Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 111
Uma Mulher no Comando




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Em frente ao grande quadro de Renoir que adorna a sala de estar, Bonifácio Vieira espera... Estando de pé, anda alguns passos tendo as mãos nos bolsos... Senta-se por alguns momentos e volta a pôr-se de pé retornando a posição inicial... Ouve a fechadura da porta principal daquela casa destravar e logo vozes vindas do vestíbulo...A criada passa em direção a entrada da residência...

Gertrudes: Boa tarde... Os senhores têm visitas..

Laura: Visitas? Quem poderá ser?

Edgar (entrando na sala, seguido por Laura e deparando-se com o pai): Pai?

Bonifácio: Enfim chegaram!... Boa tarde... como vão?

Edgar: O que o senhor quer aqui?

Bonifácio: Edgar... isso é maneira de falar com seu pai? Estava esperando por sua mãe... Ela estava com Laura, não estava?

Laura: Acabamos de deixa-la em casa...

Bonifácio: Que maçada!... Mas pelo menos assim pude vê-los... Daniel está brincando no andar superior... Desculpem mas fui dar uma olhada nele.. Vocês deviam leva-lo mais vezes lá em casa...

Edgar: É impressionante! A Melissa é tão sua neta quanto Daniel... está junto com ele brincando... e o senhor faz questão de nem menciona-la!... Mas não vou discutir isso com o senhor... Sei que não veio aqui só para isso... eu o conheço... O que quer?

Bonifácio: Tem razão... Tenho um assunto para tratar contigo...

Laura: Bem.. eu vou ver as crianças... Com licença...

Edgar: Fique Laura... Não há nada que tenha que tratar com meu pai que não possa ser ouvido por você...

Bonifácio: Sim... Talvez possa me ajudar a convencer o cabeça dura do seu marido que quem deve administrar aquela tecelagem sou eu!

Laura: Sr. Bonifácio... realmente Edgar me contou tudo o que aconteceu na tecelagem e apesar de diretamente não me dizer respeito.. O que meu marido decidir será apoiado por mim... Com licença... (subindo as escadas)

Edgar: Pai... já falamos sobre isso!... O senhor vai continuar trabalhando na tecelagem.... e sempre será ouvido quanto às decisões importantes na fábrica, afinal o senhor é o segundo maior acionista.... mas quem irá administra-la representando a mamãe será outra pessoa...

Bonifácio: Edgar... isso é absurdo! Eu fundei aquela fábrica... sei todo o funcionamento dela... administrei desde sempre... e agora de proprietário passo a um mero colaborador... A que ponto chegamos!

Nisto o telefone toca... Edgar que pensava em revidar as palavras do pai aproxima-se da mesa de canto e atende o aparelho...

Edgar: Alô... Edgar Vieira...

Filipa: Alô... Edgar... é Filipa...

Edgar: Que bom que ligou... Pensaste na proposta que te fiz?

Filipa: Sim... pensei bastante... Vou aceitar...

Edgar: Ótimo! Quando pode começar?

Filipa: Se quiseres, pode ser amanhã mesmo...

Edgar: Perfeito... Passo aí para te levar à tecelagem amanhã pelas 7:30horas...

Filipa: Combinado.. .estarei aguardando!... Boa noite e obrigada pela oportunidade e confiança...

Edgar: Eu que agradeço por ter aceito... Boa noite... (colocando o bocal do telefone no gancho) Está feito... Amanhã o novo administrador irá começar...

Bonifácio: Mas isso é um descalabro! Margarida é minha esposa... está sob minha tutela... e como tal eu tomo conta dos bens dela...

Edgar: O senhor mesmo leu a cláusula contida na doação... As ações não entram em meação... e ela pode dispor das mesmas como quiser!... E, como me nomeou procurador... as decisões vão ser tomadas por mim... E no momento... o melhor é termos um administrador...

Bonifácio: Edgar... ouça o que estou dizendo... isso é desnecessário!... Eu posso cuidar de tudo...

