Laura e Edgar- Um romance desde o Início escrita por Nanda


Capítulo 106
Suspeitas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem se decepcionar alguém... mas senti a necessidade de escrever isto antes...



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Sentada na poltrona creme do quarto agora inundado pela luz do sol daquele dia ameno de outono, Laura lê com atenção o teor das folhas contidas naquela pasta cartonada... Está perplexa diante do que tem em mãos... Começa a retirar todas as outras pastas... Afoitamente abre e passa os olhos pelos escritos... Isabel que a tudo observa, espanta-se com o afã com que a professora revira a caixa que Heloisa depositara ali na mesinha...

Isabel: O que foi Laura? Está procurando alguma coisa? Se me disser o que é, posso tentar te ajudar...

Laura: Isabel... você não tem ideia do que é isso!.... Eu não estou acreditando...

Isabel: Pelo jeito não são seus planos de aula...

Laura: Não... Isabel... acho que acabei de descobrir um segredo do Edgar... Dá uma olhada nisto... (alcançando uma das pastas)

Isabel começa a leitura daquelas páginas... Após algum tempo olha intrigada para a amiga, que espera ansiosa por alguma reação da dançarina...

Isabel: Laura... não tem nada demais aqui... quer dizer... um rascunho de artigo... que deve ter sido muito bem escrito, pois as ideias gerais aqui muito coerentes, concisas... e pelo que entendi... essa é a letra do Edgar...

Laura: Aí que está!... Sim...a letra é do Edgar!... Mas esse texto... não parece que já leu em algum lugar?

Isabel: Bem... lendo com mais calma... sim... esse texto não me é estranho... Mas não sei onde vi...

Laura: Mas eu sei!... No Correio da República..Isso tudo estava num dos artigos do Antonio Ferreira.... E nas outras pastas têm mais escritos assim... Isabel.. se minha desconfiança estiver certa... o Dr. Vieira tem muito a me explicar!

Isabel: Laura... vai com calma!... Pensa no que vai fazer!... Afinal se a sua desconfiança é a que eu imagino... não esqueça que a senhora está na mesma situação...

Laura: Mas é diferente!... Eu uso pseudônimo para conseguir ser respeitada pelo que escrevo...

Isabel: Ele também deve ter um motivo... Isso se o que estamos pensando for verdade...

Laura: Preciso descobrir... E agora preciso que essa caixa volte exatamente para o lugar de onde veio...

Isabel: Eu levo para o escritório... peço para Heloisa guardar onde estava...

Laura: Faz esse favor, amiga? E traz a caixa dos meus materiais... Está na última prateleira da estante... na coluna perto da janela... Enquanto isso... vou dar uma olhada nas crianças...

Enquanto isto, Edgar chega ao Morro da Porvidência. Enquanto começa a subir, pensa no que sucedera na noite anterior... Isabel acabara de dizer-lhe, enquanto esperavam a avaliação da doutora, que havia se despedido de Laura em frente à escola... A dançarina vira sua esposa e os filhos descendo o morro... Por que afinal Laura e as crianças voltaram? Não quis conversar com a professora a respeito... Ela precisa descansar e o advogado pensou que aquele não era o momento de fazer perguntas... Aproxima-se dos escombros... Lá encontra com Zé Maria e outros moradores que estão procurando vestígios do que possa ter iniciado o incêndio...

Zé Maria: Bom dia Dr!.. Como estão as crianças e a professora?

Edgar: Zé Maria... deixa disso!... Me chama de Edgar!... Tiveram uma noite um pouco agitada mas eles estão bem.... precisam manter o repouso hoje...Não sei como te agradecer... Se não fosse você e o outro rapaz... não sei o que teria acontecido com meus filhos...

Zé Maria: Não me agradeça... só fiz o que devia!... Estamos procurando o que pode ter começado com o fogo...

Edgar: Eu vim aqui para tentar descobrir alguma coisa também... e ver o que restou da escola...(entrando nos escombros e olhando para os danos) Vamos ter de refazer o teto...pintar tudo... comprar todo mobiliário... os materiais...

Zé Maria: Quanto a mão de obra podem contar com todos por aqui... Tirando um e outro mais teimoso... todo o morro quer que as crianças aqui estudem...

Edgar: A Laura me falou sobre isso... Vamos tentar convencer esses pais mais resistentes...

Chico (entrando): Olhem!... Encontrei isso...

