26 de janeiro de 2013, ás 2:58

Melanie acordou a noite, se sentia fraca. Uma dor de cabeça muito forte a importunava, sua respiração estava ofegante e sentia calafrios estranhos. Sua cama estava suada, e uma tempestade horrível caía do lado de fora, raios clareavam todo o quarto e os trovões balançavam a casa.

Olhou em volta do quarto, tudo estava normal a não ser por uma coisa. Havia uma criatura estranha na porta. Conseguia ver uma silhueta, uma sombra da coisa: era alta, seus braços eram afastados do corpo, tinha um par de chifres, era bem magra e apenas a cabeça era grande, e também haviam dois olhos vermelhos brilhantes.

Melanie se sentou na cama e a encarou, algo na mão da coisa cresceu, eram unhas pontudas e brilhavam com a pouca luz.

Outro raio.

Desta vez com a claridade, Melanie pôde ter uma visão melhor. Sua pele era marrom, não tinha lábios nem nada ao redor da boca, o que fazia seus dentes afiados ficarem totalmente a vista, e de trás deles era expelido um líquido preto, o resto do corpo era de uma pele marrom cheia de veias e na barriga havia uma estrela desenhada, o chifre era um tom marrom um pouco mais escuro do que a pele.

Melanie ficou sem reções, cética, encarando-a. Quando a coisa se aproximou da garota, algo surpreendente aconteceu. Alguem pulou em cima dela e a atacou. Melanie acendeu seu abajur ao lado da cama. A pessoa que atacava o monstro era loira, de pele branca e usava um roupa branca.

Só pode ser um sonho, ela pensou. Um sonho onde "eu" estou atacando um monstro.

A falsa Melanie socava a coisa com as mãos. Enquanto segurava seus braços com as pernas. As unhas do monstro cresciam cada vez mais e a verdadeira Melanie começou a gritar por ajuda, logo apareceu Jonas com algo na mão.

Tudo o que o garoto conseguiu ver foi um monstro sentado em cima de algo invisível, atacando-o com a mão.

-O que é isso?

-Você também está vendo?

-Sim - Jonas entrou no quarto e ao entrar a porta se fechou por trás dele com uma força absurda.

Ao olhar a pessoa no chão se contorcendo se lembrou que já havia a visto. Ela tentara o atacar uma vez, mas quando Melanie apareceu, ela desapareceu. A última vez era alguem muito parecido com Melanie mas com a pele cinzenta e repulsiva, desta vez era a mesma coisa, mas quanto mais essa coisa parecida com Melanie batia em nada no chão, sua pele se branqueava e ficava idêntica à de Melanie.

Jonas largou o que estava segunrando e pulou para a cama com Melanie e a abraçou observando o que estava acontecendo.

O ponto de vista de Melanie era diferente, ela via um monstro no chão, e acima dele, ela mesma o atacava, não sabia o que Jonas via, mas observando sua expressão confusa sabia que não podia ser muito diferente.

A falsa Melanie socava a coisa cada vez mais. Passou as suas mãos para o pescoço do monstro e o virou com força para a esquerda. A unha do monstro parou de crescer e ele parou de se debater, a falsa Melanie suspirou, a porta se abriu. Na visão de Jonas a pele da falsa Melanie parou de variar para ser somente branca, na visão de Melanie nada mudou, mas seus calafrios pararam, e também a tempestade do lado de fora.

A pessoa loira se levantou e encarou os dois jovens sentados na cama. A única diferença entre Melanie e ela eram os olhos, os dela eram verdes.

-Quem é você? - perguntou Jonas.

-Eu sou Catarina - ela disse.

-Catarina, minha avó, Catarina? - indagou Melanie.

-Sim.

A mulher se aproximou, estava cansada e suas mãos estavam sujas de sangue.

-E quem é ele? -perguntou Melanie, apontando para a coisa no chão.

-Ele quem? - Jonas olhou para o chão e nada havia.

-Ele - Melanie avançou os dedos para o local.

-Ele não vê - disse Catarina.

-O quê? - perguntaram em coro.

-Ele é um demônio, e estava aqui para te atacar. Só quem o vê é quem ele quer, ele não quer o Jonas, quer você.

-Por que eu?

-Porque você é a única que pode fazê-lo voltar para a vida. Você e seu pai. Ele podia.

-Porque meu pai? Como assim voltar a vida?

-Temos uma maldição na família desde que eu morri. O primeiro homem e seus progênitos são os únicos capazes de retornar à vida aquele que um dia dominou uma família. Ele dimonou nossa família e somente seu pai podia salvá-lo e agora somente você. Você é a única chance dele.

-Mas o que "ele" quer?

-Ele é um demônio antigo, invocado para a nossa família por Osmar, seu tataravô. Ele fazia experiencias comigo para tentar contatar seus pais mortos, invocando no meu corpo, espiritos que podiam ajudá-lo a achá-los.

-Então é isso que está no livro...

-Eispéiris, sim. Eu fiz você ler aquele livro com a ajuda da Lívia.

-O que você tem a ver com a Lívia? - perguntou Jonas.

-É uma longa história.

-Temos bastante tempo se você não reparou.

Catarina suspirou.