Edgar: Pai... isso já está decidido... Ademais... o senhor há muitos anos não cuida de tudo sozinho.. Antes mesmo disso, em função do seu envolvimento com a política, ou melhor, com a sujeira que o senhor chama assim

Bonifácio: Eu sou um político... não um corrupto!... Não me ofenda!

Edgar: Não... quem se ofende aqui sou eu!... O senhor faz política pensando apenas nos seus interesses, quando o verdadeiro sentido da política é preocupar-se com o bem comum... Não vou perder tempo tentando fazer o senhor entender isso... É como falar com um surdo... Mas graças a essa sua politicalha o senhor estava mais fora da tecelagem do que dentro dela... logo que voltei de Portugal eu o ajudava... E o Fernando sempre o auxiliou a gerir a fábrica...

Bonifácio: Mas é diferente!... Eu sempre estive a frente dos negócios.. e sabia exatamente onde cada tostão estava sendo empregado.. desde a venda dos tecidos.. até o pagamento das despesas... Ainda mais em se tratando do incompetente do seu irmão... sempre tive de supervisionar tudo!

Edgar: Tão incompetente que lhe deu um golpe que custou a ser descoberto e se não fosse pela minha mãe, ele ainda estaria no controle da tecelagem! Quanto a saber sobre as transações realizadas... O senhor continuará a par do que é feito na fábrica... A pessoa que contratei é idônea e responsável... Tudo será feito com a maior transparência possível...

Bonifácio: Desculpe... mas não creio que uma pessoa estranha seja a melhor opção para administrar um negócio de família... e você ainda vai me dar razão.. Com licença..

O político sai daquela casa a passos largos e firmes, com toda a petulância e altivez que são peculiares ao pai do advogado. Atravessa a rua e embarca em seu automóvel, tomando um destino ignorado... Edgar ao ver-se só na sala senta-se pesadamente entre as diversas almofadas de franja que decoram o sofá azul... Passa as duas mãos pelos fios loiros de sua cabeça logo apoiando os cotovelos nos joelhos tendo as mãos espalmadas em seu queixo.. Laura ao perceber que o marido encontra-se sozinho na sala, volta a descer as escadas a fim de ofertar pelo menos algum consolo a Edgar...

Laura (sentando-se ao lado do marido) As crianças estão terminando de vestir... A Gertrudes vai servir o jantar delas no quarto... (fazendo uma pausa e olhando nos olhos do advogado) A conversa deve ter sido difícil...

Edgar: E quando falar com o Sr. Bonifácio foi fácil? Ele não aceita não estar no comando da fábrica...

Laura: A D. Margarida me contou o que aconteceu... Por um lado entendo seu pai... deve ser complicado ver algo que você construiu e sempre teve o comando na mão de outra pessoa... deve ter sido difícil ver o Fernando... e agora mais por ser uma pessoa que nem é da família... ou você vai assumir?

Edgar: Não... eu não posso... Tenho outros compromissos... tenho meus clientes... tenho uma família para cuidar... Não vou abrir mão de estar com vocês para estar a frente da tecelagem... Contratei uma administradora...

Laura: Administradora? Uma mulher?

Edgar: Sim... por que o espanto? Você mesma é a prova de que as mulheres são tão competentes quanto homens... e é preciso se adequar a essa nova realidade..

Laura: Olha... que marido moderno eu tenho... e que orgulho isso me dá! (aplicando um beijo leve)... Se todos pensassem como você... Mas sei que vai ser uma longa e árdua caminhada até que as pessoas reconheçam isso... Quem é a escolhida?

Edgar: A Filipa... Ela tem alguma experiência administrativa... e tenho plena confiança nela..

Laura: É uma boa escolha... Ela parece ser muito responsável e certamente gerenciará muito bem... Mas ela não vai voltar logo para Portugal?

Edgar: Não... me disse que gostou do país... e que está retomando a relação dela com o Joaquim... Meu único receio é que ela sofra por culpa dele...