Zé Maria: Um balão? Mas agora não é época de festa para soltar isso!... Certamente foi o que provocou o fogo...

Chico: Sim... falei com um povo que mora mais lá para cima... disseram que viram o Argemiro... filho de uma lavadeira... no início da noite soltando esse negócio...

Zé Maria: Um balão pode cair em qualquer lugar... mas...

Edgar: Mas este está muito inteiro para ter caído aqui e provocado tudo isso... ainda mais esse prédio sendo de cimento e tijolos e não só de madeira...

Chico: Vocês acham que foi intencional?

Edgar: Não podemos acusar sem provas... testemunhas...Sabe o que mais me intriga? Por que a Laura voltou aqui para escola? A Isabel me disse que se despediram e as crianças e minha esposa estavam descendo o morro....

Chico: Ela estava realmente descendo.. A Etelvina me disse que viu um dos sobrinhos do Caniço conversando com ele durante a tarde... e que o Caniço estava muito estranho...Parecia estar cuidando cada passo da D. Laura por aqui... Quando a professora estava indo embora o moleque a encontrou e falou alguma coisa...Logo depois ela voltou para escola...

Zé Maria: Caniço!... Tinha que estar metido nisso...

Edgar: Quem é esse?

Zé Maria: Um malandro que mora aqui.. .E esse Argemiro é outro da mesma espécie!... Não duvido que devam estar juntos nisso...

Chico: Mas queimar uma escola? A troco de que? Quem teria interesse numa coisa assim?

Edgar: É o que precisamos descobrir.. tenho minhas suspeitas... Me digam onde é o barraco desse sujeito... Quero falar com ele...

Zé Maria: É gente perigosa Edgar!... Deixa que eu me acerto com ele...

Chico: Nós!... Vou com você...

Edgar: Eu vou com vocês!.. Sem discussão...

Neste interim, Caniço olha através das frestas da parede de seu barraco para a movimentação de pessoas em torno do que restou da escola... Seu serviço não fora feito por completo e agora corre os riscos que havia dito no momento que aceitara o trabalho... Seus comparsas, mesmo que ele ameace, podem dar com a lingua nos dentes, deduz... Não vê outra alternativa senão fugir!... Enquanto pensa para onde ir, recolhe sem cuidado seus poucos pertences e faz uma pequena trouxa... Sai sorrateiramente do casebre procurando não levantar suspeitas... Precisa arranjar dinheiro... E já sabe onde conseguir...

Enquanto isso, na casa do advogado, Laura fora ao quarto onde as crianças estão. Apesar de estarem melhores graças a Dra. Evie e a dedicação de Matilde e Gertrudes, tanto Melissa quanto Daniel ainda encontram-se um tanto abatidos e no momento dormem tranquilamente... A moça observa seu filho e sua enteada e sente um aperto no peito... Por pouco aquelas crianças e ela não estariam ali naquele momento... Contempla o rosto sereno da menina e sorri... Em seguida acaricia os cabelos do filho e dando um beijo na testa de ambos, os deixa aos cuidados da babá, indo novamente para seu quarto... Isabel voltara para o aposento do casal Vieira, agora trazendo a caixa certa, juntamente com Sandra, que acabara de chegar...

Sandra: Amiga... vim assim que consegui!... A Isabel me contou o que aconteceu ontem... Não posso nem pensar no que você passou lá dentro!... Graças a Deus vocês estão bem...

Laura: A Deus... ao Zé Maria... ao Chico... ao Edgar... ao Guerra... a Dra. Evie..São tantos os que eu preciso agradecer...

Isabel: Foi tudo tão terrível!... Só de lembrar aqueles três entrando no meio daquele fogaréu para tirar vocês sinto arrepios...

Laura: E a Melissa já tinha desmaiado... Não gosto nem de lembrar!.. Ver meu filho chorando com medo... e não poder fazer nada....

Sandra: A gente vai ter de recomeçar...

Laura: Bom... eu não tenho medo de trabalho...

Sandra: Eu muito menos...

Isabel: Bem... sendo assim... que tal a gente começar a trabalhar? Podemos começar a fazer uma lista do que vamos precisar...

As moças começam a listar novamente o que irão precisar, preocupando e ao mesmo tempo enchendo as sócias de esperança de ver seu projeto por fim se tornar realidade.... Já no morro da Providência, Edgar, Zé Maria e Chico chegam ao barraco de Caniço... chamam pelo capoeira, mas não obtem resposta...

