Hajimaru escrita por teffy-chan


Capítulo 29
Capítulo 29 - O que Aconteceu Depois - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

As falas entre aspas e em itálico são do Tsukasa adulto narrando a história.
Boa leitura^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345728/chapter/29

"- Depois de enrolar por muito tempo, Daisuke-kun enfim tomou coragem pra dizer à Nodoka-san como ele se sentia. Ela ainda era muito tímida na época, e não sabia como proceder, mas também sempre gostou do Daisuke-kun, então acabou aceitando os sentimentos dele. Os dois foram muito felizes por algum tempo, enquanto os pais dos dois não sabiam sobre eles."


"- Poucos meses depois, foi a vez do Aruto-kun. Quando ele entrou para o colegial, Aruto-kun finalmente admitiu quem era a pessoa que ele mais gostava, e conseguiu se declarar para Souko-san. Ela também gostava dele, e logo os dois começaram a namorar. Eles foram muito felizes durante os primeiros meses de namoro, mas quando os pais da garota descobriram sobre os dois, começaram a colocar empecílios na relação. Há várias gerações que a família Hoshina é dona da Companhia da Easter, então, se Aruto-kun quisesse ficar com ela, ele teria que jurar que se responsabilizaria pelos negócios da família e estudaria bastante para poder dirigir a empresa quando os dois se casassem. O problema era que Aruto-kun queria viajar pelo mundo, viver seu sonho de tocar violino e fazer com que as pessoas escutassem sua música, ele não nasceu pra ficar enfurnado em um escritório o dia todo, ele queria ser livre. E, se aceitasse as condições da família Hoshina, não poderia fazer isso. Aruto-kun se viu em um dilema e ficou enrolando com a decisão por muito tempo, mas não poderia adiar aquilo pra sempre, então acabou desistindo de seu sonho de ser músico para ficar com a Souko-san. Quando ele decidiu isso, também aconteceu com o Jiyuu."


** Em uma sala vazia da biblioteca pública, Aruto tentava estudar alguns documentos da empresa dos pais de Souko **


– Nee Aruto... por que você está fazendo isso? - Jiyuu perguntou, sobrevoando o dono
– Humm? Isso o que? - ele respondeu, sem tirar os olhos do documento que lia
– Isso! Está na cara que você não entende patavinas desses documentos, nem que se importa com eles! - o Chara declarou - Mesmo assim, você tenta entender esse monte de papéis chatos... isso é pior do que aqueles documentos do Conselho Estudantil da sua escola do primário!
– Ah, é... perto disso, aquela papelada era bem fácil de entender - o garoto recordou - Mas eu preciso entender desses assuntos se qusier ficar com a Souko, você sabe, Jiyuu. Não importa o quanto isso seja chato ou complicado, o pai dela quer que eu cuide da empresa da família, então eu preciso pelo menos entender do assunto
– Isso é o que o pai dela quer. Mas o que você quer, Aruto? - o Chara perguntou - Seu sonho não era ser músico? Não foi pra isso que você treinou violino a vida inteira?
– Eu parei de tocar violino. Vou desistir desse sonho - o garoto respondeu pesaroso - Se por causa disso eu não puder ficar com a Souko... então é melhor que eu não toque mais violino
– Entendo... então essa é a sua escolha afinal - Jiyuu falou, e sua voz soou mais fraca, como se ele estivesse se afastando. Aruto ergueu os olhos e, quando olhou para ele, viu que o Chara estava se tornando transparente, como se fosse um fantasma
– Jiyuu... o que está acontecendo com você?! Por que você... p-parece estar sumindo...?
– Você se lembra do que o Daisuke nos contou quando a Loli se foi? - o Chara perguntou - Ele disse que a Loli partiu porque ele desistiu de seu sonho de virar uma linda e deslumbrante menina. Você está fazendo a mesma coisa agora, Aruto. Você desistiu do sonho de se tornar músico, que foi o que deu origem ao meu nascimento, então... não há mais motivo pra eu ficar aqui
– Não pode... ser... - o garoto levantou-se, completamente pasmo - Jiyuu, você não pode me deixar... eu não posso ficar sozinho nessa, não mesmo!!
– Trabalhar no escritório fechado de uma empresa não é o seu sonho, e eu sei disso melhor do que ninguém. Eu nasci do seu sonho de se tornar músico, então, se esse sonho não existe mais... então eu também não posso mais existir - o Chara sentenciou, sua voz soando cada vez mais fraca - Aruto, você é o meu dono, e a pessoa mais importante pra mim em todo o mundo. Eu vou respeitar a sua decisão porque sei o quanto você gosta da Souko... mas eu acho que você fez a escolha errada. Você não nasceu pra ficar preso em um escritório chato, revirando papéis tediosos o dia todo. Você nasceu pra ser livre, Aruto. Viveu a sua vida inteira pela música, e se desistir dela agora... seria como tentar enjaular um gato de rua. Talvez você consiga viver bem no começo com essa decisão, mas... eu acho que você não vai conseguir passar a vida toda feliz com isso, e vai acabar se arrependendo depois. É uma pena... que eu não vou estar aqui pra ver
– Então não vá!! - o garoto gritou, esquecendo-se do fato de estar em uma biblioteca - Fique comigo pra rir da minha cara quando eu me arrepender e voltar atrás! Nem que seja pra apontar o dedo na minha cara e dizer "viu, eu avisei"! Não me deixe, Jiyuu!!
– Sinto muito. Eu adoraria poder fazer isso, mas... quando você se arrepender, já será um homem crescido. E, como você bem sabe, adultos não podem ter Shugo Charas - Jiyuu lembrou, sorrindo fracamente - Não se preocupe... eu sempre estarei com você Aruto - o Chara desapareceu de vez, e Aruto sentiu uma coisa cálida injetar-se em seu peito, ao mesmo tempo em que uma lágrima escorria de seus olhos.


