Laura está arrumando suas malas à espera de seu pai.  Amanhã precisa estar no Rio de Janeiro. 

D. Gertrudes: Por que vai levar tudo? Se vai se separar mesmo, volte para cá... você tem dado vida para essa casa... e eu posso te ajudar a cuidar desse bebezinho que está vindo aí...

Laura: Obrigada por tudo Gertrudes... mas pretendo ir para outro lugar após o divórcio... afinal o Edgar sabe onde estou agora... e não quero encontra-lo mais...ve-lo só me faria sofrer... 

D. Gertrudes: Filha... você ama esse homem.. e ele te ama também... tava escrito nos olhos dele

Laura: Babá... tem algo que te prenda a essa fazenda? 

D. Gertrudes: Não... meus filhos estão crescidos... cada um tem sua vida... 

Laura: Então vou pedir para o meu pai que a senhora me acompanhe... gostaria que me ajudasse a cuidar do bebê...

D. Gertrudes (emocionada) Filha... vai ser uma honra cuidar de um filho seu... agora... mudando de assunto... aquele seu advogado..

Laura: O que tem ele?

D. Gertrudes: você não reparou como ele olha para você? E esse tanto de visitas? Laura... aí tem....

Laura: Não... ele é muito competente como advogado.. e como está a pouco tempo no escritório quer mostrar a que veio... fora isso ele me deu a entender que é amigo do Edgar...

D. Gertrudes: Pode até ser... mas quando tem mulher no meio....

Elas são interrompidas pela chegada de um carro. Dr. Assunção chegou para levar a filha. Ele entra na casa e vai ao encontro da filha

Dr. Assunção: Bom dia

Laura: Bom dia

Dr. Assunção: Pronta? 

Laura: Sim...

Dr. Assunção: Então vamos... temos uma viagem pela  frente e você vai precisar descansar... o dia amanhã será difícil..

Laura: Eu sei... e tenho certeza que o de hoje também será... pai... acho que prefiro ficar em uma pensão a ter de aturar a  baronesa...

Dr. Assunção: Laura... não fale assim de sua mãe... ela só quer o seu bem... e será apenas uma  noite...

Laura: Está bem... Gertrudes... até logo...

D. Gertrudes: Até logo sinhazinha... boa viagem

Dr Assunção e Laura entram no carro. A viagem de volta ao Rio de Janeiro é tranquila. Ela e o pai procuram conversar sobre coisas mais amenas para distrair-se...  preferem não falar sobre o que vai acontecer...

Edgar enquanto isso está na redação do Correio da Republica conversando com Guerra.... seu amigo também tenta distrai-lo com outros assuntos... mas não há como não falarem sobre o divórcio

Guerra: Então vou publicar a reportagem sobre o bota-abaixo... Edgar... está me ouvindo?

Edgar: Guerra... desculpa... 

Guerra: Tudo bem... é amanhã... eu sei...

Edgar: Sim... amanhã passarei a ser um homem divorciado...Guerra... a Laura não entende... a gente não precisava estar passando por isso... mas ela é tão teimosa...

Guerra: E foi justamente isso que fez você se apaixonar por ela...a teimosia... a mesma que você tem...

Edgar: Eu não sou teimoso

Guerra: Não... é pior que uma mula empacada... mas, me diga, o que vai fazer depois? 

Edgar: Ainda não sei... se não fosse pela Melissa talvez voltasse para Portugal

Guerra: Falando na menina... você poderia reconstruir sua vida com a mãe dela... pelo menos daria uma família para sua filha...

Edgar: Eu não poderei casar novamente... e mesmo que pudesse... isso está fora de cogitação... Melissa sempre me terá por perto.. nunca vou deixar faltar nada a ela... mas daí a me casar com Catarina... não...

Na rua São Clemente,  Laura chega a casa dos pais. Desembarca, instala-se em seu quarto de quando era solteira e descansa um pouco. Depois de algum tempo desce procurando por seu pai. Dona Constância está na sala e Laura não consegue evitar a conversa com sua mãe.

D. Constância: Até que enfim você desce... temos que ter uma conversa

Laura: Tudo bem... seria inevitável mesmo... fale baronesa

D. Constância: Filha... eu quero apenas o teu bem... não faça essa bobagem....

Laura: A que se refere?

Constância: E ao que mais? Ao divórcio... Laura... isso é loucura... 

Laura: Não mãe... loucura seria se eu continuasse casada e aceitasse a segunda família do Edgar...

Constância: Eu sei que é difícil... mas perdoe esse pecadillho dele... pelo seu bem... o dele... e o de nossa família... pense que um divórcio pode acabar com a sua reputação... vai acabar líquidando com a carreira política promissora que seu pai está trilhando... 

