– Não! Eu não vou fazer isso!
– Trato é trato, Aruto-kun
– Mas isso é tão... humilhante, e... é quase embaraçoso... eu não vou fazer isso, Tsukasa! De jeito nenhum!
– Você deu sua palavra, sabe que terá que fazer uma hora ou outra. Desista de uma vez, vamos.

Tsukasa e Aruto estavam sozinhos na sala do Conselho Estudantil. Já era tarde, o sol estava se pondo do lado de fora da janela, e as duas meninas do Conselho não estavam presentes. Depois que terminaram suas tarefas daquele dia, os dois garotos tinham resolvido jogar uma partida de pôquer, e já que não tinha nenhum bolinho, biscoito, ou nenhum tipo de comida para apostar dessa vez, combinaram de que o perdedor faria qualquer coisa que o vencedor mandasse. E como sempre acontecia, Tsukasa tinha ganhado o jogo e agora estava cobrando seu prêmio.

– Eu não posso fazer isso, Tsukasa... por favor, escolhe outra coisa, vai! - Aruto tornou a pedir, embora soubesse que o menor não ia ceder
– Se fosse assim então não teria graça eu ter vencido. Você concordou que o perdedor faria o que o vencedor quisesse, e é isso que eu quero
– Mas... m-mas as meninas podem chegar de repente e ver... - o mais velho tentou se agarrar à qualquer argumento possível de tão desesperado que estava
– Mikoto-san está ocupada treinando vôlei com o Souma-senpai, e vai direto pra casa depois do treino. E a Midori-san pediu pra sair mais cedo hoje porque teriam visitas importantes na casa dela, você sabe que apesar de tudo ela é uma "ojou-sama" afinal. Elas não vão voltar pra sala do Conselho hoje Aruto-kun
– Mas... m-mas... aaargh droga, está bem! - o maior enfim deu-se por vencido, bagunçando seus cabelos azulados com as mãos em sinal de frustração - Está bem, você venceu aquele estúpido jogo de pôquer, então eu farei o que você quer!
– Não foi só o pôquer - Tsukasa de repente lembrou-se de outros jogos que eles tinham jogado antes do pôquer, fazendo a mesma aposta
– É, eu sei, eu sei...
– Também teve o Black Jack, Truco...
– Sim, eu já sei...
– Até no janken-po você perdeu!
– Ok, eu já entendi, tá bom?! - Aruto gritou, cada vez mais irritado - Já disse que farei o que você quiser, então pare de jogar na minha cara o quanto eu sou ruim em jogos de baralho! Eu vou cumprir minha palavra, você é o Rei e me derrotou no jogo, então eu farei o que você quiser, como um humilde e fiel Valete obediante, ok?? Qual é o seu desejo... argh... M-Majestade? - aquela última palavra saiu com um pouco mais de dificuldade, como se estivesse entalada em sua garganta, mas Aruto conseguiu pronunciá-la. Se tinha que fazer isso então era melhor fazer direito, para não correr o risco de Tsukasa mandar ele fazer tudo de novo depois
– Sugoooi, você disse mesmo "Majestade"! - Tsukasa riu, impressionado que tivesse convencido alguém tão orgulhoso quanto Aruto a fazer aquilo. Não que ele tivesse uma personalidade megalomaníaca oculta ou coisa parecida, mas ele não conseguia pensar em nada melhor para pedir, e era tão divertido irritar Aruto que ele não conseguia resistir! - Etto... então vejamos... - ele levou o dedo aos lábios, pensativo, olhando ao redor como se buscasse alguma idéia no cenário em que se encontrava - Ahh já sei! Faça massagem em mim! - ele se sentou em uma cadeira, e começou a balançar as pernas para frene e para trás, visivelmente empolgado com aquilo
– Massagem?! Você não tinha coisa melhor pra pedir não??
– "Você"? - Tsukasa repetiu erguendo uma sombrancelha
– Ah é... o senhor não tinha nada melhor pra pedir não, Majestade? - Aruto corrigiu-se, fazendo uma careta
– Não! Não tinha nada melhor! - o mais novo respondeu sorridente, fazendo o Valete soltar outro resmungo - Além do mais, eu dormi de mau jeito essa noite, então meus ombros e pescoço estão doendo... só achei que podia unir o últil ao agradável, ou qualquer coisa assim
– Aff... como quiser então, "Majestade" - Aruto fingiu uma reverência, pronunciando a última palavra com certo sarcasmo, com o qual Tsukasa não se importou nem um pouco, ou não percebeu.

