Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 9
"Desmascarada"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346165/chapter/9

Edgar continua calado. Desviando-se do olhar inquisidor de Laura se levanta e, com as mãos nos bolsos como que envergonhado, responde:

Edgar: Eu não posso virar as costas e esquecer que a Melissa existe. É a filha que eu descobri que eu tenho, me sinto responsável por ela e… Laura… eu não imagino mais a minha vida sem ela perto de mim.

Laura: Eu já imaginava. Só não sabia que me machucaria tanto ouvir essas palavras de você. Por mais que me custe, eu até posso aceitar a menina, já que você tem tanta certeza de que é sua filha mas, e a mãe dela? Eu não vou suportar viver assim Edgar, eu não vou viver na sombra dessa mulher. Ela é a mãe, eu sei, mas eu não posso… eu não consigo… Edgar, você não pode levar essa mulher p´ro Brasil.

Edgar se ajoelha na cama junto de Laura e segura firme seu rosto.

Edgar: Ei, olha pr´a mim Laura, olha p´ra mim. Você nunca vai viver na sombra de ninguém, muito menos na de outra mulher e sabe porquê? Porque só com você eu descobri o verdadeiro amor, meu medo de te perder é tão grande que eu faço o que for preciso p´ra ter você do meu lado. Acredita em mim meu amor. Me dá só mais um tempo, eu prometo que vou conciliar tudo isso da melhor forma. Vamos fazer assim, esquece o médico, esquece a Cat… a mãe da Melissa, … esquece tudo agora. Somos só nós dois aqui. Eu preciso tanto de você, preciso tanto te amar.

Ele a beija desesperado enquanto Laura tenta não corresponder. Uma sensação de abandono a consome. Ainda que seu corpo esteja ali e a deseje ardentemente, Laura sabe que os pensamentos de Edgar estão com Melissa. “Ele não leva a sério meu sofrimento. Continua achando que eu tenho que aceitar tudo serenamente sem lembrar que essa filha que ele tanto ama não é minha.” – pensa. A insistência dele porém a vence e ela se entrega. Ambos vão aos poucos perdendo a calma e, como que temendo que aquela seja a última vez, se amam sofregamente devorando-se um ao outro. Sem dizerem uma palavra se amam uma, outra e outra e tantas outras vezes entre pequenos intervalos para recuperarem o fôlego. Não dão pelo tempo passar e nessa noite voltam a dormir nos braços um do outro, suados pelo cansaço mas plenamente satisfeitos.


Na penumbra do quarto mal iluminado pelas velas queimadas, ouve-se a chuva e o vento forte que anunciam a manhã de um novo dia. Uma confusão de roupas cobre o chão do quarto ao redor da cama onde Laura e Edgar ainda dormem. De repente, gritos impacientes provenientes do corredor cortam o silêncio. Laura e Edgar acordam bruscamente e se olham sem entender o que se passa.



Edgar: Que gritos são esses?


Laura: Parece alguém chamando um nome…

Edgar: É a voz de uma mulher chamando por…

No corredor Catarina corre apressada e aos berros em direção à porta do quarto.

Catarina: Edgar! Edgar!

Laura: … por você! E essa voz… é a… é aquela mulher!

Edgar: Catarina? Aconteceu alguma coisa com a Melissa.

Edgar pula da cama, veste um robe e se precipita para a porta. Incrédula Laura também se levanta e se cobre com o penhoar. O advogado roda o punho da porta que dá acesso ao corredor do hotel e se depara com Catarina, visivelmente alterada, gritando incessantemente seu nome. Atrás dela, dois funcionários do hotel tentam em vão detê-la.

Edgar: Catarina! Mas o que vem a ser isto? O que aconteceu?

Catarina: Edgar venha depressa. Melissa teve uma crise muito forte de asma, eu dei o remédio mas… os pulmões dela… chora soluçando tentando se mostrar desesperada.

Edgar: Onde ela está? Como você a deixou? Catarina, fala, o que houve com a minha filha?

Catarina: …em casa, ela está em casa com a empregada. Eu fiquei desesperada, não sabia o que fazer. Edgar eu preciso da sua ajuda.

Edgar: Como em casa? Você devia ter levado a Melissa para a casa de saúde. Vá buscá-la e a leve. Eu vou arrumar-me e encontro você lá.

O advogado retorna ao quarto impaciente.

Edgar: Laura, eu preciso sair. A Melissa não está bem, eu vou até à casa de saúde.

Laura: Eu vou com você.

Edgar: Não precisa meu amor. Eu prefiro que você fique.

Laura: Não era uma pergunta Edgar. Era uma afirmação. Eu vou junto.

Edgar: Tudo bem, não vou discutir de novo com você, não agora que estou com pressa. Se faz tanta questão arrume-se rápido, por favor.

Pouco tempo depois os dois chegam à casa de saúde. Ao fundo de um longo corredor carregado de doentes, Catarina sacode Melissa no colo que choraminga. Num passo acelerado Edgar e Laura se aproximam. Notando a presença da rival, a cantora empurra a menina para os braços de Edgar.

