O Patrocínio do Mal escrita por Goldfield


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo 3

As recordações de Rebecca.

Onze da noite.

Exausta, Rebecca Chambers adentrou sua residência nos subúrbios de São Francisco. Fora um dia exigente para a jovem médica, tanto no Hospital Geral quanto no Laboratório Vinnewood. O que ela mais queria naquele momento era deitar no sofá da sala e descansar.

Entretanto, uma série de pensamentos preocupantes impedia que Rebecca se dedicasse totalmente ao seu merecido repouso. Um deles estava centrado em Jane Weston. Como ela poderia saber sobre o fato de Rebecca ter deixado o condenado Billy Coen fugir durante os traumatizantes acontecimentos de julho de 1998, nas montanhas Arklay? Quais seriam as verdadeiras intenções da doutora, a qual Chambers, desde que começara a trabalhar na equipe de Murray, sempre considerara uma amiga?

Num suspiro, Rebecca sentou-se em seu confortável sofá, tirando os sapatos e as meias, os quais atirou do outro lado do cômodo. Ela deveria ter sido mais prudente em relação a Jane... Durante a época em que combatia a Umbrella, aprendera que poucas pessoas eram realmente confiáveis...

Memórias aparentemente perdidas surgiram nítidas na mente da médica, assim como páginas de um diário esquecido na estante...

Sexta-feira, 22 de setembro de 2000.

Hoje faz dois anos que estou nesta organização clandestina, cujo único objetivo é diminuir o poder da Umbrella ao redor do mundo através de operações bem planejadas e, sem qualquer dúvida, extremamente arriscadas. Como diz François, um francês membro do grupo, somos como a Resistência que combateu a ocupação nazista em sua terra natal durante a Segunda Guerra Mundial. Agimos por baixo do pano e com recursos escassos, mas cedo ou tarde sentiremos o doce gosto da vitória...

Entre meus colegas de luta, estão ex-integrantes do S.T.A.R.S., como Barry Burton, David Trapp e John Andrews, além de sobreviventes da tragédia de Raccoon, como um ex-policial chamado Leon S. Kennedy, uma ex-repórter do “Raccoon Times” de nome Alyssa Ashcroft, e um ex-combatente da U.B.C.S., o exército particular da Umbrella, chamado Carlos Oliveira. Cada um possui seus próprios motivos para ver o fim da empresa, desde a perda de amigos ou parentes devido às epidemias virais, até o simples anseio de ver uma multinacional criminosa e fraudulenta pagar por seus inúmeros crimes.

Às vezes me pergunto se era isso que eu queria quando terminei a faculdade, ingressando no S.T.A.R.S. de Raccoon City como a integrante mais jovem do time. O que estou vivendo agora pode não ser o que sonhei, porém darei o melhor de mim em nome de uma causa infinitamente justa: o fim da Umbrella e de seus experimentos desumanos.

Terça-feira, 11 de setembro de 2001.

Hoje o mundo parou. Um atentado terrorista destruiu as torres do World Trade Center, em Nova York. Milhares morreram, mas o número de vítimas nem se compara ao da terrível tragédia de Raccoon City, três anos atrás. Enquanto o governo dos EUA busca os culpados pelo ataque, nós continuamos a combater a Umbrella, uma organização terrorista disfarçada de indústria farmacêutica. E não pararemos até que ela seja extinta.

Quarta-feira, 5 de dezembro de 2001.

Parece que a Umbrella está realizando experimentos com suas armas biológicas num laboratório localizado na área onde um dia existiu Raccoon City. Eu não consigo me conformar! Será que aqueles malditos não se cansam de destruir a vida das pessoas?

Quinta-feira, 27 de junho de 2002.

Nossa luta finalmente gerou frutos. A Umbrella, sob investigação do governo norte-americano, encontra-se à beira da falência. Minha vida finalmente está voltando a ser o que era antes de julho de 1998, quando a felicidade despertava junto comigo a cada manhã. Ontem, vi-me pensando em Billy Coen. Como ele estará hoje, quatro anos depois do incidente em Arklay?

Segunda-feira, 5 de agosto de 2002.

Eu vi tudo pela TV. Por volta das onze horas da manhã, a falência da Umbrella foi decretada em Wall Street. Vários executivos da empresa deixaram a bolsa de valores aos berros, arrancando os cabelos, tendo em mãos ações outrora valiosas, mas que agora eram uma ninharia. Alguns, totalmente arruinados, chegaram até a cometer suicídio. Ao que tudo indica, a hora da Umbrella pagar por seus pecados finalmente chegou. Basta agora revelar ao mundo as atrocidades que essa empresa cometeu. E nós continuaremos batalhando em relação a isso.