"- E com isso, Jiyuu também partiu."


"- Pouco mais de dois anos depois, quando eu estava no colegial, foi a vez de Mirai."


** Parque em frente ao bosque da propriedade do Templo Yuiki **


– Então, você já se decidiu, Tsukasa? - Mirai perguntava, voando ao lado do dono
– Não sei ainda... estou em dúvida se devo estudar astronomia ou astrologia - o garoto confessou - Só sei que quero estudar sobre as estrelas! E quero continuar com as previsões do futuro também, é tão legal quando as pessoas me chamam de vidente!
– E quanto à história de ser astronauta?
– Ah, aquilo... não, eu desisti daquela idéia. Seria incrível estar tão perto das estrelas e tudo o mais, só que, pra ser astronauta, precisa ter um ótimo preparo físico, e convenhamos, eu não tenho isso - ele encolheu os ombros, sem jeito - Mas mesmo assim quero estudar algo relacionado às estrelas ou vidência quando crescer
– Entendo... e sobre aquele outro assunto? - o Chara perguntou
– Que assunto, Mirai?
– Você sabe do que estou falando - o Chara respondeu - Sobre a pessoa que você gosta. Vai desistir mesmo, sem nem ter lutado?
– Ah, isso... - Tsukasa baixou os olhos, de modo que a franja os escondesse - Você sempre foi o único que sabia quem era, não é Mirai?
– Eu sou o seu Shugo Chara afinal, sei tudo o que se passa no coração do meu dono
– Entendo... mas não importa o que eu faça, jamais terei o coração da pessoa que eu gosto. Essa pessoa... já está comprometida, você sabe - o garoto lembrou, sorrindo fracamente - Além do mais, ela nunca teve olhos pra mim. Pra ela, sou apenas um amigo, e sempre serei. Então, em nome dessa amizade, eu vou torcer pra que essa pessoa seja feliz com quem ela realmente ama. E vou me focar nos meus estudos e nos meus objetivos! Não é preciso se apaixonar pra ser feliz, sabe, eu me realizarei no lado profissional
– Tsukasa... você finalmente percebeu isso - Mirai sorriu, mas era um sorriso triste, quase melancólico - Você se tornou um adulto esplêndido e admirável, Tsukasa... nem acredito que esse dia realmente chegou
– Como assim? Que dia é esse que chegou? - o garoto indagou confuso, com um mal pressentimento - Mirai, por que você... está me olhando com essa cara triste...?
– Porque chegou a hora de nos despedirmos - o Chara respondeu, sua voz começando a soar mais fraca e mais distante - Você enfim conseguiu focar seus objetivos em mente, e percebeu que o amor não é o único caminho para uma pessoa ser feliz. Você se tornou um jovem responsável e maduro... e você já não precisa mais de mim
– C-Como assim eu não preciso de você... Mirai, você é meu Shugo Chara! Meu único e precioso Shugo Chara, então... você não pode me deixar!! - o garoto gritou, com lágrimas nos olhos
– Eu preciso fazer isso. Você sabe melhor do que ninguém que, quando a criança cresce, seu Shugo Chara tem que partir. E você cresceu brilhantemente, Tsukasa... estou muito orgulhoso de você
– Eu não cresci coisa nenhuma!! - o garoto teimou, sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo rosto - Eu ainda sou baixinho e imaturo, ainda falta muito pra eu crescer!! Olhe pra mim, eu estou chorando! Pareço uma criancinha chorando, eu não cresci coisa nenhuma!! Ainda não cresci, então... por favor, não me deixe, Mirai...!
– Até mesmo os adultos choram de vez em quando. É normal fica triste em despedidas - o Chara disse gentilmente, sua imagem se tornando cada vez mais tênue - Não fique triste, Tsukasa... eu sempre estarei com você. Em seu coração - ao dizer isso, o Chara desapareceu de vez, e uma sensação cálida e aconchegante preencheu o peito de Tsukasa. Seus joelhos cederam e ele caiu no choro ao se dar conta de que estava sozinho. Estava tão desolado que nem percebeu a pessoa que se aproximava, e só notou sua presença quanto esta tocou seu ombro
– O que está fazendo aí jogado no chão, Tsukasa? - Aruto perguntou, encarando-o. Carregava o violino nas costas, apenas por força do hábito, já que já fazia muito tempo que não o tocava - Por que você... está chorando?
– Aruto... kun - Tsukasa virou-se lentamente para encará-lo, mirando o maior com os olhos lavados pelas lágrimas - O Mirai... ele... ele se...
– Entendo - Aruto o interrompeu, a preocupação em seu rosto transformando-se em pesar. Não foi preciso Tsukasa terminar a frase para Aruto saber que seu Shugo Chara tinha partido. Sendo tomado por um súbito impulso, Aruto tirou seu violino da caixa e começou a tocar. Fazia muito tempo que não tocava, mas ainda assim a música saía linda como sempre. Uma melodia lenta e triste, como uma canção de despedida - Eu me lembro... que a minha música te acalmava quando éramos pequenos, não era? Será que ainda funciona?


