Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 24
O Baile de Máscaras




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Naquela noite todos reuniram-se diante da fonte de água que ficava no centro da singela, porém magnífica praça do vilarejo, as árvores estavam enfeitadas com flores, as barracas vendiam frutas, guloseimas e bebidas, os lampiões em volta iluminando o lugar, os músicos preparavam o repertório para aquela ocasião enquanto as pessoas iam chegando.




Todos com belos trajes, as mulheres com vestidos escuros e enfeitados, um mais bonito que o outro acompanhadas por seus noivos, maridos e as solteiras por seus pais, usavam máscaras brilhantes e muito bem decoradas, os homens trajando fraques e cartolas de cores frias ou neutras, alguns usavam tons pasteis, suas máscaras eram mais discretas, porém ainda assim tinham um certo charme.

A população ia e vinha andando pela praça, encontrando parentes e amigos que há muito tempo não viam, paravam para conversar, sentavam nos bancos renovados com novas cores somente para o início da primavera, bebiam e deliciavam-se com pequenos aperitivos, logo o grande jantar seria servido para os habitantes assim que a mesa fosse posta e os alimentos corretamente distribuídos sobre ela, foram feitos pelos padeiros, doceiros e cozinheiros da aldeia, como era a estação das flores, cores e aromas era o que não faltava naquele festival.

Damian estava novamente admirando sua imagem perante ao espelho de seu quarto enquanto ajeitava seu colete, nunca acreditou ser aquele jovem airoso e esbelto de que tanto falavam, via-se como um alguém como todos os demais, às vezes se perguntava se tinha mesmo todas as qualidades e características de que tantos mencionavam.

Olhava para si mesmo com um aspecto de dúvida, indagação, sempre comparando-se aos outros rapazes e percebendo que era diferente, porém diferente como? Era mais pálido, sem sombra de dúvidas, como se estivesse enfermo ou até mesmo morto há anos, os cabelos eram mais escuros, negros completamente, era um dos poucos jovens que tinha olhos tão azuis quanto o céu sem nuvem alguma para atrapalhar, era mais sensível, pensativo, taciturno, notívago, era algo que não sabia nomear.

Ficava encarando seu reflexo como se fosse um desconhecido, como se nunca houvesse visto aquele semblante em sua tenra existência, apenas o adolescente não conseguia perceber o quanto era belo e lascivo, estava ainda mais lindo trajando um fraque de linho da cor da noite e com uma tímida pérola adornando seu pálido plastron, assim como sempre gostou, poderia esconder-se nos braços da madrugada e desta forma ninguém iria vê-lo ou encontrá-lo, estaria sozinho no escuro como sempre desejou.

Fitou sua máscara sobre o colchão, ela destacava-se, era da mesma cor que seu fraque e seus lençóis eram níveos, poupara boa parte de suas economias para encomendá-la no alfaiate, só e especialmente para esta ocasião, não haviam muitas festas na vila, esta era a maior e mais aguardada, portanto os cozinheiros, alfaiates e até ferreiros como seu pai lucravam muito fazendo os preparativos para a comemoração.

Caminhou até seu leito para pegar o ornamento de veludo negro, olhou durante algum tempo para ela sem saber por quê, andou novamente até em frente ao espelho e a colocou, o objeto ocultava parte de seu rosto, porém quem o visse saberia que era o jovem Petrescu, os lábios de rubi e os olhos de safira o condenavam.

Ficou ainda mais sublime ao vestir a máscara, estava tão apíparo quanto um anjo noturno, trazia o brilho das estrelas em seus olhos, a luz do luar em sua pele e o sangue derramado no silêncio e na negridão em sua boca libidinosa. Usava luvas rubicundas do mesmo material que o enfeite que escondia sua face combinando com o colete de equivalente cor, estava garboso como um lorde, um lorde... Sempre que esta palavra lhe vinha à mente a imagem de Benjamin Grigore vinha lhe atormentar, era a segunda vez naquele mesmo dia que pensava naquele sujeito, entretanto seus pensamentos foram interrompidos pelo som de batidas na porta de seu quarto.

___ Entre!___ ordenou o adolescente.

Viorica adentrou timidamente o recinto e perguntou com uma voz trêmula:

___ O senhor já está pronto?

___ Estou sim ___ virou-se para a empregada abrindo os braços e até dando leves giros apenas com o tronco para que a criada tivesse uma perfeita visão de todo os ângulos de seu corpo ___, o que acha? Seja sincera.

