Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 10
"A Despedida"




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Alguns dias se passam. Edgar visita diariamente Melissa na casa de Catarina e, uma vez ou outra, leva a pequena para um passeio na companhia dele e Laura. Sem pressa, a jovem vai tentando se aproximar da menina mas, receosa, ainda não se sente capaz de a segurar nos braços. Edgar também está mais calmo. Carinhoso, faz por apoiar a esposa e esforça-se por não apressá-la mais a aceitar a nova realidade.

Estando na cidade há uma semana e meia, Laura começa a mostra-se ansiosa para voltar ao Brasil. No entanto, e apesar da decisão estar tomada, Edgar ainda não reunira forças suficientes para a comunicar a Catarina. Abraçados na cama do hotel, Laura e Edgar conversam sobre a gravidez enquanto ele lhe acaricia o ventre com uma mão e com a outra lhe afaga os cabelos.

Edgar: Quanto tempo você acha que falta p´ra ele nascer?

Laura: Ou ela. Acho que, pelo menos, uns sete meses meu amor. Nem dá p´ra notar ainda.

Edgar: Tudo isso? Não sei se vou aguentar esse tempo todo… estou muito ansioso p´ra ver o rostinho dele ou dela. E sabe que eu acho que já dá p´ra notar?

Laura: Dá nada. Quem sabe daqui a um mês… – sorri colocando sua mão na de Edgar.

Edgar: Dá sim. Eu conheço cada pedaço do teu corpo, cada centímetro da tua pele melhor do que a mim mesmo e eu estou te dizendo que noto.

Ele se ajeita na cama e recosta Laura sobre si. Pegando-lhe ambas as mãos, posiciona-as estrategicamente no ventre e, com as suas por cima, vai fazendo movimentos suaves.

Edgar: Está sentindo? Aqui desse lado… você não tinha tudo isso antes e aqui… deve ser o pezinho dele chutando…

Laura ri com vontade. Aquele era um dos poucos momentos felizes dos últimos dias.

Laura: O pé? Isso é impossível! Ela ainda é do tamanho de um grão de feijão.

Edgar: … ou ele. Está bem, exagerei no pé mas pode escrever que, quando começar a chutar, vai ser exatamente aqui.

Laura: Com certeza. Eu também não vejo a hora de tê-lo nos meus braços.

Ambos se mantêm naquela posição de olhos fechados e em silêncio até que Laura se decide.

Laura: Edgar!?

Edgar: Hum?

Laura: Quando vai falar com a mãe da Melissa? Não aguento mais essa chuva e esse frio de Lisboa. Além disso, você não está com vontade de contar a todos que vamos ter um bebê?

Edgar: Claro meu amor. Mal posso esperar para ver a cara dos nossos pais quando contarmos do bebê… e da Melissa.

O semblante dos dois se fecha cientes das brigas e repreensões que os esperam. Assim, de olhos bem fechados, podem até ver o ar reprovador para com Edgar e a exigência do perdão e aceitação para com Laura.

Edgar: Eu sei que não posso adiar mais a conversa com a mãe da Melissa. Marquei uma visita para amanhã. Vou aproveitar e resolver isso de uma vez.

Laura se solta dos braços do marido, lhe beija suavemente os lábios e se acomoda no seu lado da cama.

Laura: Melhor dormirmos então. Prevejo mais um longo dia para amanhã. Boa noite.

Edgar: Boa noite meu amor.

No dia seguinte e como combinado, Edgar surge bem cedo na casa de Catarina para ver Melissa. De camisola e provocadora ela abre a porta ao ex-amante.

Catarina: Edgar! Bom dia. Me desculpe os trajes mas não esperava você tão cedo – diz se fazendo de inocente.

Edgar: Ora Catarina, você ouviu muito bem quando eu disse que viria pela manhã bem cedo – replica desviando o olhar. – Cadê a Melissa?

Catarina: Também não precisa falar desse jeito – diz sentindo-se humilhada.  Devo ter-me confundido. A Melissa está dormindo. Você aceita um café ou, quem sabe, um copo daquele suco de tomate que você tanto gosta? Está fresquinho.

Edgar: Você lembra! – exclama esboçando um sorriso envergonhado. –  Aceito sim.

Catarina deixa Edgar na sala e vai buscar o suco à cozinha. Na sala, Edgar olha uma foto de Melissa e se derrete. “Como eu vou conseguir te manter longe da sua mãe? Ela não vai aceitar, eu não sei onde estava com a cabeça quando decidi fazer isso. Não tem cabimento… mas a Laura… se eu levar a sua mãe junto, ela nunca vai me perdoar e nós vamos viver brigando. Filha me perdoa mas eu não posso perder a Laura nem você” – pensa enquanto toma coragem.

Catarina: Sai um suco de tomate fresquinho do jeito que você gosta – diz estendendo o copo a Edgar.

Edgar: Obrigado! Catarina… aproveitando que a Melissa está dormindo, tem uma coisa muito importante que eu preciso conversar com você.

Catarina: Pois não Edgar, diga. É algo sobre a nossa filha? Você me parece preocupado.

Edgar: Sim, é sobre Melissa. Bom eu… não sei como te dizer… vou tentar ser breve e incisivo.

Catarina: Ai, fale logo, que nervoso.

Edgar: Eu vou levar a Melissa comigo para o Rio.