Em resposta, Tsukasa se jogou em cima dele, e abraçou o mais alto. Aruto cedeu com o peso e caiu sentado no gramado, com Tsukasa no colo dele, ainda o abraçando fortemente. O mais velho surpreendeu-se com a ação do loiro, e parou de tocar por um instante, até que Tsukasa murmurou:


– Não pare...


Aruto continuou tocando, com o mais novo apoiado em seu colo, até que as lágrimas de Tsukasa cesassem.


"- Alguns meses depois, na época em que Daisuke-kun estava terminando o colegial, foi a vez do último Shugo Chara que restou, Junjou. Aconteceu quando Daisuke-kun tinha acabado de atingir a maior idade, também na mesma época em que o irmão dele tinha voltado de viagem."


** Templo Yuiki, na noite em que o filho mais velho tinha voltado do exterior **


– Agora que a família está finalmente reunida novamente, e que os dois já são de maior, está na hora de decidir quem será o sucessor, e passará a ser o responsável pelas tarefas do Templo - o pai dos garotos anunciou
– Sabemos dos objetivos de vocês, e devo lembrar que essa não é uma decisão fácil - a esposa dele continuou - Mas, um dia essa decisão teria que ser tomada. Depois de muito pensar, nós decidimos... que o melhor é que o primogênito herde o Templo Yuiki
– O que?! - os dois rapazes gritaram ao mesmo tempo
– E-Espera aí, mãe... vocês querem que eu seja o herdeiro?! - o mais velho exclamou, sem conseguir acreditar - Olhem, fico honrado que tenham me escolhido, e tudo o mais, só que eu não levo jeito pra isso, nem me interesso pelas funções do Templo! Eu sempre quis ser médico, vocês sabem disso! Foi por isso que eu estudei durante tanto tempo no exterior!
– É claro que sabemos. E é por isso que não estamos te proibindo de trabalhar com medicina. Basta você conseguir conciliar as duas coisas, então você poderá ser médico sem problemas - a mãe dele respondeu
– Mãe... por que você escolheu o Nii-san? - Daisuke perguntou, de cabeça baixa, a franja escondendo ambos os olhos
– Você sabe muito bem porque, Daisuke - a mulher lhe lançou o mesmo olhar que lançaria para um vira-lata sarnento encontrado na rua - Você e suas tendências suspeitas, seu comportamento esquisito... até a sua aparência é estranha! Você não tem o perfil adequado para ser o responsável pelo Templo, nem nunca terá
– Eu parei de fazer aquilo já tem anos, você sabe! - o mais novo rebateu - Pai... por favor, reconsidere. O Nii-san nunca se interessou pelo Templo, e eu mudei já tem muito tempo, você sabe disso, então por que...?!
– Eu sinto muito, Daisuke - o homem o interrompeu, e parecia lamentar sinceramente - Em matéria de "querer ou não querer", você realmente sempre se interessou mais pelos afazeres do Templo do que o seu irmão, mas... convenhamos, isso não daria certo. Até hoje ainda falam sobre aquele boato da criança do Templo... desse jeito nosso Templo ficará com uma fama cada vez pior. Eu realmente sinto muito, mas é melhor assim
– Melhor assim uma ova! - o filho mais velho gritou - Eu não quero cuidar do Templo, nunca quis! O que eu quero é me tornar um médico, cuidar do Templo é o sonho do Daisuke, então por que estão empurrando isso pra mim?! - ele exclamou indignado. Virou-se então para o mais novo, e continuou, sem saber o que dizer - E-Eu sinto muito, Daisuke... sei o quanto você sempre gostou desse Templo, você é quem deveria tê-lo herdado, não eu! Eu realmente sinto muito, nunca quis tomar isso de você, nem nada...
– Tudo bem, Nii-san. Eu sei que não é culpa sua - o mais novo interrompeu, ainda encarando o chão. Seus ombros tremiam - Lamento, mas, mesmo não gostando, parece que você terá que cuidar dele. Espero que se esforce tanto quanto faz com a medicida
