Broken Mirror 2ª Temporada escrita por Renata Rodrigues


Capítulo 3
Capítulo 3 lembranças


Notas iniciais do capítulo

pra quem sente falta da doidinhada Vicky e pra quem quer saber mais sobre Tatia.
o capitulo mais longo de todos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345525/chapter/3

Pov Katherine
 

Elena e Damon. Elena e Damon. Elena e Damon!

Meu sangue fervia nas veias ao pensar neles dois, juntos, um casal, quando Damon podia ser meu.

Então esse era o plano dela o tempo todo?! Me afastar e tomar o meu lugar? Me matar para tomar meu lugar?! 

 A rua não estava deserta, ainda havia pessoas, mesmo que só umas poucas, caminhando pela rua. Algumas estavam bêbadas, outras ninguém saberia dizer. Mas no momento eu não me importava. Tudo o que eu queria era fugir do casal feliz.

Raiva. Não parecia uma palavra furiosa o suficiente para descrever como eu me sentia. Fúria também não. O que eu sentia não tinha nome, tão profundo e intenso que era. Agora eu entendia a expressão “ver vermelho”; tudo queimava a minha volta. Não, não, eu queria que tudo queimasse.

Chutei com força a porta de um carro qualquer parado na guia, que se amassou com um estrondo ensurdecedor.

Será que Damon esqueceu que Elena tentou me matar?! Num instante ele está todo “Oh, vamos resolver isso Kath” e no outro ele está aos beijos com a minha irmã assassina?! Me diga como isso pode ser certo! Continuei a chutar o carro, uma... duas... três... dez vezes. Mas tudo aquilo era culpa minha, de um jeito ou de outro. É claro que eu nunca quis aquilo, mas se eu tivesse matado Elena antes ela não estaria aqui, se envolvendo com meu namorado. Tudo bem então, meuex-namorado, mas não era como se isso importasse. Eu estava assustada agora, depois de ter visto tudo porque, se ele havia sido capaz de fazer aquilo, o que mais Damon era, além de um traidor duas caras?

Damon se divertindo com a minha irmã e eu aqui, durante todo esse tempo, me lamentando por tê-lo deixado. Chorando por toda a dor que imaginava ter infringido a ele quando, na verdade, ele não demorara muito para encontrar consolo.

- Eu sou muito estúpida mesmo – disse em voz alta, quase sem me dar conta.

Meu carro! – exclamou um garoto que se aproximava, olhando em direção ao monte de ferro velho que algum dia havia sido, muito provavelmente, seu carro.

Ele se aproximou para medir o estrago que eu havia causado, como se esperasse que ao chegar mais perto os danos na verdade fossem menores do que pareciam ser a distância. Não era o caso. Eu realmente havia destruído quase completamente o automóvel preto, e ele se virou para me encarar, furioso. Não havia nada de extraordinário em sua aparência. Moreno, cheio de espinhas no rosto, olhos verdes vibrantes. Não deveria ter mais do que uns 17 anos. Tinha toda uma vida pela frente, cheia de sonhos, cheia de esperanças... Talvez ele até tivesse uma namorada, uma nerd amiga dele. Talvez ele tenha economizado a vida interia para poder comprar essa lata-velha a minha frente, e talvez seja um gênio que poderia vir a mudar o mundo.

Pobre menino. 

- Aaaaargh – ele gritou, beirando a histeria.

- Fique quieto – murmurei, me aproximando sem me importar com os gritos e palavrões que ele insistia em soltar.

- O que você fez com meu carro sua piranha?!

Ele estava perto demais dos meus tímpanos, e gritava como se o mundo fosse acabar. Aquilo estava me irritando. E me irritar, nesse exato momento, não era algo muito esperto a se fazer.

- Eu vou te matar, sua vagab... - Ele nunca terminaria aquela frase. Não com seu pescoço quebrado.
O corpo sem vida caiu com um som oco no chão.
Eu só o poupei de uma futura decepção. Do dia em que a amiguinha nerd dele se tornaria popular e o trocaria pelo capitão do time de futebol. Ele devia me agradecer. Mas é claro que, agora, ele não podia.

- Que coisa feia, Petrova - disse Elijah atrás de mim. Que merda, ele ainda estava atrás de mim. O que mais ele queria, afinal? Já havia estragado meu drink. E não restara muito de mim que Damon não tivesse destruído. Damon...