Laura: O Dr. Castro errou muito com ela e talvez ainda mais conosco... Mas pelo que vi ele tem aproveitado a oportunidade de retratação que lhe foi dada... Tem mostrado disposição para ajudar nas investigações... Quanto ao relacionamento.... é um risco.. mas se ela decidiu... não há o que fazer... Então nossas duas investigadoras vão permanecer no Brasil!... A Manoela também vai ficar... e creia... vai se casar com o Albertinho...

Edgar: Como assim?

Laura: Meu pai esteve aqui e disse que Manoela pernoitou lá por conta da chuva ontem e ...digamos que o Dr. Assunção flagrou-a com Albertinho em uma situação um tanto inapropriada...imagine... devem ter ficado completamente desconcertados...

Edgar (rindo): Por Deus... acho que se estivesse no lugar deles iria morrer de vergonha..(voltando a ficar sério) O Albertinho não toma jeito mesmo...espero que com o matrimônio crie juízo...

Laura: Todos esperamos!... Ah... meu pai trouxe boas notícias!... A documentação da escola está pronta... Estamos legalmente autorizados a funcionar...

Edgar: Ótima notícia!... E pelo que Isabel me falou hoje no Teatro... a reforma está andando mais rápido do que pensávamos... Muitas pessoas no morro estão ajudando na reconstrução... Acho que em menos de um mês podemos inaugurar...

Laura: Ai que bom! Temos que correr então! Há muito por fazer...

Edgar: Há muito por fazer... mas a senhora tem de ir com calma... Não precisa toda essa agitação... Lembre que está esperando um bebê...

Laura: Eu sei meu amor... (fazendo uma pausa) Você disse que esteve com a Isabel....

Edgar: Sim... fui avisa-la... ganhamos a ação contra a Catarina... Ela vai ter de pagar cinco contos de réis por danos morais...

Laura: Olha... outra boa notícia!... Mas, não consigo deixar de me preocupar... Catarina é perigosa... ardilosa... Espero que não tente revidar de alguma maneira...

Edgar: Também espero... Pelo menos minha filha está conosco... Isso já me dá um certo alívio

Laura: A Melissa está bem... Nós estamos todos juntos... Tivemos boas notícias hoje... olha, depois de muito tempo, posso dizer que o dia não foi de todo mal...

Edgar: Verdade... Entre tanta coisa ruim tivemos coisas boas...e pelo que fiquei sabendo teremos mais casamentos futuros... O Guerra também vai casar...

Laura: Eu sei!.. A tia Celinha me contou... Está muito feliz... Conversamos bastante... Pena ela não ter podido ir conosco às compras...

Edgar: Como foi com isto?

Laura: Controlar o espírito consumista da baronesa não foi uma tarefa fácil!... Se você achou que foi muita coisa... não sabe o quanto mais ela queria comprar!.. Queria dar palpite sobre minhas roupas... Quase se meteu a escolher as minhas camisolas também...

Edgar: Hum... compraste camisolas também? Isso muito me interessa...

Laura: Ah é? Acho que depois do banho eu te mostro...

Edgar: Mostra mesmo? Nem vi e já estou pensando em como será que vou tirar... se tem muitos botões... fitas... (dando um beijo intenso na esposa)

Laura: Não se anime muito, não... é uma camisola simples... sem muitos enfeites... bem confortável.. (enquanto Edgar desce com os beijos até o pescoço da moça) Edgar... as crianças...

Edgar: Elas não estão aqui... você acabou de dizer que a Gertrudes vai servir o jantar delas lá encima... Sabe... acho uma boa ideia se o nosso também for...

Laura: Está bem... vou avisar a Matilde para preparar uma bandeja e depois vou me refrescar um pouco...

Edgar: Deixa que eu aviso... Eu já te encontro... ou não posso?

Laura (sorrindo já subindo os degraus): Preciso realmente responder?.... Não demore...