Domingo, 8 de setembro de 2002.

Com o fim da Umbrella, minha alma está agora relativamente livre de todo o sofrimento pelo qual passei durante os últimos quatro anos, mas que rumo darei à minha vida quando nossa luta chegar ao fim? Por que essa sensação de que o pesadelo ainda está longe de terminar?

Quarta-feira, 1º de janeiro de 2003.

Às vezes eu queria poder voar... Voar como uma gaivota... E assim me distanciar de tudo e de todos...

Rebecca Chambers, a eterna bioquímica do Bravo Team do S.T.A.R.S. de Raccoon City... Dada como morta para alguns, e viva para outros... Apenas isso, e nada mais...

Quarta-feira, 14 de maio de 2003.

O bom e velho “Trent” nos está ajudando mais do que nunca. Em breve teremos provas suficientes para fazer com que os ex-cientistas da Umbrella apodreçam atrás das grades. Entretanto, nosso maior inimigo ainda age pelas sombras, aguardando o momento certo de colocar todo o nosso empenho a perder: Albert Wesker.

A atual localização desse terrível crápula é uma verdadeira incógnita. Nós já enfrentamos diversas vezes seus comandados, como a traiçoeira Ada Wong e o misterioso soldado conhecido como “Hunk”, mas nunca Wesker em pessoa. Garanto que, quando essa hora chegar, ele não escapará com vida.

Sexta-feira, 28 de novembro de 2003.

Há suspeitas de que um antigo complexo da Umbrella na Amazônia esteja sendo usado como esconderijo por Wesker. Enviamos uma equipe para averiguar, mas nenhum de seus integrantes retornou. Precisaremos atacar o local de forma maciça com nossos melhores combatentes. A batalha final está próxima...

Sábado, 3 de abril de 2004.

A filha do presidente dos EUA, Kate Jackson, foi seqüestrada ontem enquanto saía da faculdade. Sem sombra de dúvida, Wesker está envolvido nisso. A sede de poder daquele desgraçado ainda acabará por matá-lo. Isso se nós não o fizermos primeiro!

Terça-feira, 6 de abril de 2004.

Chris e Barry já têm pronto um plano de invasão, feito a partir de fotos do complexo amazônico tiradas por satélite. Neste exato momento, estou preparando meu equipamento enquanto escrevo no diário! Amanhã partiremos rumo ao Brasil. Muito em breve, toda a verdade será revelada ao mundo, e eu finalmente poderei voltar a dormir em paz.

Quarta-feira, 7 de abril de 2004.

Estou agora a bordo de um avião, a caminho da floresta amazônica. Chris nos informou que Sherry Birkin, filha de um conhecido cientista da Umbrella, William Birkin, e sobrevivente do terror de Raccoon City, também está nas mãos de Wesker. Esta será uma missão de ataque e resgate. Temos que deter o inimigo, mas ao mesmo tempo assegurar que as reféns saiam vivas do complexo. Tudo isso me faz lembrar da época em que ingressei no S.T.A.R.S., pouco antes do incidente nas montanhas Arklay. De uma forma ou de outra, continuo lutando em nome da justiça.

Sexta-feira, 9 de abril de 2004.

Finalmente, tudo acabou.

Wesker está morto. Kate e Sherry foram salvas. O complexo repleto de horrores, oculto no meio da selva, é agora apenas uma pilha de destroços em chamas... Barry perdeu a vida durante a batalha, mas seu sacrifício não foi em vão. Nós vencemos.

Temos agora provas suficientes para incriminar os ex-funcionários da Umbrella. Eu mal posso acreditar que seja verdade. Após quase seis árduos anos de luta, aqueles crápulas sem escrúpulos irão para a cadeia! O sabor da vitória realmente é doce e prazeroso...

Já marcamos a data na qual, auxiliados por Trent, revelaremos tudo à mídia. A verdade prevalecerá, após tanta maldade e mentiras. Sinto-me mais leve e feliz, assim como quando a Umbrella faliu há dois anos. As feridas dentro de mim finalmente cicatrizarão.

Domingo, 4 de julho de 2004.

Ontem foi realizado o casamento de Chris e Jill. A cerimônia estava linda e, como já era de se esperar, eu chorei até não agüentar mais! Fico muito emocionada em ocasiões como essa! Entre os convidados estavam todos que nos auxiliaram ao longo desses anos. De certa forma, constituímos uma família grande e unida.