-Uma noite Lívia entrou no seu porão. Ela me viu, e ele - apontou para o demônio no chão - a puxou para dentro do porão. Naquela noite ele entrou no corpo de Lívia, a dominou, mas foi por pouco tempo. Tentou atacar Augusto e Ana e quando ele deixou o corpo dela eu o dominei para poder ajudar a acabar com esta maldição. Fui eu quem te puxei naquela noite, Melanie. Eu tentei te mostrar o livro, não deu certo na hora mas você acabou o achando. Depois disso fui até o porão e lá deixei o corpo dela. E foi lá onde vocês o acharam, junto com os gatos. Eram meus gatos, junto com a invasão ao corpo de Lívia, mostrei ao espírito dela, a minha antiga vida, pra que ela pudesse saber o que estava acontecendo, e ela quis que quando voltasse, trouxesse os gatos juntos. Mas quando eu estava a deixando, "ele" apareceu na imaginação da garota e transformou os gatos em algo medonho. Algo que a fez temê-los. Mas depois disso a Lívia ficou em paz. Eu apareci para ela uma noite e a mandei mostrá-los meu corpo no porão.

-Seu corpo? - perguntou Jonas, já não acreditava em mais nada depois daquela história absurda.

-Sim.

-Se você é mesmo Catarina, então você morreu a 100 anos atrás.

-Sobre o corpo, eu sei. Ele está praticamente intacto até hoje porque há outra parte da maldição. A 100 anos atrás, dia 26 de janeiro foi o dia em que Osmar começou suas experiencias comigo. Então seria hoje uma das chances "dele" te pegar, Melanie. Mas eu previ e te salvei. Agora a próxima chance dele é em julho, dia 7 de julho, o dia em que ele conseguiu aparecer para Osmar a partir do meu corpo.

-Se ele pode aparecer no dia 7 de julho, por que nunca apareceu em outro 7 de julho antes.

-Porque são exatamente 100 anos depois, no sétimo dia do sétimo mês, ele irá voltar. Mais forte, mais capaz... E se ele conseguir o que quer. Bom, não vai ser legal.

-Ele quer a mim. O que eu posso fazer para evitar que ele me pegue?

-Só uma pessoa pode te salvar, e agradeça, pois ele está aqui.

As duas encararam Jonas.

-Eu?

-Sim, seu aniversário é 7 de julho, não?

-Sim, mas o que isso tem a ver.

-Você nasceu a que horas?

-Exatamente as 3 da manhã.

-Todas as vezes em que algo sobrenatural e ruim acontece, é as 3:00 ou perto disso. Só uma pessoa nascida no dia 7 de julho as 3 da manhâ pode salvar a família.

-E o que eu devo fazer?

-Na hora você saberá.

-Como?... Olha, eu ainda não acredito em você.

-Se você visse com seus próprios olhos, você acreditaria?

-Sim, mas o quê.

Catarina aproximou seus dedões e tocou na testa dos dois adolescentes.

Subitamente o cenário mudou. Eles estavam numa sala fechada, era tudo feito de madeira, havia uma maca no meio da sala, uma mesa em um canto e um armário de ferro em outro, nos fundos havia uma escada. Era o porão.

Um homem branco, alto, de cabelos pretos, vestido com um jaleco grande e branco e uma aparencia elegante estava de pé perto da maca. Dizia algumas palavras estrangeiras estranhas, e de sua boca saía um líquido transparente. A moça deitada na maca tremia, em um instante tudo parou e um impacto forte arrastou o homem para longe, ela se levantou e sua parência era medonha. Subitamente ela voltou a sua aparencia normal e deitou em sua maca.

O homem se levantou e correu para a maca, a mulher abriu seus olhos.

-Catarina, está tudo bem?

-Sim. Tudo bem.

-Vamos subir, você precisa descansar.

A mulher assentiu e se levantou. O homem foi na frente e ela atrás, ao se levantar olhou ao redor e sorriu.

Jonas e Melanie voltaram para a cama, o dedo de Catarina continuava nas suas testas e tudo estava do jeito que estava antes.

Catarina retirou o dedo da cabeça dos garotos e os olhou.

Os dois se entreolharam.

-Então. Não era você? Quer dizer, você sorrindo? - perguntou Jonas, estranhamente mais interessado do que antes.

-Não. "Ele" manipulou Osmar para realizar a maldição as 3 da manhã, o único horário em que funcionaria.

-Então é real. Eu estou mesmo correndo perigo.

-Sim.

Melanie suspirou e olhou para o corpo no chão. Estava imóvel e do mesmo jeito de antes. suposta Catarina se aproximou do corpo do demônio.

-Ele irá voltar. Aconselho vocês a ficarem longe de espelhos; protejam sua irmã Lívia, não a deixem ir àquele porão sempre; o corpo, vão até lá, peguem o livro e irão entender o que fazer no dia 7 de julho.

Catarina cortou sua mão direita com uma faca, esta imediatamente começou a sangrar excessivamente. A mulher desenhou uma estrela em volta do demônio com o sangue e se pôs no meio.

-Agora que eu os avisei, estou livre, posso descansar em paz.

O corpo idêntico ao de Melanie mudou. Os cabelos se tornaram pretos, lisos e longos, Catarina cresceu e a pele se tornou mais branca do que antes, o que parecia impossível. Era o verdadeiro corpo de Catarina. A mulher piscou para os dois jovens, sentados na cama, ainda céticos. A mulher brilhou em um clarão azul claro e desapareceu, juntamente com o corpo do demônio.

-O que aconteceu aqui? - perguntou Jonas, encarando o nada em algum canto do quarto.

-Eu não sei - respondei Melanie, fazendo o mesmo - Mas sei que não foi uma ilusão, isso realmente aconteceu. E aquilo realmente vai acontecer no dia 7 de julho - não sabia muito bem o que era "aquilo" - E você é o único que pode me salvar.