A chuva incandescente começa a arrasar os campos, desestruturando a formação dos regimentos.

Assustado com o rumo da batalha o comandante prolata:

– Recuar! Para as árvor... Um meteoro o atinge. Em meio ao fogo, os gritos duram segundos antes que estivesse totalmente carbonizado.

Ithuriel conseguira desviar. Mas não esquivara da visão do comandante queimando. Os gritos, a dor e, por fim, seu esqueleto em chamas até que os próprios ossos fossem derretidos no fulgor não tomara mais que alguns segundos.

No entanto, as chamas pareciam inquietas e delas surge o anunciante do caos promovido pela legião ardente, um infernal. Kariel se volta para os campos de batalha para perceber que outros surgiam de forma semelhante. A energia vil utilizava os minerais do solo, compelindo-os a construir as criaturas abomináveis. Dezenas delas já emergiam do campo de batalha.

– Eu preciso interromper isso agora. – Kariel se volta para o demônio que avançava pelas águas, em sua direção. No seu rosto o deleite do caos se traduzia em algo parecido com um sorriso.

O mago acumula energia em ambas as mãos, reunindo-as e desferindo um raio solar, semelhante ao que usara contra a serpe, em direção ao céu. Ao entrar em contato com a tempestade, uma explosão é desencadeada, dispersando a energia da atmosfera.

Após o feitiço, Kariel desce sobre o círculo. A areia perdia a forma e as runas desvaneciam. Ele buscava fôlego encarando o desprezível demônio que continuava avançando.

Enquanto isso, um pelotão de paladinos chega. Eles eram liderados por uma figura que se destacava por seu porte, até seu corcel demonstrava certa imponência ao carregar o estandarte dos cavaleiros sangrentos.

A investida montada dos paladinos aniquilou muitos dos infernais. Logo em seguida, eles desmontaram e avançaram para o combate corpo a corpo. Alguns deles se voltaram em suporte dos feridos.

Aos olhos do demônio, os flashes de luz dos paladinos pareciam estrelas reluzentes no leito da praia.

Um infernal avança contra Kariel.

O mago só percebeu o ataque que vinha pelas suas costas pouco antes da criatura o alcançar e teve que teleportar-se para evita-lo. De imediato, o infernal arremessa seu punho envolto por uma bola de fogo que é interceptada pela barreira de mana, conjurada instintivamente.

Retaliando, o mago o atinge com um impacto arcano que o esfacela totalmente. Mas, mais uma vez, um ataque pelas costas ameaça sua integridade. Quando ele se volta para defender-se, o próprio Annihilan golpeava com a ponta de sua lança atroz. Sem pensar, o mago restringe seus movimentos com magia arcana. Uma aura telecinética poderosa impede o ataque.

– VERME PATÉTICO! – Sem esforço o senhor abissal rompe as restrições e finaliza o ataque.

O golpe causa estrondo e arremessa areia e poeira, impedindo a visão imediata. Ithuriel percebe o ataque enquanto enfrentava dois infernais que o atacavam, mas não consegue esboçar nenhuma reação.

A face demoníaca do Annihilan parecia perplexa. Da nuvem de poeira remanente se faz perceber o que aconteceu, a lâmina do demônio havia sido bloqueada por um baluarte imbuído pela energia da luz.

O líder do esquadrão de cavaleiros segurava, destemido, o peso do golpe colossal, protegendo Kariel. Distante deles, Ithuriel finaliza os dois infernais usando suas adagas longas e o arco, rapidamente avançando em favor do amigo. O demônio se preparava para massacrar os dois parceiros de batalha com o outro punho, agora envolvido pelas chamas demoníacas.

A velocidade que Ithuriel adquiria era surpreendente. Durante o percurso, ele apanhou uma lança e continuou avançando. Kariel compreende sua intenção e aguarda pela ação. Ithuriel salta e é recepcionado com uma barreira de mana, usada como apoio para um segundo impulso.

Enquanto ele ainda sobrevoava os dois, o mago consegue imbuir a lança com fogo incandescente. O paladino, também percebendo o ataque, reveste seu escudo com luz e a deflagra contra o demônio, ofuscando-o.