- Isso não é da sua conta, velhote – falei, andando para longe dele, que esperou que eu me afastasse um pouco para então aparecer à minha frente com um sorriso insolente. – Falando na boa – digo, apoiando a mão na cintura –, acho que você já percebeu que Damon não está comigo, então o que você quer?

- Eu ando te procurando há algum tempo, Katherine – ele diz, mas aquilo ainda não fazia muito sentido para mim.

- Olha só, eu bebi um pouco – sorri para disfarçar meu incomodo e continuei –, mas não vou dormir com você. 

- É uma pena – ele sorri, debochado –, mas não é pra isso que eu estou aqui. 

- Ah não? Então o que você quer? – insisti, nada satisfeita com a forma como ela parecia tentar protelar aquilo.

- Você é mesmo a copia dela não é? – disse ele, segurando o meu queixo e virando meu rosto para que pudesse ver dos dois lados. Eu me sentia um cavalo em exposição, e não aguentava mais Elijah. Essa obseção maluca por mim sempre que nos víamos, estampada em seus olhos, visível até mesma na linha fina de seus lábios, tinha um nome. Tatia Petrova. Eu não tinha como saber com certeza, mas acho que era uma das minhas ancestrais. Talvez fosse de uma família fundadora de Mystic Falls, a cidadezinha ridícula onde nasci.

- Eu não tenho uma copia – desvencilhei-me de suas mãos, recuando um passo quase imperceptivelmente. – Bom, talvez só Elena. 

- Não, minha doce Katherine, você é  a copia, e o seu Damon sabia disso.

- O que você disse?! – questionei-o. Eu havia entendido muito bem, mais queria uma confirmação. Precisava ter certeza do que tinha ouvido.

Não havia chance alguma de eu ter entendido errado, porém, e agora, como se já não bastasse eu ter que me preocupar com Damon e minha copia atual, agora teria também que me preocupar com Damon e minha copia passada.

- Quer ouvir a historia toda ou não? – ele pergunta retoricamente, já sabendo que vou querer ouvir tudo o que ele tem a dizer, andando de volta para civilização e me tirando do beco onde o corpo do garoto morto ficaria até que alguém o encontrasse e chamasse a polícia.

Ele se sentou em um banco em baixo de um poste de luz amarelada. Uma luz assustadora era melhor que luz nenhuma, mas ainda assim hesito em me sentar ao seu lado.

- Quero – digo por fim, percebendo que ele ainda esperava por uma resposta, me sentando ao seu lado com um suspiro. Seria uma história longa, e algo me dizia que eu precisaria estar sentada quando ele acabasse de contá-la.

Ele sorri antes de começar a falar, como uma criança que enfim ganha um brinquedo caro, há muito desejado.

- Tatia era a garota mais linda do vilarejo. O tesouro da família Petrova – começa por fim. – E é claro que todos queriam sua mão. Meus pais eram ricos, assim como os pais dos Salvatore. Nossas famílias eram unidas, e tramavam um plano para usurpar o trono do rei. Tudo era altamente sigiloso, é claro, mas eu e Damon não ligávamos nem um pouco para nada disso. Na época tudo o que queríamos era beber e cortejar belas donzelas – diz com um sorriso, pegando minha mão, que até então repousava em meu colo, e beijando suas costas.

- Quando... – tentei incentivá-lo, revirando os olhos internamente para a pausa desnecessária que só protelava a história real e me deixava mais ansiosa.

- Quando meu pai decidiu que era hora de pararmos de tramar e começarmos a agir. E o que ele decidiu foi que eles nunca conseguiriam nada sem a ajuda de minha mãe.

- Sua mãe? – inquiri confusa. – Achei que nessa época as mulheres não tinham voz. Pensei que fossem de enfeite.

- E eram – confirma, me direcionando um sorriso travesso. – Uma mulher tão independente e forte quanto você não teria durado muito na época em que vivi.

- Sabe, você devia parar de me cortejar e voltar para a história. Acho que você já sacou que eu não sou a Tatia – falei, perdendo um pouco a paciência mas voltando ao controle a tempo de não causar maiores estragos.

- Ok, senhorita nervosinha. Pra resumir, meu pai nos queria mais fortes e mais rápidos. Queria que fossemos  invencíveis, melhores que os altos calões da  realeza. Agora vocês os chamam simplesmente de lobisomens, mas na nossa época, eles eram os reis e as rainhas da corte e os donos do mais poderoso exército de todo o Novo Mundo.

