Era noite de março. Céu estrelado, lua minguante e pensamentos distantes. Nada parecia ter mais importância para Myla. Nada mais conseguia tomar sua atenção, a não ser ele, aquele por quem durante oito meses da sua vida estivera apaixonada, mesmo sem ao menos tocá-lo.

Myla sempre fora assim. Olhou, vidrou, apaixonou. Uma garota fiel aos seus sentimentos, romântica e que se prendia a crença da existência de alguém preparado por Deus.

Ela acreditava que viver estava além do acumulo de bens e carregava a cultura de que nascemos para amar. Para ela, tudo se iniciava num vazio e terminava em outro, sendo assim, vivíamos entre lacunas “vaculantes”. Como preencher esse intervalo? Com muito amor. Simples assim.

A vida nunca fora fácil para Myla. Filha de pais separados, mudou-se para uma pequena cidade do interior de Nova York, sendo privada da campanhia de sua melhor e única amiga.

Às vezes, Myla sentia uma intensa vontade de ser como as outras garotas da sua idade, mas ela não conseguia. Algo dentro dela a fazia se sentir suja ao se imaginar como tais.

Diariamente ela se perguntava como as pessoas conseguiam mentir, matar e usar os sentimentos dos outros. “Será que as pessoas viraram objeto sexual? Será que ainda existe amor verdadeiro no mundo?” Constantemente ela se indagava e esperançosa insistia em acreditar nas pessoas, no sentimento universal. O amor.

Ao observar o nada, ela conseguia ver tudo. Via um futuro de regozijo e muita paz. Mas como alcança-lo? Ela não sabia, mas sentia que ia. Myla era um anjo, uma eterna criança, alguém que aos olhos do mundo, só progrediu fisicamente. Era chamada de ingênua, boa e solitária. Ela realmente se sentia muito só e deslocada do mundo, até que em um belo dia alguém a fez descobrir que ela era muito mais do que uma “estranha”. Ela era alguém excepcional.

Como em todas as outras tardes, Myla chegou do trabalho, mas ao invés de se direcionar ao quarto, ela percorreu um trajeto pouco convencional àquele turno. Trafegou por todos os cômodos de sua casa, até chegar à área de serviço que dava acesso ao quintal.

Lá se encontrava seu irmão e um amigo dele. Alguém que sempre esteve por ali, mas nunca fora notado por ela.

–Oi! - exclamou a sorridente Myla, cumprimentando o rapaz.

Esse simples gesto, viria a mexer profundamente com os sentimentos de Henrique (Algo pouco convencional a um garoto tão vivido e aventureiro).

Henrique era o tipo de garoto que aparentemente se prendia ao físico, mas Myla o agarrou pelo sorriso. Talvez tenha sido esse o motivo do tal alvoroço sentimental que estava por vir.