Catarina: Edgar! Que ótima notícia – dispara explodindo de felicidade. – E eu aqui já achando que você iria embora com a Laura e nos deixaria aqui sozinhas… estou tão aliviada que nem sei como agradecer a sua generosidade. Ah, mas que cabeça a minha. Eu aqui pigarreando em vez de me apressar. Temos muitas coisas a resolver antes da viagem… você já decidiu a data?

Edgar sente o peso da reação de Catarina. Sério e sentindo-se culpado ele toma a mão da ex-amante e faz menção de se sentarem no sofá.

Edgar: Catarina você não entendeu direito. Eu disse que vou levar a Melissa. Eu lamento muito, acredite, mas eu não posso te levar.

A expressão feliz no rosto de Catarina se desfaz por completo. Um ódio incontrolável se apodera dela e, dissimulada, inicia um choro soluçado.

Catarina: Eu não devo ter entendido bem o que você falou. Como assim você não vai levar-me? Eu, eu sou a mãe da Melissa, – diz batendo duramente com a mão no peito – onde a minha filha for eu vou junto. O que você pensa Edgar? Que vai levar a minha filha para ser criada pela Laura? NUNCA, eu não vou permitir – se levanta bruscamente.

Edgar: Catarina, entendo seu sofrimento mas compreenda. Eu jamais abandonaria a Melissa, ela precisa de cuidados, você ouviu o médico, é melhor p´ra ela viver no Brasil. Eu não vou te desamparar. Você pode escrever sempre e eu me comprometo a pagar todas as suas despesas mas, para o Brasil, você não pode ir. Talvez quando a Melissa for maior ela possa vir te visitar e… ela saberá que você é a mãe dela… a Laura não pretende tomar o lugar de ninguém – afirma já de pé e justificando-se.

Catarina: Ahm?! – interroga estupefacta. – Você está querendo me comprar? Por quem me toma Edgar? Quando se deitava comigo eu servia e agora me trata como se eu fosse uma qualquer capaz de vender a própria filha? Mas tudo bem, eu vou fingir que essa conversa não aconteceu. Você não está no seu juízo perfeito. Isso só pode ter sido ideia da Laura, está claro.

Edgar: Não fale da Laura, ela não tem nada a ver com o que está acontecendo aqui – fala endurecendo a voz.  E eu não estou comprando a Melissa nem quero que se ofenda comigo. Procure entender e aceite. É o melhor para todos. Você tem dois dias para pensar. Me diga de quanto vai precisar para os primeiros meses e eu tratarei de tudo – andando consternando mas decidido em direção à porta ele termina. – Catarina? Lembre-se que eu sou o pai da Melissa. Eu não precisava estar tendo essa conversa com você.

Edgar sai batendo a porta e deixa a cantora mergulhada em lágrimas de ódio e incredulidade. Nunca considerara que Edgar podia ter essa atitude. No meio de uma revolução de pensamentos, um nome lateja incessantemente entre eles: Laura.


Laura está no salão do hotel inquieta com a demora de Edgar. Segurando “A Cidade e as Serras” de Eça de Queirós nas mãos, esforça-se por ler mas a sua mente só pensa na conversa de Edgar e Catarina. Nisto, olha em frente e vê Edgar se aproximando com o semblante carregado. Disparada, deixa o livro em cima da mesa e se precipita para ele.


Laura: E então? Ela aceitou?

Edgar: Vamos subir? Te conto tudo lá em cima.

Laura: Claro, vamos.

Laura apanha o livro da mesa e segue o marido até ao quarto. Lá ele lhe conta tudo.

Laura: Já era de se esperar que ela reagiria dessa forma. Não tenho palavras para descrever o que sinto por aquela mulher mas sou obrigada a entender o que ela está sentindo. Eu nunca vou permitir que tirem meu filho de mim – afirma preocupada colocando a mão no ventre.

Edgar: Nosso filho, e você não precisa se preocupar. Isso nunca vai acontecer connosco. Dei dois dias para ela refletir. Se até lá ela se mantiver irredutível, registro Melissa aqui como minha filha e faço valer meus direitos.

Laura o conforta com um abraço.


Dois dias depois, Catarina procura Edgar no hotel. Na mesma sala onde se encontraram duas semanas antes, Edgar e Laura aguardam a chegada da cantora. É a hora das decisões. Cheia de si, Catarina irrompe pela porta e, deixando de lado as formalidades e os cumprimentos, dispara alterada:


Catarina: Não abro mão da minha filha. Minha filha, ouviu bem Laura? Minha. Como você tem coragem? Atirou na minha cara que sabe muito bem o que é ser mãe mas não me parece. Se já se sentisse mãe do filho que carrega não faria Edgar tirar a Melissa de mim.

Laura coça o pescoço com raiva pela petulância dramática de Catarina.

Laura: Se você veio até aqui só p´ra me dizer isso, eu acho que nosso encontro terminou.

Edgar: Catarina, chega. Não vou perder mais tempo com isso. A situação é muito simples. Ou você aceita as minhas condições ou eu vou agora mesmo no cartório registrar Melissa como minha filha e reclamo pátrio poder. A escolha é sua.

Catarina: Você não pode fazer isso comigo. Como eu vou viver sem a minha filhinha?

Laura: Você não era uma cantora de sucesso? Pois então, retome sua carreira.

Edgar: Me ofereço para financiar o seu retorno aos palcos.

Era tudo o que o ego de Catarina precisava ouvir para dizer sim à proposta. Com a mesada de Edgar viveria livre e sem preocupações. Tratadas todas as pendências relativas à viagem, no dia 25 de Janeiro, Laura, Edgar e Melissa embarcam para o Rio, rumo ao um futuro cada vez mais incerto.


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