Alice Madness Insanity escrita por Lizzie


Capítulo 3
Dezessete finalmente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345173/chapter/3

Numa fria noite de sexta, eu cheguei em casa relativamente tarde, fui direto para o quarto e encontrei Caitlin dormindo, provavelmente exausta pelos treinos de vôlei. Vê-la inconsciente, tão doce e angelical e indefesa, era tão... Sem definição para isso. Ela era linda de todas as formas possíveis.

Eu não sentia nem um pouco de sono. Vesti uma camiseta qualquer e me sentei na cama ao lado dela. Passei longos momentos fitando-a em seu sono. Uma fofa. Perguntei-me com o que estaria sonhando. Perguntei-me o que ela pensava de mim, quando acordada. Perguntei-me tantas coisas e sabia que nunca teria coragem de questioná-la. E quando me cansei de fazer perguntas para o vento, deitei e dormi abraçando-a de conchinha. 

Naquela manhã de sábado,o quinto dia no meio do mês da deusa Maia, um turbilhão de coisas desconexas me fez sentir como se eu estivesse perdida em outra dimensão. Tudo começou quando eu acordei  totalmente indisposta a qualquer coisa que me levasse a sair da cama. "Ah não! Estou ficando velha!" E porora estava sozinha também. Caitlin já havia se levantado. Arrastei-me para fora dos lençóis que me envolviam e pediam pra que eu ficasse um pouco mais. Ok. O que eu faria em seguida? Tomaria um banho e depois eu pensaria melhor.

Tomado o banho, sentei de novo na cama e antes que me decidisse sobre qualquer coisa que faria pra comemorar, Caitlin adentrou o quarto. Senti um calor no peito, a presença dela iluminava tudo ao meu redor.

- Bom dia! - Sorri em resposta - ih, já vi que a felicidade passou longe daqui hein...

- Não é isso, é que por ironia do destino, hoje eu não to bem.

- Semessa! Eu e Kim já convidamos o pessoal pra festinha que vamos dar aqui em casa hoje à noite. Vai ser um arraso!

- Ah, vai é? - Entrei em estado de pânico. "Festa! Não!"

Ela me olhou desconfiada, como se pudesse prever que eu realmente não sou fã de festas, e além do mais, eu podia apostar que a maior parte das pessoas que estariam presentes era amigos dela, não meus, naturalmente. Eu definitivamente não era do circulo dela.

- Deixa disso, aposto que vai gostar. Durante o dia eu nem vou te incomodar, mas não vai escapar da festinha à noite. 

Eu não podia discutir com ela, apenas. Caitlin saiu do quarto me deixando sozinha de novo, e eu nem sabia se estava feliz ou assustada com o que ela estava preparando... Enfim, se eu bem me lembrava, o que eu havia feito nos meus aniversários anteriores? Nada. Nada por que eu sempre ficava em casa mesmo, e minha avo fazia um bolo pra mim e... Se eu continuasse lembrando dela iria chorar, então desviei meu pensamento para outra coisa que me chamou a atenção de repente. Um chapéu!

Sim. No ano anterior eu havia ganhado um chapéu, bem charmoso, que eu usava quando me inspirava em visuais folk. Mas foi algo mais ou menos como achar um chapéu com dedicatória 'não se sabe de quem' juntamente com meus outros presentes: um livro de meu pai, uma câmera digital de Caitlin e um suéter de minha avo. E eu jamais soubera de onde surgiu aquele chapéu. Pois bem, abri o armário de roupas e ficando na ponta dos pés, alcancei o chapéu em algum lugar no meio da bagunça. Então vesti um vestidinho preto simples, e na duvida entre calçar meu par de Vans pretos ou de mocassins floridos, optei pela primeira opção.  Por sorte eu havia retocado a cor rosa (californiana) no meu cabelo, de forma que independente do que acontecesse, eu estava bem comigo mesma naquele dia.

Decidi que não ligaria pra Kim nem Chris. Peguei minha mochila jeans e também os impressos da minha fanfiction. Nada me inspiraria mais do que isso. Então sai de casa indo tranquilamente pra ir a lugar nenhum.

Estava passando por uma avenida movimentada, em direção ao Parque do Lago das Rosas quando, por algum motivo, decidi entrar numa lojinha mística que me chamou a atenção. Entrei e fiquei olhando os artigos contidos nas prateleiras empoeiradas da loja. Tinha tanta coisa interessante, mas como uma escritora, o que atraiu meu olhar, magicamente, foi uma pena. Pena? Sim, uma pena.

- Então te interessa a pena mágica?

