Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 4
Apenas uma Sombra na Parede




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Passada aquela noite exaustiva e estranha perante a visão do jovem pai, o pequeno Damian crescia forte e saudável com o decorrer dos meses, infelizmente Ionel quase não acompanhava as fases que o garoto passava, pois trabalhava do raiar ao cair do dia na ferraria junto de seu pai, o dinheiro não era muito, porém era capaz de sustentar a si e ao filho nunca deixando que faltassem-lhes nada.

Havia uma mulher chamada Irina, cuidava das tarefas domésticas além de ser uma ama de leite para a pobre criança órfã. Irina já estava na família Petrescu desde que Ionel era apenas um garoto, ela era uma mãe para ele e certamente cuidaria do pequeno Damian com o mesmo amor e atenção que dera ao jovem ferreiro.

Numa noite, a mulher estava sentada em uma cadeira de balanço bordando uma toalha de mesa enquanto o pequeno menino brincava com um boneco de madeira feito por um artesão do vilarejo, Ionel o dera de presente em seu primeiro aniversário. Ambos estavam sendo iluminados pela luz trêmula de um lampião que encontrava-se sobre o criado-mudo ao lado da cama do menino.

Pelo quarto, a chama inquieta desenhava estranhas figuras nas paredes de madeira, a dedicada mulher estava concentrada em seu trabalho enquanto de tempos em tempos ouvia as finas risadas da criança divertindo-se com o humilde, porém adorado brinquedo, se algo acontecesse ela estava ali para acolhê-lo, como sempre estaria.

O som da porta se abrindo no andar de baixo era sinal de que o rapaz acabara de chegar de mais um dia cansativo, enfiara a agulha na toalha para que ela não se perdesse, levantou-se e colocou o tecido sobre a cadeira para terminar mais tarde e quando fora em direção ao garoto para pegá-lo, espantou-se.

Damian estava brincando sentado sobre um tapete, ao olhar para a parede logo atrás do pequeno corpo do menino, a criada notara que sua sombra não era projetada na madeira, parecia que o boneco movia-se sem auxílio como se estivesse vivo, via-se claramente a pequenina silhueta do brinquedo flutuando no ar e até o grande corpo redondo da ama, mas o da criança não.

Seu coração disparara, entrou em pânico, mal ouviu o som dos passos de Ionel subindo as escadas, quando ele entrara no quarto ficara sem ação, não conseguia emitir nem ao menos uma palavra, não sabia qual seria a reação do homem ao perceber que seu filho não possuía sombra, porém para o seu alívio, o rapaz estava tão exausto e contente ao ver seu herdeiro, que nem ao menos vira este tão assombroso detalhe.

Inclinara-se para pegar o menino em seu colo, a criança o recebera com um carinhoso abraço, o moço fitou a ama notando uma estranha palidez em seu semblante, franzindo a testa ele lhe indagou:

___ O que houve, Irina? Parece que viu um fantasma!

___ Ah... Não é nada, eu só... Estava preocupada com sua chegada.

___ Você não muda nunca, não é, Irina? Já estou aqui, mulher!

___ Da¹! Ainda bem que está ___ disse ela soltando um suspiro nervoso.

___ Bem, estou faminto, espero que tenha algo especial aguardando-me na cozinha.

___ Da! Da, há uma deliciosa galinha assada que eu mesma preparei.

___ Mas que ótimo, irei me lavar, tirar estas roupas imundas e em breve descerei para deliciar-me com este prato que tenho certeza que está divino!

___ Irei preparar seu banho, dê-me o garoto eu o levarei para baixo, esperaremos ansiosos pela sua descida.

___ Tudo bem, até logo, meu garoto.

Com um forte beijo amoroso nas ebúrneas bochechas do menino, Ionel despediu-se momentaneamente e o entregou para a mulher que o levara até a sala de estar. Preparou o banho do rapaz e enquanto o aguardava para o jantar observava com um estranho olhar a criança de aparência angelical que no chão silenciosamente brincava.

Sua respiração tornara-se rápida e uma ponta de medo passara por seu corpo, o que estaria acontecendo com aquele garoto? O que vira fora real ou apenas um breve devaneio, pois passara a tarde toda bordando e sua visão já estava embaçada? Devia ser isso, o rapaz nada vira quando pegara o menino em seus braços, sim, era apenas um devaneio... E nada mais.


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Notas finais do capítulo

1. "Da" significa "sim" em romeno.



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