___ O senhor está ótimo!___ respondeu a menina sorrindo e nervosamente apertando as mãos.

___ Viorica, eu pedi sinceridade.

___ Mas fui sincera, senhor.

___ Certo, não creio que esteja mal, passei boa parte do tempo me arrumando, senti-me como uma donzela.

Ambos riram.

___ Sua carruagem o espera, senhor.

___ Ah, obrigado por avisar, querida, espero não me atrasar. Não irá ao baile?

___ Não tenho roupa adequada, senhor ___ respondeu Viorica deixando seus olhos caírem assim como sua cabeça.

___ Ora, dragul meu, por que não disse antes? Eu gastaria tudo que tenho para deixá-la magnífica.

___ Não precisa se preocupar comigo, senhor, sou só uma criada.

___ Você é uma menina doce e gentil e que merecia tanto quanto eu estar neste baile.

___ No próximo ano eu irei...

___ Vou providenciar isso a partir de amanhã! E será a garota mais deslumbrante do lugar!___ disse o garoto deixando a menina encabulada.

Ele a tocou delicadamente no ombro e com um meigo beijo em sua bochecha despediu-se.

O jovem saiu pela porta do quarto, a órfã ouviu os passos dele descendo as escadas, o som da porta da frente abrindo e fechando, o ruído das ferraduras dos cavalos em contato com a terra, logo mais veio o silêncio, por fim estava sozinha naquela mansão, esquecida do mundo.

A garota direcionou seus olhos para a cama do adolescente, sentou-se delicadamente na beirada do colchão e começou a acariciar uma camisa lívida que havia sobre os lençóis de mesma cor, a menina pegara a peça de roupa aspirando suavemente o aroma que estava impregnado ao tecido, fechou os olhos deixando uma lágrima escapar.

Damian estava apreensivo quando chegou ao baile, havia tantas pessoas juntas que mal podia ver, temia não conseguir encontrar ninguém conhecido, começou sua busca passando por todos que estavam em sua frente, até que deteve-se quando viu algo que fez seu sangue ferver.

Em uma simples mesa com algumas cadeiras em volta estavam seus amigos, os mesmos daquela noite em que fora nadar no lago, Tristan estava no meio deles, não parava de sorrir e beber litros e mais litros de rum numa taça de bronze, estava bem vestido com um fraque azul de finas costuras e delicados detalhes nas mangas e na gola, ao lado dele estava Rosalind trajando um vestido verde musgo, mangas que iam até o cotovelo, um tímido decote, luvas pretas e rendadas, os cabelos soltos brilhavam mais que a taça que Dumitrescu não tirava dos lábios, estava usando uma máscara vermelha e decorada com poucos, porém belos traços.

O moço sentira uma pontada no peito ao vê-la ali junto ao companheiro, porém lembrara-se que ele a havia ganhado, pelo menos naquela noite ela seria dele, inteiramente dele e somente Deus saberia o que iria acontecer entre ambos quando todos do vilarejo fechassem seus olhos para uma noite justa de sonhos.

Iria dar novamente asas à sua imaginação, todavia fora interrompido por um alguém que lhe pegara pelo braço falando:

___ Aí está você, garoto, eu o procurei por toda a parte.

Petrescu direcionou seus olhos para onde ouvira a voz e viu que era a viúva Voiculescu, sua atenção foi inteiramente dada à ela, estava magnífica e sensual, um vestido longo, vermelho como seus lábios que permaneceram entreabertos enquanto observava cada detalhe daquele corpo jovem, esbelto e deleitoso, seu atrevido decote permitia ver-lhe os seios fartos e luxuriosos, estava usando luvas negras e uma máscara da mesma cor, seus olhos verdes e marcantes e sua boca volumosa pintada de carmesim o deixaram excitado.

___ Pe-perdoe-me, acabei de chegar ___ balbuciou o rapaz sem tirar os olhos de sua dama.

___ Tudo bem, draga mea, esta noite você pertence a mim, então vamos.

Os dois sentaram-se em uma mesa um pouco afastada, a mulher estava enchendo o ferreiro de mimos, levava-lhe uvas, cerejas e morangos delicadamente à boca assim como poucos goles de vinho, acariciava-lhe as mãos pálidas e o pescoço enquanto falava roçando os lábios em seu ouvido.

