Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 84
Demissão


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora



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A noite passa....mais uma manhã ensolarada ilumina o Rio de Janeiro. Na casa do Cosme Velho, Laura acorda e fica um tempo a observar Edgar.. ele ainda dorme... tem o sono pesado... ele está tentando... deve estar sendo difícil para ele entender o que ela está fazendo... mas mesmo assim... está ali... lutando contra conceitos arraigados em sua mente desde criança em nome do que sente por ela... Laura acaricia levemente o rosto de seu amado e retirando delicadamente o braço dele que repousava em sua cintura, levanta.... procurando não fazer barulho veste-se e ruma para sala... antes de ir ao trabalho precisa ainda escrever sua critica sobre o espetáculo de Isabel para enviar ao jornal... ela senta-se e começa a escrever... tem pressa... quer terminar isso antes que Edgar acorde...

No quarto, Edgar acorda... percebe que Laura já não está ali... pensa que perdera a hora... ele geralmente acorda antes dela... levanta-se e arruma-se... passa pelo quarto do filho... Daniel dorme como um anjo... aplica-lhe um beijo na testa e sai sem fazer ruido... está indo em direção a porta de entrada da casa quando Laura lhe chama...

Laura: Edgar... onde vai? Vai sair sem ao menos me dar um beijo?

Edgar: Achei que já tivesse saído...

Laura: É cedo ainda... Bom dia... (dando um beijinho nos lábios dele)

Edgar: Bom dia...

Laura: E então... o que pretende fazer hoje?

Edgar: Nem sei por onde começar... acho que arrumando a bagunça do meu escritório... procurando uma secretária... já que minha escolhida declinou do cargo...

Laura: Não me olha assim não... você vai ver que vai ser melhor assim...

Edgar: Eu não vou... não quero discutir agora... não quero começar o dia assim...

Laura: Também não... agora

sim

... está na minha hora...

Edgar: Também vou indo... te deixo na Ouvidor...

Laura: Te vejo à noite?

Edgar: Como disse... meu escritório está muito bagunçado... acho que vou ficar para dar um jeito... amanhã eu venho

Laura: Certo... o Daniel vai sentir sua falta...

Edgar (envolvendo a cintura dela e franzindo o cenho): Só o Daniel?

Laura (sorrindo maliciosamente): Só... só ele (dando um beijinho no marido)

Eles saem da casa. Laura chega a sapataria e começa mais um dia de trabalho. Edgar toma o rumo de casa.... entra... vai ao escritório... começa a organizar alguns papeis...entre eles encontra a carta que Filipa lhe enviara... lembra-se de Melissa... sua menina... há dias não a vê.. Tomado pelo impulso vai a casa de sua filha...o escritório pode esperar...

Enquanto Edgar vai a casa de Melissa, Constância e Carlota estão na Rua do Ouvidor...

Carlota: É ali (mostrando a sapataria para Constância) veja com seus próprios olhos...

Constância olha para dentro da loja.. vê sua filha demonstrando a mercadoria a uma senhora... separando aquilo que a potencial compradora aprecia e finalmente ajoelha-se diante dela para ajudar aquela mulher a experimentar aqueles calçados... Constância está possessa... apenas espera a senhora sair da loja... atravessa a rua com o passo firme e entra na sapataria com toda sua altivez aristocrática... Laura está agachada de costas para a porta recolhendo e guardando os sapatos e não percebe a aproximação da mãe... Sr. Veronese ao ver uma dama tão distinta adentrando em seu comércio vai atende-la

Veronese: Bom dia Senhora... em que posso ser útil?

Constância: Bom dia... já encontrei o que vim procurar... Laura... levante-se

Laura: O que faz aqui?

Constância: O senhor pode nos dar licença? Gostaria de ter um dois dedos de prosa com sua funcionária..

Veronese (admirado): Claro... com licença

Laura: Muito bem... o que quer?

Constância: Vim ver com meus próprios olhos a degradação pública a que está se submetendo... e a vergonha que está nos fazendo passar... venha comigo...

Laura: Degradação? Estou trabalhando... isso mesmo... trabalhando... um emprego digno e honesto...

Constância: Trabalhando... Laura... mulheres pobres... sem família... sem ninguém por elas trabalham... você não precisa disso... eu já não via com bons olhos seu trabalho de professora... mas isso.. é inadmissível! Eu te criei para ser servida... para dar ordens... e não para recebe-las...Laura... você não percebe a humilhação a que está nos expondo... o que as pessoas irão dizer... a filha de um senador da república... servindo os outros... Laura isso já foi longe demais...

Laura: Até onde me lembro a senhora me renegou... eu não posso entrar na casa onde fui criada... a senhora e eu não tempos mais nenhum vínculo... e quanto às pessoas... o que tem demais? Não estou fazendo nada errado... e elas não pagam minhas contas... não sustentam meu filho...

Constância:Laura... já basta de escândalos... você não vai continuar trabalhando aqui.. eu exijo que saia hoje mesmo!