Há algumas semanas, nossas provas contra a Umbrella foram divulgadas mundialmente. Somos agora considerados heróis, ao mesmo tempo em que os cientistas responsáveis pela morte de milhares de pessoas são procurados pelas autoridades. É o fim. Minha meta a partir de hoje será reorganizar minha vida.

Voltarei a perseguir meus sonhos. Quero trabalhar em algo que possa melhorar a vida das pessoas. O céu é o limite para mim. Rebecca Chambers mostrará a todos que está mais viva do que nunca!

Após esse turbilhão de recordações, Rebecca deitou-se no sofá, bocejando. Foi então que voltou a pensar no novo pesquisador da equipe de Murray. O nome “Lott Klein” lhe era terrivelmente familiar. Afinal de contas, quem seria aquele rapaz? Por que Chambers se sentia desconfortável ao fitá-lo no rosto?

Entretanto, o que a ex-integrante do S.T.A.R.S. mais queria naquele momento era repousar, e não pensar em coisas que lhe deixavam aflita. Por esse motivo, fechou os olhos, encostou a cabeça num dos braços do sofá e dormiu, sonhando com os poucos momentos felizes de sua vida... E com Billy Coen...

Numa das salas do Laboratório Vinnewood, o novo membro da equipe de pesquisas, Lott Klein, examinava algumas amostras vegetais num microscópio. Ervas encontradas nas montanhas Arklay, mais precisamente. Nisso, um cientista chamado Harry Berret adentrou o local para apanhar suas coisas, ficando surpreso ao deparar-se com o colega ali.

–         O expediente de hoje já terminou, Lott! – disse o recém-chegado. – Pode ir para casa se quiser!

–         Não, obrigado! – respondeu Klein, sem tirar os olhos do microscópio. – Estas plantas são fascinantes, acho que ficarei aqui aprendendo um pouco mais sobre elas antes de ir embora!

–         OK, faça como quiser!

Dizendo isso, Berret saiu, deixando Lott novamente sozinho no local. Segundos depois, o celular do britânico tocou. Após alguns instantes de apreensão, o rapaz atendeu à ligação:

–         Alô?

–         É bom ouvir sua voz, Lott. Ela nunca muda.

–         É o senhor?

–         Sim, sou eu. E então, como vai indo com seus novos colegas? Espero que tenha realizado seu sonho.

–         Estou muito feliz em trabalhar aqui, senhor Burke. A equipe me recebeu de braços abertos. É o que sempre quis!

–         Ótimo. Isso me contenta. Fico até mais incentivado a continuar patrocinando esse projeto. Não por Murray ou qualquer outro desses cientistas idiotas, mas por você, o prodígio de Oxford. Sabe muito bem que o tenho como um filho.

–         Quando o senhor virá visitar as instalações?

–         Em breve. Estou curioso quanto a essa pesquisa. E pensar que essas ervas da região de Raccoon City passaram despercebidas pela Umbrella... Talvez ela não tivesse falido se as houvesse usado com o mesmo fim que vocês...

–         A Umbrella é passado agora...

–         Sim, mas não seu legado. Hoje em dia, qualquer nação tem a capacidade de criar seu próprio vírus particular para eliminar uma minoria ou ameaçar países vizinhos. Nossas antigas pesquisas abriram portas. O fantasma da guerra biológica nunca foi tão real quanto agora. Como meu amigo Emanuel Deller sempre dizia, nós iniciamos uma nova etapa da guerra moderna.

–         Eu nunca compreendi essa sua amizade com Deller...

–         Nós nos conhecemos no antigo complexo da Umbrella na Amazônia. Na época eu era um pesquisador jovem e imaturo, capaz de tudo para agradar meus superiores. Estive envolvido no chamado “Experimento X”, um projeto simultâneo ao desenvolvimento do T-Virus no laboratório de Raccoon. Foi nesse período que também tive meu primeiro contato com Albert Wesker...

–         O grande traidor dos S.T.A.R.S. e da Umbrella...

–         Exato. Porém, você sabe que eu não sou como ele, caro Lott. Pode confiar em mim sem receio algum, assim como você, sua irmã e seus pais fizeram dez anos atrás. O incidente em Sheena não foi minha culpa, e sim de meus opositores na ilha, que chegaram ao cúmulo de provocar o vazamento do T-Virus para que eu fosse destituído. Tive até que mudar meu nome para não ir preso quando os crimes da Umbrella vieram à tona em 2004. Mesmo assim, sinto-me culpado por não ter conseguido salvar sua família a tempo, e agora estou lhe auxiliando em suas metas para me redimir.