- Você está me falando que, há muito tempo atrás, existiu um exercito só de lobisomens?! – perguntei, sem conseguir acreditar.

- Não era um exercito muito grande, e nem precisava ser. Eles possuíam uma força descomunal, e uma agilidade assustadora, e nós sabíamos que precisávamos ser tão fortes e tão ágeis quanto eles se quiséssemos ter alguma chance. Não só isso. Nós precisaríamos de muito, muito mais, se quiséssemos não só ter uma chance, mas sim vencer. Meu pai queria que eu, seu filho mais velho, fosse um rei eterno, então nossa mãe fez a transformação.

- Sua mãe o transformou em vampiro? – perguntei, mesmo sabendo, por sua expressão fria e cheia de um rancor guardado há muito, muito tempo, que não devia ter feito isso. Mas eu queria esclarecimentos, e o único jeito de compreender tudo era fazendo perguntas. 

- Não, minha mãe transformou toda a minha família em vampiros, Katherine, menos, é claro, ela própria – respondeu com um suspiro cansado, como se não aguentasse mais aquela história.

- Por que não? – inquiri ironicamente. – Ela não queria ser parte da Família Incrível?

- Não Katherine... Minha mãe era uma bruxa, uma serva da natureza, uma sacerdotisa, enquanto nós... – ele olha para o céu, mas ao invés da imensidão azul petróleo encontra a lâmpada, amarela e brilhante, que lança novas sombras em seu rosto, desse novo ângulo, ironizando – Nós somos os demônios da natureza.

Elijah estava triste, e era óbvio que ele não queria falar sobre sua família agora. Nem agora nem nunca, provavelmente, assim como eu. Porque, assim como eu, ele tinha sido decepcionado pelas pessoas em quem pensava poder confiar cegamente, e nunca se recuperara completamente disso. Será que seria assim comigo também? Será que eu nunca será capaz de esquecer como Jenna matara minha mãe, como meu pai a acolhera, como Elena tentara me matar e, por fim, como Damon me traíra?

Argh, porque Damon insistia em voltar aos meus pensamentos?!

- E o que é que Tatia Petrova tem a ver com toda essa história de vampiros, bruxas, e reis que eram lobisomens?

- Minha mãe precisava de um sacrifício voluntario, e a avó de Tatia se ofereceu, desde que Tatia fosse entregue a mim e se tornasse, assim, a rainha dessa nova era. Todos aceitaram os termos, e nossas famílias tinham um acordo. Minha mãe transformou a mim, a meus irmãos e a meu pai em vampiros, e usou o sangue de uma Petrova para selar o feitiço. Mas algo deu errado. Meu irmão mais novo, Niklaus, não era filho legitimo de meu pai. Digamos que ele tinha uma vida movimentada. Klaus era um bastardo, filho de um lobisomem com quem minha mãe se relacionara há muito tempo, e, no sobrenatural, nós descobrimos, ou você é uma coisa, ou você é outra.

- Então, Niklaus não podia ser um vampiro, por que era um lobisomem – deduzi.

- E não podia ser lobisomem, por que tinha sido transformado em vampiro antes de terminar a transformação pra lobisomem – completou ele, plantando cada vez mais e mais dúvidas em minha cabeça.

- E o que Klaus fez? – escolhi a mais simples. Perguntaria a respeito das outras depois, quando e se tivesse a oportunidade. A possibilidade de esta não vir a existir no futuro e de eu ter que ficar com essas dúvidas rondando minha cabeça para sempre me parecia assustadora.

- Meu pai tinha que limpar sua honra, de um jeito ou de outro. Ninguém podia saber que seu filho era um bastardo, ou nunca levariam sua revolução à diante, de modo que Niklaus não podia ser diferentes dos outros. Então Ayana, uma bruxa muito amiga de minha mãe, concordou em fazer o feitiço que aprisionaria sua metade lobisomem para sempre, mas, já que a maldição do vampirismo havia sido selada com o sangue dos Petrova, dessa vez precisaríamos novamente do sangue de um Petrova, mas, diferente da primeira vez, agora Klaus tinha que beber até a última gota todo o sangue no corpo.

- E o que é que Damon tem a ver com tudo isso, será que eu posso saber? – resolvo encurtar a história, impaciente de repente.