Laura: Ah... a senhora me criou para ser servida... dar ordens... mas principalmente para obedecer cegamente às suas... Não... minha resposta é não... não vou deixar de trabalhar aqui... não vou me submeter às suas vontades... e agora com licença... tenho que trabalhar...

Constância: Tudo bem Laura...

Veronese (voltando): Algum problema?

Constância: Não... perdoe-me... gostaria também de agradecer-lhe... por ter empregado minha filha... com licença...

Veronsese não compreende nada do que sucedera ali... resolve não comentar com Laura que volta a seus afazeres e não percebe que sua mãe e sua tia entram na Confeitaria Colonial...

Carlota: E agora.. o que pretende? Por que não vamos para casa?

Constância: Vamos aguardar... quando Laura sair quero conversar com o senhor que a contratou...

Longe dali, Edgar chega a casa de sua filha... é recebido por Catarina...

Catarina: Bom dia! Até que enfim lembrou-se que tem uma filha...

Edgar: Eu nunca esqueço... onde ela está?

Catarina: No quarto... espera... antes de ve-la preciso conversar com você...

Edgar: O que foi?

Catarina: Edgar... a Melissa... ela tem demonstrado muita vontade de ir para escola... acho que já está realmente na hora dela começar a estudar... conviver com outras crianças da idade dela...

Edgar: Bom... ela já tem 6 anos... posso procurar uma escola para ela.. mas primeiro quero saber se ela realmente quer frequentar um colégio.... agora me deixe vê-la.. (subindo as escadas e indo em direção ao quarto da menina)

Edgar vai até onde sua filha se encontra... ao ouvir que alguém se aproxima, a menina vai em direção ao corredor... vê o pai e corre até ele, que a abraça erguendo-a em seu colo...

Edgar: Como vai, minha florzinha?

Melissa: Bem papai... é você?

Edgar: Bem... filha... quero te perguntar uma coisa...

Melissa (franzindo o cenho e deixando Edgar espantado... aquela expressão lhe lembra alguém): O que?

Edgar: Você quer ir para escola?

Melissa (que se ilumina com um lindo sorriso): Claro!!!! Quero muito... quero aprender... e ter muitas amiguinhas para brincar...

Edgar: Então está certo... hoje mesmo começo a procurar uma escola para você...

Ele permanece mais um tempo com a filha... entra em seu carro e começa a pensar onde poderia matricular Melissa...o nome de algumas escolas para meninas lhe surgem à mente... resolve conversar com os diretores mesmo e sai em busca de uma instituição de ensino que aceite uma criança como Melissa... sua filha ilegítima com uma cantora lírica... tanto a condição de Melissa quanto a profissão de sua mãe não são bem vistas....Passa por vários colégios... a resposta se repete em todos eles... mesmo tentando argumentar que a mãe da menina nunca aparecerá na escola, os diretores não querem correr o risco de algum pai de outro aluno saber que a filha de uma artista está frequentando a instituição...

Na Rua do Ouvidor, Laura sai da sapataria para seu intervalo. Aproveita essa pausa em seu trabalho para ir ao Correio. Ali postará mais um artigo para o Correio da República...e pensando que Guerra pode se interessar em entrar em contato com Paulo Lima, resolve adquirir uma caixa postal.... não pode correr o risco de colocar seu endereço, afinal ele logo descobriria sua verdadeira identidade. Enquanto Laura se ausenta do estabelecimento em que trabalha, sua mãe, Constância, retorna ao local em busca do Sr. Veronese...

Veronese: A senhora novamente.... em que posso ajuda-la?

Constância: O senhor pode ajudar-me muito... demitindo minha filha...

Veronese: Desculpe... mas não compreendo..

Constância: Laura divorciou-se após sofrer um abalo emocional grave que a desestabilizou profundamente e que ela atribui ao marido... depois do divórcio ela se afastou da família... e tem tomado muitas atitudes erradas... que não condizem com sua posição social...

Veronese: Não sabia de nada disso... pensei estar ajudando

Constância: O senhor me parece um bom homem... que preza pela moral e os bons costumes...que agiu no intuito de ajudar uma pobre moça divorciada com um filho pequeno para criar... mas na verdade está contribuindo para que ela se perca ainda mais... lhe peço encarecidamente... Demita-a...

Veronese: Vou Ajuda-la... não se preocupe... hoje ao final do expediente a Sra. Laura já não fará mais parte do quadro de funcionários deste estabelecimento...

As distintas damas saem da sapataria e após alguns minutos Laura está de volta. A tarde passa... enquanto Laura atende clientes e organiza a loja, Edgar vai de escola em escola em busca de uma vaga para sua filha. Já passara por muitas e, mesmo com muita insistência, não consegue matricula-la em lugar algum... resolve ir para casa... lá seus processos e documentos o esperam...

Na sapataria, Laura prepara-se para sair... está prestes a atravessar a porta quando Sr. Veronese a chama para uma conversa...

Veronese: Sra. Laura... precisamos conversar...

Laura: Pois não...

Veronese: Este foi seu último dia aqui.. quero pagar-lhe o que lhe devo...

Laura: Como disse?

