Edgar vai ao encontro de Laura... sabia que tinha prometido que iria vê-los somente no final de semana, mas sua ansiedade para reencontra-los é tamanha que não conseguiu esperar... está esperançoso de que o acontecido ontem seja um primeiro passo para reaproximar-se de sua ex-esposa...

Edgar: Boa Tarde, Laura...

Laura (sem esconder a irritação): Boa tarde... não lembro de ter combinado nada com você... o que faz aqui?

Edgar: Por que está tão zangada? Fiz alguma coisa?

Laura: Não (com raiva) Apenas não estou disposta a conversar...

Edgar: Eu te conheço... alguma coisa tem... vamos me diz o que está havendo? É por ontem à noite?

Laura: Não me lembre de ontem à noite... por sinal ainda bem que a Gertrudes entrou na sala.... hoje estaria arrependida...

Edgar: Arrependida... certo... mas devo lhe lembrar que quem começou com aquilo ontem foi você...

Laura: Eu sei... e me arrependo disso... e agora com licença... tenho que ir... e imagino que você tenha que se preparar para o seu compromisso de logo mais...

Edgar: Compromisso? Que compromisso?

Laura: Você sabe muito bem...

Edgar: Não... não sei e agora você vai me explicar...

Laura: Catarina Ribeiro... responde sua pergunta? Não vai assistir ao concerto que está patrocinando? Ou por acaso pensa que não sei que é você que está bancando tudo isso..

Edgar: Não estou bancando... e se estivesse? Ela é mãe da minha filha...

Laura: Que eu saiba você tem de sustentar a menina... não a mãe dela...

Edgar (aos gritos): Eu não estou sustentando a Catarina... muito menos patrocinando!

Laura: Pare com este espetáculo aqui na rua

Edgar: Tem razão... venha... vamos continuar isso em outro lugar...

Laura: Não vou a lugar algum com você..

Edgar: Vai sim... preciso te mostrar algo... entre no carro

Relutante Laura acaba entrando no automóvel de Edgar... eles vão para a casa dele... Enquanto isso, no Teatro Alheira, Catarina está nervosa preparando-se para o espetáculo... Acaba por destratar os funcionários do teatro e ainda consegue ter uma bela discussão com Mário e Isabel...

Catarina: Andem seus palermas... esse piano tem de estar aqui... e onde está a tiara de gardênias naturais... como todos aqui são incompetentes... assim que puder vou para um teatro com mais nível que este...

Isabel: Pois fique à vontade..se preferir podemos até cancelar a apresentação de hoje.... mas lembro que não há ressarcimento do aluguel...

Catarina: Cancelar? Nunca... meus fãs estão esperando meu retorno! E vai ser hoje... seja como for...

Na casa de Edgar, Laura e ele entram na sala... e reinicia-se a discussão

Laura: Muito bem... o que quer me mostrar?

Edgar vai ao escritório e volta com um documento....

Edgar: Está aqui... leia...

Laura: O que é isso?

Edgar: Um contrato de confissão de dívida... e se perceber... está firmado em cartório... eu não estou financiando recital nenhum... emprestei o dinheiro... somente isso...

Laura: Isso não me diz nada... duvido que cobre dela...

Edgar: Se não fosse cobrar, não teria feito esse documento... teria dado o dinheiro... e pronto...e quanto a sustenta-la... eu sustento a casa onde minha filha mora... me responsabilizo por suas despesas... e não da Catarina...

Laura: Mas ela mora lá... então dá na mesma...

Edgar: Sim... é verdade... ela mora lá... mas o que queria que fizesse? Usasse o pátrio poder e tirasse a Melissa da mãe? Jamais separaria uma criança tão pequena dos braços maternos... ainda mais doente... aliás... ainda não consigo crer que você... que eu pensava que me conhecia tão bem... pode achar que eu ia tirar o Daniel...

