Na Trilha Da Esperança escrita por Larissa


Capítulo 2
Muitas decepções para um só dia.


Notas iniciais do capítulo

Ouláaaaa pessoas lindas! Primeiro capítulo saindo!
Tá, tudo bem que até agora eu só tenho uma leitora... E que eu praticamente obriguei a ler... sahuashaus mentira, verdade...
Ok, um novo capítulo pra você(s) (será que eu tenho leitores fantasmas? apareçam que eu não mordo gente!)
Bem, dedicando o cap pra linda da Thauane porque ela sempre me apoia quando eu escrevo as minhas histórias.
Aria fofa pra vocês:



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O vento era gélido e silencioso, soprava na mais quente tarde de verão que eu já pudera presenciar, chocando-se com o ar quente do dia e fazendo-me presenciar uma sensação um tanto desagradável. Frio. Quente. Frio. Quente. Misturando-se, os ventos pareciam deixar o ar mais repulsivo, se é que isso é possível. Era realmente preferível que ele não fosse tão bipolar e que ficasse ou quente demais ou frio demais.

De cima do topo da pequena e muito baixa árvore do orfanato Angelis, eu posso ver todos os pequeninos toquinhos brincando no parquinho. Penso que ou a árvore deu muita má sorte de ser tão pequenininha, ou ela foi plantada aqui e deste tamanho propositalmente, pois alguém pode ter pensado que algum ser neste ambiente poderia querer inventar de subir nas árvores e ai acabar caindo e se machucando seriamente se elas fossem mais altas. Prazer, eu sou esse individuo em que eles tiveram a destreza de pensar.

Sim, eu gosto de escalar as árvores como uma macaquinha. Não, eu não sou uma macaquinha, mas acho que pelo fato de eu subir em árvores e a minha altura poderiam me confundir com uma. Não seria difícil, levando em conta a minha idade eu posso ser considerada uma garota de baixa estatura nos dias de hoje onde as meninas parecem mais gigantes do que pessoas normais. Não me acho baixa, tampouco alta. Só o suficientemente da altura de uma garota de quatorze anos.

Sinto o vento soprar em meu cabelo solto, o esvoaçando e fazendo-o armar mais do que já é. Armado e enrolado. São exatamente as duas palavras que mais definem o quanto o meu cabelo é definitivamente um lixo, como tudo mais em mim. A minha magreza extrema que dizem ser caso de anorexia. A pele ligeiramente morena que me é bastante discriminada na escola. Meus olhos escuros como breu e minhas mãos calejadas e machucadas o bastante para dizerem que tenho mãos masculinas.

Bullying. Bullying é uma palavra muito forte para se usar para descrever o que sofro quase todos os dias. Mas, para que reprimiria esta palavra, se ela faz-se parecer brincadeira de criança em relação a tudo o que escuto falarem e me julgarem na escola, na rua ou em qualquer outro lugar? Não é exatamente só por isto que sou julgada, mas ajuda muito a quem quer me atingir. Na realidade o ponto forte de quem me prognostica é o fato de eu ser órfã. Isso traz muita fofoca e repulsa dos outros por mim. Mas, isso não acontece só comigo na verdade. Já ouvi muito meus colegas de quarto falarem que também são zombados na escola. Não que eu fale com eles, mas às vezes ouvir as conversas paralelas é fatal quando não se consegue dormir.

Estou a ponto de descer da árvore quando olho para baixo e vejo Vivian – a inspetora maléfica e minha instrutora – olhando de lá de baixo para mim, como se me advertisse de que eu estou fazendo uma coisa que não deveria estar fazendo e para que eu desça de lá agora. E bem, eu estou na realidade fazendo uma coisa que não deveria estar fazendo. Como eu já disse, subir nas árvores é proibido.

Ela faz um sinal para que eu desça imediatamente e depois sai bufando para tirar um garotinho de dois anos que está brincando e se sujando na lama. O garotinho estava tão feliz que eu tive vontade de pular dali de cima e impedir Vivian de tirá-lo de lá.

Desço cuidadosamente da árvore, tomando cuidado para não me enroscar ou me machucar nos galhos secos e desgastados. Quando estou a apenas centímetros do chão eu pulo em direção a este sem perceber que a terra e a grama estavam úmidas e então eu me sujo toda, para falar a verdade até o meu rosto ficou com um pouquinho de terra. Meus cabelos carregam com eles um pouco das folhas verdes da árvore e agora estou parecendo uma verdadeira mendiga.