- Como? - Olhei confusa para o atendente. Primeiro eu me surpreendi, pois não o havia visto ali perto de mim. Depois eu me surpreendi também por que era um rapaz jovem, e bonito, não uma senhora com cheiro de incenso como eu imaginava que encontraria numa loja desse tipo. 

- Isso é uma pena mágica, pra pessoas que preferem 'escrever' seu próprio destino.

Certo. Eu fui até Saturno e voltei de tão longe que voou meu pensamento. Mas logo voltei a meu estado normal, totalmente consciente.

- Desculpe, mas eu não entendo...

- Bem, basicamente não é nada de extraordinário. Se tu acreditas em algo, e principalmente em palavras, esse é o item certo pra você.

Nesse momento, eu me convenci de que deveria adquirir aquela pena. Comprei-a. E quando ia saindo da loja, o atendente bonitinho me chamou de volta.

- Ei, leva isso também! Vai precisar. - Ele estendeu a mão pra mim e nela havia uma bússola prateada, linda! Não que eu entendesse a ligação entre uma pena de escrever (em que século estamos mesmo?) e uma bússola. Mas tudo bem, sorri e aceitei, acenando para o garoto enquanto saia da loja, feliz da vida.

Continuei andando, dessa vez até o Parque pra onde eu realmente pretendera ir até então. Lá eu me sentei na grama, perto do Lago das Rosas, e tirei minhas folhas da mochila. Comecei a ler, e então minha mente viajou de novo, achei que estava ficando boa a minha estória. E por fim, acabei me focando no meu personagem especial. Era alto, tinha olhos azuis cinzentos e o cabelo era abaixo dos ombros, ondulado, escuro, lindo. Tinha traços delicados, porém transmitia seriedade, e era dono do sorriso mais lindo de todos que eu jamais vira. Ou quase todos, por que antes dele vinha Caitlin. Mas isso não eram coisas que eu tinha escrito, eu havia desenhado mesmo. E admirava meu próprio desenho, por que achava que jamais encontraria alguém assim, fora do papel. Então escrevi mais algumas características dele, quanto ao temperamento e etc., e quando percebi, já anoitecia. 

Voltei para casa rapidamente, e quanto mais eu me aproximava mais sentia a ansiedade tomando conta. Quando finalmente abri a porta de entrada, me deparei com um cenário lindo: minha casa apinhada de conhecidos meus da escola; meus amigos me esperando; musica alternativa; clima bem legal e descontraído. Fiquei até feliz, nunca havia tido uma festa de aniversario antes. 

Todos me recepcionaram desejando-me parabéns e depois a festa continuou como estava antes, e Caitlin veio até mim com um sorriso enorme, me abraçando. 

- Tenho uma coisa especial pra você... – Ela me puxou pela mão levando-me até o armário debaixo das escadas. Por instinto olhei ao redor procurando por Kevin, e ao mesmo tempo sem entender o que se passava. Quando passamos pela porta abaixando-nos para não bater nossas cabeças, entramos no armário e não fechamos a portinha, deixando um pequeno vão. Ela me olhou bem no fundo dos olhos e se aproximou devagar, deixando que nossa respiração se misturasse naquele pequeno espaço entre nos.  Senti meu coração descompassando completamente, esperei tanto tempo por um momento assim, mas nunca imaginei que seria justamente com minha meio-irmã, até porque, passei anos negando a mim mesma o que sentia por ela. Pelo proibido.

Não saberia descrever com precisão como as coisas sucederam, apenas fechei os olhos e deixei que aqueles lábios tocassem os meus, imaginei cores dançando à nossa volta, meu coração saltava como uma escola de samba, minhas mãos se entrelaçaram nas dela, mil borboletas esvoaçavam em meu estômago, nossas línguas dançavam e ela explorava cada canto da minha boca. Puxei-a para mais perto de mim, mas como o espaço era escasso, acabamos nos recostando numa parede do pequeno armário, e nesse meio tempo, nosso beijo não se prolongou muito mais do que isso. Quando abri os olhos, a primeira coisa que vi foi o sorriso mais lindo, o dela. Depois algo me chamou a atenção.

Pensei ter enlouquecido de vez, mas a verdade é que no pequeno vão da porta do armário debaixo das escadas da minha casa, havia um coelhinho branco me fitando, e quando percebeu que eu o olhava também, ele se voltou para a porta e saiu correndo. Imagino que  naquele momento Caitlin tenha me odiado por tê-la deixado para ir atrás de um coelhinho, que pelo visto, só eu estava enxergando...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alice Madness Insanity" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.