Enquanto Laura sobe e prepara o banho, em Botafogo, Bonifácio Vieira chega a sua casa... Vê Margarida bordando sentada no grande sofá da sala de estar... Passa por ela cumprimentando-a secamente e tranca-se em seu escritório... Senta-se à secretária e remói pensamentos... As coisas não estão saindo como esperava... Precisa tomar cuidado.. ainda mais com um novo administrador!... Precisa conversar com algumas pessoas na fábrica... As coisas terão de funcionar de outra maneira... para não haver problemas, pensa... E assim, refletindo sobre como agir a partir daquele momento acaba por chegar a algumas conclusões... que deverá por em prática assim que amanhecer o dia...

Já na casa dos Vieira, após um dia bastante complicado para o casal, Edgar e Laura encontram-se na banheira... O advogado, tendo a esposa recostada em seu peito, acaricia o ventre já proeminente da moça...

Laura: Como é bom aqui...

Edgar: Sim.... Sabe... estava sentindo falta disso... Dessa paz que sinto só quando estou com você...

Laura: Oh meu amor... teu dia hoje foi difícil não?

Edgar: Digamos que sim... e sei que amanhã será assim também... Olha... chega a me dar um desânimo... Quando penso que as coisas estão se ajeitando... surge algo...

Laura (virando-se de frente para o marido): Então, Dr. Advogado... que tal se a gente agora deixasse todos esses problemas fora da nossa casa? Pelo menos até... vejamos...

Edgar: Até amanhã pela manhã... acho uma ótima ideia!... Até porque... acho que tenho outros assuntos no momento... Estou muito interessado em uma certa moça..(puxando Laura mais para sim e a beijando com paixão)

Laura e Edgar aproveitam cada instante da companhia do outro, esquecendo todas as contrariedades e atribulações que ambos, cada um a sua maneira, enfrenta no momento... E assim a noite passa dando lugar a um novo dia, que amanhece ensolarado e com uma brisa leve típica de uma manhã de outono... Pessoas já tomando as ruas seguem vagarosas para seus destinos... Na tecelagem Vieira, os teares são colocados em funcionamento, dando início a mais um turno na fábrica de tecidos... Mais um dia de trabalho começa... Enquanto isto, na sala de presidência, Edgar começa a inteirar Filipa sobre suas atribuições dentro da empresa... Quando são abruptamente interrompidos pela chegada de Bonifácio...

Edgar: Bem Filipa... Agora que já conheceu todas as dependências da fábrica, vou te por a par do funcionamento administrativo...

Bonifácio (abrindo a porta): Bom dia...

Edgar e Filipa: Bom dia

Edgar: Pensei que o senhor estivesse em mais uma de suas reuniões partidárias...

Bonifácio: Não... Vim conhecer o tal administrador... Quem é essa moça?

Edgar: Esta é a Dra. Filipa Borges...

Bonifácio: Como vai?

Filipa: É um prazer Sr. Vieira...

Bonifácio: Mas o que uma moça tão bonita está fazendo aqui... numa tecelagem?

Edgar: Filipa é a mais nova funcionária da Tecelagem Vieira...

Bonifácio: Edgar... você não está querendo dizer isso...

Edgar: É isso mesmo... Filipa é a nova administradora da fábrica...

Bonifácio: Você enlouqueceu! Uma mulher na fábrica! Como diretora!

Edgar: Pai.. por favor!

Filipa: Sim, Sr. Vieira... uma mulher...

Bonifácio: Mulheres mal sabem administrar suas casas... Você mesma, mocinha... deveria estar a fazer um cozido... cerzir uma meia... flanar pelas ruas do centro... Seu lugar não é aqui!

Filipa: Vejo que o senhor cultiva a mesma mentalidade da maior parte dos homens... Enquanto outras moças se detinham em lidas domésticas... eu frequentava a universidade!... Formava-me como advogada!... Posso não saber cozinhar e muito menos costurar mas sei ter respeito e educação!...

