Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 59
Eu Estou Aqui...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345394/chapter/59

O menino adormecera em seus braços, a donzela então velou seu sono durante o resto da tarde, tentou costurar um pouco sentada numa cadeira de balanço ao lado da cama, mas não conseguiu, apenas queria olhar para ele, tão tranquilo e quieto como uma doce criança, era ainda mais belo quando estava adormecido, parecia um anjo encolhido nos braços da chuva caindo suave e silenciosa para não despertá-lo.

Nestas poucas semanas que passara ao seu lado, Andreea despertou por Damian um grande sentimento, não sabia se era paixão ou até amor, mas era algo magnífico e majestoso, queria mais que qualquer coisa saber que em pelo menos algum lugar dentro daquele jovem coração houvesse a esperança de que um dia este sentimento fosse retribuído devidamente, mas uma parte de si acreditava que isto nunca iria acontecer.

À noite tinha o corpo quente dele junto ao seu, sentia-o invadir seu interior de modo suave e apaixonante, suas unhas cravadas naquela carne tão branca, deixando caminhos rubicundos traçando seu prazer, sentia seu suor, seu calor e seu esperma tão cálido dentro de sua vagina indicando que chegara ao ápice do ato efervescente, mas... Sabia que era apenas isso que teria.

A senhorita Voiculescu era uma mulher tão jovem, com uma beleza estonteante, poderia ter o que ou quem quisesse, mas por que foi querer justo aquele rapaz? Um adolescente tão sombrio e confuso que não sentia nada de relevante por ela, parecia regozijar-se neste sentimento de rejeição e até imaginou que não sobreviveria se não mais tivesse nem ao menos a pena dele.

Assim como fora com seu falecido marido, com os homens com os quais se deitara, com todos ao seu redor, precisava de pelo menos uma gota fria e amarga de amor para não morrer de sede, uma sede tão ansiosa e desesperada, até delirante.

Esse amor mesquinho era tudo de mais precioso que tinha em sua vida, pensava não conseguir nada mais do que aquilo, sabia que jamais seria capaz de ter algo além que migalhas emocionais, sentimentos e lembranças falsas projetadas por sua mente apenas para preencher um espaço vazio que gritava por conteúdo.

Por um momento imaginou que poderia dar um passo a frente, por um instante pensou que com aquele estonteante jovem seria tudo diferente, mas apenas estava enganada, dentre tantas outras vezes em que a decepção viera sussurrar verdades duras em seu ouvido, mais uma vez sentia, dava, matava e morria sem merecer nada em troca, mas mesmo não merecendo, recebia.

Era por isso que agora diamantes cintilavam no canto de seus olhos, era por isso que algo tão forte a cada segundo criava uma raiz tão profunda em seu peito, por não merecer e mesmo assim receber tanto carinho e atenção de quem não lhe devia nada, de quem não estaria ganhando nada com isto.

Passaram-se algumas horas nas quais o jovem ainda estava mergulhado docemente em sonhos que jamais tomaria conhecimento, uma das empregadas adentrou o quarto trazendo nas mãos uma bandeja contendo uma garrafa fechada de vinho e apenas uma taça.

___ Com licença, senhora ___ falou a criada.

___ Pode entrar ___ autorizou a mulher em tom brando.

___ Onde eu deixo isto?

___ Ali ___ respondeu apontando para o criado-mudo mudo ao lado da cama.

A mulher fizera como fora ordenado e antes de retirar-se do quarto, a dama lhe indagou:

___ Fez o que eu mandei?

___ Sim, senhora ___ respondeu a empregada com medo em seus olhos e um timbre trêmulo em sua voz.

___ Então saia daqui.

A criada saiu fechando novamente a porta.

Andreea olhou fixamente para o vinho diante dela e do garoto adormecido, sua expressão era séria e misteriosa deixando se levar pelo brilho escarlate refletido no fundo de seu olhar, logo voltou-se para Damian e começou a acariciar seu rosto, sussurrando em seu ouvido:

___ Ei, draga mea, acorde! Vamos, acorde.

O ferreiro deixou que aquela voz invadisse seu subconsciente e logo fora abrindo seus olhos podendo admirar o sorriso que a viúva trazia em seu semblante, vagarosamente levantou-se sentando e encostando-se a cabeceira da cama.