- Damon e eu éramos completamente apaixonados por Tatia, mas Klaus a queria para ele, e eu, infelizmente, não podia competir com Klaus. Ele tinha Ayana ao seu lado, e era onde ela ficaria, já que o amava. Klaus não se cansa de seus alvos com facilidade, e caçaria Tatia até o fim do mundo, se fosse preciso, então minha mãe elaborou um elixir que deveria manter Tatia viva, mesmo depois de perder todo o sangue... Não funcionou, e Tatia morreu. – Um suspiro pesado irrompeu de seus lábios, e ele continuou, sem apresentar relutância ao contar a pior parte da história. – Quando a família Petrova se voltou contra nós, reclamando a parte deles no acordo nós, prendemos todos os membros da família na igreja do vilarejo, junto ao corpo de Tatia, que nunca escondeu o faro de que amava sua família mais do que qualquer outra coisa, e ateamos fogo.

- Meu. Deus – arquejei, me levantando em um rompante, saindo de perto dele. Agora que eu tinha conhecimento do fim que levara Tatia, temia ainda mais o que ele podia querer comigo.

- Calma, Katherine – pediu, se levantando também, estendendo os braços à sua frente como se para me acalmar, ainda que ele sequer me tocasse.

- O que você quer de mim? – atirei no que pretendia que fosse um grito, mas que agora não passava de um arquejo baixo, abafado pelos soluços e lágrimas que tomavam conta de mim. Eu estava sendo estúpida, chorando, em parte de tristeza, pela história de uma ancestral desconhecida, e que fora tão infeliz, por motivos tão fora de seu controle, da mesma forma como eu era agora, em parte de medo, por não saber até que ponto Elijah representava perigo para mim.

- Por hora, eu só quero que fique bem – ele diz, segurando novamente meu queixo como se eu fosse um animal. – Eu tenho planos pra você, Katherine Petrova... – O modo como ele diz meu sobrenome, deslizando pela língua com eloquência, o tornava estranho para mim, diferente... 

- O único plano que pretendo seguir agora é ir pra minha casa, ficar o mais longe possível de você, dos seus planos, e da sua esquisitice – falei, engolindo o choro enquanto me soltava dele pela segunda vez naquela noite e lhe dava as costas, feliz ao perceber que ele não me seguira.

Mandei uma mensagem de texto para Malls, sem conseguir voltar àquele bar, com medo do que talvez pudesse encontrar. Não tinha como saber. Damon e Elena podiam muito bem estar trancados em um banheiro imundo, brincando de esconder a cobra.
 

FUI PRA CASA ANDANDO
A CHAVE DO CARRO TA NA BOLSA

NÃO BEBA MAIS, OK? E NÃO DEMORE PRA VOLTAR
 

O pensamento dos dois juntos me enojava. Elena e o meu Damon. Quer dizer, ele era meu, não era? Ou será que, no momento em que fui embora, deixei Damon livre para que agora ele pudesse pertencer à outra? Elena havia realmente fisgado Damon, ou ele só estava tentando se divertir enquanto eu estava fora?

A questão era: isso realmente importava? Damon e Elena estarem juntos, ou Damon ter parado de me amar? Será que algum dia ele havia realmente começado a me amar, para poder parar agora?

Até onde eu sei Damon, ficaria com qualquer garota que fosse parecida com Tatia; não era a mim que ele amava, era a ela. Damon tinha me usado para substituí-la; para substituir quem ele sempre amou. Não fazia diferença se era eu, ou se era Elena; tudo o que importava é que, ao fechar os olhos, ele pudesse fingir que estava com ela. O que mais doía era saber que nunca fui eu, em nenhum dos beijos, ou mesmo na cama; nunca era Katherine e Damon, foi sempre Tatia e Damon, e eu nunca fora capaz de perceber isso.

Eu havia ido embora, então, e o que restara? Elena. E como eu já disse, não fazia diferença, qual das duas estava ali, à sua frente; tudo o que importava era a minha, a nossa aparência, para que ele pudesse fingir...

