Podia-se dizer que aquela era uma bela manhã de inicio de primavera quando Sarah chegou a sua área de trabalho nas forjas depois de mais uma das brigas, quase diárias, com Irion (o chefe dos ferreiros). O motivo era o mesmo de sempre: ele tentando irritá-la o suficiente para fazê-la desistir de frequentar as forjas. Não que aquilo a irritasse de qualquer forma, Sarah achava divertido vê-lo irritado sempre que ela brincava com ele. Irion era um homem grande, com mais de 40 anos (ninguém sabia ao certo), era forte e tinha uma leve protuberância no abdômen, mas não chegava a ser gordo. Tinha cabelos castanhos escuros, olhos castanhos claros e uma barba grossa e cheia que lhe cobria todo o rosto no mesmo tom do cabelo.

Já fazia um mês que Sarah estava na Academia. Aquele era o primeiro dos dois dias de folga a que todos os alunos tinham direito duas vezes por mês e ela o passaria ali; estudando o livro de sua família e praticando as técnicas. A velocidade com que muitos daqueles movimentos haviam se tornado automáticos para ela era impressionante, mas ela os achava tão naturais que nem dava atenção a isso. Eram tão simples e de fácil execução que, enquanto seu corpo os realizava metodicamente, sua mente se via livre para todos os tipos de pensamentos. Naquela manhã em particular, para afastar os que lhe trariam tristeza e mágoa, ela se focou naqueles que seria mais simples: a Academia e seus colegas.

Nas ultimas quatro semanas os olhos de sua primeira noite no dormitório foram ganhando rostos, expressões e identidades. Mas não foi esse o primeiro pensamento que ocupou a cabeça dela naquela manhã. No dia anterior ela havia visto algo que resumia bem tudo o que Sarah vinha vendo ali dentro. Dois rapazes, um era membro do grupo dela, se encontraram a alguns metros da porta, eles se dirigia para a cozinha, pois tinham perdido o almoço. O mais velho pertencia ao grupo dela, mas era franzino e de origem humilde. Um ótimo arqueiro que estava ali por sua própria habilidade, mas que não tinha ninguém a seu favor. O mais novo era da primeira ordem, tinha 16 anos e era filho de um simples mercador, segundo o que ela ficara sabendo depois. Os dois muito diferentes do grupo que se aproximou deles antes que os dois chegassem às portas da cozinha. O grupo era composto de quatro rapazes; nobres; o mais novo deveria ter 17 ou 18 anos; eram do tipo que tinha sido treinado a vida toda, fortes e habilidosos, além de possuir muita influencia. Imaginar o que aconteceu não é assim tão difícil. Aparentemente os dois só sairiam da enfermaria em 5 ou 6 dias.

Existiam muitas coisas na Academia que Sarah pensava que não deveriam existir. Os alunos não deveriam ser reconhecidos por sua influencia ao invés de sua habilidade, mas eram. As ordens não deveriam estar divididas conforme classes sociais, mas estavam. Todos os alunos deveriam receber igual tratamento dos instrutores, mas não recebiam. Os alunos não deveriam usar sua influencia do lado de fora para se sobrepôs e sobrepujar uns aos outros, mas usavam. E a situação com o 3-B era ainda pior. Eles eram considerados a escoria dentro da Academia sendo alvo de todo tipo de implicância e brincadeira. Vendo isso não foi difícil para Sarah entender a indiferença de seus colegas para com ela, afinal, sua presença não mudaria muito o tratamento que já recebiam. Mas era a desunião entre eles que a irritava. Ela compreendia que eles fossem ignorados por todos os outros, mas eles ignoravam a si mesmos e isso dava a ela vontade de dar uma bela surra em todos eles. E por falar em surras; cumprindo uma das determinações de Rohkston, nas ultimas quatro semanas Sarah tinha enfrentado 20 duelos e vencido todos eles. E, se os 10 primeiros ainda a subestimavam, os outros pareciam ter aprendido uma parte do que ela era capaz de faze, mesmo assim foram 20 vitorias fáceis.

Você deve estar se perguntando: se os outros alunos implicavam tanto com o 3-B; o que Sarah já teve que enfrentar nessas quatro semanas?? Não muita coisa eu diria. Nas primeiras duas semanas Sarah só ficava perto dos outros quando ia de um lugar a outro. Ela tentava sempre evitar esses conflitos, mas isso nem sempre era possível apenas saindo antes e voltando depois de todos. Em quatro semanas houveram três brigas, todas vencidas por ela, mas nada muito  serio já que ocorreram contra grupos pequenos e em horários de pouca circulação de outras pessoas. Mas vamos voltar aos pensamentos de Sarah.

Reconhecer e lembrar de 49 rostos e nomes não era algo fácil, ainda mais quando ela praticamente não se aproximava deles e eles a ignoravam. Mesmo assim alguns nomes já estava gravados na mente dela, por diversos motivos.

Phillip Crensor era loiro com os cabelos num tom bem claro e de um tamanho que deixava uma franja quase até o meio da testa; tinha os olhos azuis também muito claros; pele branca; pequenas sardas apareciam sobre seu nariz quando ele ficava tempo demais no sol ou treinando; algo em torno de 1,80m de altura (N/A: 1,81m exatamente, mas é claro que ela não tinha como saber disso); esguio; bom arqueiro, mas era um especialista com lanças; segundo o que ela tinha ouvido era filho de um mercador até que bem rico (N/A: ele tinha 21 anos).

Dalton Hanson tinha cabelos pretos e bem curtos; olhos verdes claros; pele morena clara; muito alto (N/A: 1,91m) e muito forte; quase duas vezes mais largo que Phillip;normalmente esta com uma expressão seria, mas é um grande sacana que adora aprontar e fica com um sorriso travesso quando esta planejando algo; é o filho mais velho de um padeiro da capital e sua família é pobre (N/A: tem 24 anos).

Foram esses dois que mais chamaram a atenção dela pois estavam sempre juntos e pareciam até amigos, mas não foram os únicos. Nathan tinha a pele mais escura de todos os outros; cabelos pretos um pouco encaracolados; olhos castanhos com um tom meio dourado; mais ou menos 1,80 de altura (N/A: era 1,80 mesmo); quase tão largo e forte quanto Dalton; não aparentava ter nenhuma habilidade especifica; era filho de agricultores (20 anos) e também costumava andar com Dalton e Phillip. Marco tinha olhos castanhos escuros, quase pretos; cabelos de um tom dourado e curtos, mas não muito; pele clara, não tanto quanto Phillip; mais ou menos 1,80m de altura (N/A: 1,81m); um pouco mais fraco que Dalton (tinha 21 anos). Tomas que tinha olhos verdes muito escuros; cabelos castanhos claros que caem sobre seus olhos de vez em quando; pele morena um pouco mais escura que a de Dalton; ombros largos e ótimo com espada e escudo; também com mais ou menos 1,80m de altura (N/A: 1,79m e ele tinha 21 anos); segundo o que diziam era o filho bastardo de um nobre rico. Por ultimo Kaill que é o mais jovem do 3-B com 18 anos; ótimo esgrimista na técnica, mas não forte o bastante para ser considerado um bom lutador (N/A: 1,71m de altura); cabelos pretos um pouco mais curtos que os de Tomas e olhos azuis que quase nunca eram vistos porque ele sempre andava de cabeça baixa; era o filho mais novo de um duque e seus dois irmãos mais velhos já haviam se formado na Academia.

Fora esses os outros não haviam causado uma impressão tão forte nela (N/A: o que viria a mudar mais para frente). Era nesse pequeno grupo que ela pensava naquele dia.