Laura: Eu tive medo... sabia que você nunca iria aceitar ficar longe de um filho...e não aceitaria o divórcio de jeito algum... e diante da situação..você traiu minha confiança...estava me sentindo humilhada..em segundo plano... você só tinha olhos para sua nova família. ... eu estava decidida que não iria mais permanecer casada contigo

Edgar: Nova família? A Melissa é minha filha... somente ela...e você...e para se divorciar você escondeu a gravidez...Laura... será que você tem ideia do que você fez? Se eu soubesse... realmente eu jamais teria assinado aquele divórcio..

Laura: Não queria que ficasse preso a mim por causa do Daniel...

Edgar: Eu não sabia da existência dele e mesmo assim não queria me divorciar... eu te amava... não queria ficar longe de você... não sabe o quanto foi difícil para mim suportar a tua ausência... ficar morando num lugar cheio de lembranças suas... em cada canto dessa casa para onde olhasse eu me lembrava de você... e fora daqui tinha de fingir que continuava casado contigo.. manter uma farsa para proteger tua reputação... não pense que isso foi fácil...

Laura: E você acha que para mim foi fácil? Eu estava grávida do homem que eu amava, mas que tinha traído minha confiança... me posto em uma situação que sabia que não conseguiria aguentar...psicologicamente muito abalada por tudo o que tinha acontecido... eu passei por um divórcio que era necessário mas que eu não queria...e para isso tive de manter em segredo minha gestação... via meu corpo se transformando e estava sozinha... escondida... sendo renegada pela minha família... tudo isso por culpa sua... até que não consegui mais suportar e acabei escrevendo a carta em que revelei a gravidez.. e ao mandar a carta e não receber resposta alguma pensei que tinha me enganado a seu respeito...

Edgar: Uma carta que você me mandou dois meses antes dele nascer... e que eu não quis abrir por tudo o que tinha acontecido naqueles sete meses... principalmente depois de ver o Joaquim te flertando logo após a audiência do divórcio.. meu sangue ferveu, mas não me preocupei por que você não deu atenção... mas ouvir que estava esperando alguém que te faria a "mulher mais feliz do universo" na biblioteca em Petropolis... eu simplesmente me desesperei...não sabia se era o Joaquim mesmo ou outro... nunca senti tanta raiva... tanto ciúme.... e olha o absurdo disso tudo... eu estava morrendo de ciúmes... do meu próprio filho...

Laura: Você não sabe o que foi esperar dia após dia uma resposta sua... no dia que ele nasceu o que mais queria era que você estivesse lá conosco... mas você simplesmente não apareceu... esperava que viesse conhecer seu filho... mas os dias foram passando... e nada... eu olhava para Daniel e via nele todas as suas feições e pensava como podia ser isso... um homem que até onde sabia gostava de crianças, que fazia tantos planos comigo para termos uma família e que agora não queria nem ver o rosto do filho, que é tão igual ao dele... e o Daniel foi crescendo... e começou a me pedir quem era seu pai... onde estava... tem ideia do quanto me doía cada vez que ele me pedia de você?

Edgar: Nós não precisávamos ter passado por isso...

Laura: Mas passamos... eu criei o Daniel sozinha... fiz o melhor que podia... me desdobrei para ser mãe e pai dele ao mesmo tempo...

Edgar: Eu sei... tenho certeza que fez o melhor por ele... E enquanto isso... eu estava aqui... sem saber de absolutamente nada... amargurado.. infeliz... sozinho...por culpa da minha estupidez e do meu ciúme...eu fui um imbecil... eu nunca vou me perdoar por não ter visto ele nascer...e pelo tempo que perdi ao estar longe dele... eu não te ajudei... em nada... por sinal... tenho que reparar isso também...

Laura: Isso o que?

Edgar: Eu não tenho que te ajudar só sendo um pai presente... eu preciso te ajudar financeiramente a cria-lo...

Laura: Não... não preciso do seu dinheiro... e o Daniel também não...

Edgar: Laura... é um dever meu... ele é meu filho.. é responsabilidade minha prover o sustento dele...você querendo ou não eu vou começar a arcar com os gastos do Daniel...

Laura: Do Daniel... porque eu jamais vou aceitar ser sustentada por você... não sou como umas e outras...