Ao mesmo tempo em que estava com raiva dele, por não ter me tratado como nada mais do que uma substituta, eu também estava verde ciúmes. Melhor, eu estava um arco-íris inteiro de ciúmes! Por mais que Damon tivesse sido um idiota, eu ainda o amava, e uma vez que ele não se importava se estava comigo ou com Elena, porque Elena tinha que ser a escolhida? Isso não me parecia justo; não me parecia correto deixar a irmã divertida perecer enquanto a irmã sem graça podia se deleitar nos braços do Deus.

porque, meu Deus, porque, eu ainda o queria, depois de tudo o que viera a descobrir? Porque continuava a querê-lo mesmo depois de compreender saber que Damon só nutria quaisquer sentimentos por mim em função desse amor, que ele insistia em sentir por Tatia? Por que eu o amava por completo, se tudo o que ele amava em mim era o fato de eu ser parecida com outra? Talvez ele a imaginasse no meu lugar; talvez chamasse seu nome em voz baixa, no escuro do quarto, quando era eu quem estava deitada ao seu lado; talvez comparece o meu beijo com o dela... Porque, mesmo sabendo de tudo isso, eu insistia em me agarrar a ele?!

Eu já estava na porta de casa, mas não queria entrar. Sabia que, uma vez em segurança, entre as paredes de minha casa, meu coração se permitiria desfazer-se, mas eu agora me recusava a chorar e me desfazer por completo por alguém que, logicamente, já tinha me esquecido há muito tempo; por alguém que, na verdade, nunca foi meu.

Respirando fundo, senti o cheiro ruim de algo novo e ilegal, e sem ter nada melhor pra fazer, dei meia volta, caminhando até me juntar ao grupo de jovens desocupados sentados em um banco à ponto de cair em um beco nojento, muito parecido com o beco no qual eu havia deixado o corpo do garoto, dono do carro...

- Oi gatinha – disse um deles, à medida que eu me aproximava.

- O que vocês tem ai? – perguntei simplesmente, ignorando as gentilezas.

- O que você quer? – retrucou, aparentemente o único do grupo de 6 que sabia falar.

- Me surpreenda – aquele era o segundo homem que eu desafiava essa noite. Era fácil, quando você sabe que eles não podem te deter, mesmo que queiram.

- Huuuuh – disse outro garoto, os olhos azuis desatentos, com suas pupilas dilatadas, desmentindo minha impressão anterior de que o primeiro a falar seria o único a me dirigir a palavra. Seria estranho, pra quem visse de fora, ver eu, a rainha do baile de primavera, se misturando com os drogados de Chicago. Mas é claro que, para quem vê de fora, eu era só uma garota de 18 anos, magra e fraca, e não uma vampira que poderia viver o quanto quisesse, mais forte do que todos ali juntos.

O primeiro garoto, aquele que eu desafie, me direciona um sorriso conquistador e lento, consequência de tudo o que ele provavelmente ingerira, fumara ou cheirara. Não importava o que eles haviam feito para conseguir aquilo, na verdade. O que importava era que eles pareciam felizes do que eu, então por que não? É claro que até um sem teto estaria mais feliz do que eu hoje, mas tanto faz.

- Você parece tensa, gata – diz uma garota de cabelos castanhos e olhos azuis, se levantando até ficar em pé á minha frente. – Eu sou Vicky.

- Katherine – respondo, sorrindo para a única garota ali, fora eu. – O que você sugere para que eu relaxe um pouco, Vicky?

- Vem aqui – chama, me puxando para mais perto dela e me arrastando até ficarmos um pouco distantes dos garotos, de costas para eles.

Fico em pé quando ela se senta no que parece ser um latão de lixo virado de cabeça para baixo e puxa um saquinho com um pó branco dentro do bolso de sua microssaia, sorrindo ao abri-lo e depositar o pozinho fino em sua coxa, exposta pela falta de tecido, em uma fileira.

- Cheire – ela diz, levantando a cabeça para olhar para mim. Não é uma ordem, é mais um pedido, quase desesperado, como se ela estivesse me pedindo para beber água, depois de caminhar por horas e horas pelo deserto.

Eu encaro o pó em sua coxa e desejo que ele tenha um efeito mais forte e mais rápido do que as 7 lavagens cerebrais que tomei naquele bar.

Inalei a substância fina, depois de mais alguns segundo encarando-a, sentindo-a entrar pelo meu nariz, descendo por minha garganta e deixando meu corpo mole quase que imediatamente. Era como se eu tirasse um grande peso das minhas costas; como se eu pudesse resolver todos os meus problemas na semana que vem, e aproveitar para descansar à vontade agora; era como se eu estivesse em meu próprio mundo, e como se esse mundo ficasse bem acima do outro, onde vivi toda a minha vida.