– Espera aí... v-você está desistindo?! - o mais velho exclamou incrédulo - Você não pode desistir assim, Daisuke, temos que fazer eles reconsiderarem!
– Ora, por favor, você conhece nossa mãe, sabe que ela não reconsidera em nada - Daisuke respondeu - Muito bem, que seja então. Vocês escolheram o Nii-san como seu herdeiro... aposto que já tinham decidido isso há muito tempo e não nos contaram, não é? É claro que vocês escolheriam ele... vocês nunca gostaram de mim afinal, nunca me quiseram, nunca conseguiram aceitar o que eu sou. Pois bem, que seja então! A única coisa que ainda me mantinha preso a este lugar era esse Templo que eu realmente adoro, mas, se não posso ficar com ele... então não há mais motivo para eu ficar aqui. Se me odeiam tanto a ponto de tirar os meus sonhos de mim, então fiquem com o Nii-san, e boa sorte em treinar ele pra cuidar do Templo, porque eu não o quero mais! Não quero mais essa porcaria de Templo, nem quero ter mais nada a ver com a família Yuiki!!! - ele saiu correndo da sala, e deixou o Templo em poucos segundos, ignorando os chamados do irmão e do pai. Correu sem rumo por vários minutos pelas ruas desertas e escuras, e só parou de correr quando já estava realmente cansado, mas continuou andando
– Daisuke, o que você fez?! - Junjou exclamou preocupado - Você está fugindo de casa, é isso??
– É, Junjou, estou fugindo de casa! - ele confirmou, mais do que furioso
– Mas pra onde você vai?! Você não tem dinheiro, e suas coisas ficaram no Templo...
– Não importa, dormirei no banco da praça se for necessário, mas pra lá eu não volto! - nesse momento, ele sentiu um pingo gelado de água cair em seu nariz. Depois outro na orelha, no braço, e por todo seu corpo, cada vez mais forte - Ah, que ótimo, era tudo o que eu precisava... chuva - ele falou sarcasticamente - Olhe, Junjou, o céu está chorando por mim... não é lindo?
– Daisuke... aquilo que você falou é verdade? - o Chara perguntou, ignorando o sarcasmo do dono - Você pretende mesmo desistir de cuidar do Templo?
– Eu não pretendo, eu já fiz isso - o garoto respondeu - Meus pais não me deixaram escolha, não é?
– Mas você não pretende nem mesmo lutar, e tentar fazer seus pais reconsiderarem, como seu irmão falou?
– Junjou, você conhece minha mãe tão bem quanto eu. Ela não vai reconsiderar. E meu pai sempre faz as vontades dela... não há nada que eu ou o Nii-san possamos fazer a não ser aceitar a decisão deles - o ruivo respondeu com amargura na voz
– Daisuke... você se lembra do motivo pelo qual a Loli te deixou, não lembra?
– É claro que me lembro... por que está falando dela agora??
– Porque eu não acredito que você esteja cometendo o mesmo erro duas vezes - Junjou respondeu, e sua voz soou baixa e distante, e não era por causa do barulho da chuva. Daisuke virou-se para encará-lo, mas não viu nada mais do que uma pálida e quase disforme imagem de seu Chara
– Junjou... por que você está transparente...? - ele indagou, torcendo pra que não fosse o que ele estava pensando
– Pensei que a Loli já tivesse te explicado isso. Quando uma pessoa desiste de seu sonho, o Shugo Chara desaparece junto com esse sonho - o pequenino respondeu - Eu nasci do seu sonho de se tornar um sacerdote quando crescesse, mas você desistiu de cuidar do Templo... então não há mais motivo pra eu ficar aqui
– Não... Junjou, não!! Você não pode me deixar, não agora!! - ele gritou, sentindo uma dor pungente em seu peito - Quem vai ouvir meus lamentos, quem vai me aconselhar... quem vai ficar ao meu lado se você se for?!
– Você já tem uma pessoa pra fazer isso, Daisuke, não precisa de mim pra isso - o Chara respondeu, sorrindo gentilmente