Edgar: Não tem ninguém aí

Chico (arrombando a porta): Vamos ver... Deve haver alguma coisa aqui...

Zé Maria (vasculhando o casebre): Olhem!.. achei aqui cola e papel de seda... da mesma cor dos restos do balão que encontramos nos escombros...

Chico: E as coisas do Caniço não estão mais aqui....

Edgar: Esse sujeito fugiu... Com certeza foi quem executou!.... Precisamos pega-lo para saber quem foi o mandante...

Chico: Mas como? Não tenho ideia de para onde terá ido...

Edgar: Eu vou denuncia-lo a policia... Temos o balão queimado e esses restos da confecção dele... Só preciso que a Dona Etelvina e as pessoas que viram o tal Argemiro no alto do morro venham comigo na delegacia... e contem tudo o que sabem...

Zé Maria: Não sei se vai conseguir... As pessoas daqui tem medo da polícia...tem muita gente boa aqui, mas tem os trastes como o Caniço... A polícia não pensa nos trabalhadores honestos... Acha que é tudo gente da mesma laia... Sempre que os guardas sobem o morro os bons acabam pagando pelos maus também...

Edgar: Entendo Zé... mas a gente precisa tentar!... É a única forma de encontrarmos esse fulano..

Enquanto Edgar e os capoeiras vão até as pessoas para convence-las a prestar depoimento, na residência de Catarina Ribeiro, a cantora está prestes a sair de casa... Ouve batidas apressadas na porta... Vai atender...

Catarina: Deve ser o Fernando... ele não sabe mais viver sem mim... (abrindo a porta)! Você? O que deu na sua cabeça vazia para vir até aqui? Retire-se imediatamente!...

Caniço: Eu vou sim... Mas primeiro a senhora vai me pagar o que deve!... Eu fiz o serviço... e preciso do dinheiro...

Catarina: Não fez... e dessa forma não lhe devo nada...

Caniço: Dona... tinha um pessoal revirando os escombros hoje procurando por alguma coisa... É melhor eu sumir da cidade por uns tempos...

Catarina: Eu não tenho culpa se você não tem competência para não deixar vestígios...

Caniço: Eu fiz tudo como a senhora mandou... A senhora vai me pagar... por bem ou por mal!.. Se eu for preso... não pense que a senhora vai ficar aí... livre como um passarinho... Vão engaiolar a dona também...

Catarina: Com que provas? Você acha que vão levar em consideração o que um delinquente como você vai falar? Eu sou uma cantora famosa... respeitada...

Caniço: A senhora não é nenhuma santa!... Se eu abrir a boca... Sabe muito bem que vai para o xilindró...

Catarina (pensando um pouco e pegando o resto do pagamento acertado): Tudo bem... Mas suma daqui... E se perguntarem se me conhece...

Caniço: Nunca lhe vi na vida... Com licença...

Catarina espuma de raiva... O plano que idealizara não dera certo.. Sua rival estava viva... Sua filha quase havia morrido... Fernando discutira e se pusera contra ela e para terminar teve de pagar ao capanga para não ser incriminada... Tinha a intenção de ver Melissa mas diante do que Caniço acabara de dizer-lhe a sua presença na casa do advogado pode ser perigosa para ela... Edgar lhe dissera que Melissa estava bem... Melhor manter contato apenas por telefone e pedir para a menina visita-la assim que possível, pensa... Se for lá pode gerar suspeitas...

Do outro lado da cidade, Laura, Isabel e Sandra continuam com seus planejamentos em relação ao grupo escolar. São interrompidas subitamente pela abertura da porta sem ao menos um pedido de licença por parte da pessoa que acabara de adentrar o aposento...

Constância: Laura... o que aconteceu?

Heloisa: Desculpe, D. Laura... Eu tentei dizer a esta senhora que ela não podia subir...

Laura: Está tudo bem Heloisa... Mãe... esses não são os modos que a senhora me ensinou...

Constância: Desculpe meu comportamento intempestivo... mas quando esta senhora me disse que estavas em seu quarto a esta hora... logo pensei que havia ocorrido algo contigo e com o bebê... Vamos... me diga, o que aconteceu? Essa casa está quieta demais!... Onde está meu neto? E o Edgar? E suas amigas... o que fazem aqui no seu quarto? Lugar de receber visitas é na sala... a menos que esteja doente...