Rosalind fitou-os e depois disto não mais conseguiu desviar o olhar para outra direção, algo lhe atraíra a atenção, Damian estava diferente, nunca o vira daquela forma, aqueles trajes, o sorriso nos lábios, os olhos rutilavam ainda mais naquela noite, mordeu o lábio inferior ao vê-lo com a mulher mais desejada de todo o vilarejo, enchendo-a de carícias enquanto ela fazia o mesmo, olhou para o lado e viu que o que Tristan sabia fazer era somente beber e vangloriar-se para os amigos.

Quando o herdeiro Dumitrescu finalmente calara-se, a donzela resolveu comentar apertando as mãos:

___ Damian teve muita sorte em ter ganho a viúva Voiculescu como prêmio.

___ Sorte não é nada, ele teve foi um privilégio! Ai... Em pensar que eu podia tê-la ganho.

___ Não está satisfeito comigo?

___ É claro que eu estou, Rose, mas... Você tem que entender... É a viúva Voiculescu!

___ Não vejo nada de especial nela! É apenas uma prostituta barata.

___ Ela não é uma meretriz, se fosse seria mais fácil, apenas pagar para tê-la pelo menos por uma noite, ah o que eu não faria com essa mulher...

A garota sentiu uma pontada de raiva em seu peito, porém nada disse, preferiu o silêncio porque notara que o rapaz já estava bêbado e talvez estivesse dizendo estas coisas por causa do efeito do álcool, mas não parou de olhar na direção do ferreiro e da viúva.

Na mesa, a mulher estava contando histórias que o jovem mal estava prestando atenção, notava que já estava um pouco alterada por conta do vinho.

___ ... E então meu marido morreu, foi trágico, mas consegui superar ___ dizia ela.

___ Sinto muito pela senhora.

___ Oh não me chame assim, draga mea, até parece que sou uma anciã, me chame de Andreea.

___ Como quiser, senho... Ah, Andreea.

___ Assim está melhor! Ei, vou lhe contar um segredo, havia um bom tempo que eu estava querendo você, rapaz. Fiquei tão feliz em saber que é virgem.

___ Quem lhe contou isso?___ indagou o moço aparentemente surpreso e um pouco constrangido.

___ Ora, quem mais poderia ser?! Costel! Aquele velho maldito, fiz bem em oferecer-me a você.

___ Para quem mais ele contou?

___ Ninguém, ele apenas me falou para ter cuidado e ser bem carinhosa com você.

O adolescente sorri enrubescendo o rosto.

___ Seu semblante é tão doce quanto o de uma dama, sabia disso?

___ Já se deitou com mulheres?

___ Certamente, minhas damas de companhia satisfazem-me quando estou sozinha e entediada naquela mansão e cá entre nós ___ aproximou-se do ouvido do garoto ___ é uma experiência magnífica.

Começou a rir afastando-se um pouco.

___ Deve ter tido inúmeras aventuras de que gostara ___ comentou ele tomando um gole de vinho, um sinal de que sentia-se um tanto incomodado com aquele assunto.

___ A maioria, meu caro, acho que a fonte do prazer, porém não um prazer qualquer, a fonte do meu prazer está no fato de que sinto desejo por homens diferentes... Penso que não sobreviveria durante muito tempo deitando-me apenas com um único homem todas as noites da minha vida, isto seria terrível!

___ Nunca se deitou com o senhor Voiculescu?

___ Oh sim, algumas vezes... Nossa primeira noite foi horrível!

O belo jovem notou que a expressão no rosto da dama mudara, suas lindas esmeraldas perderam o brilho, seu rosto apagou aquela alegria causada pela bebida.

___ Como foi?___ inquiriu ele.

___ Cheia de gritos, dor, tapas, arranhões, eu não queria... E ele me forçou, segurou meus braços, abriu minhas pernas, eu era tão fraca, tão incapaz... Eu tinha só quinze anos!

Deitara sua cabeça no ombro do ferreiro e pôs-se a chorar, Damian acariciou-lhe os cabelos abraçando-a, olhou de relance para a mesa onde estava Tristan e percebeu que Rosalind não parava de observá-los. Ergueu suavemente a face banhada em lágrimas da viúva e beijou seus lábios lascivos, sabia que isto não fugiria da vista da donzela.

A garota ficou com a boca entreaberta e os olhos arregalados, a fala não vinha, não sabia ao certo o motivo desta reação, mas sabia que a incomodava e muito, não gostou do que viu, porém não conseguiu entender a razão de não ter gostado.


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