– Não... Junjou, por favor, você não pode me deixar agora!! Eu já perdi a Loli... não posso perder você também!!! - ele gritou, sentindo a água da chuva que batia em seu rosto misturar-se com lágrimas
– Você já atingiu a maior idade, isso acabaria acontecendo uma hora o outra - Junjou respondeu simplesmente - Eu sempre estarei com você Daisuke, e sempre cuidarei de você. Por favor, não chore mais... e não se esqueça de mim - o Chara desapareceu de vez, ao mesmo tempo em que o garoto sentia uma coisa cálida e aconchegante entrar em seu coração. Daisuke caiu de joelhos no chão, e desistiu de tentar conter as lágrimas. Ficou um bom tempo chorando debaixo da chuva, até que, de repente, ela parecia ter parado. O rapaz virou lentamente a cabeça para trás, para saber porque não estava mais se molhando apesar de continuar chovendo, até que viu um guarda-chuva florido sobre sua cabeça, protegendo-o da chuva
– O que está fazendo ajoelhado no meio da rua, Daisuke-kun? Ainda mais no meio da chuva! - Nodoka exclamou preocupada
– Nodoka-chan... - ele murmurou, sem se dar ao trabalho de levantar - Eu... acabo de perder um amigo muito precioso pra mim. Ele era o meu melhor amigo, e um grande conselheiro... e agora ele partiu pra sempre, e eu nunca mais vou vê-lo
– Ah... e-eu sinto muito... - a garota murmurou, sem saber o que dizer - M-Mas mesmo assim, você não precisa ficar desse jeito! Você ainda pode falar com seu amigo por telefone, ou trocar cartas com ele! - ela tentou animá-lo, sem saber que não se tratava de um amigo humano
– Não... eu não posso fazer isso. Ele se foi pra sempre, pra um lugar onde o telefone ou as cartas não alcançam
– Daisuke-kun... - Nodoka sentiu um peso no coração, que misturava pesar e a indignação consigo mesma por não saber como ajudar o namorado - Bem... a-ainda assim, isso não é motivo pra você ficar debaixo da chuva, vai acabar pegando um resfriado assim! Você devia pelo menos voltar pra casa!
– Não posso voltar pro Templo... eu fugi de casa
– O que?! - ela exclamou incrédula - Mas por que?!
– Meus pais escolheram o sucessor do Templo - o garoto contou - Eles escolheram o meu irmão, e não a mim. Mesmo o Nii-san sempre desejando ser médico quando crescesse, e nunca tendo se interessado pelo Templo, eles.. escolheram o meu irmão. Então eu cortei laços com qualquer coisa ou pessoa relacionada com aquele Templo... inclusive meus pais
– Ah... D-Daisuke-kun, eu sinto muito... sinto mesmo, sei o quanto você adorava aquele Templo - ela murmurou, desejando poder ajudá-lo - Escuta, você... quer ir pra minha casa?
– O que?
– B-Bem, você disse que fugiu de casa, então... você não deve ter pra onde ir agora, certo? - ela indagou, e o garoto confirmou com um aceno de cabeça - Então, você não pode passar a noite toda debaixo da chuva, vai acabar ficando doente! Passe essa noite lá em casa, e amanhã você decide o que fazer
– Está bem... obrigado - ele colocou-se de pé, embora não se importasse muito de ter passado mais algum tempo ali largado - Mas não tem problema? Seus pais não vão brigar se eu dormir no seu quarto? - ele perguntou, sem se dar conta realmente do que estava dizendo de tão desolado que estava agora. Já tinha dormido no mesmo quarto que outras garotas antes, na época em que era Yui-chan, então imaginou que seria a mesma coisa, mas é claro que Nodoka não sabia disso
– Ahh... - ela titubeou, seu rosto tingindo-se de escarlate - E-E-Eu não tinha p-pensado nisso... n-n-na verdade pensei em pedir ao meu irmão pra você passar a n-noite no q-quarto dele...
– Ah, é claro... tudo bem então - Daisuke deu de ombros, e seguiu em silêncio para a casa de Nodoka.