Antes que eu possa registrar alguma coisa que esteja acontecendo a minha volta, vejo Vivian vindo efusivamente ao meu encontro. Impossível mesmo é achar que não vou levar uma bronca daquelas. Mas, como nada é impossível, eu surpreendentemente não levei uma bronca. Mas, tudo porque ela está apressada demais para se dar ao luxo de gastar um minuto a me repreender.

Vivian chega perto de mim tentando desesperadamente ajeitar uma insignificante mecha de seus cabelos cor de chocolate de volta ao coque. Ela me olha com seus olhos verdes de serpente, como se estivesse pronta para atacar e então solta inesperadamente uma expressão mais relaxada.

–Aria, por acaso se esqueceu de que tem uma entrevista hoje? – diz enquanto tenta inutilmente tirar as folhas de meu cabelo. – olhe só seu estado Ariana, como espera que alguém se impressione ao ver você assim?

Na verdade o que ela queria dizer era: “como espera que alguém te adote neste estado?”. Mas, para não ser tão grossa ela preferiu usar a palavra impressione.

Olhe só meu estado: lama pelo corpo todo – incluindo meu cabelo, que está todo emaranhado com folhas – roupas surradas, como uma calça legue preta toda furada e uma camiseta branca agora toda marrom e meus pés como sempre descalços e sujos. É, acho que é por isso que ela deve estar me repreendendo, mas assim, é só uma sugestão.

E eu realmente esqueci-me da entrevista. Claro que fiquei um pouco animada quando ela me contou há uma semana, mas não tanto como antigamente, quando eu achava que ainda havia esperanças para mim. Mas hoje, prefiro acreditar que o orfanato vai ser minha melhor casa, porque é exatamente aonde vai ser minha casa. É a primeira vez que faço uma entrevista há nove anos. A primeira vez que uma família fica interessada em adotar-me desde que tinha quatro anos, quando fiz a minha primeira entrevista e “perdi” para uma garotinha loira dos olhos azuis.

–Bem, na verdade eu esqueci sim – digo como uma criança tentando escapar do castigo. – desculpe.

–Tudo bem. Agora vamos logo ou o casal vai desistir – diz ela já me conduzindo para o escritório.

Animada não é bem a palavra para me descrever agora. A palavra ansiosa também não ajuda muito. É mais como se uma pontinha de esperança começasse a surgir dentro de mim. Como se a possibilidade de eu ser adotada já não fosse mais tão utópica. Afinal, se já era quase improvável alguém querer uma entrevista comigo e isto aconteceu, por que não acreditar que eu possa finalmente ter um lar?

Mas, ao entrar no escritório a pontinha de esperança é capaz de desaparecer mais rápido do que o esperado quando vejo a cara de desaprovação que o casal faz a me ver. Mas, não é bem desaprovação, é mais como se fosse... Nojo.

O sorriso que havia começado a surgir em meus lábios desaparece e dá lugar a desesperança que abriga meu coração. É por que estou toda suja. Ou porque sou desajeitada demais ou incompetente demais até para tomar um banho e colocar uma roupa que preste para a primeira entrevista em anos. Claro, a outra opção que quero descartar assim que penso nela, mas não consigo, pois é mais que evidente que esta é uma das principais de porque estão me olhando assim. É porque sou negra.

Não sou bem negra, diria mais que sou café com leite, com mais leite do que café. Moreninha. Mas não tão branquinha que não dê para notar que tenho algum pigmento moreno. O fato é que diante do preconceito que as pessoas têm hoje em dia, é impossível não notar que elas te julgam por causa de sua cor.

Sentando-me à frente deles tento concertar o estrago que já foi feito tirando as folhas de meu cabelo todo emaranhado ou limpando um pouquinho da lama em minha roupa. Mas, a primeira impressão é realmente a que fica, e eles estão me olhando como se quisessem me descartar logo de uma vez.

Vivian faz a gentileza de sentar-se ao meu lado e colocar em ordem todas as fichas. Explicando tudo o que eu sou e o que não sou. Dizendo minhas qualidades e defeitos e é claro, o discursinho de como é estar adotando um adolescente.

Sinceramente, agora sou eu quem sente repulsa por esta mulher loira de nariz fino e olhos castanhos que me olham com desprezo e pelo seu marido – loiro, olhos verdes e a estatura mais baixa que a dela – que me olha como se fosse um cão perdido na rua.

No final, como eu já esperava que acontecesse, eles acabaram indo embora e dizendo que não estavam prontos para cuidar de um “filho”. Desculpinha barata esta. Seria muito mais educado se dissessem que não queriam me adotar e pronto.

Vivian me olha com o sentimento de pena claramente estampado em seus olhos.