Bonifácio: Isto não é preciso para gerenciar uma fábrica... É preciso saber fazer negócios... Não é trabalho para bacharéis em direito..

Edgar: Ah sim? E então por que insistiu tanto para que eu tomasse conta dos negócios da família assim que me formei como advogado? Pai... escute o que vou lhe dizer... Filipa foi minha colega... Teve as mesmas noções de administração que tive durante o curso... Tocou os negócios do pai dela quando ele estava doente e até onde sei organizou todas as finanças do moinho da família... Administrava o próprio escritório de advocacia em Portugal...

Bonifácio: Administrar um moinho é fácil...

Edgar: Realmente... a tecelagem é uma empresa muito maior... mas não esqueça que o senhor aprendeu a fazer negócios no balcão de uma mercearia.. Filipa... no início eu vou acompanhar teu trabalho... te passar tudo o que eu sei...

Filipa: Agradeço-te...Sempre é bom ter auxilio quando se começa um novo trabalho... Pelo que pude apurar até agora... não será tão difícil..

Bonifácio: Edgar... você já imaginou a reação dos fornecedores e dos clientes da fábrica quando souberem que uma mulher administra a fábrica?

Filipa: Edgar...os clientes da fábrica são tão antiquados quanto seu pai?

Edgar: Eles vão achar que nossa fábrica é arrojada... e moderna...

Bonifácio: Vão nos ridicularizar... vamos perder clientes...

Edgar: Não... não vamos... Pai... por favor... pare com isto!.. Eu fui nomeado procurador pela acionista majoritária e minha decisão já está tomada... e não tem volta... a Dra. Filipa vai dirigir a fábrica...

Bonifácio (suspirando como se dando por vencido): Está bem... Pior que Fernando esta doutora não deve ser... Mas se por acaso isto não der certo e nos trouxer prejuízos... a culpa é sua!

Edgar: Certo... Filipa... Desculpe faze-la passar por esse constrangimento... Espero que ainda esteja disposta a assumir a vaga que te ofereci...

Filipa: Isso depende de quanto...

Edgar: Ah sim... só um instante... (indo a mesa e escrevendo em uma das folhas de um bloco de anotações, mostrando em seguida o escrito a advogada) Oferecemos este valor como salário inicial..

Filipa: Está muito bom... mas não me referia a isso... quero saber quanto tempo mais seu pai permanecerá aqui na fábrica...

Edgar: Pouco... ele quase não vem mais aqui... diz que quer tocar a fábrica, mas passa a maior parte do tempo em articulações políticas...

Filipa: Ótimo!.. Assim não precisamos conviver todos os dias...

Bonifácio: Mas que petulância! Você ainda vai me dar razão, Edgar!... Passar bem... (batendo a porta)

Edgar (depois de algum tempo): Perdoe mais uma vez por esta situação...

Filipa: Não se preocupe... estou acostumada... infelizmente... (Fazendo uma pausa) Onde estávamos mesmo?

Edgar: Ia começar a te passar informações sobre a empresa... Venha!... Vou te mostrar onde ficam guardados todos os documentos...

E assim, a nova administradora é orientada por Edgar sobre os procedimentos e rotinas da tecelagem... Na casa dos Vieira, Laura termina de prender os cabelos de Melissa e conversa com Gertrudes, que está a vestir Daniel...

Laura: Muito bem princesa!... Está linda com esse laço cor de rosa nos cabelos...

Melissa: Estou bonita mesmo? Esse laço combina com as flores do meu vestido, olha... (rodando no meio do quarto)

Daniel: Meninas!... Só pensam em vestidos... e bonecas...(fazendo uma careta)

Melissa: E vocês em bolas...(mostrando a língua)

Laura: Crianças.. comportem-se!... Ou não vamos mais a lugar algum...

Daniel: Mas mamãe! A senhora prometeu...

Laura: Prometi... mas se vocês continuarem vão ficar em casa.. e sem brincar!... Não gosto desses modos...

