A Rainha de Copas escrita por Kaya Terachi


Capítulo 12
A antitoxina.




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O moreno subiu rápido os degraus, pulando alguns deles que ficaram para trás e finalmente, deu de cara com a porta do quarto dela, estava aberta e ali estava Bruce, a observando na cama, pensativo, ou talvez preocupado. A garota estava deitada sobre os lençóis brancos, a face paralisada, estava linda, mesmo fraca. Aquela força e vitalidade que ela tinha, havia sumido com o tempo. Estava coberta com um grande cobertor quente e respirava com a ajuda de alguns aparelhos, o rapaz não aguentou e teve de segurar as lágrimas nos olhos.
– Mon Dieu, Bruce... Me diga que ela ficará bem.
Bruce não o respondeu por longos instantes, atônito a observar a jovem.
– Bruce! Eu preciso saber se ela vai ficar bem! Como... Como estão as crianças?
– Bem. Estão bem. Sabe, eu acho que já esperei demais.
– O que? Como assim?
Ele fez uma pausa e caminhou a se sentar na poltrona ali ao lado da cama, ainda a observá-la.
– Eu vi médicos entrarem por aquela porta, eu vi enfermeiras, psiquiatras, todo tipo de pessoa, especialistas, e todos diziam a mesma coisa... Esperar. Eu já não tenho mais esperanças de que esperando ela vai melhorar. Não posso vê-la morrer assim, sozinha nesse quarto, com os dois filhos dela. Ela é uma boa pessoa.
O moreno em pé suspirou e sentiu as lágrimas que escaparam de seus olhos escorrerem pela face até dobrar a curva de seu queixo.
– Bruce, diga que podemos fazer alguma coisa.
– O último médico que entrou aqui, disse que ela não tinha mais muito tempo de vida. Disse que ela iria morrer em breve, mas eu estou cansado desses diagnósticos. Droga, se eu tivesse tentado antes, não a teria feito sofrer tanto.
– Tentado o que?
– Há uma antitoxina, já a usei antes contra alguns tipos de tóxicos, mas ela nesse estágio, eu tinha medo de aplicar e matá-la, mas eu simplesmente não posso vê-la assim. Os médicos me disseram para não dar nada que não fosse prescrito para ela, mas eu já cansei de brincar, é nossa ultima chance.
– Você... Você tem essa antitoxina pronta?
– Tenho, eu preparei por precaução.
– Então aplique!
– Eu o farei, quando a última médica vier essa tarde...



Três horas da manhã. Era o que o relógio marcava, estava frio, muito frio, e mesmo abaixo da grossa camada de cobertores, a garota não conseguia dormir, virava na cama, de um lado para o outro pensativa. Talvez devesse levantar e escrever algo, desenhar algo, isso sempre ajudava a si com os próprios problemas, a própria psiquiatra do Arkham havia dito isso a ela, e era isso que faria. Ela tossiu, jogando os cobertores ao lado, sentia-se fraca pela intoxicação que corria pelas suas veias, matando-a cada vez mais, lentamente e rastejando sonolenta até a mesa conseguiu alcançar um papel e o lápis.
Ela rabiscou a folha, num desenho de um rosto humano com características bem singulares, o principal, era o sorriso que se estendia quase de orelha a orelha na face borrada pelo lápis, era ele, Coringa. Ah, e como sentia a falta dele, queria estar com ele de novo, daria tudo por isso. A brisa fria entrou através da janela, esquecera que a manteve aberta para olhar a lua antes de dormir, ela se levantou e caminhou até a cama, pegaria um dos cobertores, mas não queria fechar a janela, talvez algum tipo de superstição própria, por uma idiotice, havia feito um pedido a uma estrela brilhante no céu, havia pedido que ele voltasse. Mas antes que pudesse alcançar a cama, algo a puxou pela cintura, agarrando-a contra o corpo e levou a outra mão sobre os lábios dela, num sinal para que fizesse silêncio, só então notou que alguém havia estrategicamente adentrado o quarto pela janela, no segundo andar da mansão Wayne, quem seria louco o suficiente? Conhecia alguém que era.