Catarina: Ai que bom que você chegou. Eu não sei mais o que fazer, ela não para de chorar e esse médico que não chega.

Edgar: Oh, vem cá meu amorzinho… – diz tomando Melissa nos braços.  – Shh, shh… não chora, o papai ´tá aqui. Eu vou cuidar de você.

Laura assiste a tudo controlando a ansiedade e a raiva crescente que sente.

Edgar: Que demora. Catarina segure a Melissa um instante. Vou procurar um médico. Tente acalmar-se. Nervosa desse jeito você só vai agitá-la mais.

Pela primeira vez desde que se conheceram, Laura e Catarina estavam frente a frente e sozinhas.

Catarina: Não precisava ter vindo Laura. O atendimento é demorado, você vai-se aborrecer esperando – afirma olhando Laura com desdém.

Laura a fuzila com o olhar.

Laura: Vim porque quis. Não me incomodo de esperar o tempo que for necessário. Mas você me parecia mais nervosa na presença do Edgar! Que aconteceu? Será que é porque Melissa não parece estar tão mal assim?

Catarina: Ora Laura, como ousa? Você não tem o direito de me julgar. Afinal, o que você entende de ser mãe? Seu filho nem te deu barriga ainda e, por sinal, Edgar se preocupa muito mais com a minha filha do que com o seu filho.

Laura: Sei muito mais do que você, aparentemente. E está enganada. Meu filho ainda não me deu barriga mas eu já o sinto vivo dentro de mim.

Catarina: Tenha cuidado Laura. Uma gravidez tão no começo como a sua pode encontrar alguns percalços e com toda esta confusão… você sabe… a criança pode não vingar. – prossegue provocadora.

Irritada, Laura dá um passo na direção da cantora e, apontando-lhe o dedo indicador, se impõe.

Laura: Cala essa boca. Não ouse insinuar mais nada sobre a minha gravidez. Se eu ouvir mais uma palavra dessa sua boca suja eu garanto que termino de arranhar essa sua garganta.

Catarina: Nossa, quanta coragem. Ui, até me arrepiei. Confesso que você me surpreendeu. Quando o Edgar me contou que estava noivo no Brasil, eu achei que seria de uma nobre pedante e mudas mas, vejo que você é diferente. Merece até aplausos – debocha.

Laura quase explode de raiva mas é interrompida pela chegada de Edgar que, finalmente, encontrara o médico para examinar Melissa.

Edgar: Catarina venha. O Dr. Marques vai-nos atender. Laura você me espera aqui? Não sei quanto tempo vai demorar, você prefere voltar ao hotel?

Laura: Não. Eu fico aqui te esperando.

Algumas horas depois Edgar e Catarina voltam com Melissa já adormecida nos braços do pai.

Laura: Então, como foi? Alguma coisa séria?

Edgar: O médico disse que tivemos muita sorte. O clima daqui… esse frio… está dificultando a respiração dela. Todos estamos exaustos, melhor deixar essa conversa para amanhã.

Catarina: Você tem razão Edgar. Me dê a minha filha. Me procure amanhã de manhã lá em casa. Melissa ficará muito feliz em ter você por perto. Ah, e obrigada por terem vindo e me desculpem pelo que sucedeu esta manhã.

Laura: Cínica! – profere não se contendo

Catarina: Desculpe querida, disse alguma coisa?

Laura: Não. Foi só uma ânsia de vómito repentina – ironiza.

Apercebendo-se do despique entre as duas, Edgar se despede de Melissa e confirma que procurará a cantora em sua casa no dia seguinte. Ao colocar os pés para fora da casa de saúde, Edgar se vira para a esposa e exclama:

Edgar: Penso que precisamos conversar com calma. Tomei uma decisão sobre a viagem.

Laura: Porque tenho a impressão de que já sei o que decidiu e nossa conversa calma será mais uma discussão? – pergunta irónica. Ah, lembrei! Claro, meu marido insiste em tomar sozinho decisões que dizem respeito a nós dois.

Edgar: Não tire conclusões precipitadas Laura. Me ouça primeiro.

Laura: Te ouvir? Ouvir o quê Edgar? O que eu já sei? Pois muito bem, diga, sou toda ouvidos.

Edgar: Aqui não é o local. Chegando ao hotel continuamos.

Rapidamente tomam um coche de aluguer e voltam para o hotel. Ansiosa, Laura entra no quarto e espera Edgar dizer o que decidiu.

Edgar: Melissa vai connosco para o Rio. Não posso voltar e esquecer minha filha aqui sabendo que o clima lhe é tão prejudicial. Quanto à Catarina. Eu ouvi parte da conversa de vocês quando me ausentei para chamar o médico. Embora me custe, não vejo outra solução no momento… vou oferecer-lhe uma boa quantia para que permaneça aqui. Não posso arriscar ganhar uma filha e perder a única mulher que amei na vida, você Laura.

Com lágrimas nos olhos e um pouco mais aliviada ela aceita o abraço dele e ali se demoram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lado A Lado - A História ao Contrário" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.