Em meio à luz ofuscante, Ithuriel arremessa a lança contra o pescoço do demônio e a usa como apoio para saltar ao revés. O impulso para o salto de retorno do elfo crava ainda mais a lança flamejante contra a couraça resistente da criatura.

O urro da besta estronda por toda a costa leste de Quel’thalas.

Ithuriel cai em pé sobre a areia da praia, logo atrás do paladino e Kariel, ambos fitando a abominável monstruosidade.

– MORTA..Ghrr..AIS... DESGR..Ghrrs..AÇADOSss! – O demônio falava com dificuldade devido ao líquido viscoso que jorrava de sua garganta e permeava pela sua boca. A lança incandescente continuava cravada.

De repente, uma seta enorme acerta o ombro da besta.

– Enfim, as balistas chegaram. – Ithuriel fala animado.

Uma salva de outras lanças é arremessada, mas a maioria é bloqueada pela arma do demônio. A maré havia virado, reforços chegavam a todo tempo. Um grupo de andarilhos montados em falcodracos chega atacando o demônio e confundindo sua percepção.

– Gruth zhant GUMARRSTH! – As palavras na língua demoníaca eram inteligíveis para os elfos.

O demônio se incendeia em fogo vil e brada causando outra rajada de ventos calcinantes, bem mais intensa que a anterior. As lanças cravadas em seu corpo são desintegradas; As asas dos falcodracos são incineradas e seus cavaleiros abatidos; Em resposta aos ataques incessantes das balistas, a criatura arremessa sua arma. O impacto destrói praticamente todo o maquinário bélico e ceifa a vida de outros tantos elfos.

– Eu irei queimar sua cidade e florestas até não sobrar nada além de cinzas. Erradicarei toda sua raça desprezível. Nenhum sobreviverá! – O demônio conflagrava em chamas. As águas do mar findavam, evaporando ao tocar o fogo demoníaco.

– Precisamos nos afastar daqui ou chamas nos consumirão. – Kariel busca o ombro do paladino e o pulso de Ithuriel e teleportam-se para metros atrás.

O campo de batalha estava assolado. Cadáveres e chamas adornavam cada espaço vazio e acentuavam que os sobreviventes estavam vulneráveis. De repente, uma sensação peculiar chama a atenção de Kariel.

Uma fissura arcana se abre, logo atrás dos três.

– Parece que estão tendo problemas... – A voz soava familiar. Mas nenhum pouco amistosa. Era ardil.

E continuava:

– Esperava mais do portador da Quel'delar... Avancem agora. – O interlocutor se adiantava mostrando suas vestes reais.

– Rommath? – Kariel se pergunta, confirmando ao olhar para seu rosto.

Com o comando, quatro campeões do Grão Magister entram no campo de batalha sem refutar. Eles avançam como guerreiros de elite, derrotando cada infernal restante sem dificuldade. Ao terminarem, teleportam-se para as extremidades do demônio, cercando-o.

Sem hesitar, todos gesticulam e pronunciam encantos sincronizados, como se fossem reflexos de espelhos. O demônio paira inerte. Sua vontade parecia ter sido domada pelos encantos. Logo em seguida, outro campeão surge de uma aura esmeralda bem à frente da criatura.

Kariel permanece atento.

O último campeão que aparecera arremata o feitiço. Todo o mar cerco estremece e as chamas do demônio são extintas, como se seu poder tivesse sido exaurido. Em seguida, um portal se abre, acima da besta, sob o comando do campeão.

O Annihilan se fragmenta aos olhos, sendo esconjurado para o portal enquanto amaldiçoava o destino de todos.

O olhar dos sobreviventes era de espanto.

– Como eles conseguiram... tão de repente? – Pasmo, Ithuriel inicia.

Rommath observa o trabalho de seus melhores com um olhar crítico. Assim que o portal foi totalmente selado, os cinco teleportam-se à frente de seu comandante.

– Grão Magister. – Quatro deles cumprimentaram em coro, ajoelhados enquanto o líder permanecia de pé.

– Estás atrasado, Azra'ael – Rommath interpela.

– Nada que tenha comprometido nosso sucesso. – Azra'ael, o aparente líder do grupo, responde com ar desafiador.

Ele caminha adiante, ultrapassando paralelamente o Grão Magister e continua, pouco antes de teleportar-se:

– Se me permite... Tenho que concluir algo.


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