No dia seguinte, a chuva já tinha parado, e agora Daisuke e Tsukasa conversavam no parque de sempre.


– O que?! Você fugiu de casa?? - o mais novo indagou pasmo
– Sim. Meus pais decidiram que o Nii-san herdaria o Templo ao invés de mim, e então eu fugi. Logo depois, Junjou desapareceu - Daisuke contou - Junjou disse que ele sumiu porque eu desisti de cuidar do Templo... do mesmo jeito quando a Loli se foi, quando eu desisti de ser a Yui-chan. Eu desisti de meus dois sonhos, e perdi meus dois Shugo Charas... eu não aprendo mesmo, não é? - ele forçou um sorrisinho triste
– Ahn... bem, não se culpe assim, Daisuke-kun, isso acabaria acontecendo uma hora ou outra. Não importa o quanto queiramos, os Shugo Charas não podem durar pra sempre - Tsukasa lembrou - E? O que vai fazer agora?
– Bem... eu passei essa noite na casa da Nodoka-chan, mas preciso arrumar um lugar pra ficar até o final das férias. Eu já terminei o colegial mesmo, e me inscrevi em segrego em uma faculdade de moda do outro lado da cidade. Não contei aos meus pais, é claro, sei que eles jamais aprovariam... a prova é na semana que vem, então pretendo estudar bastante pra entrar lá. Se eu passar, poderei viver lá por alguns anos, já que a faculdade possui dormitórios, e é como um internato. Só preciso de um lugar pra passar o resto das férias
– Olha... se você quiser ficar na minha casa, não tem problema... - Tsukasa ofereceu
– Obrigado. Você é mesmo muito bonzinho, Tsukasa-kun... - ele riu ao ver como o mais novo ainda ficava sem jeito com elogios - Acho que, se eu passar na prova, também vou cortar o cabelo... não deve ser boa a imagem de um estudante da faculdade ter um cabelo tão comprido - ele comentou, passando a mão distraidamente pela longa trança
– Sério?! - o mais novo exclamou incrédulo - Mas você tem o cabelo comprido desde que nos conhecemos!
– Sim, mas... não há mais necessidade de mantê-lo comprido. Eu desisti de ser a Yui-chan há muitos anos, e a cicatriz que minha mãe fez embaixo do meu olho esquerdo desapareceu já tem algum tempo... então acho que não tem problema cortar - o ruivo contou, sorrindo melancólico, passando os dedos finos pelo lugar onde até o ano passado havia uma cicatriz - Nee... sabe guardar um segredo?
– É claro - Tsukasa respondeu prontamente, curioso
– Quando eu terminar a faculdade de moda... pretendo pedir a Nodoka-chan em casamento - Daisuke contou, sorrindo, e corando um pouco
– Ehh?! Você vai se casar?? - ele gritou pasmo
– Foi por isso que eu desisti de ser a Yui-chan afinal, não foi? Pra poder passar o resto da minha vida com a Nodoka-chan - Daisuke lembrou - E, falando sobre casamentos... você sabia sobre a Mikoto-chan?
– O que tem ela?
– Mikoto-chan está grávida - ele contou, arrancando outro grito do mais novo
– G-G-G-Gr-Grávida???
– Pois é. Foi por acidente, é claro, ela ainda é tão nova pra isso... mas eu soube que ela e o Souma-kun estão planejando se casar o mais depressa possível. Você sabe que o Souma-kun estava fazendo estágio em uma academia, não é? Parece que ele quer ser professor de Educação Física, e está fazendo o estágio pra pagar os estudos. Assim que ele se formar como professor, o que não deve demorar muito, os dois vão se casar
– Quem diria... e pensar que a Mikoto-san costumava dizer que nunca se casaria, ou teria filhos - Tsukasa lembrou, dando risada - Quem diria que ela seria a primeira de nós a formar família!
– Realmente, uma ironia do destino - Daisuke concordou - Midori-chan também ficou noiva do Fujisaki-kun, e parece que o Aruto-kun e a Souko-chan vão casar assim que eles terminarem os estudos
– Eu sei. Aruto-kun me convidou pra ser padrinho dele - Tsukasa contou
– Sugoi! Midori-chan disse a mesma coisa pra mim... mas ela disse que queria que eu fosse madrinha dela, aquela sem graça - Daisuke virou o rosto, meio emburrado
– Não pode culpá-la, ela deve sentir muita falta da Yui-chan - Tsukasa riu
– E você, Tsukasa-kun? - Daisuke perguntou, e o menor o encarou confuso - Mikoto-chan engavidou, Aruto-kun e Midori-chan estão noivos... eu pretendo me casar quando terminar de estudar também... mas você é o único que não se apaixonou por ninguém. Ou será... que ainda gosta daquela pessoa de quem você costumava gostar no primário?
– Sim... eu desisti há muito tempo dessa pessoa, você sabe, mas ainda gosto dela. Infelizmente... é um amor impossível afinal - o loiro respondeu, sorrindo sem jeito
– Não sei não. Até hoje você não me contou de quem raios você gosta!
– Não tem importância, eu já desisti dessa pessoa afinal, então não faria diferença contar pra você - Tsukasa respondeu simplesmente
– "Desistiu", não é? - Daisuke repetiu, observando o horizonte - É, ambos desistimos então... eu desisti de ser a Yui-chan, que era a coisa que eu mais amava em todo o mundo, pra poder ficar com a Nodoka-chan, e sacrifiquei o que eu mais gostava, e também um de meus Charas, pra poder ficar com ela, do que simplesmente contar a verdade. E você sacrificou a si mesmo pelo bem da pessoa que você ama, e pra preservar a felicidade dela... somos dois medrosos mesmo, hein Tsukasa-kun?