Laura (zangada): Mãe! Pare com tantas perguntas! Não estou doente... (acalmando-se) mas não vou esconder isso também... Seria pior se soubesse por outros meios... Aconteceu algo sim...Houve um incêndio na escola... e as crianças e eu ficamos presos... Nas estamos bem... nos socorreram a tempo... O noivo da Isabel e um amigo conseguiram tirar as crianças... e o Edgar me resgatou do fogo...

Constância: O que? Laura... e você me diz isso, assim... com essa tranquilidade toda! Você podia ter morrido, filha! E o Edgar nem para me avisar! Eu devia ter sido informada... devia ter cuidado de vocês!... E seu pai longe! Alguém lembrou de chamar um médico para te examinar?

Laura: Sim, mãe... estou medicada... Papai conversou com a Dra. Evie para me atender se fosse preciso... Ela foi muito prestativa ontem... Me examinou e disse que as crianças e eu precisamos fazer repouso hoje... Mas que posso fazer atividades não muito cansativas... Assim, Sandra e Isabel estão me ajudando a programar algumas coisas para a escola, enquanto me fazem companhia.. Edgar foi resolver uns assuntos na rua... e Daniel e Melissa estão no quarto dormindo...

Constância: Filha... mesmo com tudo isso pretendem continuar com essa história de escola? Laura... o lugar é perigoso!

Isabel: Devo discordar disso, D. Constância! O incêndio podia ter acontecido em qualquer lugar... Mas sei exatamente ao que se refere pelo seu tom!... E só posso dizer que tenho pena da senhora por ser tão preconceituosa... No morro existem os delinquentes sim... mas há muita gente boa também... A sua maioria! Não é diferente dos salões que a senhora frequenta... ou melhor... é sim! Neles os delinquentes estão escondidos pela pompa e circunstância...

Constância: Isabel.. não lhe pedi opiniões!... Pelo que vejo voltou de Paris ainda mais atrevida... Filha, Por Deus! Você devia ficar na sua casa... cuidando do seu marido... das crianças... do seu lar... preparando o enxoval desse bebê que está a caminho...

Laura: Eu vou fazer tudo isso... e não fale assim com minha amiga! Concordo com tudo o que Isabel falou... Vou trabalhar na escola até quando me for possível...

Sandra (percebendo o clima que estava se formando ali): Laura... é melhor a gente ir indo...

Laura: Fiquem por favor.... Mãe... o que quer afinal?

Constância: Bem... Tinha vindo lhe convidar para amanhã à tarde tomar chá conosco.. Seu irmão vai me apresentar uma moça com quem está flertando... Como é sua amiga... pensei que sua presença pudesse deixa-la mais à vontade...

Laura: O Albertinho está flertando uma amiga minha?

Constância: Sim... o nome dela é... Manoela Medeiros... Por sinal... como é essa sua amiga?

Laura: Digamos que Manoela é uma moça muito especial... Vamos ver quais as suas impressões a respeito...(sorrindo)Que boa notícia! Espero que ela consiga finalmente colocar meu irmão nos eixos... Pena não poder estar presente ao chá... Por uns dias acredito ser melhor permanecer em casa....Mande lembranças a Manoela... e meus votos para que está relação deles seja duradoura...

Constância: Uma pena você não ir... poderíamos passar uma tarde agradável juntas!... O Daniel poderia ir conhecer nossa casa... Tem tanto espaço para brincar... Comprei muitas coisas para eles... podia trazer a menina também... mesmo não sendo sua filha... já que finalmente a aceitou... vou fazer um esforço para que tudo nesta família funcione...

Laura: Não vai faltar oportunidade...

Constância: Está certo... então com licença... Dê um beijinho em meu neto por mim...Bom dia meninas!

Constância deixa aquela casa rumando para a sua... Enquanto isto, Edgar encontra-se na delegacia. Com algum esforço ele e Zé Maria conseguiram convencer as pessoas a testemunhar o que viram ocorrer no Morro da Providência no dia anterior. Estão todos em frente ao Delegado Praxedes....

Praxedes: Dr. Edgar... pode ter sido uma fatalidade... Não é época de balões... mas o senhor sabe que onde caem sempre causam estrago...

Edgar: Por favor, delegado... ouça estas pessoas!...Elas viram uma movimentação estranha durante o dia por parte do possível executor...e quando fomos procura-lo encontramos isto onde mora... Ademais... mesmo que não tenha sido proposital... três pessoas podiam ter morrido... Será realmente que um balão teria causado tanto dano? A construção não era totalmente de madeira...