Ele a virou, devagar e ela ergueu o olhar em direção a face dele, não era possível... Como? O que ele estava fazendo ali? Será que ficara maluca? Não... A pergunta era como ele havia fugido do Arkham, mas precisava processar as palavras, antes de dizê-las. Ele havia retirado a mão de seus lábios e sorriu a ela, o sorriso delicioso e malicioso que tanto amava.
– Como... Como você...
– Como escapei do Arkham? É uma longa história, digamos que depois que se escapa uma vez, se escapa o tempo todo, minha querida.
– Mas... Você é louco. O que faz aqui?
– Eu, louco? Me diga uma novidade, Angie. Eu vim te ver, ora.
– Me ver?
– É claro. Você ainda é minha, não é?
Ela uniu as sobrancelhas, parecia ponderar por alguns segundos a se afastar dele, que a observava ainda com os braços abertos, recém terminado o “abraço” entre ambos.
– Como estão os nossos filhos?
– Bem...
Ela murmurou e tossiu, havia perdido o controle da respiração de novo, droga! Sentia as mãos trêmulas, o corpo todo trêmulo, ele sempre foi capaz de fazer isso consigo, mas agora era diferente, era por alguma coisa horrível destruindo a si por dentro. Ela tentou se apoiar na parede e antes que caísse, ele a segurou, observando a face tão linda da garota a frente, e ela retribuiu o olhar, sentindo-se tão segura nos braços dele, como nunca esteve em nenhum outro lugar antes. O amor é assim afinal, faz você querer ser consolado pela pessoa que te fez chorar. Ele se manteve em silêncio por segundos, e parecia ter durado uma hora inteira, os olhos dele estavam fixos aos dela e o sorriso lindo tomou conta de sua face, ah e era como uma droga pra ela, amava aquele maldito sorriso. As lágrimas preencheram os olhos dela até que transbordassem e escorressem pela face, ela o abraçou com toda a força que pôde e chorou, pela primeira vez, em anos, ela chorou. Ele a abraçou e não disse nada, ao contrário do que ela pensava, mas o outro estava atônito, nunca havia visto ela chorar.
– Coringa... – Ela disse em meio às lágrimas.
– O que foi, Angie?
– Me tire daqui... Por favor... Eu não aguento mais. Eu vou para onde quiser, eu faço o que você quiser, só quero ficar com você, por favor. – Disse a segurar o terno dele e observá-lo.
– Eu não posso fazer isso, sabe que é muito arriscado, é melhor ficar aqui agora enquanto as crianças ainda não nasceram.
– Eu não me importo, por favor... Eu imploro, sabe que eu nunca fiz isso... Eu...
Antes que ela pudesse terminar, ele se aproximou da garota e lhe segurou o queixo, erguendo–lhe a face em direção a si e a beijou intensamente, aproveitando cada centímetro dos macios lábios da garota que de olhos arregalados observava a face à frente, deixando escorrer a ultima lágrima pela face, antes que fechasse os olhos e aproveitasse o toque do outro.
Os braços dele a envolveram num caloroso abraço, tão envolvente que ela chegou a pensar que nunca havia sentido um abraço assim vindo dele, e estava certa, fora a primeira vez que o rapaz a abraçara dessa maneira, apertando-a contra o corpo dele enquanto seguia com o toque dos lábios, confortando-a com aquele simples gesto de carinho, sem palavras, sem demais demonstrações, sem sermões ou nada do tipo, apenas conforto.
Ele seguiu junto dela, empurrando-lhe o corpo em pequenos passos para trás até que finalmente alcançasse a cama e com cuidado deitou o corpo dela no local, se debruçando sobre ela. Num pequeno aparte no beijo, ele pôde ver a face tão bela da garota que jamais esquecera, nem em um momento que se afastara dela, ela era sim, única, como já pensara diversas vezes. E aquela face angelical, corada pelo sol, havia ficado branca, tão branca como uma nuvem, e gostava de compará-la a tal, porque era tão branca e macia quanto, estava quase semelhante a si, com a face branca e os lábios corados num vermelho que parecia tão vívido, talvez pelo beijo dado a pouco, ou talvez, ela estivesse mais envolvida consigo do que nunca, pois sabia que algo próprio corria em suas veias e estava matando ela, como um doce veneno.