Melissa: Desculpa tia...

Daniel: Desculpa...

Laura: Está bem... Estão prontos?

Gertrudes: Estão sim... É bom irmos agora... Aproveitar que o sol não está tão forte...

Laura: Sim... e depois que voltarmos marquei de encontrar com a Sandra... Temos que comprar as carteiras... e vamos ao morro conversar com alguns pais...

Gertrudes: Já há previsão para inaugurar a escola?

Laura: Não temos ainda uma data... mas assim que terminarem a reforma vamos começar as atividades... E agora... vamos crianças?

As crianças pulam de alegria e se põem a correr em direção da porta principal. Gertrudes desce as escadas com a pressa que sua idade já um tanto avançada permite tentando alcança-las, enquanto Laura olha para seu filho e sua enteada e um sorriso lhe brota nos lábios... está feliz por ver sua família assim... Quando por fim estão todos na sala de estar, Laura lembra-se que esquecera sua bolsa na sala contígua... Vai em busca do acessório e depara-se com um envelope endereçado a Paulo Lima na mesa, junto a seus materiais da escola... Abre com cuidado e começa a ler o conteúdo da correspondência... As crianças a chamam... Deixa o material que Guerra lhe enviara no lugar onde encontrara... e volta com a expressão um tanto preocupada para a sala de estar...

Gertrudes: O que houve menina?

Laura: Quando aquele envelope chegou, Gertrudes?

Gertrudes: Passei no correio hoje, mais cedo... Más notícias?

Laura: Não... na verdade são ótimas... Guerra está confiando uma matéria importante para o Paulo Lima...

Gertrudes: Mas então, por que está assim?

Laura: Acho que terei problemas com o Edgar... Vamos... as crianças estão nos esperando...

Laura e a babá encontram as crianças no jardim e rumam para o parque, onde se divertem muito sempre sob os olhos atentos das duas senhoras...

Algumas horas passam... Daniel e Melissa voltam para casa exaustos mas felizes, sendo atendidos por Matilde e Gertrudes , enquanto Laura vai encontrar-se com sua sócia... Já na fábrica, Filipa, após ter conhecimento de suas atribuições, é apresentada aos funcionários por Edgar como a nova administradora, sendo recebida com certa desconfiança...Há estranheza por parte dos operários ao saberem que uma mulher irá ditar as regras no lugar onde trabalham a partir de agora... Enquanto o advogado a apresenta, não deixa de perceber os comentários ao pé do ouvido por parte de uns e outros, sendo rebatidos pelo colega de profissão assim que nota o burburinho provocado pela presença da moça...

Edgar: Senhores... sei que a contratação da Dra. Borges é motivo para estranhamentos... Concordo que uma mulher a frente da direção de uma fábrica, seja ela qual for, não é algo comum... Mas tenham certeza que a fábrica está em boas mãos!... De uma pessoa responsável, competente e acima de qualquer coisa, honesta... Não precisam ter receios quanto ao futuro desta empresa e muito menos quanto ao emprego de cada um de vocês...

Filipa: Por favor, meus caros colegas de trabalho... Eu peço que não se preocupem... Não é por ser mulher que não tenho habilidade para gerenciar uma fábrica deste porte!...O trabalho de todos vocês não sofrerá grandes influências ou alterações por ter uma pessoa do sexo feminino no comando... Sofrerá as transformações que um administrador, independente do sexo, julgar necessárias para o melhor funcionamento desta tecelagem... A única coisa que viso é o melhor para esta empresa e consequentemente para todos que dela dependem...

A moça continua seu discurso, conseguindo desta forma acalmar os ânimos e passar segurança quanto ao futuro aos funcionários da empresa... Neste interim, na Rua do Ouvidor, o delegado Praxedes chega afoito à delegacia... Entra em sua sala e dirige-se à secretária, postando-se em frente a mesma e olhando ameaçadoramente para quem tem a sua frente...


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