–Desculpe-me querida, não achei que seria assim...

–Não é culpa sua – não, não é. É minha culpa. – você fez tudo o que podia.

Bato a porta do escritório enquanto saio olhando fixamente para o chão e com as lágrimas já querendo sair de meus olhos. Tento ao máximo prende-las, mas não consigo segura-las por muito tempo e então me vejo chorando em meio à sala vazia que é usada como pátio nos dias de chuva.

Vejo-me colidindo com alguém logo em seguida. Caio sentada no chão e vejo-me sentada ali a chorar como uma garota perdida. E eu fico assim, lá no chão, jogada e totalmente perdida em pensamentos, sem saber o que fazer da vida já que agora a única pontinha de esperança que ainda tinha acabou de ser estraçalhada, jogada no chão e quebrada como se fosse um caco de vidro.

Só desperto da minha vida que agora se resume ao chão e ao choro quando uma mão me é estendida e eu aceito-a sem pestanejar. Quando olho para cima limpando as lágrimas me deparo com uma garota me olhando confusa.

–Desculpe-me, acho que não estou com a cabeça muito no lugar hoje – digo reparando mais na garota. Os cabelos loiros dela lembram-me o sol, e seus olhos azuis lembram-me o céu, lembrando-me assim também de como a natureza é bela, assim como sua pele branca, até exageradamente muito branca.

–Tudo bem – diz ela suavizando. O tom de voz dela me acalma, ela não tem preconceito quanto à cor da minha pele e nisto posso perceber pelo modo que ela fala. E como ela me deu um leve sorriso quando disse as simples palavras e eu o retribui. – você mora aqui?

–Sim. Desde que me conheço por gente – na verdade, bem antes disso. Ela dá uma risadinha, porém verdadeira.

–Sou Olive – diz enquanto me estende a mão e eu aperto-a.

–Aria – digo. – então Olive, nunca te vi por aqui.

–É que eu na verdade nunca vim aqui, é que minha família veio e... – diz ela não completando a frase. – acho que tenho que ir. Estão me chamando. Tchau Aria, bom te conhecer.

Ouço alguém chama-la e então me despeço:

–Igualmente.

Logo em seguida vou direto para o meu quarto, com a estranha sensação de estar bem, ou até agradavelmente feliz por ter conhecido Olive. Não bem a conheci, mas sim apenas trocamos algumas palavras, talvez sem importância alguma. Mas, de certa maneira, é bom ver que pelo menos algumas pessoas ainda não têm preconceito contra mim. Já outras não têm nem a precaução de querer esconder o seu prejulgamento.

Quando entro no quarto, estou completamente despreparada para a visão que atinge meus olhos e me deixa realmente pasma, estupefata, sem saber o que fazer ou o que dizer.

Bagunça é pouco para descrever o que estou vendo. Está verdadeiramente parecendo uma lixeira, um chiqueiro. Travesseiros rasgados, penas voando para todos os lados. Livros jogados ao chão com páginas faltando. Camas desarrumadas. Cortinas despejadas no chão e tapetes ao meio.

O quarto na verdade não é só meu, mas não vejo como meus colegas fariam isto. Entro cuidadosamente nesta imundice que me deixa até zonza sem saber o que fazer ou o que pensar. Como alguém poderia ter entrado aqui? E por que alguém faria isto? Respostas é o que espero, mas as perguntas continuam pairando pelo ar sem explicações que me convençam.

Abaixo-me analisando o estrago de um livro que eu particularmente gostava muito. Irreparável. É sim a palavra para descrever o grau do dano causado ao livro. Se sobrou algo, foram duas ou três páginas, o resto está espalhado por todo o quarto. Levanto-me logo em seguida e não paro de pensar o porquê e como alguém pôde fazer isso.

Só paro de andar entre as coisas, transtornada com tudo isso, quando percebo que há três pessoas a porta congeladas e olhando para mim perplexas – meus colegas de quarto finalmente chegaram, e agora estão achando que fui eu a responsável por toda esta bagunça nojenta.

Não tenho tempo de dizer nada. Não tenho tempo de me defender. Por que Vivian aparece à porta logo atrás deles murmurando:

–Mas o que é que esta acontecendo aqui... ? – ela para quando vê o estado em que se encontra o quarto e depois adquire a mesma expressão de todos os meus colegas, só que com um pouco mais de apreensão.

Novamente não consigo dizer nada. Vivian simplesmente me leva para o escritório, eu me sento a sua frente nervosa pelo que pode estar por vir. Como ela poderia acreditar que eu sozinha poderia ter feito toda aquela bagunça? É praticamente inimaginável.