Sem outra opção, o Valete posicionou-se atrás do Rei, apoiando uma mão em cada ombro. Começou a movimentar os dedos para frente e para trás, mas o uniforme do garoto atrapalhava seus movimentos, e como ele não queria ter que repetir tudo aquilo de novo depois, ele moveu as mãos até os botões do uniforme do mais novo e, sem pedir permissão, começou a abrí-los.

– Eeeeeeii!!! M-M-Ma-Mas o que você está fazendo Aruto-kun??! - Tsukasa pulou da cadeira assim que percebeu o que o outro fazia, o rosto afogueado, vermelho como um tomate maduro, as mãos escondendo os dois únicos botões que Aruto tinha conseguido abrir
– Eu é que pergunto, o que você está fazendo?! - o mais velho exclamou com uma gota na cabeça - Pulando desse jeito feito um gato medroso... pare de agir como uma garotinha assustada!
– M-Mas... m-m-mas você estava m-me...
– Eu só fui tirar o uniforme porque o tecido da sua camisa estava atrapalhando, eu não conseguia movimentar as mãos direito. E eu não quero que você me mande fazer tudo de novo depois porque a massagem foi ineficiente ou coisa parecida - Aruto explicou como se aquilo fosse completamente óbvio
– Ah... certo... - Tsukasa tentou se acalmar, sentindo-se um tolo por ter ficado tão nervoso só com isso - M-Mas da próxima vez, avise antes de fazer algo assim! - ele acrescentou, voltando a se sentar na cadeira
– Hai, hai, como o senhor quiser, Majestade... então, posso continuar ou não?
– P-Pode.

Sem dizer mais nada, Aruto continuou desabotoando a camisa do mais novo. Tsukasa parecia corar mais e mais a cada botão que ele abria. Quando chegou ao final, Aruto afastou a camisa para os lados, deixando o tórax e o abdômen do Rei completamente expostos. Tsukasa tremia da cabeça aos pés, sentindo-se repentinamente nervoso com aquilo, mas não reclamou mais nenhuma única vez. Sentiu as mãos quentes e fortes de Aruto tocando diretamente sua pele, movimentando os dedos e pressionando-o em nos lugares que pareciam mais doloridos. Mais de uma vez ele ofegou, e algumas vezes sua garganta parecia querer produzir alguns ruídos estranhos, que ele conteve à tempo, colocando as mãos na boca. Aruto tinha percebido o quanto aquilo tinha deixado o garoto nervoso, e resolveu usar isso para se vingar por Tsukasa obrigá-lo a fazer esse tipo de coisa. Começou a movimentar os dedos com mais rapidez, notando o nervosismo óbvio de Tsukasa. Escorregou as mãos um pouco mais para a frente, deslizando do pescoço para uma parte do peito, e notou que, quanto mais intensidade ele colocava nas mãos, mais o Rei ofegava, então um sorriso matreiro se espalhou por seus lábios. Faria aquilo com ainda mais força e rapidez, o máximo que suas mãos conseguissem, até que Tsukasa não aguentasse mais e desistisse daquela aposta estúpida.

