Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda
Edgar está em seu escritório. Retira o papel da máquina de datilografia e lê o que escreveu. Está satisfeito com o resultado... Seu artigo parece ter ficado decente... ainda está em tempo de entrega-lo ao Guerra e passar no fórum antes de ir para casa de Laura, pensa... e com este pensamento sai para rua...
Enquanto isso, na Rua São Clemente, Constância e Assunção despedem-se do último convidado...
Assunção: Até que enfim... pensei que este almoço não iria acabar nunca!
Constância: Assunção... até parece que não gostou de sua comemoração de aniversário... eu fiz com tanto carinho...
Assunção: Te agradeço... mas sei as reais intenções desse seu gesto... infelizmente não sei dizer se surtiu efeito... Bem.. agora com licença.. vou descansar um pouco... depois vou com Albertinho à casa de minha filha... lá sim comemorarei meu anversário... já combinei com a empregada dela para preparar tudo...e não dizer que vou jantar com eles...
Constância: Empregada? A Gertrudes já voltou?
Assunção: Não... o Edgar emprestou a Matilde por uns dias... para cuidar da casa... mas principalmente do Daniel...
Constância: O Edgar? Me diga por favor que eles voltaram e que esse pesadelo de divórcio terminou...Ele já sabe sobre o menino, então?
Assunção: O divórcio continua... a Laura e o Edgar tem se visto por causa do menino.. O Edgar descobriu tem um tempo... mas o Daniel ainda não sabe... eles resolveram esperar para contar... para ele o Edgar é um amigo.. viu só o quanto se interessa por sua filha? Nem ao menos sabe o que está se passando na vida dela...
Constância: Não sei por ela me excluir da sua vida...Laura nunca me quis por perto... sempre foi muito independente... hoje.. por exemplo... queria muito ir com vocês a este jantar... mas tenho certeza que Laura não vai gostar...
Assunção: Não Constância... a Laura só não quer que se metam na vida dela... e quanto a excluir... quem a excluiu e renegou foi você.. quanto ao jantar... A Laura lhe receberiamuito bem... tenha certeza... mas diante do que você faz com ela, torno a dizer... não ouse pensar em me acompanhar hoje.... Com licença...
No Cosme Velho, Laura chega em casa... está eufórica... conseguira um emprego, não exatamente o que procurava, mas um emprego... entra e vai direto ao quarto do filho, que brinca com Matilde de mosqueteiro
Laura: Olá!
Daniel (soltando o cabo que usava fingindo ser uma espada e correndo em direção a mãe): Mamãe...você chegou cedo!
Laura: Sim filho... e vou passar o resto da tarde contigo...
Daniel: Viva! Então vem brincar comigo...
Matilde: D. Laura... com licença... vou para cozinha... preciso preparar o jantar..
Laura: Certo... o que vai fazer?
Matilde: Consomé com croutons como entrada...Filet en Crôute com batatas souté como prato principal e torta trufada de chocolate como sobremesa..
Laura: Nossa.... comida francesa.... Matilde... como sabe que gosto de tudo isso? E quem te ensinou a fazer?
Matilde: A Isabel me ensinou na época que frequentava a casa... e lembro que a senhora uma vez me disse que gostava destes pratos....com licença...
Matilde vai para cozinha e Laura começa a brincar com Daniel... fica pensativa... por que Matilde vai fazer um jantar tão requintado... ela hoje não escolhera o cardápio mesmo... estava tão atordoada com tudo o que estava se passando... entre o não conseguir emprego e ainda o almoço de aniversário do pai... pelo menos o emprego estava resolvido... agora outra coisa a aflige... como Edgar reagirá a este emprego... precisa contar a ele ainda hoje... talvez a melhor hora seja após o jantar...
Enquanto isto, Edgar chega ao Correio da Republica... entra e encontra Guerra debatendo com Neto sobre a crítica que este escrevera sobre o espetáculo apresentado por Isabel...
Neto: Guerra... eu não mudo uma vírgula do que escrevi... e ponto.. que eu saiba esse jornal é imparcial e respeita as opiniões de seus colaboradores...