Praxedes: Eu sei... Sandra me levou para conhecer o lugar... O senhor está sugerindo que o melhante usou algum líquido inflamável para dar cabo de seu ato?

Testemunha: Senhor Delegado... eu vi o Caniço chegar ao morro tem uns dias com alguns galões de querosene...

Edgar: A querosene é altamente inflamável... Para que alguém armazenaria tanta quantidade em casa? E mais... quando fomos ao barraco do sujeito... não havia nenhum litro desse líquido..

Praxedes: O senhor disse se tratar do Caniço...Não é a primeira vez que esse sujeito passa por aqui... tem um histórico extenso!...Eu vou abrir esse inquérito!... Há tempos quero capturar esse tal... Vamos coletar os depoimentos e entrar com uma ordem de busca e apreensão contra Sebastião Alves, vulgo Caniço...

Após algum tempo, todos os depoimentos são coletados e assinados por seus respectivos depoentes... Satisfeito com o resultado, o delegado conjectura com Edgar quais os passos a serem dados para o andamento do inquérito...

Praxedes: Vou mandar meus guardas procurarem esse sujeito por toda capital e avisar as delegacias do interior que o sujeito está foragido... Quero também que vasculhem as imediações do local e o barraco do suspeito... Vamos procurar mais provas... (fazendo uma pausa) Dr. Vieira, vamos precisar do depoimento da Sra. Vieira... Como ela está? Há condições de comparecer à delegacia?

Edgar: Bem... a médica pediu repouso hoje... Se pudesse ser feita uma diligência para coleta do depoimento seria melhor...

Praxedes: Certo... vou solicitar ao escrivão que me acompanhe... Vou amanhã pela manhã até sua residência... No momento é o que podemos fazer... Vamos iniciar as buscas hoje mesmo... Boa tarde...

Edgar sai da delegacia, agradecendo pela colaboração daquelas pessoas e tomando em seguida o rumo de casa...Sabe que precisa conversar com Laura sobre a decisão de investigar o incêndio e que ela precisar prestar depoimento... Não queria incomoda-la com isto hoje... mas será necessário... A esposa deve estar estranhando sua demora... A saida que prometia ser de pouco tempo, já durava quase o dia todo...

Já no quarto do casal Vieira, as amigas da professora, depois de um dia de muita conversa e algum trabalho, foram cada uma para seus outros afazeres... Laura recosta-se na cabeceira da cama e começa a reler Ressurreição, um dos tantos livros de Machado de Assis que possui...Porém, as atitudes de Dr. Félix em relação a Lívia não conseguem chamar-lhe a atenção... Pensa nos artigos que lera pela manhã... Por que Edgar nunca lhe contara sobre isso? Entende porque escondera ser sócio da escola... mas e isso? Que justificativa terá? Por que esconder que é responsável por fazer textos maravilhosos... criticos... argumentativos?.. Esconder que é um dos jornalistas mais respeitados do Rio de Janeiro? Volta de seus pensamentos com algumas batidas fracas à porta... Sorri... uma cabecinha loira com ar um tanto assustado está a observa-la...

Laura: Oh meu amor... vem aqui... (abrindo os braços para receber o filho)

Daniel: Mamãe... a Tude me disse que estava descansando... (indo em direção à mãe, subindo na cama e abraçando Laura)

Laura: Como você está?

Daniel: Bem... já parei até de tossir...

Laura: Que bom...

Daniel: Mamãe... posso ficar aqui com você?

Laura: Claro meu bem... vem.. se acomoda aqui...

Daniel: Estava com medo... você não saia daquele fogo, mamãe... ainda bem que o papai conseguiu te tirar de lá... o papai é um herói né? Como nos contos de fadas...

Laura (rindo): Sim... teu papai ontem foi meu herói...

Daniel: E você e a Melissa não queriam acordar..

Laura: Isso já passou meu amor (fazendo um carinho no nariz do menino)... Vamos tentar esquecer isso, tá?

Daniel (abraçando forte a mãe): Tá...

Laura (vendo Melissa aos pés da porta): Oh princesa... Venha aqui conosco!.. Quero um abraço seu também...

Melissa: Tia... fiquei com tanto medo...

