Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 46
Uma Semana Monotonamente Agitada




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Na manhã seguinte, um alfaiate visitou o palacete a mando da detalhista mulher, o homem retirou as medidas do rapaz para fazer-lhe novas roupas, nas palavras da viúva, roupas que mostrariam sua posição perante a sociedade. Encomendou sapatos novos e mais alguns adornos para o jovem que não enxergava a real necessidade de tudo aquilo, fora um dia muito agitado para o adolescente que estava acostumado ao humilde sossego.

Os pensamentos de Damian corriam no mesmo ritmo que as horas de seu relógio de bolso banhado a ouro, um presente de sua senhora, fizera tudo que lhe ordenava sem retrucar, nem ao menos pensou em abrir a boca para dizer algo, pois não sabia que palavras sairiam, estava tudo mudado, não sabia ao certo se isto era bom ou ruim, tudo apenas mudou e algo lhe dizia que as coisas nunca mais voltariam a ser como antes.

Para Andreea, a semana passou depressa, mas para o sonhador, parecia que nunca ia ter fim, ele apenas a observava, sempre tão atarefada com coisas inúteis, percebia que estava feliz por ter agora alguém ao seu lado, um rosto jovem para admirar com lindos olhos para admirá-la. Notara que era um pouco bruta com os criados, mas que ao seu lado era como uma criança animada e carente de atenção.

Todas as noites ela o desejou, como da primeira vez em que deitaram-se juntos, a paixão era sempre a mesma da parte dela, o jovem já não poderia dizer o mesmo, desde o momento em que pisara naquele chão sentiu uma angústia invadir-lhe o peito, algo que não sabia o que era e que não poderia colocar em palavras, era um vazio imenso e terrível que lutava para escondê-lo de todos, até de si mesmo.

Petrescu apenas sentia-se leve e remido de todos os problemas apenas quando passeava pelo majestoso jardim da mansão, era magnífico como uma real visão do Paraíso, com tantas variedades de cores, tantas espécies de flores, árvores altas de grossos troncos que proporcionavam uma agradável sombra no fim da tarde, ele e a mulher sempre tomavam chá sob um sublime pessegueiro.

Ficava sentado, recostado em um tronco somente olhando para o céu, adorava ver o modo lento como as nuvens passavam, algumas desfaziam-se até sumir, em alguns momentos comparava-se com as nuvens, pensou estar desfazendo-se de seu passado e de tudo que um dia conheceu, até ele sumir por completo de sua memória.

Aquele pedaço de natureza era a joia mais rara de toda a área da mansão em sua opinião, pois era a única coisa que o fazia lembrar-se do bosque, o lindo bosque onde crescera brincando entre as árvores, onde nadava naquelas águas frias e relaxantes, onde por um momento teve o que sempre sonhou e em outro instante tudo se desfez como nuvens num céu cinzento.

Às vezes pegava escondido do escritório do falecido senhor Voiculescu alguns livros de contos ou poesias românticas, adorava ler e o romantismo medieval era algo que vendia-se muito naquela época na Europa, havia uma estante cheia destes estilos fantasiosos e sentimentais no qual Andreea nem se preocupava, ficavam solitários e empoeirados implorando para que bons olhos pudessem desfrutá-los.

O garoto atendia às súplicas de cada um deles, apesar de saber que a viúva não apreciava seu fascínio por leitura nada dizia, se toda a noite ele estivesse deitado ao seu lado pronto para satisfazê-la de qualquer forma que pedisse, não importava o que faria com o resto das horas de seu dia.

O ferreiro devorava cada livro como se fosse o primeiro de sua vida, lia cada palavra, cada frase, parágrafo com um ardor sem igual, sempre acompanhado do silêncio e da beleza daquele jardim que parecia ouvir seus pensamentos, assim podendo acompanhar a leitura no mesmo ritmo do rapaz, às vezes o vento vinha sussurrar algo em seu ouvido, porém nada tão sério a ponto de dispersar sua atenção.

Os momentos que ficava longe dos livros, longe do jardim, longe da paz e harmonia sentia-se desnudo por dentro, como se algo de muito valioso lhe fosse arrancado brutalmente do peito, eram as horas nas quais mais odiava, quando tinha que cumprir com os horários da exigente dama, acompanhando-a a todos os lugares que ordenava. O moço nunca lhe dizia uma resposta negativa, sempre falava o que ela queria ouvir, não havia motivos para decepcioná-la.


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