Guerra: Claro Neto... só achei que pegou um pouco pesado dizendo que o espetáculo nada tem de arte e cultura... mas vou publicar seu artigo na integra... pode deixar...
Edgar (batendo na porta): Boa tarde...com licença...
Guerra: Edgar... entra...
Edgar: Vou ser breve... aqui está sua encomenda....(entregando uma pasta para Guerra, enquanto Neto sai da sala)
Guerra: Bem.. vejamos (abrindo a pasta) e então.. me diga... como foi lá na Marinha...
Edgar: Horrível... não há outra palavra para definir a situação daqueles homens... é preciso dar um basta naquilo tudo... eu escrevi aí tudo o que vi e ouvi... espero que ajude a população a entender o que realmente está acontecendo... o governo está passando uma imagem distorcida dos fatos...
Guerra (lendo): Está excelente... mais uma vez uma matéria espetacular de Antonio Ferreira... vou publica-la amanhã mesmo... primeira página...
Edgar: Obrigado Guerra... agora vou indo...
Guerra: Edgar... espera... fiquei sabendo do roubo de carga da tecelagem do seu pai... já tem alguma novidade a respeito?
Edgar: Ainda não... foi feita a denúncia e o motorista foi ouvido hoje... mas não temos ideia ainda de quem foi o mandante do roubo...amanhã vamos saber qual a situação da fábrica depois disso.... Agora deixa eu ir que está tarde... até mais ver...
Edgar sai dali e dirige-se para o Cosme Velho... Está ansioso por ver seu filho e Laura... chega na casa e é recebido por Matilde... é cordial com ela e segue para o quarto do menino, onde está sendo travada uma guerra medieval entre mãe e filho...
Edgar: Boa noite!
Daniel: Olá papai! Vem... vem me ajudar a derrotar esse cavaleiro que invadiu meu castelo...
Edgar: Claro... vamos derrotar quem ousou fazer isso... onde tem uma espada para mim?
Daniel: Ah... acho que terminaram... mas me ajuda mesmo assim... com seus golpes o inimigo será facilmente derrotado...
Laura (rindo): que dupla fui arrumar...Como foi seu dia Edgar?
Edgar: Movimentado... depois te conto...porque agora... tenho que ajudar um reizinho a defender seu castelo...
Após algum tempo resolvem ir para sala... Edgar e Daniel brincam no chão com o trenzinho, enquanto Laura vai até a cozinha verificar se Matilde precisa de ajuda...nisto ouve batidas na porta...
Assunção e Albertinho: boa noite!
Laura: Albertinho! Pai (abraçando o Dr. Assunção) que visita boa! Que bom que veio aqui! Parabéns!
Assunção: Achou mesmo que eu ia passar meu aniversário longe de minha filha e do meu neto? Falando nele... Daniel? Onde está?
Daniel (erguendo-se e correndo em direção ao avô... enquanto Edgar também ergue-se): Estou aqui... estava brincando de trenzinho com o papai...
Assunção: O papai?(olhando e vendo Edgar) Como vai Edgar?
Laura: Sim.. o Daniel já sabe pai... (o menino sai correndo, voltando para sua brincadeira)
Edgar: Albertinho.. Dr. Assunção... é um prazer reve-los... Parabéns Dr. Assunção
Assunção: Obrigado..
Albertinho: Edgar... como vai?
Edgar: Bem... e você?.. como está o exército?
Albertinho: Não tenho queixas... apenas quero conseguir ser transferido para cá...vamos ver se aceitam...
Edgar: Faço votos que consiga...Bem... acho que vou indo...
Assunção: Não senhor... fique... jante conosco... vim passar esta data com minha família... e você faz parte dela... afinal é pai do meu neto...
Edgar: Já que é assim... está bem..
Laura: Pai... e minha mãe? Não quis vir?
Assunção: Ela estava tão cansada pelo almoço que resolveu ficar repousando...
Laura: E como foi o almoço?
Albertinho: Em se tratando da mamãe você pode imaginar... a tarde não terminava nunca...
Assunção: Filho não fale assim... sua mãe se esforçou muito para fazer aquele almoço... mas confesso que esse jantar vai estar muito melhor...