Ela nem pôde ver quando ele retirou o paletó, jogara-o no chão em alguma parte do quarto já longe de sua vista e agora retirava a gravata e logo após, a camisa que atingira o chão sem o mínimo ruído, como uma pena. Ela até ousou olhar a porta, preocupada por um instante com Bruce que dormia num quarto a pouca distância do próprio, mas naquele momento, não se importaria de ser presa e jogada numa cela para apodrecer no Arkham se pudesse antes lhe tocar a pele mais uma vez, e senti-la junto à própria.
O olhar dele percorreu o corpo dela com um desejo inexplicável, se sentia atraído por ela como nunca se sentira antes, e sabia que aquele arrepio que percorrera a espinha ao retirar a camisa não poderia ser de frio, sim, era desejo. Desejo de possuí-la, fazê-la chamar o próprio nome mais uma vez, de sentir a pele macia dela junto à própria, como antes fazia, mas dessa vez, provando cada pedaço de seu belo corpo com suas curvas tão suaves.
As mãos dele deslizaram pelo corpo da garota e devagar lhe arrancaram cada peça que cobria seu corpo, impedindo a visão, ah, aquelas roupas eram quase um pecado, por esconder de si um corpo tão lindo quanto o dela. As mãos hábeis lhe percorreram o corpo com malícia, embora ainda tão delicado, buscando sentir cada pequena parte da pele, que arrancou dela um pequeno gemido de prazer.
Ele usou ambos os braços para se apoiar na cama sobre ela, um a cada lado de seu corpo na altura da face, ele se abaixou e lhe beijou o pescoço, uma, duas vezes, dando-lhe delicadas mordidas sobre a pele. Como ele poderia ser delicado? Não sabia. Não sabia o que se passava na mente dele, e nem na própria, e estava confusa demais para se perguntar algo do tipo, o que importava era que pela primeira vez, sentia que ele era completamente próprio, que pertencia a si.
O nome dele quase lhe escapou os lábios quando sentiu os beijos dele se dispersarem sobre o próprio corpo, lentos e precisos, como uma carícia. Ela deslizou a mão pelos cabelos esverdeados do outro, agarrando-os entre os dedos e os apertou sutilmente, abrindo um sorriso na face, e pôde jurar que também sentira-o sorrir contra a própria barriga, onde seus lábios depositaram alguns beijos.
Em um instante ele estava sobre ela novamente, a face na altura da outra, observando-a fixamente com o sorriso nos lábios, mas não era o típico sorriso de sempre, maldoso e amedrontador, era um simples sorriso de satisfação. Ele se abaixou e lhe beijou os lábios, num beijo tão envolvente quanto o último, que tomou todos os suspiros da garota e até abafou o gemido sutil que ousou lhe deixar os lábios ao senti-lo novamente dentro de si.
Ele manteve o beijo, firme como cada movimento prazeroso sobre o corpo dela, e embora já houvessem feito isso tantas vezes, era como se aquela fosse a primeira. Cada toque da pele dela, parecia causar uma diferente reação em si, sentia-se um adolescente curioso, ingênuo, ansiando pelo corpo dela. Uma das mãos percorreu o corpo da garota, firme em carícia, parecia um pecado deixar aquele corpo sem um toque das mãos, ainda mais sabendo que tudo aquilo acabaria em poucos minutos e teria que ir embora, e deixá-la para trás, como uma princesa que não pôde ser salva, pois o príncipe dos seus sonhos não era o mocinho, e jamais seria. Ela tremia, estremecia de prazer, pedindo por mais a cada toque e ousou chamar o nome dele várias vezes em sussurros, que as vezes pareciam tão surreais, que se quer podia acreditar tê-lo feito. Quer dizer, ele estava realmente ali consigo?
Aquelas carícias que pareciam durar horas, na verdade duraram minutos. Mesmo que a noite fosse fria, o rapaz tinha o brilho do suor em sua pele, assim como a garota abaixo dele, e sentia-se mais viva do que nunca, embora a morte se apoderasse de si cada vez mais a cada segundo. Não se importava. Poderia morrer ali naquele momento. Estava feliz como nunca esteve. Uma das mãos alcançou a face do outro e acariciou-o por instantes, a mão trêmula e hesitante ajeitou os fios de cabelo fora do lugar, que caíam sobre a face dele, mas antes que pudesse avançar mais, ele a segurou com a própria, entrelaçando os dedos aos dela a abrir um sorriso delicioso nos lábios. Aos poucos, o tremor cessou.