– Nem tanto. Você ao menos teve a coragem pra se declarar pra Nodoka-san - Tsukasa lembrou
– E você também teve a coragem de renunciar ao seu amor pela felicidade da sua pessoa mais preciosa. Isso também requer muita coragem, sabia? - o ruivo observou - Mas eu ainda acho que você devia ter se declarado...
– Não, já é tarde pra isso. Ambos crescemos, essa pessoa já tem um alguém especial em sua vida, e vai se casar com esse alguém. Ela me considera apenas um amigo, e sempre será assim. Ela até me convidou pra ser seu padrinho de casamento
– Mas isso é muito cruel! Você devia mesmo se decl.. ah... espera, você disse... "padrinho"? - Daisuke interrompeu sua frase pela metade, com uma absurda hipótese se passando por sua cabeça - Tsukasa-kun, não me diga que a pessoa que você gosta é...
– Já disse que isso não importa. Eu tenho outros objetivos em mente agora, não tenho tempo pra me preocupar com isso - o mais novo interrompeu bruscamente, deixando claro que não queria falar sobre esse assunto - Quando eu terminar o colegial, pretendo estudar no exterior, sabe, então talvez a gente fique sem se ver por um tempo
– Ahh... no exterior, é...? - Daisuke repetiu, meio confuso com a mudança repentina de assunto - Mas por que?
– Dizem que as escolas de lá são melhores, e eu preciso estudar muito, porque quero ganhar muito dinheiro em pouco tempo
– Nossa... e por que você precisa tanto assim de dinheiro?
– Eu pretendo comprar a escola onde nós fizemos o primário - Tsukasa contou - Sabe, o Diretor de Seiyo se aposentou, e agora é o filho dele quem está cuidando de lá. Mas parece que ele não gosta, ou não sabe como cuidar de uma escola, não está administrando direito os fundos, e a escola está afundando lentamente. Se continuar assim, o novo Diretor deve querer vendê-la o mais rápido possível para quem estiver disposto a pagar mais por ela. E eu quero ser esse alguém. Vou terminar de estudar astronomia, e ganhar o máximo de dinheiro possível pra poder comprar logo aquela escola e colocar ordem naquele lugar. Dizem que a escola está uma bagunça de novo, os Guardiões atuais não estão dando conta do recado... então, quando eu for o Ditetor, escolherei novos Guardiões, e colocarei ordem naquele colégio outra vez
– Você sempre gostou muito daquela escola, não é? - Daisuke perguntou retoricamente, mas mesmo assim o mais novo assentiu
– Gosto muito! Um dia, quando for o Diretor de lá, quero deixar aquela escola mais legal e mais divertida para os alunos... com coisas que nenhuma outra escola teria! Não apenas os Guardiões, mas outras coisas interessantes, como... etto... passagens secretas, como um túnel ou labirinto subterrâneo que corre por toda a escola, por exemplo! - ele exclamou, fazendo amplos gestos com as mãos para exemplificar, com empolgação em excesso
– É, acho que não costumam ter esse tipo de coisas em escolas mesmo - Daisuke respondeu com uma gota na cabeça, mas deixando escapar uma risadinha - Mas, esse é mesmo um belo objetivo... e você vai usar os mesmos critérios de antes pra escolher os Guardiões?
– É claro - Tsukasa confirmou - Apenas crianças possuidoras de Shugo Charas podem se tornar Guardiões
– Entendo... já que é assim, então acho que vou deixar isso com você - Daisuke puxou uma fina corrente dourada de dentro da camisa, revelando o Humpty Lock, que ele carregava apenas por costume, e o estendeu para o mais novo - Eu vou dar isso pra você, Tsukasa-kun
– O Humpty Lock... - o loiro murmurou, encarando incrédulo o cadeado mágico que há tanto tempo não via - O que está dizendo... ele é uma herança da sua família, não é? Você não pode me dar ele!!
– Eu já te disse. Não quero ter mais nada a ver com a família Yuiki, e também não quero nenhuma herança dela - Daisuke falou sério - Meu pai me deu esse cadeado há muitos anos, então ele é meu, eu posso fazer o que quiser com ele. E eu quero dá-lo à você. Junjou e Loli se foram, e eu já não possuo Shugo Charas... não sou mais capaz de fazer o Chara Nari, nem de purificar Batsu Tamas, então o Humpty Lock não tem mais nenhuma utilidade pra mim
– Mas... e-eu não posso aceitar isso...
– Pode sim - Daisuke puxou a mão de Tsukasa e depositou o cadeado sobre ela - Quero que fique com ele, e o guarde em segurança, até chegar a hora de passá-lo à pessoa certa. Existe uma chave que faz par com ele, sabe, acho que se chama Dumpty Key ou algo asim... mas ela se perdeu há algumas gerações atrás, em um noite em que o Templo Yuiki foi roubado, então eu não sei onde ela está, apenas o cadeado ficou comigo. Mas agora ele é seu. Guarde-o até quando você conseguir se tornar o Diretor de Seiyo. Quando você for o novo Diretor, e escolher Guardiões com Shugo Charas, dê o Humpty Lock à essa criança. Até lá... cuide bem dele por mim
– Daisuke-kun... obrigado, de verdade - Tsukasa apertou com força o cadeado entre os dedos finos - Prometo que cuidarei bem desse cadeado até chegar a hora de passá-lo ao próximo Coringa
– Lembre-se, Tsukasa-kun: Apenas crianças confusas o suficiente para terem mais de um Shugo Chara são capazes de ativar o poder do Humpty Lock. Até encontrar essa criança... você será o guardião dele.