Veronese: É o que estou lhe dizendo... a partir deste momento a senhora não é mais funcionária desta loja...

Laura: Fiz algo errado? Algo que não foi do seu agrado?

Veronese: Eu pensei que estava ajudando uma moça desamparada... mas vi que me enganei... ainda bem que sua mãe me abriu os olhos... a senhora tem uma mãe que pode lhe ajudar... seu lugar não é aqui... é dentro de uma casa... cuidando de seu filhinho e de seu esposo, se por ventura seu marido lhe aceitar de volta... fiz suas contas hoje à tarde e isto (entregando um envelope) é o que lhe devo... seja feliz...

Laura: Eu estava feliz aqui... com licença...

Laura sai dali completamente transtornada... abatida... e num impulso toma o rumo da Rua São Clemente... sua mãe passara de todos os limites... após caminhar apressadamente por cerca de meia hora está naquela casa.. onde nascera mas onde hoje não é bem-vinda.... Bate a porta com força... Luzia vai atender

Laura (entrando sem pedir licença e indo até a sala, onde Constância está sentada no sofá e levanta-se ao ver a filha): Quer dizer que eu tenho mãe? Uma mãe que me renegou... que não me convida para o aniversário do meu próprio pai... e que ainda assim quer se meter em minha vida?

Constância:

Sim

... me meto... e fiz muito bem em não convida-la... ia ser o centro das atenções... todos comentando sobre o divórcio da filha do aniversariante... aquela ali.. sendo apontada por todos... Laura... até quando vou ter de proteger você de si mesma? Não vê o que está fazendo? Humilhando-se... numa sapataria... você sabe muito bem a quem esse tipo de profissão é adequada..

Laura: É adequada a quem precisa dela... e eu preciso... a senhora não tem a menor ideia de quais são minhas necessidades...

Constância: Laura... seu pai e eu nunca a deixaríamos passar por necessidades.. muito menos o Daniel... e você agindo assim... deixando sua reputação ir à sarjeta... arrastando sua família...

Laura: Não precisa terminar... eu sempre soube que a senhora só se importa consigo mesma.. só se preocupa com que os outros irão dizer...

Constância: Claro que me preocupo... a reputação de uma mulher é tudo o que ela tem...

Laura:Pois eu lhe aviso... Pare de me proteger! Não preciso desse tipo de proteção! (saindo com passos firmes)

Constância (falando enquanto Laura sai): Laura... eu só fiz isso por amor... para evitar mais um escândalo... filha...

Laura sai daquela casa... sente raiva e desconsolo.... não entende como sua própria mãe pode pedir que a demitam e ainda ter coragem de dizer que fez isso por amor, para protege-la .... parece que tudo a seu redor conspira contra ela... anda a esmo pela rua... chora sem se importar com o pensamento das pessoas que passam por ela...não quer ir para casa.... não quer que seu filho a veja assim... neste momento o que mais precisa é de um abraço... que lhe transmita todo carinho, consolo e segurança que necessita... segue rumo a casa de Edgar...

Edgar está em seu escritório datilografando um documento... Batem a porta... Matilde vai atender...

Matilde: Dona Laura... entre

Laura: Matilde... o Edgar está?

Matilde: Está no escritório....

Laura (indo em direção ao escritório): Obrigada....

Laura abre a porta... vê o marido compenetrado escrevendo... Edgar levanta o rosto e vê Laura parada ali... observando-o...

Edgar: Oi meu amor...

Laura (indo em direção a ele, sentando-se em seu colo e aplicando um beijinho): Oi...

Edgar: O que foi? Por que está assim?

Laura: Depois eu te conto meu amor... deixa eu ficar aqui, quietinha... estou precisando de colo...

Edgar: Tudo bem... isso vai passar...

Laura fica ali, no colo de Edgar por um tempo... ficar assim... abraçada a ele... lhe faz tão bem... então resolve lhe contar o que aconteceu...

Laura: Edgar.... eu fui demitida... por culpa da minha mãe...

Edgar: Da sua mãe? O que ela fez?

Laura: Ela pediu ao seu Veronese para me demitir... disse que ele estava contribuindo para que eu me perdesse... e ela ainda teve a coragem de dizer que fez isso por amor...

Edgar: Bem... isso é típico da dona Constância... por piores que sejam os feitos... ela sempre vai justificar como sendo por amor ou bem estar da família...

Laura: Eu estava feliz por estar trabalhando... agora vou ter de procurar outra coisa... queria voltar a lecionar...

Edgar: Falando em lecionar... hoje passei o dia procurando uma escola para matricular a Melissa...

Laura: E então?

Edgar: Nada... por mais que explicasse que a mãe dela não apareceria na escola, ninguém quer uma aluna filha ilegitima e ainda mais tendo uma artista como mãe...

Laura: É... a Melissa querendo estudar e eu querendo lecionar... e nenhuma escola nos aceitando...

Edgar: Bem... enquanto as escolas não aceitam .... a vaga de secretária do Dr. Vieira ainda está de pé... e então... será que agora você aceita trabalhar comigo?


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Notas finais do capítulo

E agora... será que ela aceita?



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