Tudo que envolvia Tatia, Elena e esse suposto amor que Damon tem por mim; todas as preocupações, tudo o que não presta, tinha magicamente virado poeira em minha cabeça.

Eu me abaixei e terminei de inalar o caminho de pó, que ia até quase a barra da saia, e ela geme. Todos estão encarando minhas costas, posso sentir. Estão esperando que terminemos o que estamos fazendo para nos juntarmos novamente a eles. Levantei minha cabeça, observando a expressão extasiada de Vicky, e ela sorriu, mordendo o lábio, tragando o cigarro que pendia em seus dedos, segurando meu queixo com força, empurrando minhas bochechas pra dentro, forçando- me a abrir a boca e lançando a fumaça dentro da minha boca. Era a terceira vez, só em uma noite, que alguém me segurava assim. Eu não gostava, me sentia como gado exposto; mas estava lenta de mais para impedi-la. Acho que, no momento, eu estava lenta de mais até para eu decidir se queria ou não impedi-la.

Ela me encarava, analisando, tentando adivinhar qual seria o meu próximo movimento, mas eu não queria fazer nada e esperei para ver até onde sua ousadia iria. Então seus lábios tocaram os meus. Eu não conseguia pensar em muita coisa, só em mim, beijando aquela garota desconhecida e drogada, em um beco qualquer.

Não era assim que eu tinha planejado encerrar minha noite.


POV Stefan


             Minha cabeça estava a mil, trançando centenas de planos e estratégias ao mesmo tempo. Eu não conseguia evitar soltar um sorriso, só de pensar em Elena e Damon, juntos, e então em Katherine, ali, percebendo que meu irmão não a merecia. Ela estaria livre, finalmente, e então, talvez, eu tenha uma chance com ela.

Eu mal podia me controlar, minha alegria não podia ser contida com algo tão frágil, tão simples, quanto as paredes daquele quarto, então eu precisava sair. 

Eu sentia meus olhos faiscarem, só de pensar na possibilidade de que eu e Katherine tínhamos agora uma chance de ficarmos juntos.

Talvez isso não significasse muito para ela, já que ela não se sentia como eu me sentia. Quer dizer, ainda. Agora que Damon não estava mais no caminho, eu poderia fazê-la mudar de ideia muito facilmente, agora, que o encanto estava quebrado e ela provavelmente odiava meu irmão mais do que qualquer outra coisa.

Eu tinha que sair, ou acabaria por quebrar alguma coisa.

Puxei a jaqueta jeans que havia deixado sobre a cadeira, passando meus braços pelas mangas, caminhando em júbilo para a porta, mas o som de três batidas leves na madeira me frearam, me fazendo continuar meu caminho para a porta com mais calma.

- Achei que tinha saído com o Damon, Elena – digo ao vê-la parada ali, apoiada no batente da porta.

- Elena? – ela perguntou, seus olhos confusos e suas sobrancelha erguida em uma expressão quase ultrajada.

Bom, ou era Elena ou era...

- Katherine? – eu perguntei, ainda em dúvida. Era possível distinguir a alegria nessa única palavrinha quando eu a dizia, eu tinha certeza. No modo como eu dizia seu nome, no suspiro que o seguia, e no modo como meus olhos voavam através de sua imagem.

Ela revirou os olhos, impaciente, apesar de ainda confusa, me segurou pela nuca e passou a língua sobre os meus lábios.

Não. Não podia ser verdade. Eu não podia acreditar. Não podia ser ela, simplesmente... não podia.

Eu havia pensado em todas as possibilidades possíveis, menos nela aqui, parada à minha frente, me observando com aqueles olhos perspicazes novamente, adejando a porta de entrada de meu quarto de hotel. E eu não havia cogitado aquela hipótese, simplesmente porque era impossível. Por quê? Porque pensei que ela estivesse morta; que precisassem dela morta. Pensei que nunca mais nos veríamos de novo, e que eu nunca teria que lidar com nada disso novamente.


          Ela se afastou, mordendo o meu lábio e deixando que um sorriso diabólico tomasse conta de seus lábios.

- Tatia – eu disse, apenas declarando o óbvio.

- Olá Stefan – ela diz, apoiando os braços no batente da porta, sorrindo, sádica, divertido com a situação em que sabia que me colocaria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

espero que gostem e que comentem