Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 1
"A Carta"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346165/chapter/1

Laura recebe das mãos de Celinha uma carta de Portugal endereçada a Edgar. Tremendo, a jovem pondera com a tia o que fazer.

Laura: Que carta é essa, onde a senhora achou? É p´ro Edgar de outra mulher, daquela mulher – acentua com raiva.

Celinha: Eu não sei Laura, eu achei em casa nas coisas da Carlota e achei melhor te entregar. Está aberta, o que quer que esteja nessa carta Carlota e Constância sabem. Não pode ser coisa boa.

Nervosa Laura aperta a carta nas mãos e se prepara para lê-la.

Laura: Não! Eu não posso, não devo. Foi enviada p´ro Edgar, ele deve ser o primeiro a ler. Eu preciso me controlar e esperar que ele volte p´ra saber o que essa mulher quer com o meu marido.

Celinha: Você faz bem minha sobrinha. E olhe – diz segurando firme as mãos trémulas de Laura – não pense no que eu disse. Não deve ser nada de importante, nada que vocês dois juntos não possam resolver. Eu preciso ir agora. Se chegar tarde Carlota pode desconfiar de alguma coisa. Se precisar de mim é só mandar me chamar.

Laura: Obrigada tia. Por tudo. E tenha a certeza, a senhora fez a coisa certa me trazendo essa carta.

As duas se despedem e Laura sobe para o quarto. Sozinha ela contempla o local e se recorda de quando descobriu a foto de Catarina. Toda aquela raiva e ciúme voltam e um medo desesperado a invade. Chorando copiosamente se senta na beira da cama e pega o pequeno vaso de alecrim que Edgar havia ali colocado pela manhã. Entre uma e outra lembrança Laura não dá pelas horas a passar até que é interrompida pela chegada do advogado. A noite já caíra e o quarto antes iluminado pela luz do sol estava agora mergulhado na penumbra.

Edgar: Laura meu amor. O que você está fazendo aqui nessa escuridão? A Matilde não trocou as velas gastas?

Laura está imóvel na beira da cama tentando conter as lágrimas e recuperar alguma expressão na face. Apercebendo-se de que algo não está bem ele se aproxima da esposa e se senta ao seu lado. Colocando sua mão na dela ele a interroga de novo.

Edgar: Laura! O que houve meu amor, porque está assim? Você está me assustando, fala alguma coisa.

Laura: Eu preciso te entregar uma coisa. Essa carta – diz enquanto estende a carta molhada pelas lágrimas – a tia Celinha me trouxe hoje à tarde. Já estava aberta mas eu não li. Não sei o que tem aí, achei melhor te entregar primeiro.

Edgar: Carta… de Portugal, da Ca…

Laura se levanta bruscamente quando percebe que o marido vai mencionar o nome de Catarina.

Laura: Daquela mulher! P´ra você. Leia logo Edgar, por favor, eu não aguento mais essa espera interminável.

As lágrimas voltam a rolar soltas pela face atormentada de Laura. Atónito Edgar abre a carta e lê em silêncio. À medida que vai lendo o seu semblante vai assumindo expressões várias deixando Laura cada vez mais nervosa. De repente ele para e em choque se levanta e entrega a carta para Laura ler. Um silêncio dolorido invade o quarto.

Edgar: Eu tenho uma filha! Laura meu amor olha p´ra mim, por favor. Me perdoa. Quando eu me envolvi com a Ca… com aquela mulher eu não tinha a noção que isso podia acontecer, eu não pensei que…

Laura: Para, por favor Edgar. Não fala nada, não fala o nome dessa mulher, não fala nada eu não quero saber. Isso não está acontecendo, não é possível. É mentira, é mentira, essa carta…. Essa criança pode não ser sua filha.

Edgar: É minha filha sim Laura. Você leu a carta, é verdade. Eu preciso enviar a resposta. A menina, Melissa, diz esboçando um sorriso por entre as lágrimas  está doente precisando de mim. Eu vou enviar a resposta. Se acalme meu amor, eu não vou demorar e quando eu voltar nós conversamos melhor.

Apressado Edgar dá um beijo na testa da esposa e sai deixando-a petrificada. Laura não consegue crer no que acaba de acontecer. De todos os cenários que havia imaginado sobre o conteúdo daquela carta esse era, sem sombra de dúvida, o pior. Uma filha, doente, a criança que ela ainda não conseguira gerar surgia agora do nada, do ventre de outra mulher, daquela mulher por quem Edgar um dia, dizia ele, fora apaixonado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!