___ Dormiu bem?

___ Tive um pesadelo estranho ___ falou o menino ainda com uma voz sonolenta.

___ Lamento, querido. Mandei trazer uma garrafa de vinho unicamente para você.

___ Por quê?

___ Achei que estaria com sede quando acordasse.

___ Estou um pouco.

___ Ora então... ___ Andreea levantou-se e logo foi abrir a garrafa enchendo a taça ao lado que estava vazia e entregando-a a Petrescu com satisfatória alegria e gentileza ___ beba um gole.

___ Mulțumesc ___ agradeceu ele pegando a taça em suas mãos e a levando diretamente à boca.

Havia um brilho suspeito no olhar da viúva que não deixou escapar um só movimento, seus olhos pareciam que iam saltar quando o rubente líquido tocou os lábios do jovem, o primeiro gole foi apreciado de modo lento como se sentisse o gosto de cada uva usada na fabricação da bebida, os demais foram mais rápidos até não restar uma só gota na taça de cristal.

A dama observou tudo em completo silêncio, parecia que sentia prazer ao vê-lo executar cada monótona ação, como se com ele os momentos mais tediosos e banais fossem únicos e especiais, os olhos de Damian viam coisas invisíveis aos outros e com o passar dos dias em que esteve junto da mulher, ele a fez conseguir ver estas coisas também.

Andreea notava como era belo e gracioso aquele menino, andava, falava, sorria e até dormia como um anjo, seu rosto tal qual o de um deus, porém no fundo de seus olhos percebia-se a malícia de um demônio, enfeitiçavam, dominavam, usavam, pelo menos era assim que ela o via, um anjo vestido de demônio ou o contrário.

Quando depositou a taça sobre o criado-mudo, ela logo lhe ofereceu mais uma dose a qual ele aceitou com muita educação. Desta vez saboreou mais cada gole, como se tocasse os lábios da pessoa amada, não deixara escapar nenhuma sensação, nenhum sabor, tudo foi sincronizado e harmonioso, até o som de sua respiração e o suspiro quando a última gota desceu por sua garganta.

___ Estava de seu agrado, meu bem?___ indagou a donzela com excessiva preocupação que o garoto não pôde notar.

___ Como sempre esteve ___ respondeu ele sorrindo e entregando-lhe a taça.

___ Gostaria de mais uma dose?

___ Não, obrigado.

___ Como quiser ___ falou ela sorrindo ___, posso fazer alguma coisa por você? Deseja algo de especial para o jantar?

___ Sua companhia é o que mais posso querer.

___ Ora, fico muito feliz por isso, meu bem.

Petrescu notou o modo nervoso e triste como a senhorita falava e como suas mãos estavam trêmulas, ajoelhou-se no colchão ao se aproximar da amante e pegando uma de suas mãos e com a outra tocando seu rosto para que seus olhos se encontrassem, perguntou:

___ O que está havendo?

___ Por que estaria havendo alguma coisa?

O ferreiro pôde ver a si próprio refletido no olhar marejado da mulher, percebia a força que estava fazendo para conter as lágrimas, não exigiria dela o que no momento não podia oferecer, e então carinhosamente a envolveu em seus braços, seus alvos dedos mergulharam-se naqueles fios dourados, tão dourados quanto os de Mihaela.

Andreea sentiu um aperto tão grande lhe sufocar, como se uma mão esmagasse impiedosamente seu pescoço, o torcesse e a impedisse de respirar, sentiu seu coração diminuir de tamanho, parecia apenas uma pedrinha que fora jogada ao mar e que no mesmo instante afundara nas profundezas, mordeu o lábio inferior, apertou os olhos e até segurou a respiração, não queria parecer fraca, depois de todos esses anos não se deixaria levar por um garoto qualquer.

Porém Damian não era um garoto qualquer, era único, o primeiro que lhe deu atenção, carinho, afeto, a fez rir quando queria chorar, a pegou nos braços quando sentiu que iria cair, assim como fez com a pobre Mihaela, mas ainda não estava satisfeita, pois podia ter tudo dele, até sua mais cálida paixão, exceto o seu mais cândido amor, este nunca iria lhe pertencer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nascido Do Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.