Laura: Ah... mas eu sabia... esse jantar tem o dedo do senhor...
Assunção: Sim... a Matilde e eu combinamos tudo...
Eles conversam animadamente... Matilde serve o jantar e todos são só elogios à empregada do Dr. Vieira... após a refeição eles vão para sala... a conversa continua...
Laura: Bem... então façamos um brinde ao aniversariante! (erguendo seu cálice de Porto, e sendo copiada pelos demais) Muitas Felicidades, meu pai!
Assunção: Obrigado Filha...
Daniel: Mamãe... estou com sono...
Laura: Está bem... vem.. vou te levar para cama...
Daniel: O papai pode me contar um história?
Laura: Acho que hoje não... seu pai está conversando com seu tio e seu avô...
Edgar: Não tem problema, Laura... acho que os senhores entendem...
Assunção: Claro que sim... boa noite Daniel
Albertinho: Vai lá... boa noite campeão...
Edgar pega o menino no colo e o leva para dormir... enquanto isso Laura conversa com o pai e o irmão...
Assunção: Pelo que vejo a relação deles está muito bem...
Laura: Sim... eles se adoram... o Daniel está fascinado com o pai... e o Edgar está apaixonado pelo filho...
Albertinho: E a relação de vocês, como está? Quando vão assumir que estão juntos? Por que não venha me dizer que não há nada entre vocês...
Laura: Albertinho...
Assunção: Está bem... se não quer falar, tudo bem... mas te digo uma coisa... espero que logo você e o meu genro estejam novamente juntos... como a família que devem ser... sei que houve muitos problemas... sei da filha dele... mas Laura... até onde sei o Edgar é um bom homem... durante esses anos todos se comportou como nenhum outro teria se comportado..merece um voto de confiança...
Laura: Eu sei meu pai...
Edgar (voltando): Enfim...dormiu...
Albertinho: Sim... e já está tarde para nós também.... vamos indo pai?
Assunção (dirigindo-se para porta,junto com o filho): Vamos... obrigado por tudo e boa noite... Edgar... fiquei sabendo do que houve hoje... sinto muito...
Edgar: Obrigado Dr. Assunção... Também vou indo... Boa noite...
Laura: Edgar... espera... preciso conversar com você...
Assunção: Boa noite... (saindo junto com Albertinho)
Laura (fechando a porta atrás de si): Onde o senhor pensava que ia?
Edgar: ai Laura..achei que seria deselegante seu pai e seu irmão saírem e eu ficar sozinho contigo...
Laura: Amor... nós já não somos mais um casal de adolescentes namorando... e eles sabem disso... e nós temos mesmo que conversar...
Edgar: Está certo... (puxando Laura para si) vamos conversar... mas antes vem cá... (beijando-a com urgência) estava morrendo por isso desde que cheguei...
Laura: Eu também....(beijando Edgar de volta)
Edgar: Bem... o que quer conversar?
Laura: Você me disse que ia me contar o que aconteceu... e agora com o que meu pai me disse fiquei ainda mais curiosa... Amor... o que houve?
Edgar: Uma carga grande de tecidos da tecelagem que estava sendo levada para o porto foi roubada... passei quase a manhã toda na delegacia com meu pai e o Fernando...
Laura: Meu Deus! E como eles estão?
Edgar: Meu pai está desesperado... o Fernando negociou aquela carga com uma industria inglesa e há multa se não for entregue... o pedido em si era bastante grande... meu irmão e o meu pai contavam com o dinheiro para pagar as máquinas novas... os funcionários... o seu Bonifácio me disse que ia ver os números da fábrica hoje... mas que provavelmente teria de hipotecar para cumprir os compromissos...
Laura: ai meu amor... que situação...não há outra forma além da hipoteca?
Edgar: Há... pode ser aberto o capital da tecelagem a terceiros... com a venda das ações podemos reerguer a fábrica... mas duvido que meu pai aceite... ele sempre disse que a tecelagem é uma empresa da família...
Laura: Tente convence-lo... eu sei que ele vai acabar concordando... você argumenta tão bem que duvido que ele não aceite...