*** Próximo Capítulo: Para Sempre Guardiões ***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Konnichiwa, minna-san!
Eu sei, eu sei, mais um capítulo triste, estou sentindo que vai ter gente que vai até me xingar por causa disso... mas, fazer o que, os Charas somem quando a criança cresce, nee =/
Um detalhe nada a ver: Enquanto eu revisava a parte sobre o Aruto estar tentando consolar o Tsukasa por causa do Mirai, começou a tocar "Kimi=Hana" aqui... e eu chorei junto relendo isso T___T Quem conhece essa música deve entender bem o motivo! (sim, isso foi pra você, Shiroyuki-chan) E também chorei relendo a parte da escolha do herdeiro do Templo Yuiki... essa me doeu mesmo, eu queria muito fazer o Daisuke herdar o Templo, mas... infelizmente não faria nenhum sentido, já que no anime a Yaya não mora em um Templo, né -.- Só por isso que não deu mesmo... mas ao menos agora todos já sabem daonde veio o Humpty Lock e como ele foi parar nas mãos do Tsukasa, que deu aos atuais Guardiões!
Outro detalhe nada a ver: Sei que teve mais conversas do Tsukasa com o Daisuke nesse capítulo e no capítulo passado, mas foi necessário, tanto pro Tsukasa ficar sabendo que os Charas somem quando a criança desiste do sonho pra colocar isso no livro e pra Yui-chan se despedir, quanto pra ele acabar ficando com o Humpty Lock pra entregar aos próximos Guardiões no futuro... isso acabou sendo uma coincidência mesmo, e eu só percebi depois que já tinha escrito, foi necessário porque é o Tsukasa quem está contando a história afinal, mas acho que, de certa forma, acabou sendo algum tipo de fan-service extra para as leitoras que torciam pro Tsukasa ficar com a Yui-chan/Daisuke, então... caso eu esteja certa, espero que ao menos tenham aproveitado o fan-service não-planejado no meio de tanta tristeza =P (sim, isso foi pra vocês, Limiku-chan e Nina-chan)
E agora, lamento dizer que o próximo capítulo sim será o último dessa fic... estou triste, odeio despedidas .-. Mas vou deixar pra chorar por isso quando a hora chegar, não vou chorar antecipadamente... bah, sou uma chorona mesmo ç__ç
Deixem reviews onegai, nem que sejam pra reclamar sobre o quanto o capítulo ficou triste, ou pra chorar junto comigo com todas essas despedidas! Mesmo quem não gostou do rumo que o final da história tomou, e que disse que não ia mais ler ou comentar, deixem reviews onegai, eu quero muito saber o que vocês acharam do capítulo! (sim, isso foi pra você, Mari-chan)
Ja nee~



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hajimaru" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.