–Não acredito que acha que fui eu que causei toda aquela desordem lá em cima – digo estupefata.

Ela me olha hesitante. Como se pensasse no que dizer. Como se estivesse decidindo as palavras para usar com a maior cautela.

–Não disse que foi você Aria. Mas, mesmo assim... Você estava com raiva eu entendo, mas...

–Mesmo assim o que Vivian? Você me conhece há anos, acredita mesmo que eu faria aquilo? – digo elevando um pouco a voz. É realmente inacreditável que ela possa pensar isto de mim. Ela não responde, o que já consegue dizer que a pergunta que fiz é claramente respondida com um sim.

A gente acha que conhece as pessoas, mas na verdade não conhecemos ninguém, só achamos que temos uma leve ideia de quem são, mas em algum momento, elas vão te derrubar e te decepcionar mais do que você espera.

–Tudo bem então. Pense o que quiser.

Levanto-me de uma vez sem me importar se posso sair ou não, eu simplesmente saio sem dizer mais nada. Não sei qual será o meu castigo e também não quero saber. Afinal, ficar preocupada de ser castigada por algo que eu não fiz é idiotice. Mas, de algum modo como se pudesse ler a mente de Vivian eu sei que serei castigada, não brutalmente, porque seria até crime, mas posso até poder ser obrigada a limpar o orfanato inteiro por semanas, se não dizer até meses.

Vou diretamente para o quarto, porque mesmo que ele esteja bagunçado e completamente destruído eu não vou me importar, a única coisa que quero é ficar um pouco sozinha. Meus colegas não estão mais lá, devem ter saído depois de mim.

Sento-me em minha destruída cama – a parte debaixo de uma das duas beliches – e me jogo para trás buscando não só uma lógica, mas também uma explicação para o que aconteceu aqui. Nada. É isso o que vem a minha cabeça então e desisto facilmente, seja lá o que tenha acontecido, na mente de todos, eu sou a culpada.

O único momento em que acordo do meu profundo silêncio e do meu mergulho nos pensamentos sem sentido é quando percebo que já escureceu e que meu estomago reclama por falta de alimentos contidos nele.

Em silêncio vou até o banheiro e vejo que já não há mais fila para tomar banho, todos já estão jantando. Sendo assim, ligo o chuveiro na água mais quente possível e me enfio lá debaixo de uma vez, deixando assim que todas as minhas preocupações se esvaírem junto com a água e a sujeira que me sai.

Não que eu me sinta tão mais leve, mas acho que o banho pode ter me ajudado um pouco. Quando vou até a sala de tomar café- almoçar-jantar vejo que todos já estão saindo e chego à conclusão de que já não há mais comida. Mesmo assim, dou uma invadida na cozinha para encontrar Diana, a cozinheira-lava-louças-empregada, fazendo o segundo trabalho citado por mim.

–Olá – digo e ela meio que se assusta, pois dá um pulo de emergência.

–Aria. Oi anjo, o que faz aqui?

É ela tem essa mania de chamar a todos de anjo, como se fossemos os “Anjos de Angelis”.

–Só vim ver se sobrou algo para comer, mas pelo visto não. Me atrasei para o jantar.

Ela me olha como se decidisse o que fazer. Diana é uma pessoa do bem, doce e calma, sempre gosta de nos ajudar se possível. Uma vez, uma das minhas colegas de quarto estava morrendo de fome e também havia se atrasado para o jantar, Diana deu a ela o seu prato de comida para ver a menina parar de gemer de dor de estomago.

–Abra a geladeira.

Eu obedeço e encontro lá dentro um prato cheio de comida – arroz, feijão, salada e um pedaço de bife duro. Mas, isso é o melhor que temos aqui, afinal, é um orfanato e não poderíamos querer comida requintada.

–Já jantou?

–Sim. Fique tranquila, eu meio que comecei a guardar alguma coisa para emergências como esta.

–Obrigada mesmo.

Pego o prato e sento-me na pequena mesinha que há dentro da cozinha. Devoro tudo não me importando se está gelado ou não, mas sim me preocupando de meu estomago finalmente parar de reclamar. Quando termino de raspar o prato me levanto e agradeço Diana novamente, logo depois saindo só para voltar ao destruído quarto em que praticamente vivo.


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Notas finais do capítulo

Olá novamente! :D
Então, quem vocês acham que foi o destruidor do quarto e por que diabos alguém faria isto hein?
E quanto a Olive,acham que ela vai aparecer de novo ou aquele trombo foi mera coincidência? ^.^
Beijos diamonds!! Vejo vocês nos reviews lindos!



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