–         Eu entendo, senhor Burke...

–         Sabe, seus pais e eu sempre fomos grandes amigos, desde antes da minha nomeação como comandante da ilha. Meus melhores pesquisadores, sem sombra de dúvida. Você está predestinado a seguir os passos deles, Lott. Não os decepcione.

–         Eu não o farei, senhor!

–         Ótimo. Voltarei a contatá-lo amanhã. Tenha uma boa noite!

Burke desligou, e em seguida Klein guardou o telefone em seu jaleco. Seu mentor não podia mesmo ser uma má pessoa, apesar dos apelos de sua irmã Lily para que Lott não confiasse nele. Seguro de si, o jovem voltou a examinar as amostras no microscópio.

Num jato incrivelmente veloz e confortável, o time do Serviço Secreto comandado pelo agente Leon S. Kennedy seguia na direção de São Francisco, Califórnia. Após olhar através de uma das janelas por alguns instantes, contemplando a paisagem do meio-oeste dos EUA, o ex-policial de Raccoon City pediu a Mike Graven, o qual, sentado ao seu lado, digitava dados num laptop:

–         Mike, diga-me mais sobre esse tal Ronald Freewell, líder da FPA!

–         É pra já!

O parceiro de Leon acessou a ficha do terrorista, sem antes suspirar demoradamente, aparentando, além de cansaço, incomparável frustração. Percebendo o que o amigo sentia, Kennedy indagou:

–         Cara, o que foi? Nunca te vi assim, tão desanimado!

–         É que eu rompi com a Jane!

–         Como foi isso? – surpreendeu-se Leon.

–         Eu não tive escolha... Ela sempre quis casamento, o que, com esta minha profissão, é algo praticamente impossível... Nunca revelei que trabalho no Serviço Secreto... Na verdade, ela ainda pensa que sou contador de uma firma em Washington... Já estava na hora de pôr um fim nisso tudo!

–         Você não precisava ter feito isso! Veja eu e a Claire, por exemplo! O fato de eu ser um agente do governo nunca foi um empecilho em nossa relação! As coisas não são desse jeito!

–         Para mim são, e ninguém será capaz de mudar nada! – exclamou Mike rudemente.

Em seguida, Graven começou a fazer uma biografia resumida do homem por trás da FPA, conforme lia sua ficha na tela do computador:

–         Ronald Freewell nasceu em Goldfield, Iowa. Seu pai morreu no Golfo Pérsico, 1991, durante a “Tempestade no Deserto”. Depois disso a mãe dele ficou viciada em heroína, morrendo de overdose em 1997. Na época, Ronald tinha vinte e dois anos de idade. Inspirado pelo pai, vinha construindo uma carreira brilhante na Marinha, até que foi enviado ao Iraque em 2003. Lá, passou por uma experiência traumatizante ao ser capturado pelo inimigo e libertado meses depois. Após tal episódio, o bom e velho Ronald endoidou de vez!

–         Tornando-se assim um terrorista sanguinário...

–         Exato. Em 2004, Freewell fundou a Frente Patriótica da América, um grupo de extrema direita que busca propagar o “verdadeiro patriotismo” através do assassinato de civis. Ronald e seus seguidores acreditam que os atuais governantes do país acabarão facilitando a perda de nossa hegemonia no mundo. Por isso pretendem estabelecer sua própria ditadura para defender os interesses norte-americanos pelo globo através da força.

–         Um bando de malucos, em resumo! Fico pensando no que serão capazes tendo em mãos o T-Virus...

Seguiu-se breve período de silêncio. Após digitar mais alguns dados no laptop, Mike murmurou:

–         Jane trabalha em São Francisco... Espero não encontrá-la enquanto estivermos na cidade!

–         São milhões de habitantes, acho bem difícil isso acontecer! – replicou Leon, voltando a olhar através da janela.

–         Você sabe que eu sou azarado!

Ambos começaram a rir.

O major Jack Krauser caminhava pela Base Naval de Long Beach, sentindo a brisa da noite chocar-se contra seu rosto, provocando sensação agradável. Fitando as estrelas, o militar pensou em todos os acontecimentos que teriam início nos próximos dias. Sorrindo, tocou seus cabelos loiros e continuou a admirar os brilhantes astros celestes, que o fizeram lembrar-se da bandeira dos EUA. A revolução em breve começaria...

–         E ninguém poderá fugir dela! – completou Jack, pensando alto.

Continua... 


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