Alice Madness Insanity escrita por Lizzie


Capítulo 1
A mudança




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O sol invadia meu quarto, ou o quarto que durante toda a vida eu chamara de 'meu' até então. Os raios que entravam pela janela expandiam sua luz alcançando a cama onde eu dormia, de forma que escondi meu rosto inchado de sono embaixo do edredom estampado de borboletas, mesmo sabendo que não voltaria a dormir assim tão facilmente.

Toc toc toc.

- Bom dia Megan! Levante-se e termine de arrumar tuas coisas depois que comer, ok?

- é, pai, pode ser.

Não me levantei de imediato, apenas me sentei na cama ainda e deixei que minha cabeça começasse a processar tudo o que estava acontecendo em minha vida, numa tentativa de organizar minha mente. Confusão. Não funcionou afinal, constatei depois de um breve momento em pensamentos aleatórios e perturbadores.

Olhei ao meu redor e comecei a reparar nos moveis que permaneciam da forma que costumava ser desde antes de eu nascer. Isso incluía o armário vazio aonde até o dia anterior eu guardava minhas roupas e também uma velha maquina de escrever que eu levaria para minha ‘nova’ casa, naquela noite. As borboletas coloridas e discos de vinil na parede; a parede solitária pintada de azul que possuía a única janela naquele cômodo; Os diversos livros espalhados por todos os lados... Coisas que eu jamais pensaria em modificar, até porque mostravam o quanto eu tinha em comum com a antiga moradora do quarto.

Me perguntei se Hayley foi feliz vivendo naquela casa, tão afastada da cidade em si. Como era a relação dela com a minha avo, que sempre foi tão boa comigo. Como ela se sentiu ao descobrir sua gravidez, sabendo que tinha uma doença terminal... E muitas outras coisas depois disso. Basicamente eu sempre tinha muitas perguntas a fazer e poucas respostas para as mesmas.

Resolvi terminar de organizar tudo antes mesmo de tomar café da manhã, de forma que depois de ter me trocado, a ultima coisa que fiz antes de sair do quarto foi guardar um belo retrato de Hayley – minha mãe – dentro do meu livro favorito, Alice no Pais das Maravilhas. Um velho exemplar que pertencera a ela. Então eu desci para o primeiro andar e lá encontrei a minha avo, de quem sentiria muitas saudades, sentada à mesa com o meu pai, que sorriu para mim quando adentrei à cozinha.

Sorri levemente para ambos e me sentei também, pegando uma torrada e servindo geléia de amoras nela; minha avo sempre comentava que isso era outra coisa em comum que eu tinha com a Hayley. Bobagem.

A verdade é que eu estava insatisfeita com a minha situação: fui criada pela minha avo materna e agora, no fim da vida dela, tinha que partir porque ela não queria que eu presenciasse algo tão triste, mesmo que provavelmente fosse morte natural de velhice. Eu me sentia como uma traidora, afinal, ela me acolhera e agora eu a deixaria, num momento como esse, sozinha. Porém isso era escolha dela, eu mesma jamais o faria.

Quando terminei minha refeição subi novamente e peguei minhas malas, levando-as para o andar térreo (meu pai se ofereceu para fazê-lo, porém não) e ao voltar para o quarto para pegar uma ultima coisa - minha mochila - levei um susto que me fez arrepiar até a alma! Olhei de relance para o espelho na parede, emoldurado em formado redondo, que o fazia parecer um arco e, vi outro reflexo além do meu. Se tivesse visto apenas uma garota pálida, de longos cabelos loiros tingidos de rosa da metade até as pontas, e finura aparente, estaria tudo bem. Mas atrás de mim, a certa distância, eu pensei ter visto minha mãe, tão jovem quanto era quando morreu, o que me fez piscar freneticamente meus olhos castanho claros que agora, estavam discretamente úmidos.

A viagem que me levaria para a casa do meu pai – onde eu passei as férias de verão todos os anos de minha vida – durou até a noite. Até o momento em que pisei em Violet Hill, tentei ocupar minha mente com qualquer coisa que não me lembrasse daquele espelho. E então me ocorreu um pensamento que me fez sentir o sangue gelar: Caitlin. Pois é, eu não era a única filha de Charles. Ele havia se casado depois da morte da Hayley, porém se divorciou, e como eu estava sendo criada pela ex-sogra dele, fez questão de ficar com a guarda da minha meia-irmã. Tudo bem, isso não era problema já que eu e ela sempre nos demos bem, certo? Quase. O problema é que éramos próximas demais...

Chegando à minha ‘nova velha casa’, suspirei aliviada quando Caitlin surgiu na calçada de casa, sorrindo e me abraçando. Depois ela ajudou nosso pai a levar todas as minhas coisas para dentro. O detalhe é que além do quarto de Charles, só havia o quarto de Caitlin, com uma cama de casal, que sempre dividíamos sem reclamar. Tudo bem isso se durante férias, mas eu ainda não havia pensado que agora essa era a minha condição permanente. Logo, eu não teria mais o meu quarto com nostalgias de minha falecida mãe, e ela não teria o quarto de filha única o qual sempre dividiu comigo durante algumas semanas dentro de um ano inteiro. Agora era o nosso quarto. Então, mais proximidade ainda...

Por um lado eu me sentia perdida e lamentava o rumo que as coisas tinham tomado. Mas por outro lado fiquei satisfeita que fossem essas circunstâncias, ou seja, poderia ter sido pior. Na casa de minha avo, eu não tinha ninguém além dela. Minhas colegas de classe moravam sempre muito longe de mim, ou no caso eu delas, já que vivia numa pequena casa afastada do resto, o que me tornou uma pessoa simples e caseira. Minha ocupação era sempre estudar, cuidar do jardim, e entre mil outras coisas que eu aprendi que podia fazer pra me divertir sozinha, ler e escrever era a melhor de todas. E isso era um talento natural meu, não exigia nenhum esforço. Então eu me baseava em diversas coisas pra escrever, e escrevia, e não me cansava disso nunca. Até que eu decidi fazê-lo pelo resto da vida. Era mais ou menos nisso que eu pensava quando surpreendi Caitlin na porta de nosso quarto me observando, levemente divertida com isso. Me dei conta de que eu deveria ser uma pessoa um tanto expressiva já que ela parecia ter idéia de meus pensamentos baseando-se apenas em me olhar por um breve instante.

- Você ta bem? – perguntou.

- Já estive melhor, mas eu supero...

Sorriu, sorri também.

- Vem, o pai pediu pizza pra gente! – Concordei me levantando e seguindo-a escada abaixo.

Por um instante me lembrei de um dos poucos pontos positivos nisso tudo: em Violet Hill eu já conhecia algumas pessoas, então, pelo menos não estaria sozinha, apenas precisaria me adaptar a algo que felizmente, não era tão novo pra mim.


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