– O senhor está meio tenso, Majestade... está tudo bem? - Aruto perguntou depois de algum tempo, quando começou a pensar que o mais novo jamais desistiria
– E-Estou sim, estou ótimo... eu só... d-dormi de mal jeito essa noite, como eu disse à você - o Rei respondeu, tentando manter a voz firme
– Ah, sei... - o maior fez uma pausa, pensando em alguma outra coisa que pudesse contrangê-lo o suficiente para que ele desistisse da aposta - Mas o senhor tem uma pele incrivelmente macia, sabia disso, Majestade? Tão sedosa e suave...
– M-Mesmo? - por algum motivo Tsukasa ficou mais surpreso do que envergonhado
– Ah, é sim, como a pele de uma garota - Aruto insistiu - Não é à toa que é tão tímido. Mas eu fico pensando... se todo o seu corpo é assim macio... - ele então deixou uma das mãos escorregar "acidentalmente", indo direto do peito para o abdômen. Assim que o fez, Tsukasa saltou da cadeira de novo, dessa vez correndo até o outro lado da sala minúscula, o que na verdade nem era uma distância tão grande assim, ficando ainda de costas para ele - Opa, foi mal! Minha mão escorregou - ele falou, embora fosse óbvio que era mentira - Mas então, já chega não é, eu já cumpri minha promessa, então...
– Não - Tsukasa interrompeu, ainda de costas para ele enquanto fechava apressadamente a camisa
– Como é?
– Eu disse que ainda não acabou - o menor se virou de frente para ele, ainda corado até as orelhas, embora os olhos brilhassem de determinação. Ou talvez fosse apenas teimosia de criança. Ele sabia o que Aruto estava tentando fazer, não era a primeira vez que o Valete fazia aquilo, e ele não ia se dar por vencido. Ele tinha ganhado a aposta afinal, e não ia deixar que Aruto distorcesse as coisas só para deixá-lo sem seu prêmio. Ele apontou para uma pequena caixa no alto da estante de livros e continuou - Vê aquela caixa? É sua próxima tarefa. Pegue ela pra mim
– Tudo bem... - Aruto estranhou a segunda ordem ser tão diferente da primeira, mas obedeceu. Até para ele a estante era meio alta, de modo que o Valete teve que se colocar na ponta dos pés para alcançá-la. Depois de alguns segundos de esforço, pegou uma pequena caixa que parecia ser uma embalagem de biscoitos lacrada e entregou à Tsukasa - Nee, esses não são os biscoitos favoritos da Mikoto? Ela não vai gostar nadinha se souber que estamos mexendo neles...
– Eu não mexi em nada, foi você quem pegou os biscoitos, então é você quem vai levar a culpa por mim como um bom Valete - o mais novo falou com uma cara cínica que não combinava com ele. Ele não era o tipo de pessoa que sai por aí roubando os biscoitos dos outros, mas estava desesperado para atingir Aruto, não importava como. Ouviu o Valete soltar uma reclamação, mas não se importou, e começou a abrir a embalagem. Ou melhor, a tentar abrir, porque parecia que aquela coisa tinha sido lacrada com super bonder de tão bem fechada que estava - Err... Valete... sua próxima tarefa: Abra pra mim
– Fala sério, nem abrir uma embalagem de biscoitos você consegue, seu fracote?! - Aruto bufou, mas pegou a caixa que o mais novo lhe estendia, e começou a abrí-la, mas logo percebeu que não era tão fácil assim. Depois de quase dez segundos tentando, começou a ficar seriamente tentado em simplesmente pegar uma tesoura e cortá-la, mas não podia fazer aquilo depois de ter zombado do colega, ou seria o mesmo que ele admitir que era tão fraco quanto Tsukasa. Colocou mais força nas mãos e fez um esforço descomunal, até que, quase um minuto depois, ele enfim conseguiu abrir o pacote de biscoitos - Pronto... viu só... c-como se faz?! - ele fez questão de se gabar, embora estivesse arfando depois de tanto esforço - Vai querer que eu te dê os biscoitos na boca também por acaso??
– Ahh ótima idéia!! - por algum motivo Tsukasa tinha gostado da sugestâo, e voltou a se sentar na cadeira, abrindo a boca e cerrando os olhos.

Aruto soltou uma exclamação de incredulidade, mas já que ele mesmo tinha dito aquilo, viu-se obrigado a fazer, amaldiçoando-se por dentro e odiando a maldita inocência de Tsukasa que não lhe permitia nem reconhecer o sarcasmo em sua voz. O Valete retirou o primeiro biscoito do pacote e depositou cuidadosamente entre os lábios do Rei, já abertos, esperando pelo alimento. Tsukasa abocanhou tudo de uma só vez, mastigando e engolindo rapidamente, e voltou a abrir a boca, esperando por mais. O Valete repetiu a ação e lhe deu o segundo biscoito, tocando os lábios surpreendentemente macios do garoto com os dedos dessa vez. Tsukasa logo o engoliu novamente e, quando Aruto ia lhe dar o terceiro pedaço, o Rei falou:

– Nee, por que não prova um também? Esse biscoito está mesmo ótimo... a-além do mais, eu não quero engordar comendo muito biscoito, então coma um você também!
– Não obrigado, o senhor é o Rei aqui, um humilde servo como eu jamais poderia provar o alimento do seu mestre - o maior respondeu com certa ironia
– Ah... t-tudo bem então - Tsukasa abaixou os olhos, parecendo meio decepcionado - Já que você não quer, então eu vou comer tudo sozinho mesmo! Me dê outro!
– Até quando mais me obrigar a fazer isso Tsukasa?! - o maior jogou o pacote de biscoitos sobre a mesa, já cansado de tudo aquilo - Eu já fiz massagem em você, te dei comida na boca... até vou levar a culpa por você ter roubado os biscoitos da Mikoto! Até quando isso vai durar?!
– Pelas minhas contas, até o fim do mês
– Como é que é??? - Aruto berrou, engasgando-se com as palavras
– Bem, você perdeu em cinco jogos diferentes afinal, então, tirando hoje, eu posso mandar você fazer isso de novo mais quatro vezes... e como eu tinha pensado em fazer isso uma vez por semana, pra você não ficar muito cansado, então você teria mais um mês de tarefas - Tsukasa explicou - Podemos escolher um dia da semana pra fazermos isso e chamá-lo de dia do cumprimento das Tarefas do Valete! - ele exclamou com animação na voz, visivelmente empolgado com aquilo
– Ahh não! Não mesmo!! - Aruto recuou alguns passos, entre temeroso e enraivecido - Você não vai me obrigar a fazer isso de novo, de jeito nenhum!! Por que apenas eu devo passar por isso, e te servir desse jeito, como se você fosse um Rei de verdade?!
– Bem, pra começar, porque você perdeu a aposta - o mais novo lembrou outra vez - Mas, acima de tudo, porque você é o meu Valete! Então você deve fazer o que eu mandar e obedecer ao seu Rei, como um humilde e fiel Valete deve ser!
– Só por causa da posição no baralho em que ocupo?! - Aruto exclamou incrédulo - Pois então eu não quero mais ser Valete! Você que arranje outras pessoas pra seguir suas ordens malucas... mande a Midori fazer isso, ela que é a sua Rainha, não é?! Então dê essas tarefas pra ela!
– É verdade que a Midori-san é a Rainha... mas ela não é "minha" Rainha, por que está dizendo isso agora? Eu não poderia mandar ela fazer essas coisas, de jeito nenhum! - Tsukasa respondeu, como se o mais velho tivesse dito um completo absurdo
– Ah, é? E por que não?!
– Porque... a Midori-san não é idiota de apostar comigo, sabendo que vai perder - ele respondeu simplesmente
– É só por isso que você não pode mandar na Midori?! - Aruto exclamou, aparentemente esperando por uma resposta diferente - Ei, espera aí... o que você quis dizer com isso?! Está dizendo que eu sou idiota de apostar com você, é isso??
– Bem, você realmente apostou afinal...
– Ah, é assim, seu espertalhão?! - Aruto gritou, perdendo de vez a paciência - Pois que seja então! Vamos fazer uma nova aposta, e se eu vencer, quero a anulação de todos os outros jogos anteriores!!
– Como quiser... mas lembre-se de que, se eu vencer, então será mais um dia de Tarefas do Valete que você terá que cumprir - Tsukasa sorriu confiante - Então, que jogo vai ser?
– Um bem rápido e fácil: Janken-po - o maior retribuiu o sorriso, igualmente confiante.

Os dois apertaram as mãos, selando a aposta. Em seguida ergueram-nas no ar, de punhos fechados. Ficaram em silêncio por alguns segundos, chegando a prender a respiração de tanta concentração que reuníam. E em seguida gritaram ao mesmo tempo:

– Um, doi, três! Janken-po!
– Tesoura corta papel - Tsukasa falou sorridente, "cortando" os cinco dedos abertos de Aruto com a tesoura imaginária que eram seus dois dedos à mostra, enquanto os outros três estavam bem fechados - Ganhei de novo, meu caro Valete.

Aruto recuou mais um passo, fervilhando de raiva, o rosto vermelho como um tomate, seu corpo tremendo por inteiro. Quem fosse mais atento veria até uma fumacinha saindo de suas orelhas. Ele tentou engolir a raiva por ter perdido novamente, mas ao lembrar de que essa tentativa desesperada de escapar de seus deveres só tinha acrescentado mais um dia de tarefas à enorme lista que Tsukasa já tinha ganho dele, isso o fez explodir de raiva e frustração. Arreganhou a boca, e por um momento, nenhum som saiu, até que toda sua raiva e indignação com a péssima sorte para jogos que tinha foram expressadas em uma única e desesperada palavra:

– NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

***Próimo Capítulo: Festa de Natal Conturbada ***