Quando Damian ouviu os suspiros sufocados de seu estranho reflexo, seus olhos recuperaram o brilho angelical e intenso que parecia-se com lágrimas reunidas no canto de seus olhos, não somente parecia, como eram. Duas lindas estradas cristalinas abriram caminho em seu rosto sedento por vingança, seus lábios trêmulos se entreabriram e a mão na qual agarrava firme o punho da adaga, suavemente deslizou para baixo.

Benjamin, com certo esforço, retirou a arma branca encaixada em seu peito deixando-a cair manchando o chão, já não fazia diferença, pois há uma hora havia tomado a liberdade de usar o sangue de Ionel como um novo tapete para a sala. Seu sangue era de uma cor escura, que se destacava e tingia sua delicada camisa de seda branca, a mancha rubicunda aumentava de tamanho a cada piscar de olhos.

Sentia a dor revivendo cada célula em seu corpo, sabia que não estava completamente morto e a dor lhe ajudava a enxergar isso naquele instante, mais do que em qualquer outro em que fantasiou com tanta certeza o fato de que a vida tivesse lhe deixado.

Damian ouvia o ar entrando entrecortado pela boca de Benjamin produzindo um ruído sufocado que voava exatamente na direção de seus tímpanos, Petrescu podia sentir tão nitidamente a dor de Grigore, como se fosse seu coração que estivesse despedaçado e sangrando, mas por um lado, realmente estava.

Mais duas lágrimas fugiram silenciosamente de seus olhinhos assustados, sentia-se sem ar, assim como o belo lorde a sua frente. Tinha medo, tinha pena, tinha ódio e dúvidas, não sabia qual sentimento ouvir, o que fazer, apenas assistia em silêncio a perda de sua semivida.

Benjamin sentia-se um tanto lisonjeado por ser a estrela daquele fúnebre espetáculo no qual Damian não desgrudava os olhos um segundo sequer, aquela foi a maior prova de amor que obtivera do rapaz, sua compaixão e admiração unidas até tornarem-se somente uma única coisa que escorria quieta daqueles olhos ternos.

Grigore, por dezoito anos esperou. Em algumas noites até se esquecia pelo que exatamente esperava, mas sua fé logo lhe reacendia o fogo trêmulo da esperança. Esperaria por anos, décadas, séculos, milênios se fosse necessário, jamais teria pressa, afinal, não importa o quanto tentasse fugir, jamais se libertaria desta prisão sem muros chamada eternidade.

Ben olhava para Damian, o silêncio se fazia entender melhor que qualquer palavra que pudesse sair dos lábios de um dos dois. Benjamin esperou pelo momento exato, agora era tarde demais e somente neste preciso ponto pôde entender algo no qual lhe devorava o interior durante dezoito longos anos: por mais que esperasse, lutasse, fizesse ou até poderia ter feito, nada conseguiria a não ser uma tétrica exaustão. Damian não era seu... Damian nunca seria seu!

Naquele instante Benjamin soube, e os dezoito anos obscuros, aos quais pacientemente esperou, agora escorriam sem cessar por seu peito chagado, levando as lamúrias, os medos, o amor.