– Eu te amo. – A garota murmurou a observá-lo e ele se aproximou a lhe selar os lábios.
– Eu também te amo, Angie.
– Então... Me leve com você.
Ele pareceu pensativo por alguns segundos a observá-la e por fim, negativou com a cabeça.
– Podemos... Podemos ficar juntos. Fugimos de Gotham, vamos pra bem longe, onde ninguém possa nos encontrar. E podemos criar nossos filhos. Você não gostaria disso?
– Você sabe tão bem quanto eu, Angelique. Eu pertenço a Gotham. Eu jamais vou sair daqui. A minha essência, tudo que eu criei. Jamais poderia ir embora. Mas escute minhas palavras... Eu vou dar aos meus filhos uma vida decente.
A garota gritou ao fim da frase, mas teve o grito sufocado pela mão dele contra os lábios dela, sentia uma dor incrível na própria coxa direita, quase insuportável e ele sorriu, para depois gargalhar, levantando-se e deu a ela a visão da seringa fincada no local, cujo liquido já havia sido aplicado.
– O que... O que você... ?
– Não se preocupe, eu a amo demais para matá-la ou vê-la morrer. Tudo vai ficar melhor agora.
Enquanto falava, o outro vestia as próprias roupas, ajeitando o paletó em frente ao espelho do quarto. A garota levou a mão até a coxa, hesitante a agarrar a seringa e fechou os olhos para obter coragem e suportar a dor de arrancá-la, mas por fim o fez, deixando escapar o gemido que se perdeu dentro do quarto espaçoso.
Ele se aproximou da janela e a observou sobre a cama uma ultima vez, sorrindo a ela como de feitio.
– Até breve, minha Angie. Não se esqueça de mim e sempre feche a janela, é perigoso, algum criminoso pode entrar. - Ele riu e saltou para fora.
A ruiva revirou-se sobre a cama, sentia uma dor horrível no próprio corpo, e em sua cabeça ecoava a frase “Eu a amo demais para matá-la ou vê-la morrer.” O que ele quis dizer com isso? Ela tentava pensar, mas sua cabeça doía, seu corpo doía, tudo doía, era como um grande pesadelo do qual não podia acordar, e nele só existia dor.
Os olhos dela se abriram, assustada com seu próprio grito de dor, ou talvez, ele nunca houvesse existido. Ela olhou ao redor, e percebeu que a luz já adentrava o quarto, ultrapassando teimosa as frestas da cortina. Suspirou e uma das mãos levou sobre a face, limpando o pouco suor que ali existia. Uma checada rápida fez em seu corpo, estava usando a camisola que vestira na noite passada e em sua coxa, nenhum sinal de qualquer perfuração ou corte. Poderia tudo ter sido um sonho?
Ela se sentou na cama e respirou fundo, estranhamente, seus pulmões não doíam mais, se quer tinha qualquer sinal de dor pelo corpo, estava renovada, como se uma noite de um bom sono pudesse curar o cansado do dia todo. Ela se arrastou até o espelho e teve a maior surpresa de todas, estava pálida, como nunca estivera antes, como um fantasma deveria ser, e seus lábios, tinham o tom mais lindo do vermelho escarlate, combinando perfeitamente com seus cabelos ruivos e agora compridos, soltos sobre seus ombros. Ela ergueu as mãos, observando-as, e droga, estavam exatamente iguais, tão brancas quanto a face, e as unhas vermelhas se sobressaíam, como uma pintura luxuriosa sobre uma tela branca. Mas o mais estranho eram seus olhos, que agora brilhavam num verde vívido, abandonando a sua cor castanha.
Ela olhou a janela, estava fechada e trancada por dentro, mas não conseguia se lembrar se realmente o havia feito, tudo era um grande borrão preto em sua memória, só sabia que o que quer que fosse, havia tirado a morte de suas veias.






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Notas finais do capítulo

Esse é um dos meus capítulos preferidos, sempre quis retratar o Coringa dessa forma mas tinha medo que fosse muito estúpido para a personalidade dele, bem, quem sabe assim ele possa ser um pouco menos rude. (Desenho da Mari Gomes do Joker x Angie. < 3 Muito obrigada pelo carinho, Mari, e eu espero que esteja gostando da história.)



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