Laura: Eu também Melzinha... Mas já passou... Tudo vai ficar bem... você vai ver (abraçando a menina e juntando o filho ao abraço)

Laura e as crianças ficam assim por um tempo... Conversam sobre algum assunto infantil e logo pedem a moça que lhes conte uma história bonita, com nada que os faça lembrar do pânico da noite anterior... Enquanto isto, o pai dos pequenos se encontra na rua do Ouvidor... Dirige seu carro com a pressa que lhe é permitida... Quer logo chegar em casa... Vê Guerra atravessando a rua e buzina para o amigo que acena para que estacione uns minutos...

Guerra: Edgar! Como estão as crianças e Laura?

Edgar: Melhor graças a Deus... Acho que o pior já passou... Acabo de sair da delegacia...

Guerra: Prestaste queixa pelo incêndio?

Edgar: Fui ao Morro hoje cedo... Aquela conversa da Catarina ao telefone ontem não me saiu da cabeça um só momento... Lá descobri algumas coisas que só reforçam que o incêndio foi proposital... Zé Maria e Chico conversaram com algumas pessoas que viram uma movimentação estranha por parte de um sujeito e de alguns outros que devem ser seus comparsas...Conseguimos convencer as pessoas a testemunhar... E agora vou ter de contar a Laura e avisar que o delegado vai tomar seu depoimento amanhã...

Guerra: E quem é o suspeito?

Edgar: Um tal de Caniço...O Praxedes me disse que já é fichado na polícia... Com a abertura do inquérito é um foragido..Estão o procurando...

Guerra: Caniço? Edgar... por acaso não lembra que foi esse o pilantra que seu pai contratou para causar reboliço no episódio da vacina?

Edgar: Tem razão! Então... isso só confirma mais minha suspeita... Foi Catarina! Quem deve ter armado isso com ela... e me doi pensar nisso... foi o Fernando...

Guerra: Falando em Fernando... como ficou a situação que me contou?

Edgar: Com tudo isso não fui atrás... Vou amanhã à fábrica... Pretendo desmascara-lo... Soube que o motorista voltou... Vou fazer uma espécie de acarreação... Vamos ver se vai ter coragem de negar o que fez...

Guerra: Bem... seu irmão está convivendo com Catarina... pode esperar qualquer coisa dele...

Edgar: Como Fernando pôde se perder tanto, Guerra?... Não me conformo com isso...

Guerra: A conviência com quem não presta aliada a inveja e ao abandono que ele sentia... só podia resultar nisso...

Edgar: Tem razão... Agora preciso ir... Laura deve estar preocupada...

Guerra: Edgar... vou publicar seu.. quer dizer... o artigo do Antonio Ferreira amanhã... Dei uma lida no que andou escrevendo... Está ótimo..

Edgar: Mas eu nem revisei! Bom mesmo está o que publicou hoje, do Paulo Lima... Se o vir, parabenize-o por mim...

Guerra: Se eu o vir...Isso é o que mais quero!... Mas esse homem se esconde... e muito bem!... Até logo, meu amigo... Dê lembranças à Laura...

Edgar despede-se do amigo e ruma para casa... Estaciona e entra em sua residência... Vai direto para o andar superior... Abre a porta do quarto onde estavam os filhos e surpreende-se ao perceber que está vazio... Vê a porta de seu quarto entreaberta... Enternece-se com o que vê... Laura lê calmamente, enquanto Daniel e Melissa dormem serenamente deitados a seu lado na cama do casal...A moça para um pouco e observa os pequenos, cobrindo-os melhor e acariciando as faces rosadas das crianças volta a sua leitura... O advogado entra no quarto... A esposa sorri ao ve-lo chegar...

Laura: Olá meu amor... você demorou...

Edgar: Desculpa... achei que ia chegar mais cedo... Como vocês estão?

Laura: Melhor... Eles acabaram de dormir...

Edgar: Se eu pudesse acho que pintaria um quadro dessa cena.. Vocês estão tão lindos aí...(beijando a esposa levemente)

Laura: Nesse quadro ia estar faltando alguém... mas agora está completo... você está aqui...

Edgar: Oh meu amor... só de pensar que eu podia ter perdido vocês...

Laura (colocando o dedo indicador sobre os lábios do rapaz, impedindo-o de prosseguir): Não pensa mais nisso... passou... vamos pensar no nosso futuro...