Laura: Mãe... não vou ser conivente com isso... a senhora como sempre está se importando mais no que as pessoas vão pensar do que com o que eu sinto.... desculpe se vou estragar seus planos de reascenção... eu vou me separar... mas não se preocupe... não pretendo ficar aqui na cidade... se te tranquiliza... vou para o interior...não quero ter a menor chance de encontrar o Edgar...

Constância: Pois se é assim... se você não dá ouvidos a mim e nem a ninguém... esqueça que  tem uma mãe... e que bom que vai ao interior... vou manter a imagem do seu casamento... sem você... 

Laura: o que?

Constância: Vou dizer que você foi para o interior pois precisa se restabelecer de uma grave doença... assim não vão estranhar o Edgar estar sozinho aqui e ninguém precisa saber dessa loucura que estão a ponto de praticar...

Laura: Ele não vai concordar com isso... mas... faça o que quiser... não me importo (subindo para o quarto)

Constância: Mal agradecida... vou fazer isso para te preservar!!!

Laura sobe e encontra seu pai no corredor

Dr. Assunção: O que foi?

Laura: A baronesa... como sempre... 

Dr. Assunção: Deixa Laura... sua mãe está extremamente preocupada com tudo isso...

Laura: Mas ela tem o dom de me fazer perder a paciência... 

Dr. Assunção: Acalme-se... cuidado com o bebê... lembre-se... Laura... me diga... para onde vai depois do divórcio? Se quiser posso encontrar uma casa para vocês por aqui...

Laura: Não... pai... queria lhe pedir mesmo algo... será  que posso ficar morando na fazenda de Petropolis?

Assunção: claro... mas é tão longe... te fizeram alguma coisa na de São Gonçalo?

Laura: Não, claro que não... apenas acho que será melhor morar na serra... e... gostaria que a D. Gertrudes fosse comigo... quero que me ajude com o bebê....

Assunção: Mas e a  Filomena? E quem vai cuidar da casa da "Hortência"?

Laura: A  Filomena é governanta e vai continuar... quero a Gertrudes para cuidar do bebê... e quanto a fazenda acho que a Josefina dá conta...  trabalha lá há anos...

Assunção: Mas fica perto da propriedade dos Vieira... se você pretende esconder esse bebê como vai fazer?

Laura: Eu penso nisso mais tarde... por enquanto quero ir para lá... 

Assunção: Está bem... e quando vamos?

Laura: O quanto antes... amanhã depois da audiência...

Assunção: Bem... vamos dormir...  amanhã o dia vai ser cheio...

No dia seguinte, Laura arruma-se para ir ao fórum. No outro lado da cidade, Edgar faz a mesma coisa... ambos estão nervosos... 

Edgar (olhando-se no espelho arrumando a gravata e suspirando): É hoje...

Laura desce as escadas. Na sala da casa dos Assunção, Dr. Castro a aguarda para acompanha-la até a audiência. 

Laura: Bom dia Dr., pontual como sempre...

Dr. Castro: Bom dia... como está?

Laura: Nervosa..

Dr. Castro: Dará tudo certo... logo isto tudo vai acabar... vamos?

Laura: Vamos

Eles chegam ao fórum.

Laura: E se ele não vir?

Dr. Castro: Ele virá... ele sabe quais são as consequências de não comparecer a uma intimação.... mas caso isso ocorra entraremos com o litígio... será mais demorado, doloroso  e terá mais chances de se tornar público... a menos que a senhora desista do feito (ele olha para Laura como que implorando para não desistir do processo)

Laura: Não vou desistir... se for preciso vamos ao litígio...

Edgar chega neste momento e vê os dois... fica afastado observando... e logo percebe os olhares e toda a gentileza de Joaquim para com Laura...

Eles são chamados pelo juiz. Acomodam-se na mesa perante o juiz e o escrivão do fórum.

Juiz: Comecemos... Nesta data, comparecem a este juizo Edgar Vieira e Laura Vieira, com o propósito de divorciarem-se. Segundo os documentos apresentados, estão em comum acordo quanto ao feito. Alguma objeção?

Edgar: Laura?

Laura: Nenhuma objeção. Pode continuar...

Edgar: Tem certeza... por favor...

Juiz: Dr. Vieira... pelo que vejo o senhor não quer o divórcio... se não aceita os termos não assine...

Dr. Castro: Meritissimo Juiz... minha cliente não quer mais viver ao lado deste homem...portanto se este se nega ao divórcio consensual, vamos entrar com um pedido de divórcio litigioso

Edgar: Litigioso? Laura... você não faria isso...

Laura: Vou fazer sim... se você não aceitar... vou entrar com a alegação de abandono de lar e formação de nova família...

Edgar: Mas isso não aconteceu... eu não abandonei... foi você que saiu de casa

Laura: você me obrigou a isso!!

