As palavras de Bianca produziram um impacto tão grande em Jaime, que ele fora obrigado a se apoiar em um enfermeiro que passava no momento. Não poderia acreditar que Lucas estava morto, não o seu amigo - melhor amigo -, as garotas deveriam estar enganadas. Aquilo não estava certo.

– Lucas morto? Isso não pode ter acontecido... – não, ele não queria acreditar. Para acreditar, deveria ver o corpo.

– Sim Jaime, ele está morto. Depois que você foi atrás da sua irmã, ele nos levou em direção ao prédio que você indicou. Ele até parecia ser seguro, mas não era. As paredes não foram fortes o suficiente contra o vento e o prédio acabou vindo a baixo. Apenas os que estavam próximos a entrada conseguiram sair com vida, o problema era que Lucas estava mais para dentro do prédio, ajudando alguns policiais. – ainda era Bianca quem falava, pois pelo jeito Luanna não abriria a boca tão cedo, mas ela estava certa, tão certa que até o próprio Jaime ficou sem palavras.

– Mas e o corpo? Onde está? Tenho que me despedir do meu amigo... Tenho que pedir desculpas... – Jaime queria se despedir do amigo, era claro que queria.

– O corpo não foi encontrado. Pelo que disseram, onde ele estava, pegou fogo depois do desabamento, e o corpo virou cinzas, apenas encontraram seus documentos debaixo de algumas pedras... – então era isso, Lucas tinha virado cinzas. Ao menos não devia ter sentido alguma dor.

Mas saber que Lucas pode ter morrido ajudando alguém, era de um fato reconfortante, pois ele acabara sendo um herói no fim. Um herói de verdade, o cara que sempre ajudava todo mundo, que estava sempre dando conselhos para alguém e que estava a procura de algo bom a fazer, acabara sendo um herói de verdade no fim. Porém, morreu no mesmo prédio que Jaime o mandou ir, para o mesmo lugar que achava seguro. Por sorte as garotas estavam bem, mas elas também poderiam ter morrido, poderiam estar naquele momento, debaixo dos escombros do prédio junto com Lucas. Jaime agora sentia a culpa por mandar o amigo para lá, pois se tivesse deixado com que ele o seguisse, poderia estar vivo agora, junto com ele e as meninas. 

– Não se culpe... – de algum jeito Luanna conseguiu ler os pensamentos de Jaime pelo olhar, ela muitas vezes fazia aquilo, já que conhecia os amigos mais do que eles próprios e agora estava falando, para tentar acalmar o amigo. – Não foi a sua culpa. Não poderia saber que aquele prédio viria a ruir, poderia ter sido pior. Você poderia ter perdido a sua irmã se deixasse que fossemos juntos. Só iriamos atrasar o caminho. – Jaime não queria aceitar aquilo que ela falava, mas sabia que seria obrigado a concordar. Aquele não era lugar para discutir algo daquele tipo.

Alguns minutos se passaram e Jaime não saia do lugar. Estava sentado na maca ao lado das garotas, que também não se mexiam e não falavam, apenas olhavam para o nada, como o amigo. Até que ouviram um barulho vindo da recepção, era o som de uma televisão e com isso se levantaram juntos, caminhando até próximos do balcão, que já estava lotado de pessoas tentando ver o aparelho, que estava no volume máximo. 

A imagem da tela, vinha uma seguinte notícia: IMAGEM AÉREA DA PONTE GOLDEN GATE. Porém não parecia nada com a ponte da noticia. Era apenas um emaranhado de ferro e aço retorcido e concreto quebrado, o que era um horror de se ver, pois parte da ponte já não existia, já que se encontrava debaixo d'água e a outra parte estava virada de lado, como uma rampa, que levava direto a uma queda de 67 m.

Mesmo da imagem ao longe, era possível ver alguns pontos negros balançando sobre a beirada da ponte e era óbvio que aquilo eram pessoas penduradas e enquanto isso, carros e mais carros escorregavam para as grades de proteção, que acabavam cedendo o pesos dos automóveis. Na imagem, também vinha outra notícia, mais abaixo do enunciado: Ponte Golden Gate é afetada durante forte tempestade de vento.

Jaime não conseguia olhar aquela imagem por muito tempo, por isso logo se afastou e pode notar, que as garotas tinha ido com ele. Saber que aquilo tinha acontecido em São Francisco, e algo dizia a Jaime, que tinham sido os mesmos furacões, que antes eles enfrentavam. Agora ele achava que os fanáticos, que viviam dizendo sobre o fim do mundo, finalmente tinham acertado. O mundo só poderia estar acabando. 

Continuou parado de costas para a televisão, até que sentiu um aperto no coração, como se um perigo se aproximasse. Sua visão ficou embaçada por alguns segundos e quando conseguiu voltar a ver, não estava mais em seu corpo, estava vagando sobre Los Angeles, que enfrentava furacões e ele sabia dizer, que eram os mesmos que estavam antes ali e em São Francisco, mas também conseguia ver algo a mais naquilo.

Pode observar uma mulher que estava voando, voando não. Estava flutuando no ar. Com seus cabelos ruivos ao vento, sua pele branca em contraste ao cinza das nuvens e de seus olhos, parecia uma mulher normal, sendo que também possuía asas, e segurava em suas mãos, uma espécie de lança dourada e branca.

Jaime sabia quem era aquela mulher, já a tinha visto uma vez e sabia que não estava certo ver ela ali, não estava certo ele está ali. Quando tentou mover os lábios para falar algo, sua visão voltou a embaçar, e ao fundo ouviu um grito. Foi então que sua visão voltou, junto com a dor no coração. O grito era de uma mulher e que vinha da pior direção possível. Vinha de onde Julia estava.

Correndo por entre enfermeiros, médicos e curiosos, Jaime conseguiu abrir passagem, sendo seguido de perto por Bianca e Luanna. Mas quando finalmente chegou a onde menos desejava, olhou para os lados a procura da irmã, mas ela não estava ali, não estava em lugar nenhum. Mas ao abaixar os olhos se sentiu tonto ao ver o que via. Michael, estava caído no chão, com um tipo de lança ou uma estaca, não dava para saber, pois boa porte estava cravada no seu estomago, e estava tentando a todo custo se manter vivo, mas que quando viu Jaime, apenas teve forças para dizer duas palavras antes de perder sua vida. – Me desculpe...