Edgar: Concordo em pensar no futuro... mas... Laura... não tem como não pensar no que houve... (fazendo uma longa pausa enquanto coloca as mãos da esposa entre as suas) Amor... eu estive no Morro hoje... e descobrimos algumas coisas... O incêndio... não foi uma fatalidade...

Laura: Edgar... eu já sabia!.. Um menino me fez voltar à escola dizendo que Sandra tinha esquecido a bolsa... Quando percebi o prédio já tinha começado a queimar e a porta de entrada tinha sido trancada... Não gosto de lembrar o que passei com nossos pequenos lá dentro...

Edgar: Laura... eu sinto tanto!... Se pudesse trocar de lugar contigo, meu amor... Deve ter sido horrível....

Laura: Foi horrível sim...

Edgar: Amor... quem fez isso há de pagar!...Eu acabei prestando queixa na polícia... Temos testemunhas.. há algumas provas... mas o delegado precisa do seu depoimento... o pai da Sandra virá aqui amanhã...

Laura: Tudo bem.. eu deponho... Só temo pelos nossos filhos...

Edgar: Não tema... Não vai acontecer nada com as crianças... nem com você... Eu vou proteger vocês... Prometo... E agora me conte... como foi seu dia?

Laura: Bem.. Sandra veio me visitar... E tive uma visita da Baronesa também...

Edgar: Então já está sabendo...

Laura: Não tive como esconder dela...Ficou furiosa por você não te-la avisado... Deu seus chiliques... e logo foi embora...

Edgar: Laura... é normal.. ela é sua mãe... Eu devia te-la avisado... Vou pedir desculpas à D. Constância assim que possível... Mas o que ela queria aqui?

Laura: Me convidar para tomar chá amanhã... Albertinho vai apresentar seu flerte a ela...

Edgar: Oras... isso que é novidade!...Você vai ao chá? Fiquei curioso em saber quem é moça

Laura: Não vou ao chá... pretendo resolver umas coisas com Isabel e Sandra... Mas você conhece a namorada do Albertinho... Não vais acreditar... é a Manoela...

Edgar: A Manoela? Que agradável surpresa!... Vamos ver se ela põe juízo na cabeça do seu irmão.... Falando nela... preciso ver com eles o andamento das investigações... Ai Deus.. tenho tanto por fazer.!..

Laura (manhosa): Meu marido e suas mil e uma tarefas!... Desse jeito não vai sobrar nem um minuto para mim...

Edgar: Se for para ficar com vocês... todo o resto pode esperar... Vocês são minha prioridade! (dando um beijo intenso na esposa)... Ontem me dei conta mais uma vez do quanto preciso de vocês... Não sei mais viver sem meus filhos e a senhora...

Laura: Eu também não sei viver sem vocês...

Edgar: E fora a visita da Baronesa... o que me conta?

Laura: Fizemos uma lista do que vamos precisar comprar novamente para a escola... Amanhã vamos orçar tudo...Não esperavamos toda essa despesa...

Edgar: Não se preocupe com isso agora...O dinheiro vocês conseguem... eu tenho certeza disso...

Laura: Eu sei que tu tens certeza... sócio investidor...

Edgar: O que?

Laura (rindo): A Isabel me contou... Por que não me falou nada?

Edgar: Ai amor... pensei que se ofenderia se eu quisesse ajudar... que ia pensar que estava me metendo nas suas coisas... Mas eu juro.. eu quis ajudar por achar o projeto de vocês maravilhoso!... Queria fazer parte disso de alguma maneira... E por querer te ver feliz... É tão bom te ver assim... ver o quanto está empenhada... motivada com isso...

Laura: Eu estou muito zangada com você! Por não ter me dito antes... A cada dia descubro que quando penso que sei tudo sobre você... tenho mais a descobrir... E a cada descoberta fico ainda mais fascinada pela pessoa com quem um dia me casei... Como posso ficar zangada contigo por estar fazendo algo tão lindo... sem alarde... e sem receber nada em troca?

Edgar: Como não recebo nada se todos os dias recebo teu sorriso e vejo o brilho dos teus olhos quando fala da escola? É uma troca justa...

Laura: Te amo Edgar Vieira... te amo muito... apesar de me guardar tantos segredos...

Edgar: Nem são tantos assim...Também te amo... e acho que não é nenhum segredo...

Laura (beijando Edgar): Meu amor misterioso!... Vamos ver qual vai ser o próximo segredo seu que irei desvendar...


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