00904 escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 3
Melbourne




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No coração de Battery City, a Ducati preta ziguezagueava como um vulto pelo tráfico noturno. Na rota de volta, ela evitou passar por ruas e avenidas lotadas de pedestres e letreiros ofuscantes. A noite estava fria, e um vento gelado zumbia nos seus ouvidos. Cortou por um caminho pouco conhecido e mais vazio na avenida, e entrou por um portão automático em um estacionamento público mal iluminado àquela hora. Sem sair da moto, ela apertou um botão escondido no painel da cancela automática, imediatamente abrindo o seu caminho por entre vagas de carro vazias.

Acelerou pelas rampas e contornou todo o caminho até o sexto andar. As luzes da cidade iluminavam o perfil de prédios e arranha-céus de Battery City, e uma névoa fina pairava pelo céu escuro.

Ela estacionou sua moto ao fundo e, com o capacete preto em mãos, pegou o elevador que conectava o estacionamento com o edifício logo ao lado. Ela entrou e apertou o botão do andar número 82, e a porta se fechou. O elevador passava com velocidade por entre os andares, e ela continuou a segurar o botão até um painel deslizar de onde o leitor de andares estava.

Retirou então a máscara do rosto e a lente de contato de seu olho direito, inclinando-se no leitor de íris a sua frente. Ouviu um som abafado de uma poderosa trava sendo aberta e logo as portas do elevador se abriram num andar escondido entre o 82º e o 81º.

A entrada de “serviço” possuía as paredes de inox polido e diversas telas e leitores digitais espalhados ao longo do corredor que a ligava com o centro de operações. Ao lado, uma série de chaves estavam enfileiradas na parede, cada qual com uma etiqueta, e ela guardou a chave de sua Ducati 1198 embaixo da qual se lia “Nem pense nisso.”

O silêncio profundo era cortado apenas pelos seus saltos batendo como baques ocos contra o chão. Ela pensou em como a segurança aquela hora parecia ridiculamente vulnerável, mas apenas porque o sistema de segurança não tinha sido ativado ainda. Coitado de quem tentar atravessar esses corredores com o alarme ligado.

Ela atravessou a sala das armas, cuja extensa aparelhagem podia ser vista pela parede de vidro do corredor. Granadas enfileiradas, submetralhadoras, metralhadoras, Magnums, Taurus, pistolas de todos os calibres, rodeados por adagas e facas de diversos cortes brilhavam obliquamente na luz noturna.

O corredor ainda guardava as salas de enfermaria e a Arena, onde os agentes recebiam treinamento. Ela retirava suas compridas luvas enquanto andava em direção ao mar de computadores da sala de operações. Sentado em uma dessas mesas vazias, o perfil sério de um homem com os cabelos já grisalhos e vestido com um fino terno de linho preto concentrava-se no maço de baralho que segurava em suas mãos enrugadas, porém firmes.

Ele pareceu não perceber a garota aproximando-se e puxando uma cadeira para sentar-se à sua frente, tomando em suas mãos o baralho virado para baixo. Ela analisou suas cartas por um momento antes de dizer:

– Você sabe que eu vou bater você com Full House.

O homem inspirou calma e silenciosamente.

– “Nunca conte seu plano aos inimigos.”

E como ela tinha prometido, assim que seu oponente dá sua jogada, a menina mostra suas cinco cartas, sendo uma tripla e uma par, com um sorriso convicto. A reação do homem é reposicionar suas cartas na mão, ainda parecendo pensativo.

– Deu tudo certo?

Como resposta, a garota puxa o pendrive de sua bota e o coloca na mesa.

– Pensei que talvez merecesse algo mais desafiador na minha centésima missão... – ela comenta, entre cartas.

O homem não pega o pendrive de imediato, e apenas repousa na frente dela suas cinco cartas, Dois Pares Reais que imediatamente anulam a jogada anterior.

– É tudo uma questão de paciência...


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