Juiz (batendo o martelo): Ordem! Ordem!

Dr. Castro: Dr. Vieira.. Poupe minha cliente e poupe a si mesmo de um escândalo...

Edgar acente com a cabeça. O juiz prossegue com a audiência... alerta Laura quanto a sua condição de divorciada. Com a anuência de ambos passa o documento para assinatura.  Laura molha a pena no tinteiro e assina seu nome... Edgar observa aflito... o papel é colocado a sua frente para colher sua assinatura... da mesma forma que Laura, assina seu nome naquela folha... pega o mata-borrão e secando as assinaturas coloca toda a sua raiva.  

Edgar: Satisfeita? Com licença...

Edgar sai pelo corredor do fórum. Mas algo o intriga. Resolve esperar. Esconde-se em uma sala e espera Laura e o Dr. Castro passarem... Vê que Laura está muito abatida... chorando

Dr. Castro (oferecendo seu lenço a Laura): D. Laura... não fique assim... as feridas vão se curar... a senhora é tão jovem e bonita... logo isto passará....

Laura:  Obrigada Dr. Castro

Dr. Castro: Pode me chamar de Joaquim... e agora... vai voltar para São Gonçalo?

Laura: Não... vou para outro lugar.. parto hoje mesmo

Joaquim:  Posso acompanha-la? Estou a seu inteiro dispor... Conte comigo para tudo o que precisar...

Laura: Não obrigada... vou com meu pai... seus honorários serão pagos assim que ele voltar

Joaquim: Meus honorários já foram pagos... só a oportunidade de conhece-la já pagou o processo...espero logo vou voltar a ve-la... pretendo levar pessoalmente o documento quando estiver pronto...

Laura: Entregue a meu pai... não quero incomodar-lhe... é uma viagem longa demais só para isso...

Joaquim: Ver a senhora compensa cada palmo de terra que tiver de percorrer...

Edgar está incrédulo com o que ouve... seu amigo... logo ele... mal sairam da sala onde o divórcio foi assinado e já está cortejando despudoradamente sua ex-mulher....

Eles saem do fórum.  Joaquim é só gentilezas para com a  moça. Laura entra em um coche e segue para casa. Edgar chama Joaquim... está tomado de ciúme

Edgar: Joaquim?

Joaquim: Edgar...

Edgar: Seu canalha! Julguei que fosse meu amigo! E nem esperou sairem do fórum para flertar com minha mulher!

Joaquim: Me desculpe, mas me apaixonei por sua ex-mulher Edgar... Laura agora é uma mulher divorciada... eu respeitei o seu casamento... até tentei ajudar vocês a se entenderem... mas... agora... ela está livre... e tem direito a reconstruir sua vida... e eu quero ajuda-la...

Edgar: Como ousa? Eu não vou permitir isso... ela é divorciada... jamais vai poder casar com você

Joaquim: Você não pode impedir.. isso já não lhe diz  mais respeito... e quanto a casamento... não é preciso um matrimônio para  encontrar a felicidade

Edgar não aguenta essa insinuação e acaba dando um soco em Joaquim que o derruba no chão

Edgar: Não ouse pensar em flertar com minha mulher... ou vai se arrepender

Edgar segue pisando firme e apressado pela rua. Chega em casa... e se depara com uma visita... 

Edgar: D. Constância? O que faz aqui?

D. Constância: Boa Tarde Edgar... vou ser breve... sei que vocês cometeram essa bobagem do divórcio

Edgar: Sua filha quis assim

D. Constância: Mas por sua culpa... nunca esqueça isso... se você não tivesse trazido  aquela desclassificada para cá, nada disso teria acontecido... e por isso mesmo lhe peço... proteja Laura da difamação e do escândalo...

Edgar: Como?

D. Constância: Não revelando que vocês se separaram... para todos os efeitos ela está no interior cuidado de sua saúde delicada... vocês continuam casados... 

Edgar (debochando) ela nunca vai aceitar isso...

D. Constância: Laura vai para o interior... nunca vão descobrir... você poderá ter a vida que quiser.. ter quantas amantes quiser... para os homens tudo é permitido... mas se lhe perguntarem... Laura continua sendo sua esposa... e também com o divórcio, você também nunca mais poderá se casar...por favor Edgar... é uma mãe que está lhe pedindo para proteger sua filha da maledicência... se ainda ama Laura... e eu sei que ama...faça isso

Edgar (para um pouco e pensa... não quer ver Laura passar por tudo que já lhe disseram que uma mulher em seu novo estado civil passa): Está bem dona Constância... faço pela Laura... mas só por ela... 

Enquanto isso... Laura e Dr. Assunção estão a caminho da Fazenda Rosa Branca... lugar onde Laura pretende ser  feliz novamente...