Edgar: Vou tentar conversar com ele amanhã... o que realmente me preocupa nisto tudo é minha mãe... meu pai e meu irmão em pé de guerra... e agora para completar isso
Laura: Edgar..sua mãe é forte... já passou por coisas piores... ela não merece isso... mas sei que vai suportar bravamente mais essa tempestade... Tudo vai ser resolvido da melhor forma... você vai ver...
Edgar: Bem... algo mais... quando cheguei aqui estava tão animada... alguma novidade?
Laura: Sim... consegui emprego... começo amanhã!
Edgar: Que boa notícia! Onde?
Laura: Na Rua do Ouvidor...
Edgar: Na biblioteca?
Laura: Não...
Edgar: Onde então? Abriu alguma escola por ali...não estou sabendo...
Laura: Não é em uma escola...vou vender calçados...
Edgar (incrédulo): O que?
Laura: É o que ouviu... fui contratada em uma sapataria...as escolas não querem uma professora divorciada... pois bem... eu preciso trabalhar...
Edgar: Laura... eu sempre fui a favor de que você trabalhasse... você é formada... é professora... por que não pode esperar um pouco... alguma escola há de te aceitar...
Laura: O que você tem contra vendedores?
Edgar: Nada... em absoluto.. é uma profissão muito digna... mas Laura... você não precisa disso...
Laura: Edgar... minhas contas não esperam... e eu tenho um filho para sustentar...
Edgar: Laura... sei que combinamos que eu ajudaria com os gastos do Daniel... se você no momento precisa de ajuda... eu arco com as despesas dele sozinho...não tem problema nenhum nisto.... e posso manter essa casa também...
Laura: De jeito nenhum... quem tem de manter essa casa sou eu...
Edgar: Mas... se nós estamos juntos... por que você não pode aceitar que eu te ajude?
Laura: eu aceito que ajude... mas não que banque tudo sozinho...Sei que sua intenção é boa...Edgar..... durante esse período que estivemos separados eu aprendi a me virar sozinha... ganhar meu próprio dinheiro... manter o Daniel e eu com o que eu ganhava... tenta me entender... por favor...
Edgar: Eu me esforço... juro... mas não consigo... assim como não entendo por que você e o Daniel continuam morando aqui e não comigo...
Laura: Amor... eu quero fazer tudo isso aos poucos...eu nunca disse que não vou voltar para nossa casa... só quero primeiro que tudo entre a gente esteja resolvido.. eu não suportaria sair daquela casa outra vez...
Edgar: Mas tudo está resolvido... a gente se ama... o Daniel sabe que é meu filho e a gente se adora... você sabe que eu nunca tive nada com a Catarina depois de terminar com ela em Portugal... o que falta?
Laura: Você aceitar que nós dois mudamos... e que aquela Laura que você conheceu... agora é uma mulher independente... que não depende de ninguém para viver...
Edgar: Eu vou tentar...prometo que vou tentar...mas me promete que vai aceitar que eu te ajude... e que vai procurar outro emprego...
Laura: Já é um começo... e já disse que aceito sua ajuda... no que diz respeito ao Daniel... e vou procurar outro emprego... mas enquanto não aparecer...eu vou trabalhar vendendo sapatos...
Edgar: Como você é teimosa...
Laura: Sou... mas você também é
Edgar: Sou... admito que sou... e tenha certeza que vou insistir em você sair dessa loja... vou encontrar um emprego melhor para você
Laura: E eu vou insistir em trabalhar nela..a menos que o emprego que eu encontrar seja realmente muito melhor...(olhando e dando um sorriso que não desmancha a cara amuada dele).... confesse... você está morrendo de raiva... mas gosta de mim mesmo assim...
Edgar: Sim... estou com raiva... e sim...Amo... amo você Laura Vieira
Laura: Eu também te amo... Edgar Vieira (aplicando um beijinho nele)
Edgar: Bem... já é tarde... agora vou indo... Boa noite
Laura: Como assim? Achei que ia passar a noite aqui...
Edgar: Eu preciso pensar nisso tudo... e prefiro fazer isso sozinho...
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