Edgar: Eu sei... e nem pretendo fazer isso... sei que jamais aceitaria ser sustentada por quem quer que fosse... apesar de que durante o casamento quem provia o sustento da casa era eu... mas lembro que teus gastos pessoais eram por tua conta... você fazia questão...

Laura: E continuo...

Edgar: Nunca vou conseguir me perdoar por ter perdido uma mulher tão excepcional como você... por ter perdido a família linda que a gente formou...

Laura amolece um pouco diante do que Edgar lhe diz... mas volta a lembrar de Catarina: e quanto ao recital... você afinal vai ou não?

Edgar: Achei que tinha entendido... eu não vou a recital nenhum... emprestei o dinheiro a Catarina e ela que faça dele o que quiser....as únicas coisas que exigi dela é que me devolva o dinheiro no prazo estipulado e que meu nome não apareça sob hipótese alguma... não quero expor a Melissa... e muito menos você...

Laura: Eu?

Edgar: Claro... para a sociedade carioca você ainda é casada comigo... e o descobrimento de que Catarina e eu temos uma filha lhe atingiria diretamente...e talvez isso também fizesse com que o divórcio viesse à tona...

Laura: Mas aí me dariam razão!

Edgar: Não... iam achar que você não cumpria com suas obrigações e que eu procurei na rua o que não tinha em casa... mesmo você tendo razão e meu relacionamento com Catarina ter terminado muito antes de nos casarmos... a culpa de um divórcio sempre cai sobre a mulher... o Dr. Castro deve ter te falado isso...

Laura: Sim... ele falou... não sei como isso pode ser tão injusto...

Edgar: Infelizmente é assim... uma lei elaborada por homens... para homens que já não queriam mais o casamento... Não foi o nosso caso... quem não quis mais foi você... mas nunca vão levar isso em conta...

Laura: Bem... agradeço sua preocupação mas não precisa... se algum dia esse divórcio vier a público... eu vou saber me defender...

Edgar: Será mesmo? Laura... você não tem ideia do que vai enfrentar...

Laura: Boa noite...

Edgar: Eu te levo...

Laura: Não precisa... eu pego um coche... e não venha me dizer que quer ver o Daniel pois já sabe que a essa hora ele já está dormindo...

Edgar: Mas podia ver ele dormir... como na noite passada...

Laura: Melhor não...

Edgar: Tudo bem... mas o passeio se mantém... domingo eu vou busca-lo...

Laura: Está bem... ele estará pronto.... Com licença

Laura sai da casa de Edgar... tudo o que discutiram não sai de sua mente... está confusa... ao mesmo tempo que sente raiva de Edgar, ver o ex-marido lhe pedindo perdão e se culpando pelo que aconteceu mexe com seu coração... Não sabe mais como agir... não pode proibir que veja e conviva com Daniel... mas e com ela? Talvez o melhor seja evita-lo...

Já na Rua do Ouvidor, o público lota o Teatro Alheira para assistir ao concerto de Catarina.. diversos críticos dos mais diferentes jornais vem prestigiar e analisar a estréia...Soa o sinal de que o espetáculo vai começar. Caniço e seus comparsas entraram e estão nas últimas fileiras da platéia. O espetáculo começa... Catarina canta sua primeira ária... um trecho da ópera Carmen...ao final do primeiro ato todos aplaudem a cantora... mas o pequeno grupo formado pelos contratados de Bonifácio começa seu serviço

Caniço (lançando um tomate em direção ao palco): Vai se esconder... isso não é arte... parece uma gralha cantando... UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU

Os outros comparsas começam a atirar tomates e ovos... gritam impropérios... incitam a plateia a vaia... aos poucos está formado o tumulto... os espectadores vão saindo desordenadamente do Teatro, enquanto Catarina corre para esconder-se na coxia .. ela chora compulsivamente... dá para ver o ódio que sente em seus olhos...

Catarina: Ela não perde por esperar... ninguém faz Catarina Ribeiro passar por uma humilhação destas... vou me vingar... ela acha que é inatingível... pois a baronesa vai ser atingida onde mais lhe dói...